sábado, 4 de julho de 2015
Na Madrugada: Arrependimentos.
O telefone toca no meio da madrugada e uma voz conhecida me pergunta:
__ Como você consegue?
Entre o sonho e uma realidade surreal tento entender a pergunta ou, pelo menos encaixa-la numa razão plausível. Mas não há nenhuma justificativa.
__ Consigo o que?
__ Consegue viver como se nada tivesse acontecido.
Sento na cama e esfrego os olhos. Fico pensando no que exatamente aconteceu. Chego a pensar que ainda estou dormindo.
__ Do que você está falando? Você bebeu?
__ Não. Eu acho que me perdi. Estou confuso demais. Não sei o porque de ligar para você. Eu estou ficando louco.
Ignoro tudo dito anteriormente.
__ Está tudo bem aí?
__ Não. Nada está bem. Você não está aqui. Nada está no lugar. Eu achei que eu pudesse, sabe? Achei que era forte. Eu não sou! E agora está doendo! Caralho, está doendo demais. E eu não sei o que fazer ou pensar. Eu queria saber como você conseguiu mudar tudo, como você superou tudo, como você consegue ser feliz. Eu acho que ainda amo você.
As informações saíram de enxorada. Parecia que ele precisava vomitar aquelas emoções que, provavelmente, lhe embrulhavam o estômago. Eu entendia aquilo muito bem e fiquei em silêncio deixando que ele aliviasse aqueles sentimentos. E o silêncio se estendeu mesmo depois do desabafo.
__ Fala algo. Pelo amor de Deus! Me diz qualquer coisa. Você sempre sabe o que falar. Me ajuda!
__ Eu nunca mais estarei aí. Então, reorganize o espaço que deixei. Plante uma samambaia e coloque no meu lugar. Se você não é forte como pensava, não posso fazer nada por você. Eu estou na posição contrária. Eu sou forte, mas não sabia disso. E não sinto nem pena do seu desabafo. Eu não sinto nada. Pense em fazer algo que lhe preencha o tempo e a vida. Outras mulheres como você fazia antes quando eu ficava esperando por você. Eu consegui ir adiante porque fui eu quem apanhei, chorei, esperei... Você foi eficiente em me ensinar a ser só. Aprendi. E quanto ao amor... Bom, eu sei que não te amo mais. Dei a outra pessoa o meu amor.
Houve um silêncio pesado.
__ Quem é ele?
__ Ela?
__ O que?
__ Dei o meu amor a uma mulher, querido.
__ PORRA!
__ Dei o meu amor a mulher que ficou comigo quando você se foi. Dei o meu amor para mim.
Mais um pouco de silêncio.
__ Você é foda! Será que um dia...?
__ Nunca!
__ Tchau!
__ Até.
(Waleska Zibetti, in "Na Madrugada: Arrependimentos")
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