sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ponto Final...






Era só um espectro de si mesmo. Esconde-se na penumbra. A ponta de seu vestido era a única coisa que alcança a luz vinda da lua que invade a fresta da janela.

__ Olá!

A voz é como um acorde frio que retumba no cômodo cheirando a passado. É difícil imaginar-lhe os traços porque seus cabelos cobrem-lhe o rosto.

__ Entre. Eu o esperava.

É impossível não obedecer a essa voz. Uma banqueta do outro lado, provavelmente de veludo e que em outro tempo fora vermelho, está quase em frente a ela. E diante dela é difícil controlar a respiração, o corpo, a voz, o olhar.

__ Há quanto tempo sinto você se esgueirando por aí a me rondar.

Ela respira pesadamente e sua voz sai como um silvo. Uma mão pálida e cadavérica segura o braço da poltrona acariciando o tecido também aveludado.

__ O que você procura? Melhor... O que você não procura é o que lhe traz aqui.

Seu cabelo é longo e seu cheiro lembra velhas bibliotecas. Não é possível ver mais do que a ponta do vestido e os contornos magérrimos de uma mulher.

__ Eu não sou o caminho, mas vocês insistem em vir sempre por aqui. Vocês insistem em visitar-me pela comodidade que causo em vocês. Gentinha miúda e nojenta. É isso que são! Todos vocês!

A voz agora demonstra desprezo e um cheiro ruim invade o cômodo. Talvez seja a hora de ir. Mas não se consegue. Tem que ter um porquê.

__ E tem!  - sentencia pela primeira vez forte essa coisa sentada adiante – O porquê é o seu medo. O seu medo de não assumir o que quer, de não se lançar nos seus desejos. Fica arrumando pequenas desculpas para tudo: falta de tempo, falta de dinheiro, depressão, loucura, Deus... Até quando será isso em sua vida? Esse vaguear em mentiras, em ilusões, em desculpas... 

A respiração acelera. É possível ouvi-la ainda mais nítida.

__ Foram criados para serem superiores e na maioria do tempo agem como vermes. Depois ficam aí... pelas madrugadas... ratos pelos meus corredores. Misericórdia... misericórdia...

Aperta o braço do sofá.  Unhas pontiagudas quase rasgam o tecido roto.

__ Infelizes! Haverá sol amanhã, sabia? E tudo que terá a fazer é ter coragem de admitir seus pesadelos para que ele o cubra inteiro. Se despir dessa sua pele fantasiosa de segurança e admitir o medo, a falha, a culpa. Mas... É mais fácil não chorar, não é? É mais fácil arrumar outra desculpa para enfiar o dedo na garganta e jorrar sua frustração no vaso do banheiro. Dizer sinceramente para si que você é o resto de merda nenhuma e então, sair pela vida para provar a delicia de ser totalmente livre.

Pela primeira vez ela movimenta o corpo para frente. Partes dos cabelos alcançam a luz. São grisalhos e mal cuidados.

__ Ouça um pouco... Há vida lá fora. Gente. Gente de verdade. Gente querendo e sendo gente. E você aí... Rondando-me. Perdendo tempo. Querendo um amanhã perfeito. Ele não virá! Ele não existe! Mas você entenderá isso tarde demais.

Ela se levanta. É completamente possível se sentir o olhar dela pousado em nós.

__ É a sua última chance. VÁ!

A mão cadavérica aponta a porta, a rua iluminada...


__ VÁ AGORA E VIVA!

E agora, amigo? O que você escolhe: continuar aqui ou ir? É você quem decide. Tudo agora é com você.
(Waleska Zibetti)

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CIÚME OU POSSESSÃO?

Um crônica de Gabriella Gilmore



CIÚME OU POSSESSÃO?

