quinta-feira, 19 de junho de 2014

TODOS SÃO SUSPEITOS



Por Gabriella Gilmore

Me desculpe Wal, mas até que provem o contrário, para mim, todos são suspeitos.
Vivemos num mundo no qual não ser neurótico é anormal. Sim. Eu sou neurótica e não me tornei uma atoa. Mas a minha paranoia só é suspeita quando estou andando na rua e sempre tem alguém andando colado em mim, ou atravessa a rua logo quando eu acabei de atravessar ou quando estou em alguma fila ou entrando em algum ônibus. Para mim, a sensação de que serei assaltada de novo me vem toda hora.
Antes de eu ser assaltada há uns anos atrás, eu não suspeitava de ninguém. Achava que todo mundo era do bem. Andava falando ao celular, abria a bolsa no meio da rua, ficava em fila sem me preocupar em colocar a mochila na frente do corpo, porque vivia numa bolha em que assaltos só aconteciam com as pessoas lá de fora.
Uma vez, indo para a virada do ano novo, um casal mal arrumado nunca chamaria minha atenção, até aquele dia, quando fui abordada por eles tendo de entregar minha bolsa de colo. Levaram tudo o que eu tinha: dinheiro, celular, maquiagem, cd da Avril Lavigne (que nem era meu), uma garrafa de vinho e um Pack de Trident.
A partir de então, todo casal mal arrumado, de chinelo e boné, passou a ser suspeito.
Anos depois, na fila do ônibus, pronta para subir ao veiculo, algum sujeito, abriu minha mochila sem eu perceber e levou meu celular novinho. Só fui perceber isso quando sentei e vi a mochila aberta. Seis meses depois, com um celular ainda mais caro, o ocorrido passa a se repetir, e dessa vez com o ônibus vazio. Só havia eu, e o meliante atrás de mim, sentado, enquanto eu estava de pé perto à porta esperando o ônibus parar para eu sair.
Novamente abriu a mochila e levou o aparelho. Sim, o raio cai duas vezes no mesmo local.
A partir de então, passei a andar só com a mochila na frente, e todo mundo que cola em mim, seja em filas ou enquanto estou andando na calçada é suspeito, até que o mesmo siga quilômetros a minha frente sem ter me feito nada. “Esse era inocente”.
A sensação de impotência e insegurança é horrorosa, porém não foi algo que eu criei sozinha.
E para resumir o meu pensamento, segue uma frase de um autor leitor corporal que a pouco descobri.

“As nossas expectativas, sem dúvida, nos levam a pensar de formas determinadas. E como acabamos de ver, é difícil abandoná-las. Por isso a primeira impressão nos marca tanto e torna difícil retificar opiniões. (...) A aparência de uma pessoa determina então de maneira inevitável a primeira impressão que esta nos causa.” – Thorsten Havener – em O mentalista.