Suas costas nuas, meu papel em branco.
Seu sono tranquilo, meu conforto.
Seus sinais, a minha constelação inspiradora.
Sua pele sorve a tinta como que devorando
uma a uma as letras do meu desejo.
Invejo a pele.
Invejo o cheiro.
Dorme ainda indiferente a caneta que corre.
Mais um verso escrito
(ou outra desculpa para estar aqui
sobre suas costas nuas)
Não se mova, amor!
Deixe que eu escreva suas costas inteira
ou até que minha vontade se acalme.
Não desperte, amor!
A ressonância do seu sono move a caneta.
Não quero nexo.
Quero juntar coisas
na tentativa vaga de um poema.
Qualquer coisa.
Escrevendo aqui sou mais cúmplice de ti.
Minha caneta deslisa
nos movimentos suaves de sua respiração.
E eu sobre suas costas,
umedeço os lábios aquietando meu tesão.
Um verso atrás do outro.
Uma vontade atrás da outra.
Sua pele, minha folha agora maculada de erotismo
camuflado em versos.
Seu sono, meu delírio.
Com fúria sinto o fim tão perto.
Não dos versos...
Não da tara...
Não da libido...
Mas das costas onde despejo
os meus versos de amor.