Crítica por Gabriella Gilmore
Cobain – Montage of the heck.
Eu assisti esses dias uma
biografia do cantor/artista Kurt Cobain feito pelo amigo e baixista da banda Krist Novoselic. Fui dormir afundada
numa tristeza aparentemente sem noção.
No dia seguinte, ainda fiquei
refletindo sobre a vida daquele pobre talentoso garoto que mergulhado numa arte
incompreendida, preferiu sair de cena aos 27 anos quando tirou a própria vida.
Kurt acabou sendo uma
referencia “ruim” do músico que gosta do rock e quer fazer rock mesmo que numa
forma “clean”.
Dos meus 20 aos 25, fiquei na
cena musical enquanto participava de algumas bandas, e pude sentir na pele o
preconceito. “Todo roqueiro é drogado, doido, sem futuro, e morto.” Uma ova.
Essa imagem de que gostar do
bom e velho rock ‘n’ roll te leva ao vício é tão sem criatividade quanto
maldoso. E acreditem ou não, durante meu período criativo, nunca me envolvi com
drogas, tampouco os amigos que eu tinha vínculos. Tatuagens não te definem, nem
mesmo o que você escuta. O que te define é o que
você faz e como faz.
Apesar de todos os problemas
que tive na adolescência, em lar de pais divorciados, doutrinação um tanto
fanática, descobertas de músicas e um mundo lá fora muito maior do que eu
imaginava, não foi capaz de tirar a minha caretice do lugar. Apesar de
inocente, nunca fui estúpida.
Kurt foi um garoto
extraordinário, que visivelmente não nasceu num lar preparado para lidar com uma
criança assim. Na sua primeira infância, foi totalmente adorado por sua beleza
física e também por ser uma criança amorosa e preocupada com os outros.
Infelizmente por alguma razão, na sua adolescência, o tempo fechou. E tudo que
era florido e perfumado, assim como numa primavera, seu castelo forte foi
transferido para um lugar frio e escuro. Era o inverno que chegava para se
instalar até seu último dia.
Acho
que minha decepção com sua história foi em ver um garoto tão lindo se degradar
aos poucos. Um garoto que poderia ter sido um modelo de um sucesso leve
e inspirador, a meu ver, seu exemplo implantou revolta aos seus de sua época, disseminando
assim essa ideia torta de que todo roqueiro é drogado e vazio. Porém,
precisamos abrir um parêntese aqui, pois Kurt não era uma criança
psicologicamente saudável, o que acelerou seu desespero. Na biografia não é
citado o transtorno maníaco depressivo, mas outras fontes afirmam o
diagnóstico. E todos sabem que uma pessoa naturalmente desequilibrada, é
propensa a ficar mais presa a algum vício que uma pessoa “naturalmente”
saudável.
Hoje, não vos escrevo no
intuito de indicar o filme, na verdade foi mais um desabafo de como me senti ao
saber mais sobre a sua história.
Isso me fez lembrar as aulas
na Nova Acrópole quando o professor nos orientava a tomarmos cuidado com músicas
que escutávamos assim como os filmes. Nosso corpo tanto transfere energia como
absorve. E isso é uma verdade que a gente não enxerga, a gente sente.