sexta-feira, 31 de julho de 2015

Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”, 1976.



“Uma vida é curta
para  mais de um sonho”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)

A vida é curta para pôr tudo em prática. Todas essas vontades que nos surgem a cada amanhecer. Mas se a vida é curta, porque desperdiçamos tanto com raiva, orgulho, ciúmes...? A vida é curta e sonhar é bom. E toda vez que eu sonho a vida se estreita, mas nem me dou conta porque sonhar me alonga, me amplia. Sinto que vou além da vida.

“Fechamos o corpo 
como quem fecha um livro 
por já sabê-lo de cor.”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)

Conheço meu corpo, mas não minha alma. Estou pronta para me despedir do meu corpo e atingir o infinito que minha alma pode alcançar. O corpo é passageiro, a alma eterna. O desapego do corpo pela alma, para mim, é a aproximação com o divino.

“Só mesmo um velho 
para descobrir, 
detrás de uma pedra, 
toda a primavera.”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)

Os olhos experientes tiram das adversidades, os mais profundos ensinamentos, as mais raras belezas. Os olhos experientes encaram a chegada do amanhã com mais paixão, porque aprenderam que cada amanhecer é único e uma nova oportunidade. Uma bênção de Deus. 

“Hesitei horas 
antes de matar o bicho. 
Afinal, 
era um bicho como eu, 
com direitos, 
com deveres. 
E, sobretudo, 
incapaz de matar um bicho, 
como eu.”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)

Ah, se todos em posição privilegiada entendessem que os menos privilegiados são criaturas de Deus. E que, por tanto, deveriam ter ao menos o direito ao mesmo respeito. Somos todos iguais aos olhos de Deus. E não é esse o olhar mais importante?

“os dentes afiados da vida
preferem a carne
na mais tenra infância
quando
as mordidas doem mais
e deixam cicatrizes indeléveis
quando 
o sabor da carne
ainda não foi estragado
pela salmora do dia a dia”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)

Hoje avalio bem as escolhas antes de fazê-las. Aprendi que a vida é uma tutora exigente. Se errar a lição, o castigo pode durar uma vida inteira.

“O olho da rua vê
o que não vê o seu.
Você, vendo os outros, 
pensa que sou eu?
Ou tudo que teu olho vê
você pensa que é você?”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)

Estamos sempre pondo no outro a culpa dos nossos desencontros e desgostos. Hoje entendo que o que me incomoda no outro, muitas vezes, é o pedaço que há nele que o iguala a mim.

“Depois de hoje
a vida não vai mais ser a mesma
a menos que eu insista em me enganar
aliás
depois de ontem
também foi assim
anteontem
antes
amanhã!
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)

Quanto foi que o tempo voltou atrás? Tudo muda a todo o momento. Sou agora uma mulher completamente estranha para a mulher que era a um ano atrás. É emocional, psicológico, intrínseco. Como tudo passou tão rápido e eu não vi?

“quem é vivo
aparece sempre
no momento errado
para dizer presente
onde não foi chamado”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)

Acho que o máximo da elegância é marcar data e hora para chegar. E nunca atrasar ou adiantar. Atrasar quebra a expectativa. Adiantar estrada a organização das boas vindas. 

“Achar
a por ta que esqueceram de fechar.
O beco com saída.
A porta sem chave.
A vida.”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)

Nada me incomoda mais que uma chave sem porta. Olho para ela como quem encara a velha solitária sentada na praça esquecida de tudo. Talvez o que realmente me incomode são as velhas na praça. Penso nelas como se reflexo do meu futuro. Só que com um pouco menos de rock and roll.
(Waleska Zibetti)

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Inutilidade (Correio feminino) Clarice

Este será o último post do mês de julho, referente a sessão Correio Feminino de Clarice Lispector.
Já estou sentindo saudades.
Clarice foi uma mulher apaixonante, muito cheia de conselhos para passar adiante e uma mulher de muita cultura. Espero que tenham gostado desse pequeno resgate dos pensamentos femininos de uma moça sabichona dos anos 40/50.



Quando Fazemos tudo para que nos amem... e não conseguimos, resta-nos um último recurso, não fazer mais nada. Por isto digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado... melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram.
Não façamos esforços inúteis, pois o amor nasce ou não espontaneamente, mas nunca por força de imposição.
Às vezes é inútil esforçar-se demais... nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende a nossos pés.
Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido.
Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer.
Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor e falhado, resta-nos um só caminho: o de nada mais fazer.


Clarice faleceu em dezembro de 1977, aos 56 anos de adenocarcinoma de ovário.



quarta-feira, 29 de julho de 2015

Desprezo


Esta alma que insultaste se revolta!
Em sua viuvez erma e vazia
Nem sombra guardará de tua imagem
Tanto amor que por ti ela sentia.
Não há de lhe arrancar, nem mais um canto,
Que não seja apagado por meu pranto.

Como a flor a beleza loga murcha;
A tua há de murchar em poucos anos;
Quando a ruga da face anunciar-te
Da velhice aos tristes desenganos
Quando de ti já todos esquecidos
Nem te olharem, meus versos serão lidos.

Talvez um dia o mundo caprichoso
Procure, nobre dama, algum vestígio
Da mulher que meus livros inspirava;
Não achará porém de teu fastígio,
Senão traços de lágrima perdida
Arcano d'uma dor desconhecida.

O tempo não respeita altiva fronte
A riqueza, o brazão, tudo consome.
Um dia serás pó e nada mais;
Ninguém se lembrará nem de teu nome;
Mas para que de ti reste a memória,
Mulher, no meu desprezo eu dou-te a glória.
 (José de Alencar)

terça-feira, 28 de julho de 2015

O Poder do Estado: A Esquerda e a Direita



O mundo hoje em dia (principalmente o Brasil) discuti suas posições políticas: Esquerda ou Direita. Isso acontece a mais de 21 séculos, essa ideia de Direita e Esquerda é extremamente discutida com diversas formas e nomes através da história. O problema é que as duas partes estão começando a se fundir e o povo mundial não percebe isso.

