sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Entre a Razão e a Emoção



Exatamente 01:16 da manhã. Estou na sala com as luzes apagadas e uma taça de vinho. Ouço Loreena McKennitt cantando "Never-Ending road". E você sentado é um espectro no canto iluminado pela luz da rua.  Menino tímido me sorrindo de canto. Usa azul. Foi impossível não sorrir também. E você balança a cabeça escondendo o rosto no mão como que negando algo. Então, desvio os olhos e penso em algo para dizer. Antes que eu pudesse dizer, a razão grita:

__ Sabe que não é ele, não é? Você está buscando isso tudo para se sentir menos vazia. Acorda, mulher! As coisas são como são e você não tem ninguém. Encare os fatos tudo é sonho e sonhos não têm obrigação de ser real.

Um gole enorme do vinho faz a razão descer garganta a dentro. E você me ergue a mão. 


Estamos dançando ao som da voz doce de Mckennitt. Rodopiando centímetros acima do chão de mármore do salão principal. Você em seu traje azul e rabo de cavalo e eu em um vestido branco.

__ Conduza-me, amor, porque eu não sei dançar. Me leve! Me leve! Eu te dei meu coração...

Aperta-me enfim em seu peito e minha cabeça se encosta em seu ombro. Seu coração bate ao compasso da mesma canção e sua mão dulcíssima toca meus cabelos aconchegando-me melhor em seu peito. Não há mais nada no salão e nem ninguém além de você, Loreena e eu. E então, você me olha ternamente e diz:

__ Será que um dia você cresce, menininha?

Faço uma cara bem arteira e enquanto escondo o rosto na lapela de sua casaca azul, balanço a cabeça negativamente. Você solta uma gargalhada boa.

__ Ainda bem, anjo!

Beija-me a testa, ata sua mão a minha e atravessa o salão rumo aos portões ao som de Loreena que diz...

"Here is my heart and I give it to you
Take me with you across this land
These are my dreams, so simple and few
Dreams we hold in the palm of our hands"

As portas se fecham, o salão se apaga e a lua sorri; enquanto nós dois adormecemos na grama do jardim.
(Waleska Zibetti)