Pedro Henrique está sem dormir a três dias, se queixando de dores no coração, ansiedade e insônia aguda.
Motivo? A namorada que mora a alguns quilômetros de distância.
Sabemos que o rapaz é ciumento, e que namorar uma moça bela e de um carisma apaixonante, não deva ser tão fácil.
Tudo começou com uma amizade de final de semana. Clarissa viajava todo sábado para a capital, aonde fazia pós-graduação. Henrique trabalhava na universidade.
Trocaram e-mails por um ano e uma bela amizade nasceu ali.
Num belo dia decidiram passar um final de semana juntos, pois ambos estavam sentindo aquela amizade mudar de cor. Beijaram-se pela primeira vez. Ali, uma explosiva paixão brotou em seus corações. No mesmo mês decidiram namorar.
A semana de ambos acabava sendo um martírio, afinal, a ansiedade de um novo encontro era desmedida.
No segundo mês, Pedro Henrique, em um excesso de bebedeira, terminou o namoro sem um motivo aparente. No mesmo dia, Clarissa aos prantos, pediu para ele aceitá-la de volta. Reataram ali mesmo, ao telefone.
Mais juras de amor foram declaradas, e no terceiro mês, boommm: a relação começou a esfriar. Henrique começou a ficar seco e indiferente. Começara a implicar com o novo amigo de quarto de Clarissa, mesmo sabendo que o rapaz estava mais para rapariga, do que para macho. Ele sabia que ela dividia o apartamento com o jovem, por não ter ninguém para dividir despesas, e o egoísta namorado, fazia teatro em vão.
“Ele não me diz mais que me ama, e nem me manda mais mensagens de bom dia. Estou devastada”.
Sabendo do problema de alcoolismo do amado, Clarissa se sentia culpada a cada show que o garoto fazia, e de alguma forma, ela achava que a culpa era sua por deixá-lo se sentir inseguro. Por mais que ela tentasse provar que ele era o amor de sua vida, o gelo daquela semana negra estava matando a protagonista.
Todos ao seu redor sabiam o tanto que ela havia mudado, e percebiam o quão sincero era o seu amor por Henrique, e ela não sabia mais o que fazer.
“Não sei se será pior ficar com ele, ou estar separado dele. É como se ele fosse meu último amigo.”
Abatida com o descontrole insano daquela relação, a jovem resolveu procurar um terapeuta.
Depois de longas horas trancafiada no consultório, Dr.Braga diz:
_Clarissa, me faça um grande favor.
_ Pois não, Doutor!
_ Continue sentada e apenas me escute agora.
Ela franziu a testa, e resolveu acatar a ordem do médico, que de tão velho, inspirava serenidade, sabedoria e sinceridade.
_ Pois bem minha jovem. Pedro Henrique está sendo mimado com você. Eu não entendo o comportamento dele como ciúmes, e sim como possessão. Você é dele, ele a quer somente para ele e fim. Eu trato meus pacientes aqui com relatos verídicos, e em sua maioria são experiências vividas. Acho que trago o paciente para mais perto da realidade quando faço isso.
Eu quando jovem, tive um relacionamento assim. Honestamente?
Ele perguntou olhando para mim. Quando ameacei a responder ele me interviu.
_ Xiii, é a minha vez de falar tudo, mocinha. Não me interrompa. Continuando: Honestamente, aquilo estava cansativo, chato e foi ficando cada vez mais perigoso. No começo a gente sempre faz o papel de bobo da história, que tenta ajeitar as coisas, sem querer brigar resolvendo tudo na conversa e compreensão. Mas, não somos nós quem temos que mudar e ser compreensivos, e sim eles. 
Eu tinha ciúmes da minha namorada, e ela também tinha sobre mim. Porém, entendíamos perfeitamente que cada um tinha seus amigos, e que por morarmos longe, não podíamos sair sempre juntos. Isso é um fato que deve ser enfrentado por casais que moram longe. Se seu namorado não entende que você tem amigos e que principalmente, este que você mora junto, (que te ajuda nas despesas de uma vida adulta, e sem pais), eu tenho apenas mais algumas palavras para te falar: seu namorado é imensamente imaturo, mimado, egoísta e ele vai acabar fazendo você desistir de coisas e amigos que gosta. 
Ela arregalou os olhos, e a ficha começou a cair. Ameaçou novamente em mexer os lábios e ele a interrompeu completando a análise:
_ Para isso não acontecer, ele precisa mudar de atitude e ser adulto. Assumir as responsabilidades e conseqüências de um relacionamento à distância. Especialmente sabendo que você é uma pessoa que gosta de fazer amigos. Você, senhorita, precisa se sentir bem em um relacionamento, feliz, e ele não está te apoiando, sendo companheiro ou ficando do seu lado. E uma última observação, um pouco mais forte: NÃO SE ENTREGUE MAIS A ESSA PAIXÃO. Não por enquanto.
Quando ele terminou tudo, o bom e sábio velho se levantou indo em direção a sua estante de livros e pegou sua caixa de charutos. Lentamente a acendeu e disse:
_ Fim da sessão.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

História de Uma Estrela Cadente

Sentou-se para pensar na vida no fim da tarde. Seus olhos perdidos num pedaço de céu cinza chumbo que anunciava temporal. E um vento frio, anunciava uma noite difícil. “Ele disse que viria as oito. Falta muito” – concluiu então, antes de mergulhar seus pensamentos no passado.

Ele era um homem bonito. Simples assim. Nunca foi lindo, mas era bonito. Isso ninguém podia negar. Ela era bonita também. Tinha dessas belezas diferentes que as pessoas não sabem explicar. Eu poderia jurar que o que ela tinha de fato era carisma. Uma luz de menina nos olhos que fazia com que ela se destacasse. Ele não tinha carisma nenhum. Era só bonito.

Ela tinha sonhos e os pendurava nas estrelas todas as noites pouco antes de dormir. De sua cama ela olhava seus sonhos brilhando lá no céu. Ela era tímida demais para falar deles com outro alguém que não fosse com ele. E ele a ouvia sempre com um sorriso, porque ele não tinha sonhos. Era dessas pessoas duras demais diante da vida e não sabia sonhar. Mas ele vivia, um a um, os sonhos dela e sonhando os sonhos dela, ele se sentia feliz.

A lua era o refúgio dos dois. E ela dizia que na lua morava um dragão que ela um dia iria montar e sair pelos céus apostando corrida com os cometas. E eles venceriam os cometas porque seu dragão era encantado. Ele dizia que São Jorge havia matado o dragão. Ela ficava brava e fazia pirraça porque ele havia destruído a fantasia dela e nessas noites ela chorava olhando a lua e de tristeza, a lua se escondia numa nuvem qualquer até que ela adormecesse entre soluços. Ele não fazia por mal e no dia seguinte ele aparecia com um desenho de dragão que voava feliz ao redor da lua. E ela sorria feliz com seu dragão.

