domingo, 29 de março de 2015

Quem Nunca... - Leitura do livro "Adultério" de Paulo Coelho (Parte Um)




Já li alguns livros de Paulo Coelho e sempre me encanto com a maneira que ele tem de “falar comigo”.
Com esse romance foi um pouco diferente vivi uma “Relação de Amor e Ódio” com a heroína da trama. Ora me identificando ora a constatando ora deixando-a na mais completa indiferença.
Paulo Coelho tentou tocar em pontos muito delicados em um relacionamento: rotinas e suas conseqüências. De certa forma ele conseguiu. Numa escala de zero a dez, daria oito ao livro.
De qualquer forma fica aí o resultado das reflexões de minha leitura.
Boa Viagem!


“Toda manhã, quando abro os olhos 
para o que chamam “novo dia”, 
tenho vontade de fechá-los outra vez 
e não me levantar da cama. Mas é preciso”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Quantas vezes pedi a Deus que tudo se transformasse em silêncio ou que o tempo parasse para não ter que encarar o dia além do meu quarto. Há dias em que é difícil acreditar em “recomeço”. Em certas fases a vida fica inteiramente vestida de “ontem”.

“- Não tenho o menor interesse em ser feliz. 
Prefiro viver apaixonado, o que é um perigo, 
pois nunca sabemos 
o que vamos encontrar pela frente”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
A minha felicidade passa pela paixão. Preciso estar apaixonada para me sentir impulsionada para o amanhã. E o objeto da minha paixão pode ser um livro ou um homem. Não importa! O que importa é que me tire o sono e alguns suspiros. 

“Não dou nenhum passo em falso, 
porque sei que posso estragar tudo.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
É preciso conhecer-se para não cair em armadilhas. É preciso experimentar a vida, mas não permitir que ela nos experimente, roubando-nos de nós em frustrações e decepções.

“Imagino que paixão seja para os jovens 
e a ausência dela deve ser normal na minha idade. 
Não é isso que me apavora.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Há uma idade para a paixão? Isso me parece sandice! A paixão para mim é um sentimento inspirador e não há idade para inspirações chegarem. Há? O que creio ser diferente é a compreensão desse sentimento. Com o tempo sabemos que a paixão passa e vira cada coisa qualquer. Sabemos que ela é um sentimento livre e não faz questão de ficar por muito tempo. Logo, é preciso vivê-lo intensamente, esquecendo-se do amanhã. Amanhã é um tempo pertinente ao amor. Para a paixão temos o hoje. 

“Algumas pessoas dizem que, 
à medida que o verão se aproxima, 
começamos a ter idéias meio esquisitas, 
nos sentimos menores porque passamos mais tempo ao ar livre 
e isso nos dá a dimensão do mundo. 
O horizonte fica mais distante, 
além das nuvens e das paredes de casa.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Sou verão. Sou amplitude. Sou além dos muros. Sou consciência de um mundo mais amplo.



“Quando chega a noite e ninguém está vendo, 
eu me apavoro por tudo: 
a vida, a morte, o amor e a falta dele, 
o fato de todas as novidades estarem virando hábitos, 
a sensação de que estou perdendo os melhores anos da minha vida 
em uma rotina que irá se repetir até que morrer 
e o pânico de enfrentar o desconhecido, 
por mais excitante e aventureiro que seja.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Absurdamente eu no fim do casamento. E tudo ia parar em anotações, versos e, fatalmente, lágrimas.

“Morro de medo de que meu marido acorde e pergunte: 
‘O que está acontecendo, meu amor?’ 
Porque eu teria que responder que está tudo bem. 
Pior seria – como já aconteceu duas ou três vezes no mês passado – 
se assim que nos deitássemos ele resolve 
pôr a mão na minha coxa, 
subi-la devagar e começar a me tocar. 
Posso fingir orgasmo 
– já fiz isso muitas vezes -, 
mas não posso simplesmente decidir ficar molhada”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Fazer amor me parece a pior nomenclatura que se pode dar ao sexo. É como se amor pudesse ser determinado pela quantidade de intensidade da transa. Transei tantas vezes sem querer no meu casamento que meu ex deve ter pensado que eu o amaria eternamente. Patético!”

“Não posso rejeitá-lo por duas noites seguidas 
ou ele acabará procurando uma amante, 
e não quero  perdê-lo de jeito nenhum.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
A ingenuidade feminina é fantástica. Hoje eu sei disso! Nossas mães nos ensinam que é preciso saciar nossos homens para ter um casamento duradouro. Sacanagem! Homem procura amante porque é parte do ser homem. Graças a Deus hoje está mudando isso e as mulheres sabem que casamento é duradouro o quanto deve ser. E não é determinado pelo sexo. É todo o conjunto que forma uma relação. 

“Manter o mesmo fogo depois de dez anos de casamento
 me parece uma aberração. 
E cada vez que finjo prazer no sexo, 
morro um pouco por dentro. Um pouco?
Acho que estou me esvaziando mais rápido do que pensava.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Sem comentários

“Afirmam que o sexo no casamento só é prazeroso mesmo 
nos primeiros cinco anos e que depois disso, 
é preciso um pouco de “fantasia”. 
Fechar os olhos e imaginar que seu vizinho está em cima de você, 
fazendo coisas que seu marido jamais ousaria. 
Imaginar-se sendo possuída por ele e por seu marido ao mesmo tempo, 
todas as perversões possíveis e todos os jogos proibidos.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Absolutamente Verdade!

“Entretanto, depois de determinada idade, 
é importante fazer coisas irrelevantes para passar o tempo, 
mostrar aos outros que nosso corpo ainda funciona bem.”
(Paulo Coelho, “Adultério”)
Eu tenho medo da velhice inútil que passa o dia vendo TV e fofocando. Tenho medo da limitação que me ataria a um outro pela dependência. Se fosse possível só amadurecer, eu preferiria, mas o corpo vai junto se arrastando. Essa merda de invólucro patético que aprisiona almas libertárias como a minha.

“E de repente, sem nenhuma explicação razoável, 
entro no chuveiro e caio em prantos. 
Choro no banho porque assim ninguém pode escutar 
meus soluços e fazer a pergunta que mais detesto ouvir: 
“Está tudo bem com você?””
(Paulo Coelho, “Adultério”)

Deus, quantas vezes fiz e faço isso! Me escondo no banho para ter um pouco de direito a fragilidade. Há momentos que tudo que peço é o silêncio e um abraço morno onde me desligo de tudo. Mas tudo tem um preço. O abraço não seria me dado de graça. O silêncio não existe quando há jovens em casa. Então, entro no chuveiro e tento apagar o redor com a cabeça embaixo da água.