segunda-feira, 2 de março de 2015

O Impossível



Mas primeiro prova da terra. 
Depois, voa.
Não aprendeste com Ícaro?
[Caio F. Abreu]


__ Deixa eu voltar? - ele pergunta e ela morde o lábio para que a resposta não fuja no impulso. Em silêncio se pergunta quando foi que ele estivera fora da vida dela. - Sinto sua falta. - E ela o olha relembrando quantas vezes ela também sentiu a falta de conversar bobagens com ele; e quantas vezes ele a deixou sozinha ignorando a falta que ele fazia na vida dela.

__ Como vão as coisas? - Perguntou para quebrar o gelo. Querendo ignorar o paradoxo de emoções que sentia. Apertando os dedos da mão para evitar o abraço. E falando qualquer coisa sem sentido para evitar o beijo. Ela não podia deixar mais nem um passo. As dores que ele causava ao se aproximar eram muito maiores que os prazeres. Isso ela sabia bem. 

__ Está tudo bem. E você? 

__ Tudo igual. - "Até o amor que tenho por você", completou em silêncio. Ela não entendi como podia sentir algo ainda. Não era normal. Talvez de tanto que lhe disseram que ela era louca, ela tenha mesmo se tornado. 

__ Você sumiu. 

__ Trabalho. - Ela aprendeu que no trabalho ele não existe. E ela trabalhava até o corpo entrar em câimbras de cansaço. Não se permitia pensar a não ser em todas as coisas que tinha agendada para fazer. Cinco minutos ociosos, eram cinco minutos dedicados a ele. A impossibilidade que aqueles sentimentos representavam. Não era orgulho era medo. Medo da solidão que vinha com ele. Medo das mentiras. Medo de ficar sempre a margem da vida dele. 

__ Olha o que o médico disse.

__ Eu sei. Mas eu preciso... - "preciso me ocupar e não pensar em você", disse só para si. Ela precisava se proteger daquele vício de amá-lo. 

__ Aparece mais vezes. 

__ Sempre que der. - "Mesmo que você não me veja", desviou os olhos.

Como é possível se amar o impossível? Ela carregará a dúvida para sempre. Se ao menos fosse possível por uma única vez, talvez o encanto acabasse e tudo viraria só mais uma dessas histórias que se ouve por aí. E ele viraria mais um. Mas quem pode ter a certeza disso, não é? Algumas coisas ninguém explica. Ele é assim na vida dela. E ela vai continuar tentando não pensar. Quem sabe um dia de tanto não alimentar o pensamento; o pensamento morre? É a esperança dela. 
(Waleska Zibetti, in "O Impossível")