sexta-feira, 6 de março de 2015

Waleska no País das Maravilhas


No dia 27 de setembro de 2011, dei a mim um grande presente o livro original de Lewis Carroll com as duas histórias “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas” & “Através do Espelho e o Que Alice Encontrou Por Lá”.

Leio e penso em Alice desde meus 15 anos, mas sempre em trechos, pedacinhos, leitura de outros críticos, remontagens... Quando comprei esse livro senti que começava a habitar o mundo onde viverei quando finalmente puder me libertar dessa forma humana para ser novamente o gato de Cheshire.



Capítulos

1-     Pela Toca do Coelho

“e de que serve um livro”, pensou Alice,
 “sem figuras nem diálogos?”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Um livro são idéias impressas em letras. Mas concordo com Alice: seria tão bom, algumas vezes, ver entre os sentimentos descritos corações para indicar amor ou nuvenzinhas cinza para indicar raiva, por exemplo.

“Como vai ser engraçado sair no meio daquela gente
que anda de cabeça para baixo!
Os antipatias, acho...?”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

A antipatia é o avesso do que se espera do comportamento humano. Nascemos para sermos irmãos, para que nos comprometêssemos uns com os outros. O estranhamento de Alice é pertinente e consciente.

“imagine fazer mesura quando se está despencando no ar!
Você acha que conseguiria?”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

A vida nos põe em xeque e nos pedem calma, entendimento, enfim. Quem consegue lucidez no meio do caos? Aqui começamos a ver Alice mergulhar em seu inconsciente.

“como não sabia responder a nenhuma das perguntas
o jeito como as fazia  não tinha muita importância.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Há momentos que precisamos de respostas as nossas questões pessoais. Mas é preciso ter consciência de que nem sempre elas são possíveis. Não é conformismo nos aquietarmos diante da ausência de resposta. E só o momento de esperar o momento em que a maturidade trará as resposta para nós.


“Havia portas ao redor do salão inteiro,
Mas estavam todas trancadas;
depois de percorrer todo um lado e voltar pelo outro,
experimentando cada porta, caminhou desolada até o meio,
pensando em como haveria de sair dali.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)


Portas são possibilidades. Se fechadas queremos abri-las. Se abertas queremos descobri-las. O homem é um ser curioso e desvendar o novo que há por trás das portas é sempre uma tentação.

“topou com uma mesinha(...)
sobre ela(...) uma minúscula chave de ouro,
e a primeira idéia de Alice foi que devia pertencer
a uma das portas do salão;
mas (...) ou as fechaduras eram grandes demais,
ou a chave era pequena demais, (...) não abria nenhuma delas.
No entanto, na segunda rodada, deu com uma cortina baixa
que não havia notado antes; atrás dela tinha uma portinha (...)
experimentou a chavezinha de ouro, que, para sua alegria, serviu!”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)


Andamos tão preocupados com o óbvio que deixamos passar os detalhes. É estranho mais é sempre no detalhe que se esconde as grandes soluções.

“Pois, vejam bem, havia acontecido tanta coisa esquisita ultimamente
que Alice tinha começado a pensar
que raríssimas coisas eram realmente impossíveis.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Quando decidimos nos permitir, nos arriscar no jogo da vida, a vida se torna um grande parque de diversões. Tal é possível, se acreditarmos nas possibilidades. Nesse trecho o inconsciente de Alice começa a se adequar aos obstáculos do consciente.

“...lera muitas historinhas (...) sobre crianças que tinham (...)
sido comidas (...) e outras coisas desagradáveis ,
tudo porque não se lembravam das regrinhas simples
que seus amigos lhe haviam ensinado...”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Arriscar-se é uma necessidade para quem quer viver. Contudo, é preciso levar a prudência como companhia.

“se você bebe muito de uma garrafa em que está escrito “veneno”,
é quase certo que vai se sentir mal,
mais cedo ou mais tarde.
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Somos responsáveis por nossos atos e eles são responsáveis por nós. O que representaremos aos que nos seguirão é fruto de nossa responsabilidade.  Para onde conduzirei os que me admiram?

