quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CIÚME OU POSSESSÃO?

Um crônica de Gabriella Gilmore



CIÚME OU POSSESSÃO?

Pedro Henrique está sem dormir a três dias, se queixando de dores no coração, ansiedade e insônia aguda.
Motivo? A namorada que mora a alguns quilômetros de distância.
Sabemos que o rapaz é ciumento, e que namorar uma moça bela e de um carisma apaixonante, não deva ser tão fácil.
Tudo começou com uma amizade de final de semana. Clarissa viajava todo sábado para a capital, aonde fazia pós-graduação. Henrique trabalhava na universidade.
Trocaram e-mails por um ano e uma bela amizade nasceu ali.
Num belo dia decidiram passar um final de semana juntos, pois ambos estavam sentindo aquela amizade mudar de cor. Beijaram-se pela primeira vez. Ali, uma explosiva paixão brotou em seus corações. No mesmo mês decidiram namorar.
A semana de ambos acabava sendo um martírio, afinal, a ansiedade de um novo encontro era desmedida.
No segundo mês, Pedro Henrique, em um excesso de bebedeira, terminou o namoro sem um motivo aparente. No mesmo dia, Clarissa aos prantos, pediu para ele aceitá-la de volta. Reataram ali mesmo, ao telefone.
Mais juras de amor foram declaradas, e no terceiro mês, boommm: a relação começou a esfriar. Henrique começou a ficar seco e indiferente. Começara a implicar com o novo amigo de quarto de Clarissa, mesmo sabendo que o rapaz estava mais para rapariga, do que para macho. Ele sabia que ela dividia o apartamento com o jovem, por não ter ninguém para dividir despesas, e o egoísta namorado, fazia teatro em vão.
“Ele não me diz mais que me ama, e nem me manda mais mensagens de bom dia. Estou devastada”.
Sabendo do problema de alcoolismo do amado, Clarissa se sentia culpada a cada show que o garoto fazia, e de alguma forma, ela achava que a culpa era sua por deixá-lo se sentir inseguro. Por mais que ela tentasse provar que ele era o amor de sua vida, o gelo daquela semana negra estava matando a protagonista.
Todos ao seu redor sabiam o tanto que ela havia mudado, e percebiam o quão sincero era o seu amor por Henrique, e ela não sabia mais o que fazer.
“Não sei se será pior ficar com ele, ou estar separado dele. É como se ele fosse meu último amigo.”
Abatida com o descontrole insano daquela relação, a jovem resolveu procurar um terapeuta.
Depois de longas horas trancafiada no consultório, Dr.Braga diz:
_Clarissa, me faça um grande favor.
_ Pois não, Doutor!
_ Continue sentada e apenas me escute agora.
Ela franziu a testa, e resolveu acatar a ordem do médico, que de tão velho, inspirava serenidade, sabedoria e sinceridade.
_ Pois bem minha jovem. Pedro Henrique está sendo mimado com você. Eu não entendo o comportamento dele como ciúmes, e sim como possessão. Você é dele, ele a quer somente para ele e fim. Eu trato meus pacientes aqui com relatos verídicos, e em sua maioria são experiências vividas. Acho que trago o paciente para mais perto da realidade quando faço isso.
Eu quando jovem, tive um relacionamento assim. Honestamente?
Ele perguntou olhando para mim. Quando ameacei a responder ele me interviu.
_ Xiii, é a minha vez de falar tudo, mocinha. Não me interrompa. Continuando: Honestamente, aquilo estava cansativo, chato e foi ficando cada vez mais perigoso. No começo a gente sempre faz o papel de bobo da história, que tenta ajeitar as coisas, sem querer brigar resolvendo tudo na conversa e compreensão. Mas, não somos nós quem temos que mudar e ser compreensivos, e sim eles. 
Eu tinha ciúmes da minha namorada, e ela também tinha sobre mim. Porém, entendíamos perfeitamente que cada um tinha seus amigos, e que por morarmos longe, não podíamos sair sempre juntos. Isso é um fato que deve ser enfrentado por casais que moram longe. Se seu namorado não entende que você tem amigos e que principalmente, este que você mora junto, (que te ajuda nas despesas de uma vida adulta, e sem pais), eu tenho apenas mais algumas palavras para te falar: seu namorado é imensamente imaturo, mimado, egoísta e ele vai acabar fazendo você desistir de coisas e amigos que gosta. 
Ela arregalou os olhos, e a ficha começou a cair. Ameaçou novamente em mexer os lábios e ele a interrompeu completando a análise:
_ Para isso não acontecer, ele precisa mudar de atitude e ser adulto. Assumir as responsabilidades e conseqüências de um relacionamento à distância. Especialmente sabendo que você é uma pessoa que gosta de fazer amigos. Você, senhorita, precisa se sentir bem em um relacionamento, feliz, e ele não está te apoiando, sendo companheiro ou ficando do seu lado. E uma última observação, um pouco mais forte: NÃO SE ENTREGUE MAIS A ESSA PAIXÃO. Não por enquanto.
Quando ele terminou tudo, o bom e sábio velho se levantou indo em direção a sua estante de livros e pegou sua caixa de charutos. Lentamente a acendeu e disse:
_ Fim da sessão.