quarta-feira, 8 de julho de 2015

O Chato e o Quadro




Na casa do Chato havia um Quadro antigo, um rosto de uma pessoa. Um dia o Chato, ao chegar à casa, disse ao Quadro:


- Eu sou a pessoa mais inteligente de todas, sei sobre tudo e todos. – O Quadro não respondeu nada. 


No dia seguinte disse a mesma coisa: 


- Eu sou a pessoa mais inteligente de todas, sei sobre tudo e todos. – O Quadro não disse nada outra vez. 


No terceiro dia o Chato repetiu a frase e o Quadro, para não perder o hábito, não disse nada. Após uma semana com essa rotina o Chato convenceu-se de que era a pessoa mais inteligente de todas. 

No fim de semana foi convidado para ir a um bar com um colega, o Chato aceitou e foi ao encontro. Começaram então a conversar sobre política, o colega possuía uma ideia um pouco diferente da ideia do Chato, este ficou irritadíssimo, pois não entendia como alguém poderia discordar dele, logo ele que era o ser mais inteligente de todos. O colega vendo uma possível briga mudou de assunto, começaram a falar sobre futebol. O Chato mais uma vez se mostrou superior e se frustrou ao ver que o colega não compartilhava da mesma opinião. 

Numa ultima tentativa de manter a amizade o colega sugeriu que falassem de música. No meio da conversa o Chato disse uma coisa errada e o colega, sem maldade, o corrigiu. O Chato não conseguiu aceitar a derrota e começou a gritar, a tentar humilhar o colega, mas nada adiantava. O colega, por fim, o alertou:


- Quando gritamos para convencer alguém, o convencemos, apenas, de que somos idiotas. – O Chato enlouquecido de fúria virou a mesa e foi embora. 


Chegando à casa, gritou com o Quadro:


- Você! A culpa é sua! Por que não me avisou que eu não sou tão sábio? – O Quadro ignorou a pergunta assim como ignorou tudo durante uma semana inteira. Enfurecido pela loucura pegou o Quadro e o arremessou numa outra parede. Havia se convencido de que estava certo, mas nunca correu atrás de algo para realmente estar certo. 


Às vezes nos convencemos de que somos algo, mas não tentamos de fato ser algo. Às vezes acreditamos que chegamos a um estado de perfeição e que não precisamos melhorar em nada. 

Há muitas pessoas que acreditam que são melhores porque conversam com quadros, mas esquecem que nem sempre quem cala consente, às vezes é preguiça de arrumar confusão.  
(João V. Zibetti, in "O Chato e Quadro")