sexta-feira, 1 de maio de 2015

Para Sempre



__ Interessante! - Assim ele me definiu no fim da noite quando eu e a taça de vinho repousávamos em silêncio do lado oposto da mesa e dos pensamentos dele.  Eu o observava talvez buscando algum tipo de definição para ele, também. E de repente notei que tinha olhar reticente. - Está tentando entender o "interessante"? 

__ Não! Estou tentando uma palavra para você. 

__ Achou alguma?

__ Austero. - E ele franziu a testa, não sei se ele buscava uma explicação ou se não achou pertinente a definição dada. Depois recostou-se na parede com olhar perdido. E houve alguns minutos silenciosos. Depois ele olhou-me tão diretamente nos olhos que eu não pude desviá-los. Eu deveria dizer algo ou talvez ele. 

__ Austero igual a chato? 

__ Austero igual diferente de mim.

__ Fala porque sorrio pouco?

__ Falo pela loucura. 

__ Você sabe que de louca, você nada tem. É a pessoa mais coerente e consciente que conheço. Só que sem carregar o peso dessa coerência nos ombros. E isso a deixa leve e ainda mais interessante. Mas por que "sóbrio"?

__ Porque você, em todo o tempo manteve-se centrado quando seus gestos indicavam descompasso. Porque você não perdeu a linha em nenhum momento, mesmo quando seus olhos faiscaram de ódio. Você vai ao extremo e antes que o ultrapasse, volta uma espécie de equilíbrio confortável. - E novamente ele recostou a cabeça e perdeu-se em pensamentos. 

__ Você passou esse tempo todo me analisando, enquanto eu achava que você nem me ouvia. Você é realmente muito interessante. - E voltando novamente seus olhos para os meus. - Você será para sempre minha. 

__ Para sempre não existe! E eu não sou de ninguém!

__ Para sempre existe sim. Você só não precisa estar fisicamente nele. E você é minha. Porque sou dono de meus pensamentos e eu vou levar você dentro deles. - Ele havia me silenciado. Eu que sempre tenho resposta para tudo, nada pude dizer. Então, ele se levantou sorrindo. Estendeu a mão para mim. De pé diante um do outro sem nada dizer. Eu não conseguia pensar em nada coerente. Ele me sorri. E eu nem sei se sorri de volta. - Vem comigo!

__ Para onde? - E de repente senti-me tão pequena e débil por ter dito aquilo.

__ Ser para sempre num momento de nós dois. 

Sorri. E entendi. E em algum momento de uma noite. Um para sempre se repete numa cama de motel.  
(Waleska Zibetti, in "Para Sempre")