terça-feira, 30 de junho de 2015

A boa vista



Era uma tarde triste, mas límpida e suave...
Eu — pálido poeta — seguia triste e grave
A estrada, que conduz ao campo solitário,
Como um filho, que volta ao paternal sacrário,


E ao longe abandonando o múrmur da cidade
— Som vago, que gagueja em meio à imensidade,—
No drama do crepúsculo eu escutava atento
A surdina da tarde ao sol, que morre lento.


A poeira da estrada meu passo levantava,
Porém minh'alma ardente no céu azul marchava
E os astros sacudia no vôo violento
— Poeira, que dormia no chão do firmamento.


A pávida andorinha, que o vendaval fustiga,
Procura os coruchéus da catedral antiga.
Eu — andorinha entregue aos vendavais do inverno,
Ia seguindo triste p'ra o velho lar paterno.


Como a águia, que do ninho talhado no rochedo
Ergue o pescoço calvo por cima do fraguedo,
— (Pra ver no céu a nuvem, que espuma o firmamento,
E o mar, — corcel que espuma ao látego do vento... )
 
Longe o feudal castelo levanta a antiga torre,
Que aos raios do poente brilhante sol escorre!
Ei-lo soberbo e calmo o abutre de granito
Mergulhando o pescoço no seio do infinito,


E lá de cima olhando com seus clarões vermelhos
Os tetos, que a seus pés parecem de joelhos! ...


Não! Minha velha torre! Oh! atalaia antiga,
Tu olhas esperando alguma face amiga,
E perguntas talvez ao vento, que em ti chora:
"Por que não volta mais o meu senhor d'outrora?
Por que não vem sentar-se no banco do terreiro
Ouvir das criancinhas o riso feiticeiro,
E pensando no lar, na ciência, nos pobres
Abrigar nesta sombra seus pensamentos nobres?


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Onde estão as crianças — grupo alegre e risonho
— Que escondiam-se atrás do cipreste tristonho ...


Ou que enforcaram rindo um feio Pulchinello,
Enquanto a doce Mãe, que é toda amor, desvelo
Ralha com um rir divino o grupo folgazão,
Que vem correndo alegre beijar-lhe a branca mão?..."

......................................................................

É nisto que tu cismas, ó torre abandonada,
Vendo deserto o parque e solitária a estrada.
No entanto eu — estrangeiro, que tu já não conheces —
No limiar de joelhos só tenho pranto e preces.


Oh! deixem-me chorar!...Meu lar... meu doce ninho!
Abre a vetusta grade ao filho teu mesquinho!
Passado — mar imenso!... inunda-me em fragrância!
Eu não quero lauréis, quero as rosas da infância.


Ai! Minha triste fronte, aonde as multidões
Lançaram misturadas glórias e maldições...
Acalenta em teu seio, ó solidão sagrada!
Deixa est'alma chorar em teu ombro encostada!


Meu lar está deserto... Um velho cão de guarda
Veio saltando a custo roçar-me a testa parda,
 
Lamber-me após os dedos, porém a sós consigo
Rusgando com o direito, que tem um velho amigo...
Como tudo mudou-se! ... O jardim 'stá inculto
As roseiras morreram do vento ao rijo insulto...
A erva inunda a terra; o musgo trepa os muros
A urtiga silvestre enrola em nós impuros
Uma estátua caída, em cuja mão nevada
A aranha estende ao sol a teia delicada! ...
Mergulho os pés nas plantas selvagens, espalmadas,


As borboletas fogem-me em lúcidas manadas ...
E ouvindo-me as passadas tristonhas, taciturnas,
Os grilos, que cantavam, calaram-se nas furnas ...


Oh! jardim solitário! Relíquia do passado!
Minh'alma, como tu, é um parque arruinado!
Morreram-me no seio as rosas em fragrância,
Veste o pesar os muros dos meus vergéis da infância,
A estátua do talento, que pura em mim s'erguia,
Jaz hoje — e nela a turba enlaça uma ironia!...
Ao menos como tu, lá d'alma num recanto
Da casta poesia ainda escuto o canto,
— Voz do céu, que consola, se o mundo nos insulta,
E na gruta do seio murmura um tremo oculta.