Antes de continuar devo alertá-los para um ponto primordial para se chegar a algum lugar: Nem toda Esquerda é Socialista. Ultimamente todas as pessoas que se dizem “esquerdistas” são julgadas como socialistas, isso é um erro. Voltemos na história para quando é criado a ideia de Esquerda e Direita. À direita do Rei, na revolução francesa, sentavam-se os burgueses e nobres. À esquerda do Rei sentavam-se os defensores da plebe e liberais. Ou seja, a Direita representaria a Elite e a Esquerda representaria o Povo. Após os anos os Socialistas e Comunistas se aliaram (justa e ideologicamente) a Esquerda, e os mais conservadores se filiaram a Direita.

O pensamento “esquerdista” é um pensamento muito mais voltado para o social, valorizando o povo, dando a ele direitos e seguranças. Já o pensamento “direitista” valorizará o capital privado. Os grandes “direitistas” (economistas, filósofos, sociólogos etc.) defenderão esse pensamento justificando que um governo voltado para a alta sociedade terá um resultado bom para o povo. E não deixam de estar errados.

Logo se vê na política que não há como separar os lados, pois num Estado haverá pobres e ricos. Sendo assim um partido ou uma pessoa quando chegar ao poder deverá fazer acordos entre os lados. Se um governo for de extrema Direita ele será deposto pelo povo, se ele for de extrema Esquerda ele será deposto pelos grandes.

Deixemos nossas posições de lado por alguns instantes e convido a todos a entenderem o quanto fundidos estão os pensamentos de Esquerda e Direita. Com a evolução do mundo e da política mundial foi visto que só há uma espécie de governo capaz de atender o povo em sua essência: A Democracia. Contudo a Democracia é um pensamento ideológico extremamente “esquerdista”. A Democracia, sendo o governo do povo para o povo, busca a igualdade entre todos os componentes da sociedade. Ora, se a Democracia é uma ideia de Esquerda, qual é o pensamento da Direita? A resposta é clara. A Direita buscará uma Aristocracia. Por quê? Porque a Direita é composta dos “melhores” da sociedade. Como já disse uma vez a Aristocracia é o governo dos melhores (economistas, juristas, filósofos, médicos, engenheiros etc.), a Direita não se sentiria a vontade com o povo no poder, ela gostaria de estar no controle e governar para a própria vontade. Entretanto, com toda a evolução da sociedade, até a Direita percebeu que a Democracia é o melhor caminho político para se seguir e, também, sem esse pensamento “esquerdista” o Estado ruiria.

Em contra partida há um pensamento de Direita que assombra os militantes de Esquerda. O crescimento pessoal perante a sociedade. O que seria isso? Uma das grandes características do ser humano é a busca da superioridade. Sendo atribuído a isso o eurocentrismo, a escravidão e até mesmo a inveja. O ser humano tem em sua alma a vontade de ser grande, contudo quando pregamos a igualdade entre todas as partes jogamos fora esse instinto todo. Todos gostamos de ser parabenizados quando fazemos algo notório e gostamos das recompensas que virão por isso. O problema é que com a igualdade acentuada numa sociedade torna-se perigoso e quase que proibido a elevação de status. A ideia de que todos devem ser iguais em tudo cansa o ser humano e nem mesmo os mais defensores da Esquerda defenderão com tanta força isso. Todos dirão: “Devemos ter as mesmas condições, mas meu esforço deve ser pago”.

Nota-se que a Esquerda e a Direita passaram a ser mais próximas do que parece. Contudo o povo ainda comete erros horríveis, como dizer que os nazistas e fascistas pertencem a um lado. Não pertencem a um lado somente.  Uma coisa interessante dos regimes é a aproximação das igualdades sociais, o povo fascista e nazista tinha em suas mentes a ideia de uma unidade que se vê numa colmeia. Contudo há traços “direitistas” nos líderes seletos dos dois regimes e a forma, um tanto quanto, conservadora do governo. Longe de mim chamar os “direitistas” ou os "esquerdistas" de fascistas ou nazistas, perdoe-me caso ofenda a alguém. Mas tanto a Esquerda quanto a Direita estavam presentes nos pensamentos de Mussolini e Hitler.

Mas o que define um governo ser de Esquerda ou Direita? A aproximação entre os governantes e os governados. Quando o governo estiver mais próximo do povo, assegurando-lhe direitos, investindo em seus anseios (saúde pública, educação pública etc.), garantido-lhe certa igualdade este será um governo de Esquerda. Caso um governo voltar-se para a industrialização, a valorização do capital privado (fator importante para o Capitalismo), este será um governo de Direita. Claro que nenhum jogará o outro fora (um governo de Esquerda deverá, em alguns momentos, agir em prol da Direita e vice-versa) ou será melhor que o outro, mas cada partido e representante age da forma que mais lhe agrada.

Além disso vem a dosagem de Conservadorismo e Liberalismo, mas deixarei para falar sobre isso em outro texto. 

Não há como separar a Esquerda da Direita. Um braço dependerá de outro, pois o povo sustentará os grandes e os grandes segurarão o povo. E, quando começarmos a repara em tudo o que é dito e no que concordamos, perceberemos que na verdade somos todos Ambidestros. 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Segredo de Um Homem



Quando caminhava pelas ruas de manhã para comprar pão e jornal, ele era um homem como qualquer outro. Era um homem de meia idade, bem conservado, realizado no casamento, pai de bons filhos, avô. Um homem honesto, cumpridor de seus deveres civis. Um homem de prestígio. Ninguém ousaria duvidar de seu caráter ímpar.