Eles eram dois extremos, mas um dependia do outro para existir. Ela era poética, ele cético. Ela falava palavrão, ele era polido. Ela comia pizza com a mão, ele não sabia pisar no chão. Ela ria de tudo, ele questionava. Ela dançava na areia da praia, ele corria para o trabalho. Ela cantava no chuveiro, ele lia o jornal. Ela o amava, ele, eu já não sei dizer.

“Ele virá as oito” – ela disse arrumando-se na varanda. Ouvindo a voz marcante de Billie Holliday em uma canção que ela cantarolou baixinho. Logo, sentiu-se sendo levada para um tempo muito depois daquela noite em que eles se despediram.

A vida dela era outra. Não havia mais sonhos pendurados em estrelas durante suas noites. A maior parte do tempo era só ela e algumas coisas que ela guardava em uma caixinha de ilusões. A menina feliz, era agora uma mulher de realidade dura. Pouco tinha tempo para si. Mas não perdera seu sorriso. Algo nela ainda era esperança. E, em algumas noites, ela olhava a lua e imaginava o dragão voando atrás dos cometas. Mas sem ela a acompanhá-lo. Seus olhos marejavam. E ela disfarçava olhando a novela. E olhava tanto até que o sono a roubava dali.

Ela crescera. Ela virara mulher. Ela virara mãe. E que graça havia nela agora? Era só mais uma como as outras. Não lembrava mais de poemas, silenciou seus palavrões, aprendeu a usar o garfo e a faca, esqueceu como rir com facilidade, tem vergonha de dançar, seus banhos são corridos, desaprendeu a amar. Ele simplesmente vem às vezes. Como hoje!

E ela se inquieta. Em seu coração a dúvida doendo. “Será que ele virá? Como será que ele está?” – uma vontade de chorar contida dentro do peito. E ouve-se um trovão ao longe. Ela olha para o alto e o coração apertado. Ele está chegando. Um relâmpago. Ele está perto. Ela vai para o meio da rua. Ela chora olhando o céu. Ele desce enfim no meio da rua. Abaixando-se suavemente diante dela numa espécie de reverência. Ela acaricia seu rosto com carinho. “Meu dragão!” – ela exclama feliz. Ela o abraça e ele a leva em vôo livre. O povo na rua comenta a estrela cadente. Ela é menina de novo.

A morte pode roubar pessoas. Mas não pode vencer o amor. Enquanto viver a menina na mulher, ele viverá. E quando você vir no céu uma estrela cadente, fique feliz porque é o sinal de que tudo pode ser possível àqueles que não têm medo de acreditar.

(Waleska Zibetti)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Alma Tensa

O porque de ser alma tensa?
As vezes nem eu mesmo entendo, mas talvez a resposta seja a própria vida!
Mas a vida é uma caixinha de surpresas então como poderia ser ela mesmo??
O início se deu por ter muitas dúvidas e gostaria de sanar todas elas.
Todos os textos escritos refletem meu estado de espírito diário, seja uma revolta, uma tristeza, uma depressão, uma alegria! Acho que todo ser humano é assim eu não poderia ser diferente!
Sermos nós mesmos é muito difícil, principalmente quando buscamos respostas para todas as perguntas. Acredite você viverá e nunca achará todas as respostas! Talvez quando você se permite a viver todos os dias, você ache as respostas mais importantes e creia você descobrirá coisa das quais nem imagina que existiriam.
UM CONSELHO PRA ISSO: PERMITA-SE!

Conviver com outras pessoas é difícil principalmente quando ambos não se permitem a mútua jornada, chega o egoísmo e a amargura, a arrogância e a falta de humildade em achar que cada um tem os problemas maiores que o seu próximo. Amizades e amores se acabam e o ciclo de ódio e insanidade começa! 

UM CONSELHO PRA ISSO: OUÇA MAIS!

Talvez você que é um pouco mais jovem do que eu ("quando escrevi tinha 26, hoje 30") deve achar hoje que seus pais são chatos, falastrões, metidos e abelhudos, mas principalmente caretas. Deve achar que eles pouco conversam e partem para agressões verbais ou em alguns casos extremos a chamada “surra”. Você já parou para pensar em como poderia ter horas divertidas do seu dia numa conversa com eles? Promover encontros familiares, falar o que sente e principalmente descobrir o valor de ter família!Você se surpreenderia que num momento mais difícil eles estarão com você!

UM CONSELHO PRA ISSO: DEDIQUE-SE A CONHECER SEUS PAIS, É IMPOSSÍVEL PREVER QUANDO ELES TERÃO IDO EMBORA DE VEZ!

Apaixonar-se é algo incrível,você com um pouco de sorte pode se apaixonar apenas uma vez e vivê-lo para o resto da vida. Mas pode se apaixonar muitas vezes durante a vida.Permitindo que tal sentimento adentre sua vida talvez você faça o mundo ao seu redor um local agradável para viver e pode fazer coisas tão boas que você nunca se imaginaria fazendo aquilo! 