Entremos! ... Quantos ecos na vasta escadaria,
Nos longos corredores respondem-me à porfia! ...


Oh! casa de meus pais! ... A um crânio já vazio,
Que o hóspede largando deixou calado e frio,
Compara-te o estrangeiro — caminhando indiscreto
Nestes salões imensos, que abriga o vasto teto.


Mas eu no teu vazio — vejo uma multidão
Fala-me o teu silêncio — ouço-te a solidão! ...
Povoam-se estas salas...


E eu vejo lentamente
No solo resvalarem falando tenuemente
Dest'alma e deste seio as sombras venerandas
Fantasmas adorados — visões sutis e brandas...
Aqui... além... mais longe... por onde eu movo o passo,
Como aves, que espantadas arrojam-se ao espaço,
Saudades e lembranças s'erguendo — bando alado —
Roçam por mim as asas voando pra o passado. 

Alves, Castro. Espumas Flutuantes. L&PM Pocket. 1997, 144p.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Para Todos



Lá está ela com seus olhos presos no mar. Olhos vazios a encarar o mar calmo. E Chronos, por piedade, recorta o tempo para prendê-la em algum pensamento feliz. Já faz tanto tempo que ela não vinha... Hélio aproxima-se tentando devolver um pouco de calor ao seu olhar frio. Onde parou o sorriso que a acompanhava nesses momentos junto ao mar? Poseidon proibiu os serenos de cantar. O silêncio da mulher há de ser respeitado, pois é silêncio de dor. E o mar muda de cor e ela nem percebe. Calíope beija o rosto da amiga na tentativa desesperada de acordá-la. E Érato beija-lhe a boca. Contudo, seus olhos estão pousados em algum tipo de mistério particular e logo tudo se cobre de negro. Selene toma lentamente seu lugar no céu. E finalmente ela respira mais fundo buscando forças. Encara o céu. Selene sorri argêntea e solidária. Conhece bem os conflitos da mulher, ela própria é mulher também. "Não há paz na noite que se inicia", anunciam as ondinas ao tocarem a areia. "Mas quem precisa de paz?", responde Éolo da beira do cais. E Psiquê abraça a mulher a fazendo caminhar sem que a rua a perceba. Porque ninguém consegue entender que as Erínias, apesar de tudo, também são capazes de amar.
(Waleska Zibetti, in "Para Todos")

domingo, 28 de junho de 2015

Informativo - Escola da Inteligência de Augusto Cury

Uma novidade que todo pai e educador, (professor não, porque o que mais temos por ai são "professores"), devia conhecer.

O Projeto Escola de Inteligência, criado pelo renomado psiquiatra, pesquisador e escritor Dr. Augusto Cury, faz parte do Instituto Academia de Inteligência. É formado por uma equipe multidisciplinar altamente especializada no processo do funcionamento multifocal da mente e, tem como principais metas: a formação de pensadores, o desenvolvimento da inteligência, a formação da personalidade e a melhoria da qualidade de vida.
As escolas de ensino tradicional, fundamental básico II e médio integrarão o projeto em suas grades curriculares, a ser desenvolvido dentro de 1 (uma) hora/aula semanal, podendo ser inserido na carga horária de uma disciplina já existente, como, Religião, Filosofia, Ética, Sociologia, temas transversais, etc.
Objetiva:
Desenvolver as funções mais importantes da inteligência como; pensar antes de reagir, colocar-se no lugar dos outros, trabalhar perdas e frustrações, libertar a criatividade, formar pensadores, proteger a emoção, gerenciar pensamentos, consolidar a auto-estima, desenvolver a consciência crítica, Formar pensadores, elaborar sonhos e projetos de vida e adquirir resiliência às intempéries sociais
Estimular o treinamento do caráter: perseverança, honestidade, espírito empreendedor, debate de idéias, disciplina, tolerância, liderança, solidariedade, capacidade de recomeçar, educação para o trânsito e educação para o consumo.
Fornecer ferramentas para prevenir transtornos psíquicos: insegurança, fobias, ansiedade, agressividade, sentimento de culpa, falta de transparência e uso de drogas.
Enriquecer as relações interpessoais através do diálogo, do debate de idéias, da educação para a paz e do trabalho em equipe.

