No dia 27 de setembro de 2011, dei a mim um grande presente
o livro original de Lewis Carroll com as duas histórias “As Aventuras de Alice
No País das Maravilhas” & “Através do Espelho e o Que Alice Encontrou Por
Lá”.
Leio e penso em Alice desde meus 15 anos, mas sempre em
trechos, pedacinhos, leitura de outros críticos, remontagens... Quando comprei
esse livro senti que começava a habitar o mundo onde viverei quando finalmente
puder me libertar dessa forma humana para ser novamente o gato de Cheshire.
Capítulos
1-
Pela Toca do Coelho
“e de
que serve um livro”, pensou Alice,
“sem figuras nem diálogos?”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Um livro são idéias impressas em letras. Mas concordo com
Alice: seria tão bom, algumas vezes, ver entre os sentimentos descritos
corações para indicar amor ou nuvenzinhas cinza para indicar raiva, por
exemplo.
“Como
vai ser engraçado sair no meio daquela gente
que
anda de cabeça para baixo!
Os
antipatias, acho...?”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
A
antipatia é o avesso do que se espera do comportamento humano. Nascemos para
sermos irmãos, para que nos comprometêssemos uns com os outros. O estranhamento
de Alice é pertinente e consciente.
“imagine
fazer mesura quando se está despencando no ar!
Você
acha que conseguiria?”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
A vida
nos põe em xeque e nos pedem calma, entendimento, enfim. Quem consegue lucidez
no meio do caos? Aqui começamos a ver Alice mergulhar em seu inconsciente.
“como
não sabia responder a nenhuma das perguntas
o jeito
como as fazia não tinha muita
importância.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Há
momentos que precisamos de respostas as nossas questões pessoais. Mas é preciso
ter consciência de que nem sempre elas são possíveis. Não é conformismo nos
aquietarmos diante da ausência de resposta. E só o momento de esperar o momento
em que a maturidade trará as resposta para nós.
“Havia
portas ao redor do salão inteiro,
Mas
estavam todas trancadas;
depois
de percorrer todo um lado e voltar pelo outro,
experimentando
cada porta, caminhou desolada até o meio,
pensando
em como haveria de sair dali.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Portas são possibilidades. Se fechadas queremos abri-las. Se
abertas queremos descobri-las. O homem é um ser curioso e desvendar o novo que
há por trás das portas é sempre uma tentação.
“topou
com uma mesinha(...)
sobre
ela(...) uma minúscula chave de ouro,
e a
primeira idéia de Alice foi que devia pertencer
a uma
das portas do salão;
mas
(...) ou as fechaduras eram grandes demais,
ou a
chave era pequena demais, (...) não abria nenhuma delas.
No
entanto, na segunda rodada, deu com uma cortina baixa
que não
havia notado antes; atrás dela tinha uma portinha (...)
experimentou
a chavezinha de ouro, que, para sua alegria, serviu!”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Andamos tão preocupados com o óbvio que deixamos passar os
detalhes. É estranho mais é sempre no detalhe que se esconde as grandes
soluções.
“Pois,
vejam bem, havia acontecido tanta coisa esquisita ultimamente
que
Alice tinha começado a pensar
que
raríssimas coisas eram realmente impossíveis.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Quando decidimos nos permitir, nos arriscar no jogo da vida,
a vida se torna um grande parque de diversões. Tal é possível, se acreditarmos
nas possibilidades. Nesse trecho o inconsciente de Alice começa a se adequar
aos obstáculos do consciente.
“...lera
muitas historinhas (...) sobre crianças que tinham (...)
sido
comidas (...) e outras coisas desagradáveis ,
tudo
porque não se lembravam das regrinhas simples
que
seus amigos lhe haviam ensinado...”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Arriscar-se é uma necessidade para quem quer viver. Contudo,
é preciso levar a prudência como companhia.
“se você
bebe muito de uma garrafa em que está escrito “veneno”,
é quase
certo que vai se sentir mal,
mais
cedo ou mais tarde.
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Somos
responsáveis por nossos atos e eles são responsáveis por nós. O que
representaremos aos que nos seguirão é fruto de nossa responsabilidade. Para onde conduzirei os que me admiram?