UM CONSELHO PRA ISSO: AME SEMPRE, PERMITA AO SEU CORAÇÃO A CHANCE DE BATER FELIZ TODOS OS DIAS. QUEM SABE AQUELE(A) GAROTO(A) QUE ESTÁ
AO SEU LADO AGORA NÃO ESTÁ TE DANDO A CHANCE DE SER VOCÊ MESMO COMO JAMAIS FOI E ESTÁ ABRINDO AS PORTAS DO SEU CORAÇÃO PARA UM OUTRO TIPO DE FELICIDADE, ALGUÉM QUE TE TRANSBORDE OU QUE TE TRANSFORME NUM BOBO?

Mesmo aqui em todas as palavras já escritas você achar que falei bobagem, digo a você que das coisas ruins eu já passei e das quais me arrependo, se eu pudesse fazia tudo diferente.
Mas da grande parte da minha vida eu faria exatamente igual para me tornar o que sou hoje!
Talvez a Alma Tensa que aqui vos fala e redige tem tanto quanto vocês para aprender, mas, principalmente repassar pra que vocês dêem valor ao que tem, dêem valor a vida, dêem valor ao agora, dêem valor as pequenas coisas, deixe as pessoas com um sorriso e amem tudo ao seu redor mas principalmente aprendam a se perdoar!

Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para dentro do seu coração. Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda.

(Carl G. Jung)
Au Revoir 
Até o próximo texto.

Mea Culpa





Há sete pecados capitais,
sete vícios que foram usados
para me educar.
Sete tentativas de controlar
os meus instintos básicos.
E sete vezes fui condenada.
Sete vezes doente.
Sete vezes sem perdão.
A boca é o mal do homem...

Minha boca tem sede

E a saliva da outra boca é minha fonte
Minha boca tem fome
E o sal do suor da outra carne é meu alimento
Minha boca tem desejo
E o gemido do outro é o caminho
A boca é o mal do homem...
E o que não digo é o meu castigo.



Eu quero ter... Eu terei!
Porque são meus os seus pensamentos
São meus os seus desejos
São para mim os seus gemidos
São meus os teus conflitos
Eu quero ter... Eu terei!
Porque é minha essa vontade exagerada

De te possuir.


Olhe para a sombra
E poderá ver a serpente observadora
Não acenda a luz!

Não tema!
Sinta a serpente entre os lençóis
Ouça seu sussurrar

Deixe que ela se enrosque em suas pernas
Sinta sua língua bifurcada

A lhe provocar arrepios
O prazer é uma serpente fria
Enroscando-se em seu corpo quente
Olhe para a sombra

Eu sou uma serpente entre tuas pernas.

Que o mundo sinta a fúria
Dos ventos, do mar, do amor
Que um corpo se choque no outro
Até que se descontrolem os dois
Até que não se separem mais
Até que não faça sentido
Até que se perca o juízo
Que o mundo sinta a fúria
Dos corpos, dos homens, do gozo.

Quero ser o que brota de ti
Quero teu melhor para mim
Quero teu cavalgar
E os teus delírios

Quero a tua fome para matar a minha
Quero o que brota de ti
O teu leite para fecundar a minha vida

Respire fundo e relaxe
Não é preciso pressa para nada
Tudo é na hora de Deus
Para que tanta vontade de ir então.
Se entregue a cama
Aos sonhos
Tudo é como Ele quiser que seja
Não adianta ir contra as vontades dEle.
Respire fundo e relaxe
Deixe o corpo para mim
Já que a alma é de Deus.

E a noite enfim se silencia
A lua impera  solitária

O diabo anda nu pela casa
Lilith caminha entre véus
Exalam orgulho de serem diferentes
A maioria os condena
E a noite enfim se silencia
E os amantes exibem orgulho
De se pertencerem.

Há sete pecados capitais,
sete vícios que foram usados
para me educar.
Sete tentativas de controlar
os meus instintos básicos.
E sete vezes fui perdoada!
(Waleska Zibetti)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

VICKY CRISTINA BARCELONA (FILME)



Vicky Cristina Barcelona - Resenha
Por Gabriella Gilmore

"A vida é curta, entediante, cheia de sofrimentos.
E isso é uma chance de algo especial..."

Isto seria um convite da "Ilusão" nomeada Juan, para você, amigo cinéfilo.

Achei esse filme interessante porque ele me trouxe tais arquétipos para emoções que nos faz a todo tempo questionarmos: Amor e paixão.

Ás vezes nos deparamos com um sentimento, você se entrega, faz compromissos e jura que aquilo é amor.
A cada dia que passa, fica mais difícil para nós definirmos realmenteo tão sonhado amor romântico.
Muito das vezes o confundimos com a paixão, que geralmente vem intensa, cheia de doçuras, aventuras e você pensa que "agora fechará um contrato eterno", afinal, aquilo foi mágico.
Imagino que dentro de nós, existem duas partes que pensam diferentes sobre essa relação amor/paixão. Um lado nosso procura algo calmo, constante, puro, e no outro, já preferimos algo que nos tire da rotina, algo quente e cheio de sensacionalismos.
Poderíamos nomear estas duas partes distintas de Vicky e Christina.
Neste filme fabuloso de Woody Allen, ele mescla essa fusão de sentimentos e ainda inclui a "ilusão" encarnada em um charmoso artista plástico.