É pioneiro na promoção da saúde emocional e da prevenção de doenças psíquicas,com programa de capacitação dos professores, acompanhamento pedagógico durante a aplicação, e material de apoio pedagógico apostilado ricamente ilustrado, contendo histórias com vertentes psicológicas, sociológicas, filosóficas, idéias de múltiplos pensadores, informações relevantes sobre temas do cotidiano, apresentando uma dinâmica que estimulará a arte da interiorização, da observação, da consciência crítica e do debate de idéias.
Nossa preocupação
O cenário do mundo pós-moderno apresenta um progresso surpreendente na comunicação, no entretenimento, na democratização do conhecimento, na liberdade de expressão e nunca se ouviu falar tanto em qualidade de vida. Mas qual é o espetáculo que estamos assistindo?        
Infelizmente, ainda com todos os avanços no cenário social e tecnológico, a peça é decepcionante. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos próximos 20 anos, a depressão deve se tornar a doença mais comum em todo o mundo. Ainda, atualmente, 20% dos adolescentes sofrem de depressão, e ainda mais, Institute for Social Research, da Universidade de Michigan afirma que 50% da população mundial teve ou vai desenvolver algum tipo de transtorno psicológico durante a vida como; fobias, estresses, ansiedades, anorexia nervosa, transtornos de conduta, entre outros. Como reflexo deste quadro, em um importante Congresso na Califórnia com o tema “Como preparar a juventude para o século XXI", constatou-se por meio de pesquisas, que aproximadamente 30% dos jovens americanos não se tornam cidadãos produtivos porque não se sentem bem consigo mesmos . Esse número é ainda maior em países subdesenvolvidos como o Brasil.
Os teatros escolares são grandes responsáveis pela formação da personalidade, pelo desenvolvimento da inteligência e pela construção de pensadores, preparando-nos não apenas para conhecer o mundo em que vivemos, mas também o mundo que “somos”. Devem ser o ambiente onde aprendemos a conviver e a respeitar as diferenças de pensamentos, cor, religião, posição social. Mas o atual quadro é decepcionante: mais de 45% dos estudantes brasileiros já sofreram algum tipo de violência dentro da escola, seja ela verbal ou física, segundo estimativa do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (Cemeobes).
Os dias atuais e o caminho que estamos traçando são de fato preocupantes. Estamos diante de uma massa de jovens agitados, desmotivados a conhecer, a questionar, a formar suas próprias opiniões e debaterem ideias. Vivendo cada vez mais voltados ao mundo virtual, os jovens assistem, em média, 4 horas, 50 minutos e 11 segundos por dia de programação televisiva, tornam-se os principais alvos das propagandas de consumo. Segundo pesquisa elaborada pelo Instituto Akatu, com base em estudo realizado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) com jovens de 24 países dos cinco continentes, os jovens brasileiros estão no topo dos mais consumistas, à frente de jovens franceses, japoneses, argentinos e americanos,  mas nem de longe são mais felizes, como mostram os dados sobre a depressão.
Os relacionamentos entre pais e filhos, professores e alunos, e entre amigos estão cada vez mais superficiais. Os jovens encontram dificuldade para dividirem suas histórias e lágrimas. Estão presencialmente ligados, porém emocionalmente mais distantes. É necessário que nos adaptemos aos avanços tecnológicos sem perder de vista a sensibilidade humana.
Pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em dezesseis cidades brasileiras mostrou que 58% dos garotos e garotas de 12 a 14 anos fizeram uso de drogas pelo menos uma vez na vida. Segundo estudos do Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo, a dependência do álcool aumentou 30% entre homens e 50% entre as mulheres no Brasil em relação a dez anos atrás. E outros estudos mostram que em quatro anos o consumo de drogas anorexígenas cresceu 100% .
Estatísticas como essas são realmente alarmantes. A peça que estamos encenando e as próximas que assistiremos devem ser o incentivo para que nos tornemos ativos na mudança desse roteiro, colaborando para que nossos jovens transformem-se em líderes e atores principais no teatro social, com saúde emocional e projetos de vida. Sabemos que as escolas e os educadores almejam a mudança dessa realidade, mas têm dificuldades de encontrar meios eficazes para que isto aconteça.
Queremos estar juntos com as instituições de ensino para ajudar a escrever um novo roteiro no teatro da educação, pois é nele que desenvolvemos as características mais importantes para o desempenho do nosso papel no teatro da vida. Hoje são nossos alunos e filhos, amanhã serão eles os responsáveis pelos principais papéis que decidirão o futuro da nossa sociedade, do nosso planeta.