“...tentou
imaginar como é a chama de uma vela
depois
que ela se apaga, pois não conseguia se lembrar
de
jamais ter visto tal coisa.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
~
Somos
velas. Brilharemos por um tempo, seremos a luz que guia em certos momentos. Mas
um dia tudo passará. Apagaremos. Acabaremos.
“Em
geral dava conselhos muito bons para si mesma
(embora
raramente os seguisse).”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Porque
temos mania de achar que as pessoas devem seguir o que dizemos se nós mesmos
não ouvimos nossos corações?
“...de
uma maneira ou de outra vou conseguir chegar ao jardim;
para
mim tanto faz.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Meta. É
importante ter uma meta para seguir na vida. A meta, o alvo, o ponto onde
queremos chegar... Uma vez que tenhamos conhecimento disso resta-nos tomar
coragem de ir.
“...tinha
se acostumado tanto a esperar
só
coisas esquisitas acontecerem
que lhe
parecia muito sem graça e maçante
que a
vida seguisse de maneira habitual.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Quem
aprendeu a ir, a permitir-se depois de ter traçado a meta, verá que a vida é
mais que respirar, comer, beber... Mais que planejar, caminhar... A vida é tudo
isso, mas é também a coragem, a vontade, o vencer-se.
2-
A Lagoa
de Lágrimas
“Vou
estar longe demais para me incomodar com você:
Arranjem-se
como puderem... Mas preciso ser gentil com eles.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Com o
tempo descobrimos que cada um carrega seus próprios problemas, cada um é dono
do seu próprio caminhar. Podemos participar desse caminhar, mas cada um escolhe
o próprio percurso.
“Ai,
ai! Como tudo está esquisito hoje! E ontem as coisas aconteciam
Exatamente
como de costume. Será que fui trocada durante a noite?
Deixe-me
pensar: eu era a mesma quando me levantei esta manhã?
Tenho
uma ligeira lembrança de que me senti um bocadinho diferente.
Mas, se
não sou a mesma, a próxima pergunta é:
‘Afinal
de contas quem sou eu?’ Ah, este é o grande enigma!”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
O ser
humano evolui a cada segundo ainda que não veja. A mulher que sou hoje é outra
da que fui ontem. O que vivi no dia de ontem por mais banal ou profundo que
seja certamente transformou-me. E quem somos nós? É uma questão realmente
difícil de responder. Se nós mudamos a cada minuto quem pode realmente
definir-se. Somos um amontoado de “agoras”. Cada um desses “agora” modificando
e sendo modificado pelo “agora” seguinte.
“Além
disso, ela é ela, e eu sou eu, é...
ai, ai,
que confusão é isto tudo.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
O
reconhecimento de que cada ser é único. E que cada único ser influencia o outro
de alguma forma. Positiva ou negativamente. É importante selecionar com quem se
anda para não se contaminar com as impossibilidades do outro.
“Não
vai adiantar nada eles encostarem suas cabeças no chão e pedirem
‘Volte
para cá, querida!’ Vou simplesmente olhar para cima e dizer
‘Então quem sou eu? Primeiro me digam;
aí, se
eu gostar de ser essa pessoa, eu subo;
se não,
fico aqui embaixo até ser uma outra pessoa.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Ficar
só e questionar-se. Admitir erros e defeitos. Tomar posses de seus acertos e
virtudes. Reconhecer-se é um dever nosso! Não adianta esperar do outro. Você é
o que você faz de si.
“...queria
muito que encostassem a cabeça no chão!
Estou
tão cansada de ficar assim sozinha aqui.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Contudo,
nenhum homem é um ser isolado. Devemos ser indivíduos e não individuais.
Assumir que somos únicos, mas não pensar que somos exclusivos. O meio nos afeta
e nós afetamos o meio. Nem sempre é fácil identificar o que nos faz mal. E
menos ainda é fácil livrar-se dessas coisas. É preciso estar atento as
dependências.
“’Foi
por um triz!’ disse Alice,
bastante
apavorada com a mudança repentina,
mas
muito satisfeita por ainda estar existindo.
‘E
agora, para o jardim!’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Por
mais que o novo assuste, ele é o caminho para evolução.
“’Gostaria
de não ter chorado tanto!’
(...)