Toda manhã orgulhosamente cumprimentava educadamente seus vizinhos na volta para casa. Beijava respeitosamente a esposa e sentava-se à varanda para se pôr a par das novidades do jornal. Franzia a testa indignado de vez em quando. Comentava com esposa uma coisa ou outra. E, por cima dos óculos, espiava as crianças brincando nas calçadas. Era um homem feliz. 

O problema começava quando ele ficava sozinho. Quando sua esposa estava entretida com os afazeres domésticos. Quando ninguém o observava. 

Diante da solidão, a cabeça doente do nosso herói fervilhava de histórias, de delírios. Ora acreditava ser o dono do mundo ora era um cão humilhado. Sua cabeça era doente. Um débil. Coitado!

Certa vez achou que era galã de novela. Queria a todo custo seduzir todas as moças das redondezas enviando-lhe versinhos que ele escrevia com poses de Neruda. Gostava das moças, quanto mais jovem melhor, pois eram mais inocentes e a sua lábia as convenciam melhor. Já as maduras nem era bonitas nem eram burras e sabendo disso fugia delas. 

Empertigado, gostava de falar difícil, achava que isso mostrava elegância; e assim convenceria a todos de seu poder. E quando alguma ninfeta lhe lembrava da calva... Ah, amigo, dava-se o dilema! Ele partia para cima da moça como toda fúria gritando: "Tenho dinheiro. Posso comprá-la!". Sentia-se o próprio califa comprando mulheres para seu harém. 

Sentado em seu quarto solitário, a sua metade louca e doente maquinava ideias para atormentar os outros. Não era realmente feliz, logo queria ver infeliz o resto do mundo. Tinha inveja de quem conseguia viver para si e por si. Revoltava-se ao descobrir que não era o dono do mundo como supunha. Que na verdade, por mais que se esforçava, não era nada além de um velho solitário. 

Adoecido, nosso herói estava morrendo. Cada dia mais sozinho e confuso. Cada dia mais enterrado em suas crenças insanas. Um dia acordou para comprar o pão e o jornal e não achou ninguém. Procurou do lado de fora da casa as crianças brincando e tudo estava deserto. Chorou feito menino querendo colo, atenção, carinho... Perdeu-se na própria loucura o pobrezinho.
(Waleska Zibetti, in "O Segredo de Um Homem")

domingo, 26 de julho de 2015

Qual o marido ideal? (Correio feminino) Clarice


mulheres que preferem os louros, outras preferem os morenos do tipo atlético. Isso de preferências físicas é fácil de escolher. O que importa saber é que tipo de homem uma mulher elegeria como o marido ideal. Que conjunto de qualidades, virtudes e aptidões precisaria ele possuir para satisfazer as exigências de uma esposa.
De acordo com a opinião de um grupo de moças, um marido deverá ser carinhoso e fiel. Esses são os principais atributos. Deverá ser também trabalhador, preferindo umas, depois dessa qualidade, que o marido em apreço seja ambicioso. Outras preferem que além de trabalhador seja pacato, amante do lar.
Portanto, carinhoso, fiel, trabalhador e ambicioso ou pacato, são essas as principais qualidades que um marido ideal deverá ter. Mas será que o marido ideal existe mesmo, ou só vive na imaginação das moças sonhadoras?
Não é tão difícil - achamos - encontrar um marido que preencha as exigências das filhas de Eva. Isso porque, quando um homem está apaixonado, ele consente em se tornar aquilo que sua amada deseja que ele seja. É pena que passado o período da paixonite aguda, o homem volta a ser o que era, com todos os seus defeitos e limitações

sábado, 25 de julho de 2015

O Poder do Estado: O Capitalismo



A concretização do mundo moderno. O capitalismo tem uma função muito mais do que econômica. Seria a evolução do mercantilismo, uma adaptação e aprimoramento das trocas materiais num mundo que se expandiu de forma desordenada.

Primeiro falarei de seu pai o Mercantilismo. O Mercantilismo foi um momento econômico histórico no qual o Estado interferia massivamente no mercado, trazendo o Capital para si. Os Estados Nacionais acordavam entre si para melhorar suas comercializações e seus estados financeiros. Há o nascimento das indústrias nacionais, que pertenciam ao Estado e há mais ninguém. O auge desse momento foram as navegações, pois elas possibilitaram aos grandes Estados (Inglaterra, França, Portugal e Espanha) um aprimoramento de seu comércio e a expansão de seu mercado. As colônias inglesas, francesas, portuguesas e espanholas levaram às suas metrópoles uma nova possibilidade de crescimento e de exploração. Também foi de igual importância a chegada da Europa ao Oriente. Os países do oriente contribuíram de forma ainda mais expansionista para os Europeus, pois eles produziam, a Europa transformava e mandava de volta para os países, gerando para ela lucro estatal.

Então surge Adam Smith com o livro A Riqueza das Nações, surge com ele o Liberalismo: “o Mercado deve ser livre, sem a interferência do Estado”. Começa então a ideia Capitalista. As pessoas dominariam o Mercado, os meios de produção, a construção do mundo dependeria delas. Surge uma nova classe para afrontar o Clero e a Nobreza, a Burguesia. O Capitalismo pertence aos homens, quebrando o Mercantilismo que pertencia ao Estado. O Capitalismo busca o lucro pessoal, o individuo que produz, merece e ficará com o lucro do que produziu e fará com seus ganhos o que bem entender.

O Capitalismo possibilita a criatividade humana, pois os donos dos meios de produção podem criar, destruir e reinventar os meios como acharem melhor. Com a “privatização” dos meios de produção as indústrias nacionais perderam força e ruíram, abrindo espaços para os grandes capitalistas. O Capitalismo Liberal tomou conta da Europa e se espalhou pelo mundo. Todos têm direito de compra, todos fazem parte do sistema econômico.

