Esticou os braços para fora e ria-se toda tentando
prender o vento. Sabia que era impossível. E riu de quem tentava detê-la.
Sempre há frestas na parede e ela pode passar por elas. "...Ouça como ele
corre", entoou sussurrante. Será que o vento está voltando para ilha,
Neruda? Ela já quis ser uma ilha. Donne não deixou. Ela hoje gosta mais de
Neruda que de Donne.
Esticou os braços para fora com a ponta dos dedos tocava
o vento como quem fazia cachos nos cabelos do homem amado. E o vento passava a
mais de cem. O mar estava calmo brincando com o céu azul. "Quer me levar:
escuta", pensou. O vento é um mensageiro impaciente, não é Neruda? Ele
traz mensagens de além mar, além ilha, além vida... Nem sempre é possível
entendê-lo. Ainda bem! O vento traz cheiro de saudade e sempre que ela o
entende acaba triste e com alguma canção de Billie Holiday na cabeça.
Enfim, colocou os braços para dentro. E notou como o
braço estava gelado e o corpo todo se arrepiou. "Me esconde em teus
braços", lembrou. O vento está morando nos braços dela. Escondido para se
livrar da obrigação de levar saudades por aí. E ela acaricia o braço acalmando
o vento. Recosta a cabeça e olha o mar passando a mais de cem.
(Waleska Zibetti, in "O Vento Na Ilha- Releitura")