A Casa de Carlyle e Outros Esboços (Virginia Woolf)
1-
Nota Biográfica
Adeline Virginia Stephen nasceu em Londres em 25 de janeiro
de 1882. Estudou e recebeu educação em casa, teve acesso ilimitado à biblioteca
do pai; sempre pretendeu ser escritora.
Em 1895, sua mãe morreu inesperadamente, e logo depois
Virginia sofreu o primeiro colapso nervoso; a partir de então e pelo resto de
sua vida ela passou a ser atormentada por períodos de doença mental. Em seguida
à morte de seu pai, ocorrida em 1904, os quatro irmãos Stephen órfãos
mudaram-se para Bloomsbury, onde sua casa transformou-se no centro do que veio
a ser conhecido como o Grupo de Bloomsbury.
Virginia terminou seu primeiro romance, The Voyage Out, em 1913, mas o grave colapso que sofreu logo em
seguida adiou sua publicação até 1915.
Em Richmond, Virginia escreveu seu segundo romance, Noite e dia (1919). Em 1920, Virginia
começou seu terceiro romance, O Quarto de
Jacob (1922). Em seguida vieram Mrs.
Dolloway, Passeio ao Farol e As Ondas, e esses três romances fixaram-na
como uma das principais escritoras do movimento modernista. O romance Os Anos veio a público em 1937, e ela
havia mais ou menos terminado sua última obra,
Entre os Atos, Quando incapaz
de enfrentar mais um ataque de doença mental, afogou-se no rio Ouse em 28 de
março de 1941.
2-
Eu e o livro
Esta é uma coletânea de sete esboços de Virginia Woolf e nem
por isso torna-se de fácil leitura. A complexidade e intensidade dessa
escritora é algo que nos atinge com força ímpar o mais íntimo de nós. É
impressionante como ela consegue deixar tudo no campo quase real. Onde cada
emoção pode ser quase tocada ou sentida como nossa.
Por que lê, então? Porque Virginia me leva para longe da
mesmice de alguns autores. Ela tem poder de observação aguçada, quase brutal.
Ler Virginia é se confrontar é encarar preconceitos típicos de uma época ou da
própria escritora. Ela é uma escritora sem meio termo. Por isso, não gosto da
visão “boa menina sofredora” que construíram para ela no filme “As Horas”.
Tal como eu olho o mundo, penso em Virginia como uma menina
cruel gosta de chocar com suas crenças, achismos e verdades. Sempre que é posta
em xeque por amigos ou desconhecidos. Se paga um preço? Se paga. Mas quem se
importa? É divertido oras!
Ela não é linear, a meu ver. E isso me encanta. O estilo
dela faz com que sua escrita seja quase um passeio por ruas “espantosas”. Ela
não é para um leitor comum. Acho que para ler Virginia é preciso ser um pouco
Virginia. E isso pode ser apaixonante para uns ou simplesmente detestável para
outros.
3-
Os Trechos
“A casa
é iluminada e espaçosa;
mas é um
lugar silencioso,
que
demanda muita imaginação
para
que se possa vê-lo com vida novamente.”
(Virginia
Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços”)
No primeiro esboço encontramos uma Virginia mergulhada nos
próprios pensamentos. O relato é de fevereiro de 1909 quando Virginia ainda
solteira visita os Carlyle. E embora
seja a terceira vez ela descreve como se tudo fosse uma grande novidade.
“Quando
está em silêncio, pensa –
seus olhos se fixam em um ponto”
(Virginia
Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços”)
O segundo esboço chama-se “Miss Reeves” e é referência a
Amber Reeves figura conhecida politicamente entre os estudantes de Cambridge.
Uma mulher sedutora a quem Woolf compara a uma serpente. Mostrando seu lado
malicioso com as palavras quando se refere aos seres humanos.
“Eles
desejavam a verdade,
e
tinham dúvidas se uma podia dizê-la ou encarná-la.
Achei
isso corajoso da parte deles; mas insensível.”
(Virginia
Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços”)
O terceiro esboço de título “Cambridge” é uma narrativa um
tanto quanto irônica, a meu ver. Quando ela analisa outra ocasião onde se
sentira excluída do grupo que agora a cercavam admirados.
“Mulheres
que trabalharam, mas não se casaram,
vêm a
ter uma aparência peculiar; requinte, sem sexo;
evidente,
com uma tendência para a austeridade.”
(Virginia
Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços”)
O quarto esboço fala do encontro entre Virginia e Janet Case
– grande amiga de Woolf. O mais suave dos sete esboços do livro.
“Muito
se lê e ouve falar a respeito dos grandes salões franceses;
e são sempre
declarados extintos como dodôs,
embora
o que seja esta coisa que está extinta,
isto
não sei.”
(Virginia
Woolf, in “A Casa de Carlyle e Outros Esboços)
O quinto esboço é o fechamento da conferência dos “Old
Bloomsbury” onde Virginia relembra. Uma Lady Ottaline com quem ela costumava
falar sobre sua tristeza. São trechos caprichosa e carinhosamente descritivos
sobre a amiga.
4-
Conclusão
Ainda há mais dois esboços antes do livro chegar ao fim tão
simples quanto começou. Só que agora estou preenchida de lembranças especiais
dessa escritora que, na minha opinião é maravilhosamente elegante, ferina e
louca.
(Waleska Zibetti, in "A Casa de Carlyle e Outros Esboços (Virginia Woolf)"