‘Parece
que vou ser castigada por isso agora,
afogando-me
nas minhas próprias lágrimas.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
O choro
faz parte da evolução e mulheres tendem a externar emoções com lágrimas. Os
homens, infelizmente, são educados para não fazê-lo. Mas é preciso cuidar para
que a lágrima não nos impeça de continuar. Passar a vida com os olhos
lacrimejantes é perder o tempo da superação.
“’Não
gostar de gatos!’
gritou
o camundongo com uma voz estridente, exaltada.
‘Você
gostaria, se fosse eu?’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Cada
indivíduo é único em suas experiências. O que é bom para mim pode não ser para
o outro.
“’Vamos
para a margem. Lá eu lhe contarei minha história
e você
vai compreender porque odeio gatos e cachorros.’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Tomar
consciência da história do outro antes de julgar-lhes as ações, aproxima-nos do
outro enquanto sujeitos falhos que também somos.
3-
Uma
Corrida em Comitê e uma História Comprida
“’Sou
mais velho que você e devo saber mais’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
O saber
nada tem a ver com a idade. O conhecimento e a experiência vêm com o viver.
Estar aberto a isso é deixar a porta aberta para um leque de possibilidades e
oportunidades.
“’Achando
o quê?’ indagou o Pato.
‘Achando
isso’, respondeu o Camundongo, bastante irritado.
‘Suponho
que saiba o que ‘isso’ significa’
‘Sei
muito bem o que ‘isso’ significa quando eu acho uma coisa’,
disse o Pato. ‘Em geral é uma rã ou uma
minhoca.
A
questão é: o que foi que o arcebispo achou?’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
As
experiências vividas podem fazer com que vivamos um eterno “achismo”. E o pior
deles é o que nos faz crer que o outro SEMPRE entenderá nossos atos. Se quiser
uma resposta aos seus atos, diga-os claramente. Esperar a compreensão do outro
sem nada dizer pode gerar frustrações.
“...começara
a correr quando bem entenderam
e
pararam também quando bem entenderam,
de modo
que não foi fácil saber quando a corrida havia terminado
(...)
‘A corrida
terminou!’ e todos se juntaram em torno dele,
perguntando
esbaforidos: ‘Mas quem ganhou?’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Cada um
por si, não é o melhor caminho. Por mais que pareça estranho é a união o menor
caminho entre o homem e a meta.
“Alice
não tinha a menor idéia do que fazer e,
no seu
desespero, enfiou a mão no bolso, tirou uma caixinha de confeitos
(...)
e
distribuiu-os como prêmios. Havia exatamente um para cada um.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Sempre
teremos algo para ofertar a alguém. Alguma coisa, por menor que nos pareça,
pode ser algo importantíssimo no aprendizado do outro. Doar, compartilhar,
essas são também atitudes evolutivas.
“Depois
veio a hora de comer os confeitos
isso
provocou algum barulho e confusão,
com as
aves grandes se queixando de que não conseguiam
sentir
o gosto dos seus,
e as
menores engasgando e tendo que levar palmadas nas costas.
Mas
finalmente tudo terminou. ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Nem
sempre nossas experiências serão de fácil ‘digestão’. O estranhamento surge da
‘inexperiência’ do outro. É preciso ter calma e tudo se ajeita.
“Sob
pretextos variados, todos se afastaram
e Alice
logo se viu só.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Preserve
suas experiências e só as divida quando realmente forem necessárias. Mas antes
escolha bem as palavras. Algumas situações podem assustar os menos preparados.
4-
Bill
Paga o Pato
“’Ora
essa, Mary Ann, que está fazendo aqui?
Corra
já até em casa e me traga um par de luvas e um leque!
Rápido,
vá!”
(Lewis Carroll, in “As Aventuras de Alice No
País das Maravilhas”)
Não devemos permitir que as pessoas joguem em nós suas
urgências ou depositem em nós seus sonhos, frustrações ou expectativas. Somos
um ponto de contato na vida do outro. Compartilhamos, mas não devemos nos
colocar como referência. Isso é o mesmo que assumir a responsabilidade e o
comprometimento de não errar, não falhar. Essa atitude é perigosa para quem
segue e para quem pretende ser seguido.
“‘Como
parece esquisito’, disse Alice consigo mesma,
‘receber
incumbências de um coelho!