“...tentou imaginar como é a chama de uma vela
depois que ela se apaga, pois não conseguia se lembrar
de jamais ter visto tal coisa.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
~
Somos velas. Brilharemos por um tempo, seremos a luz que guia em certos momentos. Mas um dia tudo passará. Apagaremos. Acabaremos.

“Em geral dava conselhos muito bons para si mesma
(embora raramente os seguisse).”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Porque temos mania de achar que as pessoas devem seguir o que dizemos se nós mesmos não ouvimos nossos corações?

“...de uma maneira ou de outra vou conseguir chegar ao jardim;
para mim tanto faz.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Meta. É importante ter uma meta para seguir na vida. A meta, o alvo, o ponto onde queremos chegar... Uma vez que tenhamos conhecimento disso resta-nos tomar coragem de ir.

“...tinha se acostumado tanto a esperar
só coisas esquisitas acontecerem
que lhe parecia muito sem graça e  maçante
que a vida seguisse de maneira habitual.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Quem aprendeu a ir, a permitir-se depois de ter traçado a meta, verá que a vida é mais que respirar, comer, beber... Mais que planejar, caminhar... A vida é tudo isso, mas é também a coragem, a vontade, o vencer-se.

2-    A Lagoa de Lágrimas

“Vou estar longe demais para me incomodar com você:
Arranjem-se como puderem... Mas preciso ser gentil com eles.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Com o tempo descobrimos que cada um carrega seus próprios problemas, cada um é dono do seu próprio caminhar. Podemos participar desse caminhar, mas cada um escolhe o próprio percurso.

“Ai, ai! Como tudo está esquisito hoje! E ontem as coisas aconteciam
Exatamente como de costume. Será que fui trocada durante a noite?
Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei esta manhã?
Tenho uma ligeira lembrança de que me senti um bocadinho diferente.
Mas, se não sou a mesma, a próxima pergunta é:
‘Afinal de contas quem sou eu?’ Ah, este é o grande enigma!”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

O ser humano evolui a cada segundo ainda que não veja. A mulher que sou hoje é outra da que fui ontem. O que vivi no dia de ontem por mais banal ou profundo que seja certamente transformou-me. E quem somos nós? É uma questão realmente difícil de responder. Se nós mudamos a cada minuto quem pode realmente definir-se. Somos um amontoado de “agoras”. Cada um desses “agora” modificando e sendo modificado pelo “agora” seguinte.

“Além disso, ela é ela, e eu sou eu, é...
ai, ai, que confusão é isto tudo.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

O reconhecimento de que cada ser é único. E que cada único ser influencia o outro de alguma forma. Positiva ou negativamente. É importante selecionar com quem se anda para não se contaminar com as impossibilidades do outro.

“Não vai adiantar nada eles encostarem suas cabeças no chão e pedirem
‘Volte para cá, querida!’ Vou simplesmente olhar para cima e dizer
‘Então  quem sou eu? Primeiro me digam;
aí, se eu gostar de ser essa pessoa, eu subo;
se não, fico aqui embaixo até ser uma outra pessoa.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Ficar só e questionar-se. Admitir erros e defeitos. Tomar posses de seus acertos e virtudes. Reconhecer-se é um dever nosso! Não adianta esperar do outro. Você é o que você faz de si.

“...queria muito que encostassem a cabeça no chão!
Estou tão cansada de ficar assim sozinha aqui.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Contudo, nenhum homem é um ser isolado. Devemos ser indivíduos e não individuais. Assumir que somos únicos, mas não pensar que somos exclusivos. O meio nos afeta e nós afetamos o meio. Nem sempre é fácil identificar o que nos faz mal. E menos ainda é fácil livrar-se dessas coisas. É preciso estar atento as dependências.

“’Foi por um triz!’ disse Alice,
bastante apavorada com a mudança repentina,
mas muito satisfeita por ainda estar existindo.
‘E agora, para o jardim!’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Por mais que o novo assuste, ele é o caminho para evolução.