Duas amigas saem de férias para Barcelona. Vicky está terminando seu mestrado sobre Identidade Catalã, e Christina, uma artista e escritora frustrada, após ter terminado um namoro, achou interessante mudar de ares e ir com a amiga para Europa.
Lá, elas deparam com um pintor super interessante e um pouco atrevido, que as convidam para uma pequena viagem a uma cidadezinha  chamada Oviedo. 
Christina em busca de emoções, de cara aceita o convite.
Já a amiga, não achou muita graça no jeito descarado do rapaz e também pelo fato de estar noiva e respeitar demais o futuro marido que ficou na América.
Mal sabem elas o que este artista da vida fará com seus conceitos pré-fabricados sobre amor, paixão e ilusão.
Um prato cheio para você tirar suas conclusões e saber que a vida por mais curta que seja, é um palco gigante. E terminando, responda esta questão levantada pela personagem de Penélope Cruz: - Apenas um amor incompleto pode ser romântico?
Bom, viva para ver este filme e responda a si mesmo.
Enjoy!!!

Elenco:Rebecca Hall, Scarlett Johansson, Javier Bardem e Penélope Cruz.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Eu, eu mesma e todos os meus medos...

"- Augustus, talvez você queira falar de seus medos para o grupo.
- Meus medos?
- É
- Eu tenho medo de ser esquecido - disse de bate pronto. - Tenho medo disso como um cego tem medo de escuro."
(A culpa é das estrelas - John Green)


Não tenho medo de altura, não tenho medo de voar, não tenho medo de barata, não tenho medo de cara feia, não tenho medo de partir. 

Mas se hoje você me perguntar:
- Você tem medo de quê?
Eu te respondo na lata:
- Tenho medo da completa solidão e de ser pisada pelas pessoas que mais tenho sentimento, e, tenho pesadelos horríveis com isso!

"Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia."
(Friedrich Nietzsche YALOM, I. When Nietzsche Wept: A Novel of Obsession. New York: Basic Books, 1992.)

Talvez eu me jogue de cabeça e tente ser o máximo de mim mesma em qualquer seguimento da minha vida. Mas, tenho dúvidas se sou o suficiente pra tudo ou pra todos, se realmente inundo suas vidas com alguma forma de poesia. E nesse tempo criamos aquele medo de tudo dar errado e por consequência o medo de perder é o que torna os dias uma incógnita.
A primeira frase desse texto "Eu tenho medo de ser esquecido" talvez reflita as sucessões de fracassos que muitos 
(inclusive e principalmente os meus) tem durante essa maluca existência.
Mas de onde vem o medo? E porque é que ele grita nas nossas cabeças e contamina nossos corações como um vírus?

"Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas
Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos
E eu segurei sua mão por todos estes anos
Mas você ainda tem tudo de mim"
(Amy Lee / Ben Moody / David Hodges; My Immortal, Álbum Fallen (2003))

Medos que derivam do ritmo nervoso, devorador, que imprimimos à nossa rotina. Quais são eles? Tantos! 
Se eu fosse enumerá-los talvez você tivesse duas reações: A do riso por achar que são meras bobagens ou das lágrimas compartilhadas por identificar ao menos um medo meu que fosse igual ao seu.

Tenho medo de deixar que a vida me faça esquecer quem eu realmente sou, de que minha verdade existencial assim assuste. Tenho medo de ter tanto medo e sentir tanta culpa por coisas que às vezes nem eram pra ser. Ou que deram errado por conta de outras coisas.

"Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro."
(Caio Fernando Abreu, Morangos Mofados, 1985) 

Não, eu não quero mais ser tomada e dominada pelos meus medos, pelos meus receios, não! 
Não quero ser apenas uma observadora da vida. Quero ser a protagonista dela, com todos os por menores e detalhes.
Descobri que a gente tem que vivê-la como se fosse um filme ou como os sonhos que sempre temos com as gotas de felicidade diária. Tudo pode dar errado sim, e no máximo, vira um texto cheio de catarse ou um poema repleto de ferocidade!

"Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço"

Nós temos que experimentar, tocar, sentir, cheirar, amar e conhecer o mundo, não ter medo dele. Todos nós temos tanto o que aprender sobre os nossos medos e não nos deixar dominar por eles, e ao mesmo tempo, tanta coisa que podemos compartilhar sobre nós mesmos com as pessoas que nos são caras. 
Acredite: é muito melhor arriscar tudo, do que viver para sempre se arrependendo de não ter ao menos tentado.
Mas aí a vida vem, e ensina que tudo isso faz parte e você começa tudo outra vez. 
Carpe Diem!

Au Revoir
Até o próximo texto

A Grande Descoberta



O quadro era um tanto quanto incomodo. Uma sala quase vazia e cheirando a mofo. Ela estava sentada na poltrona próxima a janela e a luz da lua agravava ainda mais a sua palidez. Estava tão quieta que parecia não ter notado minha presença. Nem mesmo o gato que estava deitado em seu colo, se mexerá quando eu cheguei à porta. Pensei em sair dali antes de ser notado pelos dois, mas...