Como tempo criou um inimigo poderoso, que foi o Comunismo. O grande problema é que o Capitalismo é, até hoje, o único meio econômico que soube sair de uma crise, sem ter que se render, fundir ou mudar por completo. Em 1929 houve a maior crise do Capitalismo, os valores da bolsa de valores caíram de forma assustadora, resultando na dúvida do Capitalismo como forma econômica e num suicídio em conjunto de várias pessoas que foram afetadas. Os economistas entraram em desespero e os comunistas vibraram.  Contudo Keynes (economista britânico) aponta a saída: “O Estado só tocará no Mercando quanto este estiver em crise”. Keynes cria as chamadas “ferramentas keynesianas”, são elas a Política Fiscal, Política Cambial e Política Monetária. Sendo assim o Estado começa a interferir novamente na economia, mas com muito menos força do que antes. O Estado pode criar formas de ajudar o Mercado a não cair ou impedir que a moeda local perca seu valor ou que a economia local não morra de vez, mas ele em si não pode ser detentor direto do poder do Mercado.

Uma das armas do Estado para ajudar o Mercado é a inflação. A inflação tem diversas funções dentro do Capitalismo um deles é a diminuição de capital circulante, pois se houver muito capital girando no sistema econômico ele começa a perder valor. Mas não me prenderei a esse assunto.

O Capitalismo é o único sistema que representa a natureza humana. É o único que possibilita a busca pela grandeza. No feudalismo as pessoas que nasciam em determinada classe permaneceriam naquela classe até suas mortes, no mercantilismo as pessoas não ganham nada com o que produzem (lucro do Estado), no socialismo todos somos iguais demais, os meios de produção pertencem ao Estado ele dita como deve ser produzido (Isso não quer dizer que o que se produz será dado para os outros, o Socialismo não é aquela ideia de que entram na sua casa, comem a sua comida e depois vão embora). O Capitalismo permite ao povo a ideia de crescer, dá ao ser humano a criatividade de agir com os meios de produção como bem entenderem e como acharem melhor.

Contudo não existe ética e moral para o capitalismo. Ele se fundamenta na ideia de que uns devem crescer e outros devem descer, enquanto uns vivem na mais linda mansão outros devem perecer num minúsculo “chiqueiro”. O Capitalismo é individualista. O pensamento capitalista gira em torno do bem-estar próprio: “enquanto EU estiver bem, o mundo que se afogue em trevas e miséria”. Para o Capitalismo a moral, a preocupação com os outros, a humanidade não são muito relevantes. Mas há também outra coisa que o Capitalismo ignora como se fosse um lixo: A Cultura. Para o Capitalismo não há a necessidade de se manter a cultura, a história, a formação do povo. Passamos nesse momento por dois momentos que ficarão para História. O primeiro (e menos importante em minha opinião) é o fechamento da mais clássica e “lendária” loja de brinquedos dos EUA, a FAO Schwarz. Esta não teve como se manter no lugar privilegiado que ocupava por causa do alto custo do aluguel e foi “convidada” a se fechar.

O Segundo, e muito mais importante, é a Grécia. O berço de nossa civilização, pois até o Império Romano tem seus deuses roubados da Grécia. O início do mundo Oriental, o ventre de toda a nossa cultura. Há mais ou menos cinco anos, vem passando por problemas sérios financeiramente. Já houve a cogitação da retirada dela da União Européia, já houve a cogitação da separação dela, mas o que seria do Mundo se não houvesse Grécia? O que seria de nossas referências? O Capitalismo não liga, ele quer sobreviver. Leonardo Boff, em sua página fez um pronunciamento sobre isso que acontece na Grécia. Sobre a vitória da Cultura sobre o Capitalismo.

Enfim, o Capitalismo é o mais inteligente sistema econômico, pois foi o único que conseguiu superar crises e convencer o povo de que é bom. Alguns economistas dizem que ele morreu e se esqueceram de enterrá-lo. Outros dizem que ele está mais vivo do que nunca. Alguns dizem que ele não morreu, mas está matando o planeta. Pois outro problema do Capitalismo é o consumo. Consumo exagerado e desenfreado. Quanto mais se consume mais se produz, e o planeta não vai aguentar essa superprodução louca, não dá mais tempo de repor o que foi tirado. Não sei qual é a mais certa, pois todas têm um toque de certeza.

Por fim, o Capitalismo não teme nada, porque não há o que temer. Pelo menos ainda não criaram nenhum sistema econômico mais eficaz que ele. Para ele não existe cultura, não existe história, não existe Deus, não existe moral, não existe ser humano. Existe Dinheiro, tudo deve ser pago pelo Dinheiro. E não percamos tempo, porque até o tempo é caro.

Feliz Dia do Escritor!

Em homenagem aos escritores:
Cecília Meireles - Motivos. 

 

Feliz dia do escritor - Sorteio no CLV - último dia!





O Dia do Escritor (25 de julho) surgiu após a realização do I Festival do Escritor Brasileiro,
iniciativa da UBE. O grande sucesso do evento foi primordial para que, por
intermédio de um decreto governamental, a data fosse instituída com a
finalidade de celebrar a importância do profissional das letras, profissão que,
infelizmente, nem sempre tem sua relevância reconhecida.

Se você também tem facebook, segue o link para participar.
VEM!
sorteiefb.com.br/tab/promocao/472581


Feliz Dia do Escritor!!!

Olavo Bilac & Paulo Leminski 
Os meus escolhidos para essa homenagem de hoje.

