terça-feira, 31 de março de 2015

Quem Nunca... - Leitura do livro "Adultério" de Paulo Coelho (Parte Dois)


Vamos continuar a viajar pelo livro de Paulo Coelho?

“Apenas a noite me apavora. O dia que não me dá nenhum entusiasmo. 
As imagens felizes do passado e as coisas que poderiam ter sido e não foram. 
O desejo de aventura jamais realizado.
 O terror de não saber o que acontecerá com meus filhos.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Tanto para ver, viver e sentir e a gente se afunda na porcaria de ideia de casamento. Malditas mães que nos fazem crer que a felicidade está nessa porcaria de aliança. Quando nos damos conta da realidade perdemos nossas vidas, nosso tempo, perdemo-nos e o pior, acabamos com medo de recomeçar, porque de certa forma o recomeço passa por caminhos já conhecidos. É tudo igual, mas camuflado.

“Imagino que algumas pessoas passam anos deixando a pressão crescer dentro delas,
 sem nem ao menos notarem,
 e um belo dia qualquer bobagem faz com que percam a cabeça. 
Então dizem: “Chega. Não quero mais isso. ””
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Qual foi a última gota que mudou minha vida? Não sei. Mas por muito tempo criei e recriei a cena onde agarraria a minha liberdade e fugiria de encontro a mim. Quando chegou a hora eu tive medo, mas não desisti, saí o mais firme que pude com tudo de são que ainda existia. E foi uma luta diária seguir resistindo a vontade de voltar. Até que a cabeça se livra da dependência do passado e começa a valorizar o presente e idealizar o futuro.

Será que, entre todos os homens do mundo, 
fui me casar com o único absolutamente perfeito? 
Não bebe, não sai à noite, não tem um dia para estar só com os amigos. 
A vida dele se resume à família.
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Talvez eu tenha me casado com um homem perfeito. Talvez isso é que tenha feito tudo ficar chato do fim das contas. A perfeição é cansativa e rotineira. Eu nunca me coloquei como perfeita, Graças a Deus! E tenho uma desconfiança tremenda de que se diz muito correto. Acho que todo mundo que bate no peito se chamando de “justo”, “leal”, etc., tem podres escondidos que escandalizariam o mundo. Gosto do errado, porque ao lado desses sei exatamente o que encontrarei e o risco de frustração torna-se quase zero. 

“A tragédia alheia sempre ajuda a diminuir nosso sofrimento”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Sem comentários.

“Parece que minha alma está lentamente deixando meu corpo 
e indo para um lugar que desconheço, um lugar “seguro”, 
onde não precise aturar a mim e a meus terrores noturnos.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
E foi assim que meus textos, ganharam uma formatação intimista e nostálgica. Criei diversos universos onde eu pudesse me esgotar, me multiplicar, me experimentar. Ouso e viajo dentro de mim e enquanto faço isso ignoro por completo as cobranças e os rótulos com que me presenteiam todos os dias.

“A comida fica sem gosto, o sorriso, em contrapartida, 
alarga-se ainda mais (para que não desconfiem),
 a vontade de chorar é engolida, a luz parece cinza.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Dias e dias cinza. Isso é tudo que eu contemplava quando finalmente a casa silenciava em sono e eu podia ter algum momento comigo. Onde tinha ido passear o sol? Eu sabia, no fundo, que a chuva era em mim. Mas daí a admiti-lo iria uma longa caminhada. Ainda tenho dias cinza, as vezes. Mesmo depois do divórcio, mas aprendi a abrir a porta e dançar na chuva. O que fez tudo ficar mais fácil.

“Eu me engano com muita facilidade”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Isso é preciso, querido. É preciso buscar um, porque para jogarmos na cara dos conceitos enraizados em nós. É preciso tapar a moral com mentiras justificáveis. É preciso não admitir claramente o desejo escondendo-o numa coisa menos nociva aos olhos da sociedade.

“Consegui transgredir as regras 
e o mundo não desabou na minha cabeça! 
Faz tempo que não me sinto tão feliz assim.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)

Será que é tão errado assim “pular a cerca”? Para nós mulheres, a primeira resposta que vem a cabeça é “sim”, mas se querem saber, hoje não vejo assim. Eu deveria ter “pulado” primeiro. Deveria ter vivido as oportunidades da minha juventude. Contudo, ainda acreditava em ser uma esposa fiel e mãe amantíssima. Fazer o que, né?
“As grandes mudanças acontecem com o tempo”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Passava longas horas perdidas em meus pensamentos imaginando o que deveria ser mudado no meu casamento para que ele falisse de vez. Quem deveria mudar ou se adaptar?Levou um longo tempo para eu finalmente entender que ninguém deveria mudar porque num casamento o que se precisa é uma dose generosa de compreensão e outra de aceitação. E adaptar-se também não é o caminho. É preciso encaixar-se  confortavelmente na situação. E nem ele e nem eu estávamos dispostos a isso.

