sexta-feira, 27 de março de 2015

A Casa de Carlyle e Outros Esboços (Virginia Woolf)



A Casa de Carlyle e Outros Esboços (Virginia Woolf)

1-     Nota Biográfica

Adeline Virginia Stephen nasceu em Londres em 25 de janeiro de 1882. Estudou e recebeu educação em casa, teve acesso ilimitado à biblioteca do pai; sempre pretendeu ser escritora.

Em 1895, sua mãe morreu inesperadamente, e logo depois Virginia sofreu o primeiro colapso nervoso; a partir de então e pelo resto de sua vida ela passou a ser atormentada por períodos de doença mental. Em seguida à morte de seu pai, ocorrida em 1904, os quatro irmãos Stephen órfãos mudaram-se para Bloomsbury, onde sua casa transformou-se no centro do que veio a ser conhecido como o Grupo de Bloomsbury.

Virginia terminou seu primeiro romance, The Voyage Out, em 1913, mas o grave colapso que sofreu logo em seguida adiou sua publicação até 1915.

Em Richmond, Virginia escreveu seu segundo romance, Noite e dia (1919). Em 1920, Virginia começou seu terceiro romance, O Quarto de Jacob (1922). Em seguida vieram Mrs. Dolloway, Passeio ao Farol e As Ondas, e esses três romances fixaram-na como uma das principais escritoras do movimento modernista. O romance Os Anos veio a público em 1937, e ela havia mais ou menos terminado sua última obra,  Entre os Atos, Quando incapaz de enfrentar mais um ataque de doença mental, afogou-se no rio Ouse em 28 de março de 1941.

2-    Eu e o livro

Esta é uma coletânea de sete esboços de Virginia Woolf e nem por isso torna-se de fácil leitura. A complexidade e intensidade dessa escritora é algo que nos atinge com força ímpar o mais íntimo de nós. É impressionante como ela consegue deixar tudo no campo quase real. Onde cada emoção pode ser quase tocada ou sentida como nossa.

Por que lê, então? Porque Virginia me leva para longe da mesmice de alguns autores. Ela tem poder de observação aguçada, quase brutal. Ler Virginia é se confrontar é encarar preconceitos típicos de uma época ou da própria escritora. Ela é uma escritora sem meio termo. Por isso, não gosto da visão “boa menina sofredora” que construíram para ela no filme “As Horas”.

Tal como eu olho o mundo, penso em Virginia como uma menina cruel gosta de chocar com suas crenças, achismos e verdades. Sempre que é posta em xeque por amigos ou desconhecidos. Se paga um preço? Se paga. Mas quem se importa? É divertido oras!

Ela não é linear, a meu ver. E isso me encanta. O estilo dela faz com que sua escrita seja quase um passeio por ruas “espantosas”. Ela não é para um leitor comum. Acho que para ler Virginia é preciso ser um pouco Virginia. E isso pode ser apaixonante para uns ou simplesmente detestável para outros.

3-    Os Trechos



“A casa é iluminada e espaçosa;
mas é um lugar silencioso,
que demanda muita imaginação
para que se possa vê-lo com vida novamente.”
(Virginia Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços”)

No primeiro esboço encontramos uma Virginia mergulhada nos próprios pensamentos. O relato é de fevereiro de 1909 quando Virginia ainda solteira  visita os Carlyle. E embora seja a terceira vez ela descreve como se tudo fosse uma grande novidade.


“Quando está em silêncio, pensa –
seus  olhos se fixam em um ponto”
(Virginia Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços”)


O segundo esboço chama-se “Miss Reeves” e é referência a Amber Reeves figura conhecida politicamente entre os estudantes de Cambridge. Uma mulher sedutora a quem Woolf compara a uma serpente. Mostrando seu lado malicioso com as palavras quando se refere aos seres humanos.

“Eles desejavam a verdade,
e tinham dúvidas se uma podia dizê-la ou encarná-la.
Achei isso corajoso da parte deles; mas insensível.”
(Virginia Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços”)

O terceiro esboço de título “Cambridge” é uma narrativa um tanto quanto irônica, a meu ver. Quando ela analisa outra ocasião onde se sentira excluída do grupo que agora a cercavam admirados.

“Mulheres que trabalharam, mas não se casaram,
vêm a ter uma aparência peculiar; requinte, sem sexo;
evidente, com uma tendência para a austeridade.”
(Virginia Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços”)

O quarto esboço fala do encontro entre Virginia e Janet Case – grande amiga de Woolf. O mais suave dos sete esboços do livro.

“Muito se lê e ouve falar a respeito dos grandes salões franceses;
e são sempre declarados extintos como dodôs,
embora o que seja esta coisa que está extinta,
isto não sei.”
(Virginia Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços)

O quinto esboço é o fechamento da conferência dos “Old Bloomsbury” onde Virginia relembra. Uma Lady Ottaline com quem ela costumava falar sobre sua tristeza. São trechos caprichosa e carinhosamente descritivos sobre a amiga.

4-    Conclusão


Ainda há mais dois esboços antes do livro chegar ao fim tão simples quanto começou. Só que agora estou preenchida de lembranças especiais dessa escritora que, na minha opinião é maravilhosamente elegante, ferina e louca. 
(Waleska Zibetti, in "A Casa de Carlyle e Outros Esboços (Virginia Woolf)"