 

Dia do Escritor - Soneto do Amor Total (Vinícius de Moares)


Soneto do Amor Total (Vinícius de Moares) 


Até o próximo post
Au Revoir

sexta-feira, 24 de julho de 2015

O Estrangeiro que há em todos nós

A minha dica de leitura do dia vem de um presente que ganhei no meu último aniversário do amigo Filipe Gama (Fox) que conhecia pouco mas, foi um dos livros interessantes que li nos últimos anos.
Investigando vida e obras esse é certamente uma das obras mais emblemáticas do Albert Camus.
"O Estrangeiro (L´etranger)"
E apesar de todas as obras importantes publicadas (A peste, A queda, o póstumo O primeiro homem), a história de um homem que comete um assassinato “por causa do sol” e é condenado à guilhotina “por não ter chorado no enterro da mãe”, permanece não só a referência imediata do universo camusiano, como também a entrada perfeita para comentar o extraordinário autor argelino.
Quando O Estrangeiro foi publicado (em junho de 1942) na França, ele ainda tinha 28 anos.
O Estrangeiro é uma fábula que prepara a condenação à morte de seu protagonista. O livro narra com incrível capacidade o que de mais trágico existe na condição humana: o absurdo, o limite entre aspirações e realidade. Meursault, mesmo esperando a execução em sua cela, nos dirá (sim, pois Camus ousou fazê-lo narrar a própria história, num dos exercícios de estilo mais admiráveis da literatura).
A história se inicia com Mersault indo ao enterro de sua mãe. Um dia depois inicia um caso amoroso com Marie e se distrai alegremente no cinema com um filme de Fernandel.
O protagonista da obra vive em permanente indiferença a todos os valores morais. É o homem que não aceita as regras do jogo. Mas também está disposto a ir até o fim defendendo a única verdade na qual acredita. Mersault nasceu para desmascarar o cinismo e o vazio por trás da sociedade como um todo e do indivíduo como elemento principal. O homem é um nada, abandona aqueles que ama e também é abandonado. O homem é impotente perante as desgraças que presencia, e por isso mesmo finge não as ver. O Estrangeiro está ali justamente para dissecar aquilo que está errado e nos abrir os olhos para a estupidez de nossa falsas regras morais.

Se formos trazer para o nosso dia a dia, que Valores representam um dos fundamentos de nossa vida interior, nosso comportamento, nossas ações? Mas quais são os valores?
Os Valores podem ser considerados como nossas CRENÇAS, representa tudo o que é importante para nós. Eles representam o que é bom para nós, o que é certo, o que é sensato fazer, dizer, pensar para nós mesmos e para os outros. Ao contrário, o que se desvia dos valores, seu oposto polar, é o que é ruim, o que é errado, o que é o mais baixo fazer, dizer ou pensar.
A nossa sociedade hoje é marcada por atitudes insensatas das pessoas, comportamentos como conflitos sociais, violência, aborto, a influenciadas drogas, exclusão social, falta de educação e respeito com as pessoas, fazem parte do nosso dia a dia como se fossem atitudes normais do ser humano. Pessoas e mais pessoas estão entrando em uma difícil fase de desvalorização da ética e também da moral, valores que nos dias de hoje são muito importantes para nossa convivência.
Quanto mais o conhecemos menos temos certeza se Mersault é o herói ou anti-heroi dessa história, cujo desenrolar nos joga de um lado para o outro, tal como ventríloquos de Camus, sem saber direito mais o que é certo e o que não é. Pois nossas crenças mais sagradas serão de repente questionadas, à medida que avançamos sobre o psicológico de Mersault. Não estaremos prontos para isso. Cada frase dele nos soará como absurda, desprovida de qualquer contato com a razão ou com o sentimento. Porém, quanto mais se indaga sobre sua sanidade, mais se fascina com a idéia por ele pregada. Tudo é permitido, pois todos nós morreremos e os valores todos se desmoronarão.
Einstein em um de seus textos (Como Vejo o Mundo) já dizia que "Se pensarmos na nossa vida e na nossa atuação, em breve notaremos que quase todas as nossas aspirações e ações estão ligadas à existência de outros homens. Reparamos que, em toda a nossa maneira de ser, somos semelhantes aos animais que vivem em comum."
Não há definitivamente como escapar da sedução desse estrangeiro, a quem, ao final de páginas e páginas, ainda não temos a plena certeza de compreender. Mas a graça reside aí. Justamente porque não conseguimos decifrá-lo é porque nunca mais poderemos esquecê-lo.
A opinião sobre o autor através dessa carta escrita no prefácio à edição americana do romance, dada a público em 1955:
Há muito tempo atrás, eu defini “O Estrangeiro” numa frase que percebo extremamente paradoxal: “Em nossa sociedade qualquer homem que não chore no enterro de sua mãe é passível de ser condenado a morte”. Eu apenas queria dizer que o ‘herói’ do livro é sentenciado porque ele não jogou o jogo. Nesse sentido, ele é um ”marginal” (outsider) para a sociedade em que ele vive, vagando nos subúrbios da vida, solitário e sensual. 
Por esta razão, alguns leitores têm o considerado como um ”excluído”. Mas para alcançar uma descrição mais acurada de seu caráter, ou melhor, uma descrição mais próxima das intenções de seu autor, é preciso se perguntar de que maneira Mersualt não joga o jogo. A resposta é simples: ele se recusa a mentir. 
Mentir não é apenas dizer o que não é verdade. É também e, especialmente, dizer mais do que é verdade e, no caso dos sentimentos humanos, dizer mais do que se sente. Todos fazemos isso, todos os dias, para tornar a vida simples. Mas contrário às aparências, Meursault não quer fazer a vida simples.
Ele diz o que ele é, recusa-se a esconder seus sentimentos e a sociedade sente-se ameaçada. Por exemplo, espera-se que ele se manifeste arrependido por seu crime, como é de costume. Ele responde que se sente mais incomodado com os distúrbios do fato do que verdadeiro arrependimento. É essa nuance que o condena.
Desta maneira para mim que Meursault não é um ‘excluído’, mas um carente e sincero homem, amando um sol que não deixa sombras. Longe de ser insensível, ele é dirigido por uma tenaz, e por essa razão, profunda paixão; a paixão pelo absoluto e pela verdade. Esta verdade é até aqui, e ainda, vista como negativa; uma verdade que nasce de viver e sentir e sem a qual nenhum triunfo de natureza interior ou do mundo será possível.
Assim não seria um equívoco entender “O Estrangeiro” como a estória de um homem que sem nenhuma pretensão concorda em morrer pela verdade. Eu disse uma vez, e também paradoxalmente, que tentei fazer meu personagem representar o único Cristo que merecemos. Será entendido, após estas explicações, que disse isso sem nenhuma intenção de blasfemar, mas simplesmente com um pouco de afeição irônica que um artista tem o direito de sentir em relação aos personagens que ele tenha criado." 
Desejo um bom encontro para nós e uma boa leitura àqueles que ainda não se aventuraram a ler esta obra e que eventualmente se sintam tentados a isso.