__ Por que sair se sua curiosidade implora para que fique?

A voz dela tinha um arrastar que causava arrepios. Eu vacilei, mas entrei lentamente. Ela continuava a olhar pela janela de sua poltrona. Tinha as pernas cobertas por uma manta e a mão fazia movimentos pelo dorso do gato como se aquilo fosse completamente involuntário a vontade dela. O bicho me encarou pela primeira vez. Seus olhos faiscavam em um tom de amarelo que inexplicavelmente me dava à sensação de que filmavam a alma. 

__ Boa noite!
__ Deve ser boa, não é?

Eu fiquei parado sem jeito e sem coragem de continuar a me aproximar. O gato ainda me observava e ela ainda não me olhara nos olhos. A situação era incomoda e eu me arrependia em silêncio de ter me aproximado daquela casa.

__ Não se sinta assim. Puxe aquele banco e sente-se. – enquanto eu me encaminhava para o banco, ela completou. – A curiosidade cobra um preço alto aos seus adeptos. O pior é que sempre pagamos. Todos nós! Até mesmo eles.

Olhei ao redor da sala a procura das outras pessoas. Não vi ninguém. Só móveis pesados e aparentemente mal cuidados dividiam a sala conosco. Notei que alguns estavam cobertos como que esperando mudança ou um fim qualquer. Finalmente sentei-me nem tão perto da mulher, mas também não tão distante. Ela continuava expectadora da rua e o gato também parecia ter se familiarizado comigo, uma vez que cochilava tranquilo no colo de sua dona.

__ Eles nos observam. Então, por favor, seja discreto e indireto. E principalmente, aja de modo natural. 

“Louca!”, pensei ao ouvi-la dizer aquilo. 

__ Não! Eu não sou louca. Só estou aqui há tanto tempo que já consigo pressenti-los. – e finalmente o rosto dela se vira para mim. Uma sensação de frio percorreu todo meu corpo e eu estremeci. Os olhos dela estavam nos meus eu poderia jurar que eram azuis. Mas não tenho ideia de como cheguei a essa conclusão com toda aquela escuridão. – Você já foi um deles. Mas deve estar por aí há muito tempo. Por isso, perdeu-se de si. Agora ficará por aqui, também. E vai caminhar pelas ruas até achar um lugar onde repousar, como eu. E verá que nada faz sentido fora daqui. Mas aqui, nesse mundo, as coisas são cada dia de um jeito e nunca sabemos como irão terminar.  – e um sorriso enigmático surgiu no canto de seus lábios no mesmo momento em que ela moveu seu corpo para frente ficando numa posição onde podia ver-me melhor. 

Era velha. Sim! Muito velha. Magra. Frágil. Pálida. Seus olhos eram claros, mas eu não posso mais afirmar se eram azuis. E a voz era marcante. Não sei defini-la exatamente. Porém, ela prendia-me na cadeira e calava minha própria voz. 

Devemos ter ficado em silêncio alguns minutos. Eu a observando e ela a mim. Ora ela sorria. Ora ficava quieta numa expressão firme. O gato parece ter se aborrecido com a situação e sentou-se a janela onde pude notar o negrume de sua pelagem. 

__ É um belo animal, não é? Veio para mim numa noite de lua cheia e ficou. Os gatos podem caminhar por entre os mundos. São almas tomadas de liberdade. E isso revolta o cão tão submisso ao seu dono. Claro que há os que não gostam do gato. Contudo, o que eles não gostam é da ideia de pertencer a um animal. Sim! Os gatos é que possuem. – e olhando-me tão profundamente ela me põe em xeque. – Importa-se de ser possuído, meu jovem?

__ Dependendo da situação...

Uma gargalhada alta e sonora ecoou na sala. Não condizia com a fragilidade aparente daquela senhora. O pior é que posso jurar que o gato participara daquela gargalhada em uníssono com ela. 

__ Você é fruto da possessão, querido. É por isso que está aqui. Junto com todos os outros. Você só existe por isso! Não se sinta menor. Também só existo por isso. E assim também é o nosso amiguinho Wade ali. Todos nós estamos aqui porque alguém lá foi possuído ou de raiva ou de amor ou de tristeza ou de alegria ou de dor... O sentimento não importa! O que importa é que nascemos desse momento. E ficamos aqui. Alguns ficam sem passado, outros sem presente. Futuro? Ah, nunca vi nenhum ter futuro. 

Ela parecia transtornada e confusa. Eu não via nexo no que ela falava. Parecia que ela delirava. Ou era eu que achava tudo aquilo ali completamente confuso. E foi aí que me dei conta de uma coisa... 

__ Como vim parar aqui? – disse em voz alta. 

E ela não me disse nada. Só continuou a olhar-me com seus olhos frios e seu sorriso misterioso. Levantei-me. Ela se recostou. Wade pulou no colo da sua dona como que para defendê-la. Passei a mão na cabeça. Percebi que não havia nada antes da minha imagem parada na porta a observar essa velha que agora me deixara tão louco quanto ela. 