“As almas penadas têm essa incrível habilidade de se reconhecerem 
e se aproximarem, multiplicando suas dores.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Ih, sei bem como são esses encontros! Alguns chamam de dedo podre. Eu não fui diferente encontrei várias almas penadas e fui encontrada, mas depois começamos a nos livrar delas quando vamos encontrando novos propósitos para nossas vidas. Essas pessoas gostam de ficar lamentando-se. São chatas de galocha!  Se você não assumir a mesma postura, elas não agüentam e caem fora rapidinho.  

“A vida está voltando a ter graça, 
porque a apatia de antes é substituída pelo medo. 
Que alegria ter medo de perder uma oportunidade!”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Quando se está à beira do caos qualquer peça que se encaixa é um alívio enorme. Nasce uma ponta de esperança de que algo mudará o estado incomodo em que nos encontramos por algum sentimento intenso e urgente que trará novos sabores as nossas vidinhas insanas. Medo , desejo, paixão qualquer um será melhor que o marasmo.

“Quando crianças, aprendemos que, se choramos, 
recebemos carinho; se mostramos que estamos tristes, recebemos consolo. 
Se não conseguimos convencer com nosso sorriso, 
seguramente convenceremos com nossas lágrimas. 
Mas já não choramos 
– exceto no banheiro, quando ninguém está nos ouvindo – 
nem sorrimos – só para nossos filhos. 
Não demonstramos nossos sentimentos 
porque as pessoas podem nos julgar vulneráveis e se aproveitar disso. 
Dormir é o melhor remédio.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Fechar os olhos para vida e se imaginar em outro lugar, fazendo outras coisas. Chorar não resolve nem convence. Todo mundo vai dizer que é frescura. Só você sabe o  mal, o peso das coisas dentro de você. Então essa coisa de infelicidade , insatisfação, solidão, marasmo, apatia tudo tem que ser resolvido de dentro para fora. Não há palavra mágica que cure isso mergulhe em si, duele consigo e descubra onde está seu câncer.

“Mas faz alguns meses que ando triste.
- Não foi o que achei. Acabo de comentar que está mais alegre.
Claro. Minha tristeza se tornou rotina, ninguém percebe mais.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Quando a crise no meu casamento começou, eu passava tempo olhando meu ex-marido na distância. Queria ver para onde tinha ido aquele garoto que me fazia umedecer só de sentir seu cheiro. Ele tinha envelhecido. Eu também envelheci. Pensava que eu, provavelmente ele também, fazia o mesmo. Como pôde acontecer de na convivência perdermos a “intimidade”, esse contato com a essência do outro? A gente fica superficial para o outro. E de repente está lá um abismo separando o que antes era um bloco uno e sólido.

“Não é apenas uma corrida para se exercitar.
 É saber que existe uma linha de chegada 
e que não se pode desistir no meio.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
“Não desista!” às vezes é preciso repetir centenas de vezes até se convencer de que largar tudo e fugir não diminuirá em nada o problema. Pode ser até que ocasione outros ainda piores e maiores como mágoas e rancores. Enfrentar a situação é sempre o melhor caminho. Romper com a situação se for o caso, mas fazê-lo de forma consciente de modo que os danos sejam os menores possíveis para si e para os outros.

“Você não escolhe sua vida: é ela que o escolhe. 
E se o que lhe foi reservado são alegrias ou tristezas, 
isso está além da sua compreensão. Aceite e siga em frente.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Penso que a coisa de destino como infalível, invariável e fatal, deixa a vida muito monótona e sem propósito. É preciso acreditar em opções, oportunidades e, claro, consequências. Parte do nosso amadurecimento vem dessa experiência de lançarmo-nos em nossos desejos ora colhendo louro da vitória ora superando-nos diante de uma derrota.  

“Meu amor me pertence e sou livre para oferecê-lo 
a quem eu bem entender, mesmo que não seja correspondida.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Amar é sentimento dolorido porque não há garantias de que será perfeito. A culpa da frustração que acompanha algumas histórias de amor é dessa maldita mania de procurar príncipes e princesas por aí. Não existe isso. O(A) seu(sua) parceiro(a) é um ser humano então deixe claro para você que ele(a) pode fazer algo que lhe desagradará. E quando isso acontecer não terá fada que te salve. Logo, sente e converse. Assim vocês se acertarão. Se tudo falhar mude de parceiro(a).

“É interessante lutar por um amor não correspondido.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)

É interessante. Mas pode ficar chato pra caraca. Então, antes de embarcar numa dessa é importante ter certeza de que vale a pena e, principalmente, se você é forte o suficiente caso as coisas não saiam como o planejado. 
(Waleska Zibetti)

[Continua...]