Até o próximo texto
Au Revoir 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Tapete Lilás



Era possível ver a silhueta
Através da camisola iluminada pela lua
alva palidez proibida
rompida pelo vermelho dos cabelos
que desciam pelos ombros
em volumosas e apaixonantes ondas

o cheiro do mar invadia o quarto
o vinho invadia a cabeça
conversas tímidas 
olhares secretos 
pensamentos escondidos
um gato preto cruzava o quarto
roçando os tornozelos roliços
os pés tocando a pelúcia macia do tapete lilás
ideias esparramando-se no sofá

a voz cruzando com o imaginário
da transparência da camisola
a lua tingindo-se de vinho
as conversas desciam em ondas
os olhares rompiam os tornozelos
tocando nos cabelos iluminados
conversas escondidas
pés perdendo-se apaixonantes
ideias tímidas roçando o mar
cheiro de onda cruzando o quarto
o gato no sofá
cabeças invadem o ombro
pensamentos esparramados na pelúcia
invadindo a palidez no tapete lilás
(Waleska Zibetti, in "Tapete Lilás")

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A sociedade e o amor romântico

por Gabriella Gilmore

Recebi um texto recentemente pelo celular que me fez pensar de novo no amor romântico e  na vida a dois.
O texto falava que o amor uma hora acaba.
Será?
O amor acaba ou somos nós que deixamos o amor acabar?
Te peguei!


Não sou perita em relacionamentos, até porque eu falhei em todos! Como diz uma amiga e também redatora deste Clube, “você tem dedo podre para homens”. Acontece leitor, que eu só sei amar torto.
Porém, isso não me impede de refletir sobre o tema e também desejar ter um amor verdadeiro e correspondido algum dia. Sem paranoias, sem precisar pensar por nós dois.
Uma coisa que irrita os parceiros é quando apenas UM pensa.
Esses dias eu comentava com uma colega de trabalho sobre como ando cansada de “conquistar” o homem desejado. Cansei. Estou exausta de fazer o papel de “macho” da relação. Aquele que galanteia como nos filmes de romance. Cansei de ser a mulher que deixa marcas, porque eu queria pelo menos uma vez ser conquistada. “You need to earn me”, disse Olivia Pope uma vez em Scandal.
Acredito que na relação a dois a conquista precisa ser mútua e diariamente. Ninguém precisa fazer a “Paula” e amar sozinho. O amor precisa ser correspondido, regado, ser interessante e interessado. Precisa de injeção de quebra de rotina. Fazer #aloka em dupla é muito bom!
Precisam nutrir uma sintonia mística. Sim! Dessas em que o casal compartilha da mesma fé. A maioria dos casamentos não dura porque o casal não ora juntos. No caso da pessoa que não é cristã, terminam porque não dialogam em sintonia. Por isso citei a “sintonia mística”.
“É injusto, doloroso e insuportável assistir a um amor que foi tudo se tornar nada”.
Acontece que o casal quando falha, normalmente, a princípio, ele falha sozinho. Dai o outro murcha. Se as pessoas tivessem o hábito de conversar antes, de pedir a Deus, Allah, Budah, ao Sol, uma orientação (em conjunto, porque você está num relacionamento a dois) e tivesse paciência para aguardar a solução chegar, o índice de divórcios seria menor. Porém, o que acontece é que as pessoas são imediatistas. Desesperadas. Ou na pior das hipóteses, são estúpidas, porque espera a situação chegar ao fundo do poço para assim tentar “resolve-la”. Já ouviu em falar em prevenção? Ou medicar a “doença” no início para ela não se agravar? A mesma coisa acontece com o amor.
Agora se você pensa que não nasceu para o casamento, me faça à gentileza de viver sua vida de solteiro feliz e com consciência. Porque a sociedade indiretamente nos obriga a casar, pois se você passou dos 30 e não se casou você é infeliz, fracassado e um estorvo.
Sociedade miserável. Que indiretamente te projeta para algo que nem você mesmo tem a certeza se está pronto. Eu vejo com tanta seriedade o matrimônio que mesmo correndo o risco de virar “avó” dos meus sobrinhos, eu ainda prefiro não embarcar nessa fase sem estar pronta, pois esse enlace é algo para ser duradouro, e não viver sobre aquela frase: Não deu certo separa.
As pessoas simplificam demais as coisas sérias. Ou seria o contrário?

E você? Já parou para refletir sobre o amor a dois?

terça-feira, 21 de julho de 2015

O Poder do Estado: A Democracia



O pensamento democrático é, talvez, o maior pensamento de igualdade social que exista. A democracia é uma crescente constante no mundo moderno, sendo aprimorada cada vez que é posta em prática. Contudo, o pensamento total democrático é falho.

O Primeiro problema da Democracia é a forma. Não há maneiras de se perpetuar uma Democracia sem uma representação (partidária ou não). Quando escolhemos alguém para nos representar este continuará, querendo nós ou não, sendo outra pessoa. O problema todo está no fato de que ele fará escolhas em nosso nome, podendo elas nos agradar ou não. Quando temos um representante de uma turma de escola é fácil submetê-lo às nossas vontades, mas em âmbito nacional torna-se uma tarefa muito mais difícil.