“’Gostaria de não ter chorado tanto!’
(...)
‘Parece que vou ser castigada por isso agora,
afogando-me nas minhas próprias lágrimas.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

O choro faz parte da evolução e mulheres tendem a externar emoções com lágrimas. Os homens, infelizmente, são educados para não fazê-lo. Mas é preciso cuidar para que a lágrima não nos impeça de continuar. Passar a vida com os olhos lacrimejantes é perder o tempo da superação.

“’Não gostar de gatos!’
gritou o camundongo com uma voz estridente, exaltada.
‘Você gostaria, se fosse eu?’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Cada indivíduo é único em suas experiências. O que é bom para mim pode não ser para o outro.

“’Vamos para a margem. Lá eu lhe contarei minha história
e você vai compreender porque odeio gatos e cachorros.’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Tomar consciência da história do outro antes de julgar-lhes as ações, aproxima-nos do outro enquanto sujeitos falhos que também somos.

3-    Uma Corrida em Comitê e uma História Comprida
“’Sou mais velho que você e devo saber mais’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

O saber nada tem a ver com a idade. O conhecimento e a experiência vêm com o viver. Estar aberto a isso é deixar a porta aberta para um leque de possibilidades e oportunidades.

“’Achando o quê?’ indagou o Pato.
‘Achando isso’, respondeu o Camundongo, bastante irritado.
‘Suponho que saiba o que ‘isso’ significa’
‘Sei muito bem o que ‘isso’ significa quando eu acho uma coisa’,
 disse o Pato. ‘Em geral é uma rã ou uma minhoca.
A questão é: o que foi que o arcebispo achou?’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

As experiências vividas podem fazer com que vivamos um eterno “achismo”. E o pior deles é o que nos faz crer que o outro SEMPRE entenderá nossos atos. Se quiser uma resposta aos seus atos, diga-os claramente. Esperar a compreensão do outro sem nada dizer pode gerar frustrações.

“...começara a correr quando bem entenderam
e pararam também quando bem entenderam,
de modo que não foi fácil saber quando a corrida havia terminado
(...)
‘A corrida terminou!’ e todos se juntaram em torno dele,
perguntando esbaforidos: ‘Mas quem ganhou?’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Cada um por si, não é o melhor caminho. Por mais que pareça estranho é a união o menor caminho entre o homem e a meta.

“Alice não tinha a menor idéia do que fazer e,
no seu desespero, enfiou a mão no bolso, tirou uma caixinha de confeitos
(...)
e distribuiu-os como prêmios. Havia exatamente um para cada um.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Sempre teremos algo para ofertar a alguém. Alguma coisa, por menor que nos pareça, pode ser algo importantíssimo no aprendizado do outro. Doar, compartilhar, essas são também atitudes evolutivas.

“Depois veio a hora de comer os confeitos
isso provocou algum barulho e confusão,
com as aves grandes se queixando de que não conseguiam
sentir o gosto dos seus,
e as menores engasgando e tendo que levar palmadas nas costas.
Mas finalmente tudo terminou. ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Nem sempre nossas experiências serão de fácil ‘digestão’. O estranhamento surge da ‘inexperiência’ do outro. É preciso ter calma e tudo se ajeita.

“Sob pretextos variados, todos se afastaram
e Alice logo se viu só.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Preserve suas experiências e só as divida quando realmente forem necessárias. Mas antes escolha bem as palavras. Algumas situações podem assustar os menos preparados.

4-    Bill Paga o Pato


“’Ora essa, Mary Ann, que está fazendo aqui?
Corra já até em casa e me traga um par de luvas e um leque!
Rápido, vá!”
 (Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Não devemos permitir que as pessoas joguem em nós suas urgências ou depositem em nós seus sonhos, frustrações ou expectativas. Somos um ponto de contato na vida do outro. Compartilhamos, mas não devemos nos colocar como referência. Isso é o mesmo que assumir a responsabilidade e o comprometimento de não errar, não falhar. Essa atitude é perigosa para quem segue e para quem pretende ser seguido.

