“Uma vida é curta
para mais de um sonho”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)
A vida é curta para pôr tudo em prática. Todas essas vontades que nos surgem a cada amanhecer. Mas se a vida é curta, porque desperdiçamos tanto com raiva, orgulho, ciúmes...? A vida é curta e sonhar é bom. E toda vez que eu sonho a vida se estreita, mas nem me dou conta porque sonhar me alonga, me amplia. Sinto que vou além da vida.
“Fechamos o corpo
como quem fecha um livro
por já sabê-lo de cor.”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)
Conheço meu corpo, mas não minha alma. Estou pronta para me despedir do meu corpo e atingir o infinito que minha alma pode alcançar. O corpo é passageiro, a alma eterna. O desapego do corpo pela alma, para mim, é a aproximação com o divino.
“Só mesmo um velho
para descobrir,
detrás de uma pedra,
toda a primavera.”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)
Os olhos experientes tiram das adversidades, os mais profundos ensinamentos, as mais raras belezas. Os olhos experientes encaram a chegada do amanhã com mais paixão, porque aprenderam que cada amanhecer é único e uma nova oportunidade. Uma bênção de Deus.
“Hesitei horas
antes de matar o bicho.
Afinal,
era um bicho como eu,
com direitos,
com deveres.
E, sobretudo,
incapaz de matar um bicho,
como eu.”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)
Ah, se todos em posição privilegiada entendessem que os menos privilegiados são criaturas de Deus. E que, por tanto, deveriam ter ao menos o direito ao mesmo respeito. Somos todos iguais aos olhos de Deus. E não é esse o olhar mais importante?
“os dentes afiados da vida
preferem a carne
na mais tenra infância
quando
as mordidas doem mais
e deixam cicatrizes indeléveis
quando
o sabor da carne
ainda não foi estragado
pela salmora do dia a dia”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)
Hoje avalio bem as escolhas antes de fazê-las. Aprendi que a vida é uma tutora exigente. Se errar a lição, o castigo pode durar uma vida inteira.
“O olho da rua vê
o que não vê o seu.
Você, vendo os outros,
pensa que sou eu?
Ou tudo que teu olho vê
você pensa que é você?”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)
Estamos sempre pondo no outro a culpa dos nossos desencontros e desgostos. Hoje entendo que o que me incomoda no outro, muitas vezes, é o pedaço que há nele que o iguala a mim.
“Depois de hoje
a vida não vai mais ser a mesma
a menos que eu insista em me enganar
aliás
depois de ontem
também foi assim
anteontem
antes
amanhã!
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)
Quanto foi que o tempo voltou atrás? Tudo muda a todo o momento. Sou agora uma mulher completamente estranha para a mulher que era a um ano atrás. É emocional, psicológico, intrínseco. Como tudo passou tão rápido e eu não vi?
“quem é vivo
aparece sempre
no momento errado
para dizer presente
onde não foi chamado”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)
Acho que o máximo da elegância é marcar data e hora para chegar. E nunca atrasar ou adiantar. Atrasar quebra a expectativa. Adiantar estrada a organização das boas vindas.
“Achar
a por ta que esqueceram de fechar.
O beco com saída.
A porta sem chave.
A vida.”
(Paulo Leminski, in “Quarenta Clics em Curitiba”)
Nada me incomoda mais que uma chave sem porta. Olho para ela como quem encara a velha solitária sentada na praça esquecida de tudo. Talvez o que realmente me incomode são as velhas na praça. Penso nelas como se reflexo do meu futuro. Só que com um pouco menos de rock and roll.
(Waleska Zibetti)
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