Por Gabriella Gilmore
Me desculpe Wal, mas até que provem o contrário, para
mim, todos são suspeitos.
Vivemos num mundo no qual não ser neurótico é anormal.
Sim. Eu sou neurótica e não me tornei uma atoa. Mas a minha paranoia só é
suspeita quando estou andando na rua e sempre tem alguém andando colado em mim,
ou atravessa a rua logo quando eu acabei de atravessar ou quando estou em
alguma fila ou entrando em algum ônibus. Para mim, a sensação de que serei
assaltada de novo me vem toda hora.
Antes de eu ser assaltada há uns anos atrás, eu não
suspeitava de ninguém. Achava que todo mundo era do bem. Andava falando ao
celular, abria a bolsa no meio da rua, ficava em fila sem me preocupar em
colocar a mochila na frente do corpo, porque vivia numa bolha em que assaltos
só aconteciam com as pessoas lá de fora.
Uma vez, indo para a virada do ano novo, um casal mal
arrumado nunca chamaria minha atenção, até aquele dia, quando fui abordada por
eles tendo de entregar minha bolsa de colo. Levaram tudo o que eu tinha:
dinheiro, celular, maquiagem, cd da Avril Lavigne (que nem era meu), uma
garrafa de vinho e um Pack de Trident.
A partir de então, todo casal mal arrumado, de chinelo e
boné, passou a ser suspeito.
Anos depois, na fila do ônibus, pronta para subir ao
veiculo, algum sujeito, abriu minha mochila sem eu perceber e levou meu celular
novinho. Só fui perceber isso quando sentei e vi a mochila aberta. Seis meses
depois, com um celular ainda mais caro, o ocorrido passa a se repetir, e dessa
vez com o ônibus vazio. Só havia eu, e o meliante atrás de mim, sentado,
enquanto eu estava de pé perto à porta esperando o ônibus parar para eu sair.
Novamente abriu a mochila e levou o aparelho. Sim, o raio
cai duas vezes no mesmo local.
A partir de então, passei a andar só com a mochila na
frente, e todo mundo que cola em mim, seja em filas ou enquanto estou andando
na calçada é suspeito, até que o mesmo siga quilômetros a minha frente sem ter
me feito nada. “Esse era inocente”.
A sensação de impotência e insegurança é horrorosa, porém
não foi algo que eu criei sozinha.
E para resumir o meu pensamento, segue uma frase de um autor
leitor corporal que a pouco descobri.
“As nossas expectativas, sem dúvida, nos levam a pensar
de formas determinadas. E como acabamos de ver, é difícil abandoná-las. Por
isso a primeira impressão nos marca tanto e torna difícil retificar opiniões.
(...) A aparência de uma pessoa determina então de maneira inevitável a
primeira impressão que esta nos causa.” – Thorsten Havener – em O mentalista.