“‘Como parece esquisito’, disse Alice consigo mesma,
‘receber incumbências de um coelho!
Logo, logo a Dinah vai estar me dando ordens! ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Aceitar sem questionamento que os outros atuem em nossas vidas como bem entenderem, é abrir mão do discernimento e do seu direito de pensar. Ordens só são pertinentes em casos de relação trabalhista. Até a criança deve ser levada a pensar se a sua atitude é certa ou errada. Castração do pensar não é um bom caminho para educação.

“...bateu o olho numa garrafinha pousada junto do espelho.
Desta vez não havia nenhum rótulo com a palavra ‘BEBA-ME’,
 mas mesmo assim ela a desarrolhou e levou aos lábios.
‘Sei que alguma coisa interessante sempre acontece’, pensou,
‘cada vez que como ou tomo qualquer coisa;
 então vou só ver o que é que esta garrafa faz.
Espero que me faça crescer de novo,
 porque estou realmente cansada de ser esta coisinha tão pequenininha.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Tudo que absorvemos pela vida, nossa ou de outro, tudo que lemos que ouvimos que aprendemos deve ser usado na nossa evolução. Tudo é uma lição. Como disse Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.

 “Pousou a garrafa rápido, dizendo para si:
‘É mais do que o bastante... Espero não crescer ainda mais...
Do jeito que está,  já não passo pela porta... Não devia ter bebido tanto!’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Mas é preciso ter cuidado para não somatizar os questionamentos, anseios, frustrações, desejos... do outro. É preciso não se esquecer que somos seres únicos e como tais, devemos viver nosso próprio trajeto.

“‘Agora não posso fazer mais nada,
aconteça o que acontecer:
 O que vai ser de mim? ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Para cada ação uma reação. Para cada pergunta uma resposta. Para cada erro um preço. Tudo na vida é assim. Pensar é a maneira de pagar menos.

“‘...mas sou grande agora, acrescentou num tom pesaroso.
‘Pelo menos aqui não há mais espaço para crescer mais.’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Se a infelicidade começar a ser uma constante em sua trajetória, é chegado, então, o momento de mudar a história. Indagar-se, ir além, olhar para o que vai além da janela... Se o seu mundo está pequeno para você, amplie-o.

“‘Mas nesse caso’, pensou Alice,
‘será que nunca vou ficar mais velha do que sou agora?
Não deixa de ser um consolo... nunca ficar uma velha...
mas por outro lado... sempre ter lições para estudar!
 Oh! Eu não iria gostar disso! ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Amadurecimento não é sinônimo de velhice. Amadurecer está intrinsecamente ligado ao ato de evoluir. E aprender faz parte desse amadurecer. Só amadurece quem está disposto a aprender.

“Alice sabia que era o Coelho à sua procura,
e tremeu até fazer a casa sacudir,
completamente esquecida de que agora era umas mil vezes maior
do que o Coelho e não tinha razão alguma para temê-lo.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Ser maior que o outro em tamanho e força, não te deixa no comando de nenhuma situação. Agora se a força vier da sabedoria, você se tornará um gigante diante de seus inimigos e não haverá guerra que você não possa vencer.

“Um enorme filhote de cachorro
olhava para ela com seus olhos redondos e graúdos,
esticando debilmente uma pata, tentando tocá-la.
‘Pobre bichinho! ’ disse Alice, com carinho,
 e fez um grande esforço para assobiar para ele;
mas o tempo todo estava se sentindo terrivelmente amedrontada
com a idéia de que ele podia estar com fome,
caso em que muito provavelmente iria comê-la,
apesar de todos os seus afagos.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Os medos, as mágoas, os sofrimentos de nossas vidas podem nos deixar receosos na hora de ofertar carinhos, amparo, amizade. É preciso entender que apesar da dor, que a fé no outro pode gerar retorno e por essa fé que devemos continuar a viver.

“‘...Tinha quase me esquecido de que preciso crescer de novo!
Deixe-me ver... como posso conseguir  isso?
Suponho que teria que comer ou beber uma coisa ou outra;
mas a grande questão é: o quê?’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Escolher o que deve alimentar a nossa evolução é responsabilidade nossa. A vida não ensina. Simplesmente ela nos convida a viver. O que eu quero para mim? É a primeira pergunta a se fazer. Onde posso encontrar? É a segunda. Quem pode realmente me ajudar? É a última. Ninguém disse que é fácil. Só sabemos que é necessário.