Logo,
logo a Dinah vai estar me dando ordens! ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Aceitar sem questionamento que os outros atuem em nossas
vidas como bem entenderem, é abrir mão do discernimento e do seu direito de
pensar. Ordens só são pertinentes em casos de relação trabalhista. Até a
criança deve ser levada a pensar se a sua atitude é certa ou errada. Castração
do pensar não é um bom caminho para educação.
“...bateu
o olho numa garrafinha pousada junto do espelho.
Desta
vez não havia nenhum rótulo com a palavra ‘BEBA-ME’,
mas mesmo assim ela a desarrolhou e levou aos
lábios.
‘Sei
que alguma coisa interessante sempre acontece’, pensou,
‘cada
vez que como ou tomo qualquer coisa;
então vou só ver o que é que esta garrafa faz.
Espero
que me faça crescer de novo,
porque estou realmente cansada de ser esta
coisinha tão pequenininha.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Tudo que absorvemos pela vida, nossa ou
de outro, tudo que lemos que ouvimos que aprendemos deve ser usado na nossa
evolução. Tudo é uma lição. Como disse Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena, se a
alma não é pequena”.
“Pousou a garrafa rápido, dizendo para si:
‘É mais
do que o bastante... Espero não crescer ainda mais...
Do
jeito que está, já não passo pela
porta... Não devia ter bebido tanto!’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Mas é preciso ter cuidado para não
somatizar os questionamentos, anseios, frustrações, desejos... do outro. É
preciso não se esquecer que somos seres únicos e como tais, devemos viver nosso
próprio trajeto.
“‘Agora
não posso fazer mais nada,
aconteça
o que acontecer:
O que vai ser de mim? ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Para cada ação uma reação. Para cada
pergunta uma resposta. Para cada erro um preço. Tudo na vida é assim. Pensar é
a maneira de pagar menos.
“‘...mas
sou grande agora, acrescentou num tom pesaroso.
‘Pelo
menos aqui não há mais espaço para crescer mais.’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Se a infelicidade começar a ser uma
constante em sua trajetória, é chegado, então, o momento de mudar a história.
Indagar-se, ir além, olhar para o que vai além da janela... Se o seu mundo está
pequeno para você, amplie-o.
“‘Mas
nesse caso’, pensou Alice,
‘será
que nunca vou ficar mais velha do que sou agora?
Não
deixa de ser um consolo... nunca ficar uma velha...
mas por
outro lado... sempre ter lições para estudar!
Oh! Eu não iria gostar disso! ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Amadurecimento não é sinônimo de
velhice. Amadurecer está intrinsecamente ligado ao ato de evoluir. E aprender
faz parte desse amadurecer. Só amadurece quem está disposto a aprender.
“Alice
sabia que era o Coelho à sua procura,
e
tremeu até fazer a casa sacudir,
completamente
esquecida de que agora era umas mil vezes maior
do que
o Coelho e não tinha razão alguma para temê-lo.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Ser maior que o outro em tamanho e força, não te deixa no
comando de nenhuma situação. Agora se a força vier da sabedoria, você se
tornará um gigante diante de seus inimigos e não haverá guerra que você não
possa vencer.
“Um
enorme filhote de cachorro
olhava
para ela com seus olhos redondos e graúdos,
esticando
debilmente uma pata, tentando tocá-la.
‘Pobre
bichinho! ’ disse Alice, com carinho,
e fez um grande esforço para assobiar para
ele;
mas o
tempo todo estava se sentindo terrivelmente amedrontada
com a
idéia de que ele podia estar com fome,
caso em
que muito provavelmente iria comê-la,
apesar
de todos os seus afagos.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Os medos, as mágoas, os sofrimentos de nossas vidas podem
nos deixar receosos na hora de ofertar carinhos, amparo, amizade. É preciso
entender que apesar da dor, que a fé no outro pode gerar retorno e por essa fé
que devemos continuar a viver.
“‘...Tinha
quase me esquecido de que preciso crescer de novo!
Deixe-me
ver... como posso conseguir isso?
