sábado, 27 de junho de 2015

Amanhã Tudo Muda





E de repente tudo vira um silêncio só. Não há lua e a rua adormece de tal maneira que nem os gatos ousam passar por ela. O vento entra pela fresta da janela e arrepia levemente o corpo. Não há paz real, mas uma calmaria que anuncia sinistramente a próxima tempestade. E é preciso passar por ela para chegar ao próximo ponto. E já não sei mais se é o vento mesmo que estremece o corpo ou se é o medo. E em silêncio entôo o mantra: "Amanhã  tudo muda... Amanhã tudo muda...". É preciso crer que vai passar apesar da noite, do vento, do silêncio atormentado da rua, da ausência da lua... É preciso crer apesar de. O corpo já mostra cansaço, mas a cabeça insiste em pensar. Mas é só mais uma noite que eu devo vencer e amanhã tudo muda. Eu hoje precisava não anoitecer. Mas a noite chega sempre independente da lua. E hoje ela trouxe um silêncio pesado, incomodo... Em algum lugar alguém morre e no ponto oposto um outro nasce. Nem tudo é noite além dessa janela. Em algum lugar é dia claro com crianças rindo na calçada. E eu aperto forte o travesseiro. Dorme em paz porque amanhã tudo muda.
(Waleska Zibetti, in "Amanhã Tudo Muda")