“Havia perto dela um cogumelo grande, quase da sua altura;
depois de olhar embaixo dele, e dos dois lados, e atrás,
ocorreu-lhe que não seria má idéia espiar o que havia em cima dele.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)


Uma possibilidade só deve ser descartada quando está completamente esgotada.  E é nosso dever manter os olhos bem abertos as possibilidades que virão dessa primeira como a nova cabeça de uma Hidra. Na vida as coisas são assim: uma coisa brota de dentro da outra.

5-    Conselho de uma Lagarta

“‘Quem é você? ’ perguntou a Lagarta.
(...)
Alice respondeu meio encabulada:
‘Eu... eu mal sei, Sir, neste exato momento...
pelo menos sei quem eu era quando me levantei esta manhã,
mas acho que já passei por várias mudanças desde então.’
‘Que quer dizer com isso?’ esbravejou a Lagarta. ‘Explique-se!’
‘Receio não poder me explicar’, respondeu Alice,
‘porque não sou eu mesma, entende?’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

A única certeza sobre nós está no que fomos até o momento em que nos indagamos. No momento seguinte ainda que não tenha se movido uma folha, seremos alguém novo ou renovado pela consciência que nos traz a pergunta: Quem é você?
“‘Acho que primeiro você deveria me dizer quem é.’
‘Por quê?’ indagou a Lagarta.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Se não sabemos nos definir no sentido lato, porque sempre achamos que os outros podem? Não somos isto ou aquilo – Adoro isso! – somos amontoados de coisas – Essa idéia me fascina! – e os outros também são – Graças a Deus! – e eles carregam em si até mesmo um pedaço de nós. Incrível, não é?

“‘Oito centímetros é uma altura tão insignificante para se ter.
‘Pois é uma altura muito boa!’ disse a Lagarta encolerizada,
empinando-se enquanto falava
(tinha exatamente oito centímetros de altura).”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Cada um sabe o que esperar. Os ambiciosos querem sempre mais e assim estão sempre em busca de tudo que possa lhes ajudar na evolução. E isso é uma constante. Afinal, cada vez que nos aproximamos de uma verdade, uma nova aparece. Ou seja, a evolução é um espiral de crescer constante para os ambiciosos de si. Já os conformados tendem a estacionar. E se limitam ao que são achando trabalhoso demais ir além do ponto cômodo que se encontram.

“‘Como gostaria que as criaturas não se ofendessem tão facilmente! ’
‘Com o tempo você se acostuma’, disse a Lagarta. ”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Com o tempo entendemos que apesar da sinceridade ser o melhor caminho no trato com o outro; ela incomoda. Então, torna-se fundamental achar um ponto de equilíbrio entre o que deve ser dito e o modo de fazê-lo.

“‘E agora, qual é qual?’ perguntou-se,
e mordiscou uma ponta do pedaço da mão direita
para experimentar o efeito:
num instante sentiu uma pancada violenta sob o queixo:
ele batera no seu pé!”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Equilibrar-se é o passo mais difícil do evoluir! E essa busca é um trabalho constante.

“‘Cobra! ’ arrulhou a Pomba.
‘Não sou cobra!’ disse Alice, indignada. “Deixe-me em paz! ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Evoluir é mudar tudo. É saber que mudança causa estranhamento no meio em que se vive.

“‘Ora essa! Você é o quê?’ perguntou a Pomba.
‘Aposto que está tentando inventar alguma coisa!’
‘Eu... eu sou uma menininha’, respondeu Alice
(...)
‘Realmente uma história muito plausível!’
disse a Pomba num tom do mais profundo desprezo.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

As pessoas carregam certezas e algumas se encerram dentro delas como se estas fossem verdades absolutas. Essas verdades acabam limitando-as em sua evolução. Nenhum passo além do estado de conforto em que se encontram. Não adianta argumentação para essas pessoas. Depois de algo enquadrado em A ou B, nada mudará suas opiniões.