Suponho
que teria que comer ou beber uma coisa ou outra;
mas a
grande questão é: o quê?’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Escolher o que deve alimentar a nossa evolução é
responsabilidade nossa. A vida não ensina. Simplesmente ela nos convida a
viver. O que eu quero para mim? É a primeira pergunta a se fazer. Onde posso
encontrar? É a segunda. Quem pode realmente me ajudar? É a última. Ninguém
disse que é fácil. Só sabemos que é necessário.
“Havia
perto dela um cogumelo grande, quase da sua altura;
depois
de olhar embaixo dele, e dos dois lados, e atrás,
ocorreu-lhe
que não seria má idéia espiar o que havia em cima dele.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Uma possibilidade só deve ser
descartada quando está completamente esgotada.
E é nosso dever manter os olhos bem abertos as possibilidades que virão
dessa primeira como a nova cabeça de uma Hidra. Na vida as coisas são assim:
uma coisa brota de dentro da outra.
5- Conselho de uma Lagarta
“‘Quem
é você? ’ perguntou a Lagarta.
(...)
Alice respondeu
meio encabulada:
‘Eu...
eu mal sei, Sir, neste exato momento...
pelo
menos sei quem eu era quando me levantei esta manhã,
mas
acho que já passei por várias mudanças desde então.’
‘Que
quer dizer com isso?’ esbravejou a Lagarta. ‘Explique-se!’
‘Receio
não poder me explicar’, respondeu Alice,
‘porque
não sou eu mesma, entende?’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
A única certeza sobre nós está no que fomos até o momento em
que nos indagamos. No momento seguinte ainda que não tenha se movido uma folha,
seremos alguém novo ou renovado pela consciência que nos traz a pergunta: Quem
é você?
“‘Acho
que primeiro você deveria me dizer quem é.’
‘Por
quê?’ indagou a Lagarta.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Se não sabemos nos definir no sentido lato, porque sempre
achamos que os outros podem? Não somos isto ou aquilo – Adoro isso! – somos
amontoados de coisas – Essa idéia me fascina! – e os outros também são – Graças
a Deus! – e eles carregam em si até mesmo um pedaço de nós. Incrível, não é?
“‘Oito
centímetros é uma altura tão insignificante para se ter.
‘Pois é
uma altura muito boa!’ disse a Lagarta encolerizada,
empinando-se
enquanto falava
(tinha
exatamente oito centímetros de altura).”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Cada um sabe o que esperar. Os ambiciosos querem sempre mais
e assim estão sempre em busca de tudo que possa lhes ajudar na evolução. E isso
é uma constante. Afinal, cada vez que nos aproximamos de uma verdade, uma nova
aparece. Ou seja, a evolução é um espiral de crescer constante para os
ambiciosos de si. Já os conformados tendem a estacionar. E se limitam ao que
são achando trabalhoso demais ir além do ponto cômodo que se encontram.
“‘Como
gostaria que as criaturas não se ofendessem tão facilmente! ’
‘Com o
tempo você se acostuma’, disse a Lagarta. ”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Com o tempo entendemos que apesar da sinceridade ser o
melhor caminho no trato com o outro; ela incomoda. Então, torna-se fundamental
achar um ponto de equilíbrio entre o que deve ser dito e o modo de fazê-lo.
“‘E
agora, qual é qual?’ perguntou-se,
e
mordiscou uma ponta do pedaço da mão direita
para
experimentar o efeito:
num
instante sentiu uma pancada violenta sob o queixo:
ele
batera no seu pé!”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Equilibrar-se é o passo mais difícil do evoluir! E essa
busca é um trabalho constante.
“‘Cobra!
’ arrulhou a Pomba.
‘Não sou
cobra!’ disse Alice, indignada. “Deixe-me em paz! ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Evoluir é mudar tudo. É saber que mudança causa
estranhamento no meio em que se vive.
“‘Ora
essa! Você é o quê?’ perguntou a Pomba.
‘Aposto
que está tentando inventar alguma coisa!’
‘Eu...
eu sou uma menininha’, respondeu Alice
(...)
‘Realmente
uma história muito plausível!’
disse a
Pomba num tom do mais profundo desprezo.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
As pessoas carregam certezas e algumas se encerram dentro
delas como se estas fossem verdades absolutas. Essas verdades acabam
limitando-as em sua evolução. Nenhum passo além do estado de conforto em que se
encontram. Não adianta argumentação para essas pessoas. Depois de algo
enquadrado em A ou B, nada mudará suas opiniões.
