quinta-feira, 29 de maio de 2014

Os Dois Lados da Solidão




Pois é, Gabizinha! Há dois tipos de solidão: aquela que queremos porque é necessário um reencontro conosco, uma busca por respostas interiores, resoluções de conflitos particulares; e outra que provocamos quando afastamos de nós quem nos ama, quando nos isolamos nas imbecilidades do mundo, quando nos esquecemos de olhar para o mundo com olhos humanos.

Acredito que no primeiro tipo de solidão, Deus nos acolha com seus braços seguros e nos sussurre palavras de fé, esperança e força. Acredito que anjos façam roda em volta de nós e nos cantem deliciosas canções enoquianas para nos trazer paz e nos inspirar a tal luz interior. Creio seriamente que é nesse momento que todos nós voltamos a um ventre mágico para renascermos mais consciente de nossa importância no plano astral. Essa solidão é abençoada e, portanto benigna.

A segunda solidão é dolorida e doentia. Ela começa por adoecer a alma. Esgotando a luz de nossas auras. Afastando-nos dos seres iluminados que nos protegem. Quando isso acontece, eu acredito que os espíritos inferiores se aproximam e aos poucos vão dominando o nosso redor. Eles atingem as nossas vidas inicialmente com coisas bobas como mau humor sem razão, depois em explosões de choro, até que se transforme em males físicos como gastrite ou, em casos mais graves, até o câncer. Destruído o corpo, resta a mente. Eu vejo a loucura como total dominação desses espíritos ruins. Eles nos cobrem com sua escuridão e começa a ficar difícil ver o caminho de volta a luz, a fé a esperança, a uma vida saudável na presença dos protetores, dos mentores espirituais. 

Contudo, Gabizinha, Deus não desiste de nós. E haverá sempre alguém que nos ama. Alguém emanando orações. Para o Ivan foi o empregado. Para você tem seus amigos – estou no meio deles. Para mim tem meus filhos – e você é um deles.

É claro que a morte chegará para todos. Porém, para uns será só uma transição, um momento de libertação desse casulo corpóreo, um momento de reencontro com os que já se foram. Para outros será um momento de aprisionamento porque ou não entenderão que se foram ou simplesmente não aceitarão a ida. De tudo isso, o importante é que não nos esqueçamos de viver, de sermos felizes e de fazermos felizes quem está ao nosso lado.

Fé e luz para ti, anjinho ranzinza! 


PRELÚDIO MORTAL


Por Gabriella Gilmore

"O caso não está no ceco, nem no rim, mas na vida e... na morte. Sim, a vida existiu, mas eis que está indo embora, embora, e eu não posso detê-la. Sim. Para quê me enganar? Não é evidente para todos, com exceção de mim, que estou morrendo, e a questão reside apenas no número de semanas, de dias, talvez seja agora mesmo? Existiu luz, e agora é a treva. Eu estive aqui, e agora vou para lá! Para onde?"

"Eu não existirei mais, o que existirá então? Não existirá nada. Onde estarei então, quando não existir mais? Será realmente a morte? Não, não quero. "

"Para quê? Tanto faz . A morte. Sim, a morte. E nenhum deles sabe nem quer saber, e nem lamenta isso. Ocupam-se de música. Para eles, tanto faz, mas também eles hão de morrer. Bobalhões. Eu vou primeiro, eles depois; hão de passar pelo mesmo que eu. E no entanto, estão alegres. Animais!"

Essas são as palavras de Ivan dialogando consigo mesmo, quando a realidade finalmente começou a escancarar-se para ele.
Mesmo "merecendo" todo o desprezo familiar e social, ele sentia conforto em saber que a qualquer momento, as pessoas ao seu redor também teriam o mesmo destino.
Obviamente cada um terá a morte que merece, e como disse Wal em uma de nossas conversas, o leito de morte passa a ser menos doloroso quando temos ao redor pessoas que nos amam, que nos apoiam e que farão de tudo para aliviar nosso sofrimento.
Ainda não conclui a leitura, mas creio que voltarei com algum desfecho sobre o que aprendi com a morte de Ivan Ilitch.


Até breve.