“...chegou de repente a um lugar aberto,
com uma casinha de cercas de um metro e vinte centímetros de altura.
 ‘Seja lá quem more aqui”, pensou Alice,
‘não convém me aproximar dele com este tamanho;
que susto iriam levar! ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Ao estabelecermos relações com alguém é preciso entender antes as experiências e opiniões dos outros. Levar em conta que cada ser é único e respeitar esse ser em todos os níveis. Não adianta tentar fazer valer a nossa vontade! O ideal para uma boa relação é que haja respeito de ambas as partes à individualidade do outro.

6-    Porco e Pimenta

“‘Como faço para entrar? ’  Alice perguntou de novo, mais alto.
‘Mas, afinal, você deve entrar?’ disse o Lacaio. ‘Esta á a primeira pergunta. ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

As vezes queremos coisas que ou não estamos prontos para ter ou não somos merecedores. É muito comum também não estarmos preparados para receber o que pedimos. Pensar antes de pedir, pedir somente quando estivermos certo dos nossos desejos, desejar só o que realmente é importante. Importar-se somente com o que possa nos fazer felizes.

“‘Se cada um cuidasse da própria vida’,
 disse a Duquesa num resmungo rouco,
 ‘o mundo giraria bem mais depressa. ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

As pessoas se escondem no defeito do outro para criar em si uma falsa idéia de perfeição. Olhar-se, descobrir-se, é parte da evolução. Não devemos nos esquecer de que todo ser humano é falho. E nós, fazemos parte dessa humanidade falha.

“‘Se tivesse crescido’, disse ela para si mesma,
‘teria sido uma criança horrorosa;
mas como porco é bem jeitozinho, eu acho. ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Cada um é como é. E se nos aceitarmos dessa forma inevitável e intransferível de ser, passaremos aos outros nossa essência e toda beleza que há nela.

“‘Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui? ’
‘Depende bastante de para onde quer ir’, respondeu o Gato.
‘Não me importa muito para onde’, disse Alice.
‘Então não importa que caminho tome’, disse o Gato. ”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

O nosso caminho é feito por nós. Mas antes devemos escolher, qual será esse caminho. Ir por ir é passar em vão pela vida. É preciso ter uma meta e tentar alcançá-la da melhor maneira possível. Sem atalhos. Na vida é melhor evitá-los e caminhar pela estrada certa, atento ao redor é evoluir.

“‘Mas não quero me meter com gente louca’, Alice observou.
‘Oh! É inevitável’, disse o Gato; ‘somos todos loucos aqui.
 Eu sou louco. Você é louca.’
‘Como sabe que sou louca?’ perguntou Alice.
‘Só pode ser’, respondeu o Gato,
‘ou não teria vindo parar aqui. ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

As pessoas não estão preparadas para aqueles que querem viver para si e procurando no outro só um ponto para a própria evolução. Essas pessoas que não têm medo de viver, eles chamam de loucas. Mas desconhecem que a verdadeira loucura está em abster-se do próprio “eu” para moldar-se ao “eu” do outro.

7-     Um Chá Maluco


 “‘Então deveria dizer o que pensa”, a Lebre de Março continuou.
‘Eu digo’, Alice respondeu apressadamente;
 ‘pelo menos... pelo menos eu penso o que digo...
é a mesma coisa, não?’
‘Nem de longe a mesma!’ disse o Chapeleiro.
“seria como dizer que ‘vejo o que como’
é a mesma coisa que ‘como o que vejo’!”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
 
Pensar antes de falar é filtrar a ideia, o conceito. É evitar ferir. Mas ao mesmo tempo é camuflar a sinceridade das impressões com máscaras de civilidade. Esse comportamento pode cair na hipocrisia ou falsidade; dependendo de como fazemos uso dele.