“...chegou
de repente a um lugar aberto,
com uma
casinha de cercas de um metro e vinte centímetros de altura.
‘Seja lá quem more aqui”, pensou Alice,
‘não
convém me aproximar dele com este tamanho;
que
susto iriam levar! ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Ao estabelecermos relações com alguém é preciso entender
antes as experiências e opiniões dos outros. Levar em conta que cada ser é
único e respeitar esse ser em todos os níveis. Não adianta tentar fazer valer a
nossa vontade! O ideal para uma boa relação é que haja respeito de ambas as
partes à individualidade do outro.
6-
Porco e
Pimenta
“‘Como
faço para entrar? ’ Alice perguntou de
novo, mais alto.
‘Mas,
afinal, você deve entrar?’ disse o Lacaio. ‘Esta á a primeira pergunta. ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
As
vezes queremos coisas que ou não estamos prontos para ter ou não somos
merecedores. É muito comum também não estarmos preparados para receber o que
pedimos. Pensar antes de pedir, pedir somente quando estivermos certo dos
nossos desejos, desejar só o que realmente é importante. Importar-se somente
com o que possa nos fazer felizes.
“‘Se
cada um cuidasse da própria vida’,
disse a Duquesa num resmungo rouco,
‘o mundo giraria bem mais depressa. ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
As pessoas se escondem no defeito do outro para criar em si
uma falsa idéia de perfeição. Olhar-se, descobrir-se, é parte da evolução. Não
devemos nos esquecer de que todo ser humano é falho. E nós, fazemos parte dessa
humanidade falha.
“‘Se
tivesse crescido’, disse ela para si mesma,
‘teria
sido uma criança horrorosa;
mas
como porco é bem jeitozinho, eu acho. ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Cada um é como é. E se nos aceitarmos dessa forma inevitável
e intransferível de ser, passaremos aos outros nossa essência e toda beleza que
há nela.
“‘Poderia
me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui? ’
‘Depende
bastante de para onde quer ir’, respondeu o Gato.
‘Não me
importa muito para onde’, disse Alice.
‘Então
não importa que caminho tome’, disse o Gato. ”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
O nosso caminho é feito por nós. Mas antes devemos escolher,
qual será esse caminho. Ir por ir é passar em vão pela vida. É preciso ter uma
meta e tentar alcançá-la da melhor maneira possível. Sem atalhos. Na vida é
melhor evitá-los e caminhar pela estrada certa, atento ao redor é evoluir.
“‘Mas
não quero me meter com gente louca’, Alice observou.
‘Oh! É
inevitável’, disse o Gato; ‘somos todos loucos aqui.
Eu sou louco. Você é louca.’
‘Como
sabe que sou louca?’ perguntou Alice.
‘Só
pode ser’, respondeu o Gato,
‘ou não
teria vindo parar aqui. ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
As pessoas não estão preparadas para aqueles que querem
viver para si e procurando no outro só um ponto para a própria evolução. Essas
pessoas que não têm medo de viver, eles chamam de loucas. Mas desconhecem que a
verdadeira loucura está em abster-se do próprio “eu” para moldar-se ao “eu” do outro.
7-
Um Chá
Maluco
“‘Então deveria dizer o que pensa”, a Lebre de
Março continuou.
‘Eu
digo’, Alice respondeu apressadamente;
‘pelo menos... pelo menos eu penso o que
digo...
é a
mesma coisa, não?’
‘Nem de
longe a mesma!’ disse o Chapeleiro.
“seria como
dizer que ‘vejo o que como’
é a
mesma coisa que ‘como o que vejo’!”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Pensar antes de falar é filtrar a ideia, o conceito. É
evitar ferir. Mas ao mesmo tempo é camuflar a sinceridade das impressões com
máscaras de civilidade. Esse comportamento pode cair na hipocrisia ou
falsidade; dependendo de como fazemos uso dele.
“‘Se
você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu’,
disse o
Chapeleiro, ‘falaria dele com mais respeito.’
‘Não
sei o que quer dizer’, disse Alice.
‘Claro
que não!’ desdenhou o Chapeleiro, jogando a cabeça trás.