Quando falamos de representação partidária a figura muda. Paulo Bonavides em seu livro Ciência Política diz o seguinte:

Das definições expostas, deduz-se sumariamente que vários dados entram de maneira indispensável na composição dos ordenamentos partidários: (...)
d) um interesse básico em vista: a tomada do poder
e) um sentimento de conservação desse mesmo poder ou de domínio do aparelho governativo quando este lhes chega às mãos.”
(Paulo Bonavides, in “Ciência Política”)

Ou seja, os partidos políticos (que dizem representar o povo) farão de tudo para subir ao poder, contudo não terão o mesmo interesse de largar o osso. E isso resultará numa guerra ideológica onde o partido jogará com seu povo, dividirá o mesmo, pisará em quem for necessário, etc. E mais um problema surge nesse modo, um partido é montado por diversas pessoas, na hora de tomar decisões para o Estado, antes de expô-las para o publico, o partido se reunirá e tomará a decisão que vá de acordo com o que os membros do partido pensam e não com o que o povo pensa. 

O Segundo problema da Democracia são as opiniões. O povo moderno ainda não entendeu que todos nós temos um tipo de gosto e pensamento diferente e também não aprendeu a respeitar isso. Mas qual seria a ligação da subjetividade humana com a Democracia? Simples: a Isagoria, o fato de que todos nós temos o direito a voz e direito de dizer o que pensamos, seja para o bem, seja para o mal. A Democracia parte do seguinte principio “Não concordo com o que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de o dizeres” (Frase atribuída a Voltaire).

Ora, (direis) isso é coisa de liberdade de expressão. E eu vos direi, no entanto, a liberdade de expressão é um pensamento democrático. Pensemos que um monarca ou tirano não poderá dar ao seu povo a liberdade de expressão, pois acabarão atacando-o. Os aristocratas também não poderão fazer o mesmo, pois seu povo não seria classificado como “digno” ou “sábio” para poder se expressar. Contudo, se tirares da Democracia a liberdade, matarás a Democracia, pois ela é o governo do povo, a representação da voz do povo.

Eis que o problema se agrava, pois algumas pessoas, infelizes e ignorantes em seus ideais, possuem pensamentos que ferem as outras pessoas (racistas, homofóbicos etc.). Para conter a raiva geral e amenizar os estragos feitos criam-se leis que proíbem os praticantes de cometerem tais atos abomináveis, mas a partir do momento que se corta a liberdade do povo, fere-se um dos princípios da Democracia. Liberdade Moderada.

Mas o que é Liberdade? Liberdade para Noberto Bobbio é “um conceito interpessoal ou social referente às relações de interação entre pessoas ou grupos, ou seja, ao fato de que um ator deixa outro ator livre para agir de determinada maneira.”

O problema é que o Estado Democrata interfere na interação pessoal de um determinado ator, cujo sua opinião contraria a opinião de outrem ou da maioria.  O grande problema é: Como resolver tal problema, sem ferir a liberdade das pessoas? Não há maneira alguma de se fazer isso. O máximo que se pode fazer é a separação de “certo e errado” e deixar por conta do Direito.

Eis que chegamos a Terceira e última falha da Democracia. Qual seria, então, o mais grave erro da Democracia? A resposta é simples: Todos. Democracia é, em teoria, o governo do povo para o povo. Ou seja, qualquer ser humano tem o direito de participar das decisões políticas (inclusive os loucos retardados como eu), não há nada que impeça que determinado grupo de pessoas participe de funções sociais importantes. Podem dizer que “só pode votar quem tem título de eleitor”, contudo se pensarmos bem o voto é uma OBRIGAÇÃO de todos, logo você é OBRIGADO a votar, sendo assim TODOS têm que participar. Muitos me dirão também: “Mas João, falas do Brasil e quanto aos outros países?”. Nos países onde a votação é livre e não-obrigatória, acontece um fenômeno “pior”, o povo se vê no dever de votar, logo todos vão votar.

Talvez não vejam o problema, mas logo lhes direi. O problema de ter algo que envolva todos é que sempre deve vencer a MAIORIA e, nem sempre, ela está certa. Contudo, quando há uma votação e a maioria escolhe algo “errado”, ficará o “errado” num lugar avantajado. O fato é que: O povo inteiro não está preparado para certas posições ou escolhas.

Entretanto, se começarmos a escolher quem deve ou não dominar o Governo, nós teríamos uma Aristocracia (o governo de poucos), mas na prática seria o governo dos melhores. Se houver empecilhos para o povo votante (não podem votar os analfabetos, os loucos, os pobres etc) não haverá povo no governo e isto faria do mundo um inferno sem igual, pois os aristocratas trariam vantagens apenas para si. A Aristocracia não precisaria de um povo a não ser para seu trabalho manual, pois os aristocratas não poriam a mão na sujeira.

Contudo, após tudo o que eu disse aqui, eu defendo a Democracia, porque é a única forma de governo que preza por seus componentes por inteiro. Do gari ao médico, do ambulante ao jurista, do vendedor de praia ao filosofo. A Democracia é a forma de governo mais humano que existe e, enquanto não viramos “deuses”, é o melhor que temos para hoje. 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

O poema da volta


Voltar é uma forma de renascer. Ninguém se perde na volta. 
(José Américo de Almeida, Antes que me esqueça, A Bagaceira)

No caminho da volta,
o amado pródigo
não se perde: renasce.
As flores da estrada
ganham viço
e uma fragrância nova,
um cheiro macio de perdão,
que se torna espera,
e de espera,
que vira celebração,
um perfume antigo
e fresco,
que lembra limão.
Em Ítaca, Penélope cose
toalhas para o banquete,
fronhas para o bom sono
e os lençóis da conciliação.
Não há ressentimentos
nem orgulho vão
na fidelidade discreta
desse gesto familiar.
Um xale lhe cobre os ombros
e os dedos macios
puxam a corda da lira
fazendo-a vibrar
em canções de amor
e gestas de esperança,
de paciência nada vã.
Volta bem
quem viajou leve:
cabelos à brisa do mar
e as mãos na cintura,
com braços por enlaçar
algum torso feito tronco,
um barco a navegar,
um berço de ninar,
um bote pra salvar.
Volta ainda melhor
quem sempre o faz
por um bule de café,
um parco naco de pão
e uma sutil ilusão
de quem só navega
para o eterno retorno,
sempre em busca
da paixão imóvel,
que não muda nem cala,
despedaçado o coração,
só pra depois o colar
caco a caco,
taco a taco,
toco a toco.
Assim são
os caminhos da volta:
sem medo e sem peso,
sem mágoa e sem rota.
Pois na volta
ninguém se perde.
Na volta
ninguém só pede.
E na volta
só se abre mão
da solidão. 

