sábado, 25 de abril de 2015

A CARA DA MORTE


O post de hoje conta com um conto de João Zibetti, que também é leitor do #CLV

"Jão", como costumo chamá-lo, de vez em quando  me manda link de textos que ele escreve. Algumas semanas atrás quando li o conto que vou citar no final do post, eu logo pensei: "JÃO! Vou escrever algo falando de morte, queria publicar seu texto". E aqui estamos nós.
Espero que gostem do post de hoje.

Filosofias e religiões diferentes nos oferecem ideias distintas sobre a morte e suas dimensões espiritual e pessoal. Na era moderna, embora a medicina tenha critérios precisos para determinar quando a morte ocorreu, os médicos ainda debatem sobre o significado exato do que é morrer.

A MORTE EM OUTRAS CULTURAS

Embora sejamos acostumados a pensar na morte como uma clara fronteira, essa linha divisória pode variar surpreendentemente entre as diferentes sociedades. Em algumas culturas, acredita-se que os cadáveres mantenham um princípio vital muito depois de os médicos ocidentais declararem a morte.
Os tibetanos têm a tradição de entoar o Livro Tibetano dos Mortos durante 49 dias após a morte de uma pessoa – eles acreditam que é esse o período entre a morte e o renascimento através da reencarnação. Eles entoam cânticos para o corpo e o espírito durante uma semana depois que o indivíduo pára de respirar, e continuam a fazer o mesmo diante de uma imagem do morto depois que o corpo é enterrado.
Na crença islâmica, a morte é considerada a separação entre a alma e o corpo; e como a alma habita todas as partes do corpo, uma pessoa pode estar “viva” mesmo após a morte cerebral ter sido diagnosticada.
Retrocedendo na história até a época de Cristo, o povo judeu acreditava que a alma permanecia no corpo até o terceiro dia após a morte (contando o dia da morte como o primeiro - daí advém o significado da ressurreição de Jesus “no terceiro dia”: se acontecesse antes, ele não teria sido considerado verdadeiramente morto.
Muitas sociedades depositam fé na presença contínua dos mortos como membros da ordem social, com direitos e obrigações. Já outras culturas tratam alguns dos vivos como se estivessem mortos – por exemplo, se sofrem de determinada doença ou ignoram um tabu social importante. Sem dúvida, a morte tem uma dimensão social como médica – você está morto quando sua sociedade assim o considera.


Créditos: Reader’s digest (Maximize o potencial do seu cérebro)


                 Ultima Carta de Um Vilão
por João Zibetti

"Talvez até a morte tenha seu lado bom, um lado simpático... Mas eu não.
Desde que me entendo por gente, sonho em ter o mundo em minhas mãos. Em mandar e desmandar. Em criar e destruir todos os que se opõem a mim. Desde pequeno sonho com a glória de ser chamado de tirano, de monstro, de cruel. Tudo isso porque sempre me vi melhor que os outros seres humanos. Todos são idiotas demais, nada mais justo que eu os governe. Mas eles não sabem escolher o que é melhor para eles.
Desde que me entendo por ser vivo, eu não temo a morte. Gosto dela. Eu a acho divertida, sarcástica e irônica. Talvez porque eu nunca tenha morrido. Porém não entendo porque as pessoas a temem tanto. Acostumei-me a ela desde o momento que jurei guerra contra todos os prepotentes imbecis que se auto proclamam “heróis”, mandei vários de presente para ela.
De tanto viver ao seu lado não percebi que ela se aproximara demais, e agora estou aqui de frente para esse espelho, preso em meu próprio quarto. 
Atrás da porta me espera um maldito moleque... Um maldito herói. Como odeio “heroizinhos”. Seres patéticos. Odeio heróis. Odeio com todas as minhas forças... Que já não são muitas...
No espelho vejo meu sorriso, que na minha infância era considerado um sorriso de loucura, mas eu sempre o achei tão atraente! Assim como meus olhos. Enquanto eu amo meus olhos, as pessoas o temem. O temem como temem a Morte. Vêem uma crueldade insana nos meus olhos e sorriso. Acho que é por isso que os amo tanto.
Ouvi um barulho na porta. Quero ter certeza de que tudo que fiz foi certo. Foi... Pelo menos para mim. Consegui tudo o que sempre quis: poder, estátuas em minha honra, o temor de todos, mandei para os anjos algumas pessoas mais cedo. Não me arrependo de nada.
Mas depois de um tempo fica tudo muito chato. Nem matar nem torturar me trazem a alegria de antes. Acho que esse deve ser o problema da imortalidade. Veria tudo acontecer milhares de vezes e sempre saberia onde acertar. Seria um inferno!
De novo o “herói” tenta abrir a porta. Meu sorriso está ainda mais louco. Acho que sei o porquê... Minha velha amiga, a Morte, está se aproximando e eu sei que ela vem me buscar. No espelho o meu rosto já está cansado, eu já estou velho demais para essas brincadeirinhas de criança.
Durante anos cacei esses infelizes que se dizem heróis, agora eu já não aguento nem lutar contra um. Devo estar louco, devo estar problemático, devo matá-lo agora... Ou morrer tentando.
Ouço meu ultimo trovão, a magnífica obra da natureza.
Quero que se lembrem que eu não me arrependo de nada. Quero que saibam que odeio heróis. Quero morrer e ser lembrado como um louco tirano que foi recebido com um trono no inferno.
Até a morte tem seu lado piedoso, um lado humano... Mas eu nunca.”
Ele pegou a espada no canto e com os pés abriu a porta do quarto pulando em seu inimigo com a espada em punho. Ele não esperava a cavalaria que vinha atrás do herói. Foi derrotado antes de conseguir o triunfo de seu ultimo ato. Os soldados depois da batalha olharam para a cidade em chamas.
O “monstro” podia ter morrido, mas seu sorriso e seus olhos refletiam o orgulho do dever cumprido.