Vantagens
Capacitação dos professores que aplicarão o projeto, com profissionais altamente capacitados nas áreas de psicologia, psicopedagogia, psiquiatria, entre outros, debatendo temas que envolvem o funcionamento básico do teatro da mente humana, a construção das ferramentas fundamentais para a formação de pensadores e o método de aplicação do projeto.
Cada aluno receberá juntamente com o professor, material pedagógico apostilado ricamente ilustrado, contendo histórias com vertentes psicológicas, sociológicas, filosóficas, abrangendo idéias de múltiplos pensadores e informações relevantes sobre temas do cotidiano. Tudo isso com uma dinâmica que estimulará a arte da interiorização, da observação, da consciência crítica e do debate de idéias.
Assistência pedagógica durante a aplicação, de modo a favorecer a aproximação da equipe do projeto com a instituição educacional, tornando-se parceiros na educação para vida e na formação de pensadores.
Assistência permanente através de Call Center e via e-mail, dando suporte para a instituição de ensino.

Conheça o site http://www.escoladainteligencia.com.br/ e veja que isso não é sonho, é realidade. Nos ajude a mudar o futuro da educação no Brasil!
DIVULGUE a E.I.

Artigo em formato de vídeo
Assista ao video

sábado, 27 de junho de 2015

Amanhã Tudo Muda





E de repente tudo vira um silêncio só. Não há lua e a rua adormece de tal maneira que nem os gatos ousam passar por ela. O vento entra pela fresta da janela e arrepia levemente o corpo. Não há paz real, mas uma calmaria que anuncia sinistramente a próxima tempestade. E é preciso passar por ela para chegar ao próximo ponto. E já não sei mais se é o vento mesmo que estremece o corpo ou se é o medo. E em silêncio entôo o mantra: "Amanhã  tudo muda... Amanhã tudo muda...". É preciso crer que vai passar apesar da noite, do vento, do silêncio atormentado da rua, da ausência da lua... É preciso crer apesar de. O corpo já mostra cansaço, mas a cabeça insiste em pensar. Mas é só mais uma noite que eu devo vencer e amanhã tudo muda. Eu hoje precisava não anoitecer. Mas a noite chega sempre independente da lua. E hoje ela trouxe um silêncio pesado, incomodo... Em algum lugar alguém morre e no ponto oposto um outro nasce. Nem tudo é noite além dessa janela. Em algum lugar é dia claro com crianças rindo na calçada. E eu aperto forte o travesseiro. Dorme em paz porque amanhã tudo muda.
(Waleska Zibetti, in "Amanhã Tudo Muda")

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Loucura


Ora até que enfim..., perfeitamente...
Cá está ela!
Tenho a loucura exactamente na cabeça.
Meu coração estoirou como uma bomba de pataco,
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima...
Graças a Deus que estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo quanto fui se me atou aos pés,
Como a serapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada!
Graças a Deus, porque, como na bebedeira,
Isto é uma solução.
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago!
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos!
Poesia transcendental, já a fiz também!
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram!
A organização de poemas relativos à vastidão de cada assunto resolvido em vários —
Também não é novidade.
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o.
Com esforço, mas era para bom fim.
Ao menos era para um fim.
E assim como sou não tenho nem fim nem vida...
s.d.

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
 - 116.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Sob a Luz do Luar



“Ninguém está na calçada porque quer”, disse-lhe certa vez uma velha cafetina. E ela em silêncio sorriu pensando que nunca aquela velha enfrentaria um serviço pesado mesmo quando jovem. Porque ela tinha certeza de que a rua era um vício. A lua rompe a janela do quarto ditadora e ordena aos seus filhos que invadam a rua espalhando luxúria por onde passarem. Toda puta é filha da lua, concluía.