__ Você não está louco! Acalme-se. 

Eu caminhava pela sala. Queria sair dali. Eu deveria ir embora. Voltar... Voltar para onde? Eu não sabia de onde tinha vindo. “O que está acontecendo?”, pensei. E meu peito apertou-se ao mesmo tempo em que meu coração acelerou. Sentia enjoo. A cabeça rodopiava. E ela paciente esperava que eu me acalmasse. 

__ A sensação do despertar é sempre essa. Mas com o tempo você se acostumará e verá as inúmeras possibilidades que há aqui. Acredite em mim. Nós estamos melhores aqui que eles do lado de lá. Aqui somos livres. 

As palavras dela chegavam aos meus ouvidos de modo profundo e complexo. Finalmente, sentei-me. Não que eu estivesse me acalmando, e sim porque as pernas fraquejaram. Tentava fixar meu pensamento em alguma lembrança anterior a minha aparição naquela porta, todavia minha cabeça era um nada absoluto. Só as últimas revelações da velha ecoavam dentro dela.

__ A liberdade que experimentamos do lado de cá é a nossa recompensa. Sinta-a. Absorva essa prazerosa sensação. – A voz rouca da velha foi ganhando força sobrenatural. O tom era quase hipnótico. - Deixe que ela entre pelos seus poros. Que percorra suas veias. Que alcance sua razão. Que envolva sua alma. – Ela fechou os punhos com tamanha força que eu pude notar suas veias da mão ressaltarem e gritou. – Liberte-se!

Algum tipo de trovão percorreu a sala. E eu notei que tudo escurecia ao meu redor. A última lembrança que tenho daquele momento era dos olhos amarelos de Wade dentro dos meus. Não sei se dormi ou desmaiei. Mas tenho certeza que foi por um longo tempo. 

                                              ...

Era tanta claridade que eu não conseguia abrir os olhos. Esforcei-me até que finalmente consegui. Fiquei um tempo ali deitado no chão sem entender onde estava. “Foi tudo um sonho!”, respirei fundo e fechei os olhos novamente. Lentamente e de olhos fechados me virei de lado. “Tudo aquilo foi um terrível pesadelo.”, conclui e sorri.

__ Seria reconfortante se fosse, não é mesmo? 

Levantei-me rapidamente e me deparei com o sorriso amarelado da velha. Agora podia vê-la nitidamente. Cabelos em coque no alto da cabeça. Pele sardenta. A mão tocou meus cabelos carinhosamente. 

__Venha comigo! – e ela passou seu braço pelo meu. E nos levou até a porta onde tudo isso começou. Eu só a acompanhava. Não tinha outra opção. Na varanda, notei um dia maravilhosamente ensolarado. Um jardim florido e muito bem cuidado era tudo o que separava a casa da rua que tinha outras casinhas simples exatamente como aquela. Em um banco, Wade espreguiçava-se gordo e lindo. 

__Vamos nos sentar ali.
__ Sim, senhora.
__ Está mais calmo? 
__ Não sei se essa é a sensação. 
__ Vai ficar em alguns minutos. Eles é que não ficarão. Mas eu os entendo. A inveja da nossa liberdade do lado de cá, os consome. Nunca terão o que temos. E mesmo que não se conformem com isso, sempre nos vigiam. Precisam alimentar-se de nós! Não nos afetam depois que chegamos aqui. Servimos de alimento para eles, de esperança, de mola de impulsão para suas vidinhas limitadas... Eles precisam de nós, mas nós independemos deles. 

__ Eu não estou entendendo nada. Me desculpe! Eu não sei nem mesmo como tudo isso começou. Estou confuso. Afinal, senhora, quem é você e quem sou eu?

Wade aproximou-se e pulou no meu colo. Assustei-me, mas acariciei o bicho que ronronou em agradecimento. 

__ Você é um de nós. – disse enfim... Wade. Sim! Wade disse-me isso. Wade, o gato negro da velha misteriosa. E uma sensação de desespero tomou-me de vez. Os dois riram e em coro disseram: vai começar tudo outra vez. 
__ O gato falou! Meu Deus! Eu morri! É isso! Estou no mundo dos mortos. Meu Deus! Como morri?
__ Você se sente morto?
__ Não!
__ Então...
__ Então, estou louco. É isso?
__ Se sente louco?
__ Não sei. Por favor, me responda.

Ela suspirou. Desses suspiros que se dá quando vamos pegar uma longa e cansativa jornada. 