“‘Se você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu’,
disse o Chapeleiro, ‘falaria dele com mais respeito.’
‘Não sei o que quer dizer’, disse Alice.
‘Claro que não!’ desdenhou o Chapeleiro, jogando a cabeça trás.
‘Atrevo-me a dizer que você nunca chegou a falar com o Tempo!’
‘Talvez não’, respondeu Alice, cautelosa,
‘mas sei que tenho de bater o tempo quando estudo música.’
‘Ah! Isso explica tudo’, disse o Chapeleiro.
‘Ele não suporta apanhar. Mas, se você e ele vivessem em boa paz,
ele faria praticamente tudo o que você quisesse com o relógio.
Por exemplo, suponha que fossem nove horas da manhã,
hora de estudas as lições; bastaria um cochicho para o Tempo,
e o relógio giraria num piscar de olhos! Uma e meia, hora do almoço!’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Queremos tudo ao mesmo ao nosso tempo. É uma pena porque cada um de nós na própria urgência, vamos sofrendo com as coisas que não chegam. O tempo independe de nós. Somos nós que devemos nos adaptar a ele.

“‘Mas o que acontece quando chegam de novo ao começo? ’
 Alice se aventurou a perguntar.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

No começo? Recomece! A vida é isso: ciclos que se iniciam e fecham. Tudo com certo tom de rotina e nada velho ao mesmo tempo. Um dia com dias passados dentro. Mas com possibilidades mil por fora.

“‘... é muito fácil tomar mais do que nada. ’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Quando nos pré-disponibilizamos para as oportunidades há sempre algo que pode ser acrescido em nossas vidas. E quando estamos prontos para absorver a vida o nada é impossível.

8-    O Campo de Croqué da Rainha

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9-    A História da Tartaruga Falsa


“‘Você está pensando em alguma coisa, minha cara,
 e isso a faz esquecer de falar.’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Ninguém saberá de você, se você se esconde em pensamentos. É preciso se expor as vezes, para que o outro nos encontre. E, até mesmo, se encontre. Nossos pensamentos e indagações podem ser o ponto de partida para a solução das indagações do outro e vice e versa. Só a comunicação traz resoluções para as dúvidas.

“Disse a Duquesa. ‘Tudo tem uma moral,
 é questão de saber encontrá-la’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Preciso aprender a enxergar o propósito de tudo. Nenhuma experiência pode passar sem ser pensada e repensada para se tirar o melhor proveito.

 “‘Oh, é o amor, é o amor que faz o mundo girar’.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

O amor torna tudo mais suportável e compreensível. Penso que o amor é o remédio que cura a alma.

“‘Seja o que você parece ser’
‘Nunca imagine que você mesma não é outra coisa
senão o que poderia parecer a outros do que
o que você fosse ou poderia ter sido não fosse
 senão o que você tivesse sido teria parecido a eles
ser de outra maneira’.”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Alguém sempre nos esboça dentro de experiências próprias ou situações. Seremos para aqueles essa figura esboçada independente do que fizermos dali em diante. Tentar mudar propositadamente nossa imagem para ser mais ou melhor para alguém pode ser um desgaste enorme e inútil para nós mesmos. Somos o que somos. E só temos que ser melhores por nós.

 “‘Tenho o direito de pensar’”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)

Pensar, sim. Falar é que deve ser estudado, analisado, avaliado... Somos donos de nossos pensamentos e escravos de nossas palavras.

10- A Quadrilha da Lagosta


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11- Quem Roubou as Tortas?



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12- O Depoimento de Alice
“Por fim, imaginou como seria essa mesma irmãzinha
quando, no futuro, fosse uma mulher adulta;
[...]
... e como iria sofrer com todas as mágoas simples dessas crianças,
e encontrar prazer em todas as alegrias simples delas,
lembrando sua própria vida de criança,
e os dias felizes de verão.”

A mulher e a criança estarão sempre unidas, independente do que vier no futuro. A criança é o refúgio da mulher diante da dura realidade do mundo adulto. O lugar para onde voltar quando o sentido de viver se esgota. A criança é a fonte de energia da mulher que num mundo imaginário e particular pode crer e viver feliz.


Até breve! ♥

(Waleska Zibetti, in "Waleska no País das Maravilhas")