Tinha uma moça num certo lugar
que dizia "eu te amo" por cem Reais.
Tinha uma moça num certo lugar
que vendia ilusões aos homens carentes.
E um dia um homem chegou
e perguntou se ao invés de vender,
ela simplesmente daria a ele um "eu te amo" daqueles.
Ele também quis saber
se ela trocaria um pouco da ilusão,
por algo mais concreto.
A moça pensou, olhou
para as cortinas vermelhas,
para as meias de seda,
para a cama cheirando a alfazema barata...
Tinha uma moça num certo lugar
que cantava a meia-luz canções de além mar.
Tinha uma moça num certo lugar
que entre a fumaça do próprio cigarro dizia
que seu "eu te amo" de nada valia
na boca de quem a faria chorar,
mas que ali seu "eu te amo" valia cem reais
entre corpos carente que não tinha que amar.
E a moça olhando de esguio sorriu da calçada
olhando o vadio levando suas mentiras para outro lugar.
A moça pensou,
olhou para o céu de estrelas,
para as unhas vermelhas,
e caminhou pelas ruas
com a certeza de que vive melhor nessa vida
quem conhece seu lugar.
(Waleska Zibetti)