__ Você nem morreu nem está louco. Pelo contrário, ontem você nasceu. Está com menos de 24 horas de vida. 
__ Como assim?
__ Ontem a noite alguém de lá foi possuído de uma vontade incontrolável de parir um ser novo. Alguém precisava expurgar alguma ideia e você nasceu dessa necessidade, dessa possessão. Você é fruto de uma ideia. Todos aqui somos. Meu nome é Amélia. Esse é o gato que nasceu de uma noite insone dela. Eu dei o nome de Wade porque significa “Andarilho”. Somos todos personagens dela. 
__ Personagens?
__ Sim! Fomos criados porque ela adora escrever. E vivemos aqui no mundo da Ficção em liberdade que nem ela nem eles têm. 
__ Quem são eles? Quem é ela?
__ Eles? Eles são os que nos imortalizam. Eles são os prisioneiros de nossa liberdade. Eles estão aqui até agora presos a nós por curiosidade de saber quem somos nós. E só se deram conta agora de que eles são os alvos dessa história. – risadas – Alguns ficarão muito bravos com ela. Mas ela é assim mesmo. Inusitada. Louca, dizem alguns. Contudo, eles voltarão de vez em quando para se alimentar de nós ou de outros. Nós os chamamos simplesmente de “Leitores”. São muitos não dá para lembrar todos os nomes. Nem mesmo ela que é do mundo de lá conhece seus nomes.
__ E afinal, quem é ela?
__ Waleska. Uma criatura taxada de louca desde menina. E no fundo, até acho que ela é. Todavia, é da loucura dela que nascemos. Esse mundo que você vê foi todo criado por ela. Esse jardim, essa rua, cada um dos moradores que aqui vivem somos todos filhos do mesmo cérebro, da mesma mente, mas não da mesma ideia. 
__ Então, eu sou só um personagem?
__ Não! Só uma personagem, não. Você é O personagem dessa viagem. E agora poderá ser o que quiser e morar onde quiser nesse nosso mundo. Eles irão embora e só ela sabe o que acontece aqui. 
__ Eu quero é comer algo porque estou com muita fome.
__ Concordo com ele, Amélia. Também, estou com fome.
__ Wade, você está sempre com fome. Vamos entrar e comer bolinhos de chuva com café. 

Eles se levantam e suas vozes vão sumindo junto com eles para dentro da casa. E quanto a você leitor, até a próxima vez. Tchau!
(Waleska Zibetti)

Sobre Produção Literária:
Deixe-me falar um pouco sobre a arte de escrever. Nunca me olhei como escritora e nem pretendo fazê-lo um dia. Olho meus escritos como uma necessidade na minha vida. E o meu processo criativo é viver, ler, pensar, ruminar e escrever.

Saio pelas ruas com olhos atentos ao detalhes, ao imperceptível a grande maioria. Permito-me atrasos se for uma prosa ou uma paisagem. Já corri muito até entender que Deus me deu pernas curtas para que andasse miúdo. Hoje, passeio pela vida. E passeando por ela vivo melhor.


Leio centenas de coisas e poucas me prendem. Os grandes autores me deixam frases soltas. Geralmente um livro inteiro desses caras me faz perder o tesão por eles porque são chatos. Leio os grandes como quem toma doses homeopáticas de um remédio qualquer. Sou feita de remendos literários. Um Frankenstein poético.


Depois de ingerida minha dose literária, penso, repenso, analiso, critico, discuto... Tudo comigo mesmo! "Coisa de gente aluada!", sentencia minha mãe. Eu sou aluada porque vivo por ali na lua, em Shangrilá, Oz, Xanadu, País das Maravilhas, Mundo de Sofia, Asteróide B612... Eu estou em universos longínquos e por isso mesmo tão consciente de minhas responsabilidades com esse mundo ao qual pertenço.


Então, é hora de pôr no papel tudo aquilo que ficou inquietando, tomando forma, revirando meus íntimo. A coisa volta na madrugada. Sou ruminante de ideias, de pensares. E despejo no papel minhas impressões de cenas cotidianas. Dou um título e jogo para o próximo que lerá, que pensará, que ruminará e explodirá em um ponto além do meu.

Escrever para mim é expandir-me. É o meu alongamento diário. E resumo essa arte, esse dom, da seguinte maneira: se aos lusos o navegar é preciso, aos loucos é necessário escrever.

Beijos literários a todos.

Eu, modo de usar

Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas… permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza.
Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sozinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. (Então fique comigo quando eu chorar, combinado?).
Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem… gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar às vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca… Goste de música e de sexo. Goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua família… isso a gente vê depois… se calhar… deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos… me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar… experimente me amar!

Martha Medeiros

Au Revoir
Até o Próximo Texto

domingo, 19 de outubro de 2014

Com você... Meu mundo ficaria completo

"Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação..."
(O Segundo Sol, Comp.: Nando Reis)


Se hoje fosse traduzir minha semana, meu momento num álbum seria esse: Com você... Meu mundo ficaria completo.
Até a sonoridade de pronunciar o nome do CD é poética e pra quem escuta faixa a faixa entende o que significa cada canção.

Esse sem dúvida é o melhor disco de Cássia Eller e de quebra um dos mais belos da MPB.
Com Você...Meu Mundo Ficaria Completo,é o auge do sucesso da cantora no fim da década de 90 (Este álbum é de 1999). Como grande intérprete que foi, Cássia traz no disco composições de diversos gêneros e de autoria de vários grandes nomes da música brasileira como Arnaldo Antunes, Pepeu Gomes, Marisa Monte, Carlinhos Brown, Nando Reis entre tantos outros. O disco já começa com seu maior sucesso, Segundo Sol, que segundo a própria cantora, ela roubou de Nando Reis.
O disco inteiro é um convite para uma conversa bem intimista e uma passagem para a fase mais feminina deste que  é o melhor álbum da carreira brilhante, porém curta, de uma das maiores vozes que este Brasil pôde conhecer.

Quer baixar este cd?
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Até o próximo Post
Au Revoir