(JOSÉ NÊUMANNE PINTO)

domingo, 19 de julho de 2015

O Roubo



Roubaram-me a noite passada
Ele entrou pela janela da sala
Arrebentou a corrente do meu medo
Embrenhou-se em minha camisola
Levou-me uns sussurros
Dois ou três arranhões
Falou-me de seus perigos
Marcou-me a boca com palavrões
Prendeu meu corpo sob o seu
Entre beijos minha força se perdeu
Devia ter reagido
O normal seria ter fugido
Mas me rendi entre gemidos
Até que o dia amanheceu
(Waleska Zibetti, in "O Roubo")

sábado, 18 de julho de 2015

Elas mandam - Correio feminino (Clarice)

por Gabriella Gilmore

Que tolas são certas mulheres que ignoram serem elas as que mandam e governam!
À primeira vista, parece que o homem manda, mas é sempre a mulher quem decide. É também ela a que conquista.
Quando ela quer esconder alguma coisa, esconde com tranquilidade, consciente de seu poder e ascendência. Quando o homem faz algo de secreto, seja o que for, logo pensa: "Se minha mulher soubesse." Isto revela que a mulher manda... e que o homem teme.
Por isto digo: Tola, não lutes por impor tua vontade, pois, ao final, tudo dará na mesma, e "ele" pensará como tu pensas.
Napoleão era um gênio, ninguém ousava falar em sua presença; porém na presença de Josefina, Napoleão se punha de joelhos.
Não grites para impor tuas ideias: atingirás o seu objeto com bondade e ternura... Guerreando, jamais a mulher ganhou uma batalha...

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Última Carta de Um Vilão




“Talvez até a morte tenha seu lado bom, um lado simpático... Mas eu não.

Desde que me entendo por gente, sonho em ter o mundo em minhas mãos. Em mandar e desmandar. Em criar e destruir todos os que se opõem a mim. Desde pequeno sonho com a glória de ser chamado de tirano, de monstro, de cruel. Tudo isso porque sempre me vi melhor que os outros seres humanos. Todos são idiotas demais, nada mais justo que eu os governe. Mas eles não sabem escolher o que é melhor para eles. 

Desde que me entendo por ser vivo, que não temo a morte. Gosto dela a acho divertida, sarcástica e irônica. Talvez porque eu nunca tenha morrido. Mas não entendo porque as pessoas temem tanto ela. Acostumei-me a ela desde o momento que jurei guerra contra todos os prepotentes imbecis que se auto proclamam “heróis”, mandei vários de presente para ela. 

De tanto viver ao lado dela não percebi que ela se aproximara demais, agora estou aqui de frente para esse espelho, preso em meu próprio quarto, e atrás da porta me espera um maldito moleque... Um maldito herói. Como odeio “heroizinhos”. Seres patéticos. Odeio heróis. Odeio com todas as minhas forças... Que já não são muitas...

No espelho vejo meu sorriso, que na minha infância era considerado um sorriso de loucura, mas eu sempre o achei tão atraente. Como meus olhos. Enquanto eu amo meus olhos, as pessoas o temem. O temem como temem a Morte. Vêem uma crueldade insana nos meus olhos e sorriso. Acho que é por isso que os amo tanto.

Ouvi um barulho na porta. Quero ter certeza de que tudo que fiz foi certo. Foi... Pelo menos para mim. Consegui tudo o que sempre quis: poder, estátuas em minha honra, o temor de todos, mandei para os anjos algumas pessoas mais cedo. Não me arrependo de nada. 

Mas depois de um tempo fica tudo muito chato. Nem matar nem torturar me trazem a alegria de antes. Acho que esse deve ser o problema da imortalidade. Veria tudo acontecer milhares de vezes e sempre saberia onde acertar. Seria um inferno. 

De novo o “herói” tenta abrir a porta. Meu sorriso está ainda mais louco. Acho que sei o porquê... Minha velha amiga, a Morte está se aproximando e eu sei quem ela vem buscar. No espelho o meu rosto já está cansado, eu já estou velho demais para essas brincadeirinhas de criança. 

Durante anos cacei esses infelizes que se dizem heróis, agora eu já não aguento nem lutar contra um. Devo estar louco, devo estar problemático, devo matá-lo agora... Ou morrer tentando. 

Ouço meu ultimo trovão, a magnífica obra da natureza. 
Quero que se lembrem que eu não me arrependo de nada. Quero que saibam que odeio heróis. Quero morrer e ser lembrado como um louco tirano que foi recebido com um trono no inferno. 

Até a morte tem seu lado piedoso, um lado humano... Mas eu nunca.”

Ele pegou a espada no canto e com os pés abriu a porta do quarto pulando em seu inimigo com a espada em punho. Ele não esperava a cavalaria que vinha atrás do herói. Foi derrotado antes de conseguir o triunfo de seu ultimo ato. Os soldados depois da batalha olharam para a cidade em chamas. 

O “monstro” podia ter morrido, mas seu sorriso e seus olhos refletiam o orgulho do dever cumprido.
(João V. Zibetti, in "Última Carta de Um Vilão")