Lembro-me de meus pais lendo para mim histórias de princesas
e seus príncipes antes de eu dormir. Era comum eu sonhar com castelos, bruxas,
torres e o tal Encantado. Era pequena ainda, mas a coisa ficava, sabe? Era uma
espécie de lavagem cerebral diária onde a informação “O Príncipe é o caminho” repetia-se
até que invadisse meu inconsciente e dominasse meus sonhos.
E o tempo passou e eu saí dos contos de fada para conhecer
outros autores. Ainda não tinha uma visão literária como tenho hoje e menos
ainda senso crítico, então, aos 13 e 14 suspirei apaixonada lendo Sidney
Sheldon. O príncipe estava lá, mesmo que sem cavalo e capa e com pequenos
defeitinhos.
Graças a Deus cresci! Não conheci o tal príncipe, mas casei
com algo que parecia perto de algum tipo de nobreza na época. Também, sejamos
francos, eu não era nem de longe uma princesa. Então, tudo estava dentro de um
parâmetro confortável. Amor? Bom, naquela época eu achava que sim. Amor era
facilmente confundido com calores em certas partes e algumas crises de choro ao
som de Bee Gees. Contudo, havia um envolvimento que permitia querências típicas
como ficar ao lado, não se ausentar por muito tempo, trocar informações do dia
a dia. Hoje vejo mais como “ausência parental”. Explico-me: meus pais
separados, minha mãe não tinha diálogo comigo, meu padrasto era um saco. Eu
vivia num universo só meu e do tal “semi-príncipe”. E um pensamento inocente
alerta: identifico-me com ele, logo o amo. A juventude é inocente, e o pesadelo
da maturidade. Mas enfim...
Casei-me aos 22. Foi bom! Foi dentro do esperado. Embora
confesse que por algumas vezes pensei nos dragões e lobo maus que conheci ao
ver o meu príncipe roncando ao meu lado. Noites insones inspiram pensamentos
nem sempre produtivos. Fiquei 17 anos casada oscilando entre “Eterno enquanto
dure” e “Acaba logo pelo amor de Deus”. Até que acabou. Bom, não é disso que é
para falar. Voltemos ao ponto...
“O casamento é uma necessidade?”, você perguntou. Não! O
casamento é um estágio da vida que pode ser perfeitamente ignorado. “E quando
se deve casar?” – você deve estar se perguntando. Case-se quando a vida lhe
assinalar que é a hora. Ainda que o juízo aponte riscos. Case-se quando você
pensar que a vida com aquela pessoa pode ficar melhor, mesmo na incerteza.
Case-se e pronto! Só não se case porque está ficando velha, porque as pessoas
estão cobrando, porque vai ficar para “titia”, porque quer alguém que a
sustente.
Ficar velha é algo natural. Pague uma aposentadoria privada,
tenha boa alimentação e prepare-se para uma velhice saudável e segura.
Casamento não é INSS para garantir a sua aposentadoria. As pessoas estão
incomodas porque você não tem um namorado? Dê a elas um gato e mande que elas
cuidem das sete vidas dele ao invés da sua. Está ficando para titia? Seja uma tia maneira!
Vá ao cinema com os sobrinhos, jogue videogame com eles, curta essa galerinha
que é incrível de se conviver quando nos disponibilizamos a entendê-los
lembrando que fomos como eles.
Se não esquecer que casamento não é refúgio, é compromisso;
não é obrigação, é decisão; tudo dará certo. O importante é agir com
consciência para não entrar no arrependimento. E amar, amar, amar... e quando
possível, amada ser.