‘Atrevo-me
a dizer que você nunca chegou a falar com o Tempo!’
‘Talvez
não’, respondeu Alice, cautelosa,
‘mas
sei que tenho de bater o tempo quando estudo música.’
‘Ah!
Isso explica tudo’, disse o Chapeleiro.
‘Ele
não suporta apanhar. Mas, se você e ele vivessem em boa paz,
ele
faria praticamente tudo o que você quisesse com o relógio.
Por
exemplo, suponha que fossem nove horas da manhã,
hora de
estudas as lições; bastaria um cochicho para o Tempo,
e o
relógio giraria num piscar de olhos! Uma e meia, hora do almoço!’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Queremos tudo ao mesmo ao nosso tempo. É uma pena porque
cada um de nós na própria urgência, vamos sofrendo com as coisas que não
chegam. O tempo independe de nós. Somos nós que devemos nos adaptar a ele.
“‘Mas o
que acontece quando chegam de novo ao começo? ’
Alice se aventurou a perguntar.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
No começo? Recomece! A vida é isso: ciclos que se iniciam e
fecham. Tudo com certo tom de rotina e nada velho ao mesmo tempo. Um dia com
dias passados dentro. Mas com possibilidades mil por fora.
“‘... é
muito fácil tomar mais do que nada. ’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Quando nos pré-disponibilizamos para as oportunidades há
sempre algo que pode ser acrescido em nossas vidas. E quando estamos prontos
para absorver a vida o nada é impossível.
8-
O Campo
de Croqué da Rainha
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9-
A
História da Tartaruga Falsa
“‘Você
está pensando em alguma coisa, minha cara,
e isso a faz esquecer de falar.’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Ninguém saberá de você, se você se esconde em pensamentos. É
preciso se expor as vezes, para que o outro nos encontre. E, até mesmo, se
encontre. Nossos pensamentos e indagações podem ser o ponto de partida para a
solução das indagações do outro e vice e versa. Só a comunicação traz
resoluções para as dúvidas.
“Disse
a Duquesa. ‘Tudo tem uma moral,
é questão de saber encontrá-la’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Preciso aprender a enxergar o propósito de tudo. Nenhuma experiência
pode passar sem ser pensada e repensada para se tirar o melhor proveito.
“‘Oh, é o amor, é o amor que faz o mundo
girar’.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
O amor torna tudo mais suportável e compreensível. Penso que
o amor é o remédio que cura a alma.
“‘Seja
o que você parece ser’
‘Nunca
imagine que você mesma não é outra coisa
senão o
que poderia parecer a outros do que
o que
você fosse ou poderia ter sido não fosse
senão o que você tivesse sido teria parecido a
eles
ser de
outra maneira’.”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Alguém sempre nos esboça dentro de experiências próprias ou
situações. Seremos para aqueles essa figura esboçada independente do que
fizermos dali em diante. Tentar mudar propositadamente nossa imagem para ser
mais ou melhor para alguém pode ser um desgaste enorme e inútil para nós
mesmos. Somos o que somos. E só temos que ser melhores por nós.
“‘Tenho o direito de pensar’”
(Lewis
Carroll, in “As Aventuras de Alice No País das Maravilhas”)
Pensar, sim. Falar é que deve ser estudado, analisado,
avaliado... Somos donos de nossos pensamentos e escravos de nossas palavras.
10- A Quadrilha
da Lagosta
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11- Quem Roubou as Tortas?
Sem comentários...
12- O
Depoimento de Alice
“Por fim, imaginou como seria essa
mesma irmãzinha
quando, no futuro, fosse uma mulher
adulta;
[...]
... e como iria sofrer com todas as
mágoas simples dessas crianças,
e encontrar prazer em todas as alegrias
simples delas,
lembrando sua própria vida de criança,
e os dias felizes de verão.”
A mulher e a criança estarão sempre unidas, independente do
que vier no futuro. A criança é o refúgio da mulher diante da dura realidade do
mundo adulto. O lugar para onde voltar quando o sentido de viver se esgota. A
criança é a fonte de energia da mulher que num mundo imaginário e particular
pode crer e viver feliz.
♥ Até breve! ♥
(Waleska Zibetti, in "Waleska no País das Maravilhas")