Ela observava aqueles personagens analisando-os como um microuniverso independente do macro universo que crescia ao seu redor. As pessoas podiam olhá-los como parasitas da sociedade, mas ela era capaz de jurar que ali havia muito mais a oferecer que nas senhoras distintas que se sentam no fim da tarde diante de sua TV para ver as novelas com olhos inocentes. Olhos inocentes e cabeça perversa. Mulheres como aquelas se masturbavam secretamente pelo vizinho nas suas tardes solitárias. Imaginavam os corpos dos adolescentes sobre os seus enquanto inocentemente liam revistas Marie Claire em suas cadeirinhas de varanda.

A maioria não assume sua perversão vivendo um conflito doentio com seus desejos reprimidos. Nas calçadas, todo desejo é permitido e todo sonho real. Nas calçadas o medo é só mais uma via para o prazer. E o prazer, a morada de toda razão. E ela caminha a observar as frestas das portas, movimentos por trás de cortinas, silhuetas embaçadas nos carros, vultos na escuridão. De vez em quando encara o céu e algumas estrelas piscam seus olhos para ela incentivando a sua caminhada.

Toda noite tem seus sons ainda que tudo esteja calmo. E na praia, o mar lambe a areia. Os serenos se amam nas pedras ao som suave das ondas. A noite tem seus mistérios e ela também. A lua engole os mistérios da noite até encher. Os dela ela guarda por baixo das unhas vermelhas. Todo mistério seduz.

Ela sempre foi meio caminho perigoso e nunca temeu bicho ou a madrugada. Tinha olhos de viela e atraía curiosos personagens que se fascinavam com suas histórias com movimentos pseudo-dramáticos.  Andava pelos becos pouco se importando com os gatos, cachorros, bêbados, mendigos, prostitutas, travestis...

“Ninguém envelhece porque quer”, disse certa vez a uma jovem. E uma cafetina em silêncio sorriu porque tinha certeza de que a rua era um vício. E ela rompia a janela do quarto e invadia a rua espalhando luxúria por onde passasse. A rua é um serviço pesado, concluía. E todo filho da puta deveria ir para lua.

Ela é um daqueles microuniversos parasita que observa a sociedade independente crescendo ao seu redor. As pessoas a analisam no fim da tarde. E ela vira uma espécie de macro universo capaz de oferecer segredos as salas das senhoras distintas. Seus olhos perversos povoam as tardes solitárias dos vizinhos. E o corpo dela é coberto pela imaginação dos adolescentes que inocentemente se masturbam nas cadeirinhas da varanda. Personagem pervertida das novelas de revista.

A maioria dos seus desejos são perversos e conflitantes. Mas a calçada é real. Não permite sonhos e não assume doenças. A calçada troca medo por prazer. É a morada de toda razão. De vez em quando há estrelas nas frestas das portas, e se vai ao céu nos movimentos por trás de cortinas, silhuetas embaçadas nos carros piscam para ela, vultos na escuridão o observam. Ela encara o céu e segue sua caminhada.

Toda noite está calma e tem seus sons vindos da praia. Os serenos lambem a areia. O mar ama nas pedras. A noite tem mistérios vindos das ondas. E ela também engole os mistérios da noite. A lua guarda os dela até encher. Os dela seduzem por baixo das unhas vermelhas. À noite tudo é mistério.

E ela caminha na noite e a lua caminha com ela pelas frestas dos becos, pelas vielas prostituídas, pelos carros em movimentos, pela perversão escura, nos mistérios da luxúria, lambendo adolescente, amando senhoras, enchendo-se de cafetinas, com seus olhos de estrela, seus medos pseudo-dramáticos, seus sonhos prazerosos, manchete de revista, personagem de novela, cadela dos vizinhos, parasita das calçadas, microuniverso doente...
(Waleska Zibetti, in "
Sob a Luz do Luar")

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Cor invisível. Comentário - jornal Estadão.






O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,cor-invisivel,1710073O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,cor-invisivel,17100





73Li um artigo no jornal Estadão, no dia 20 de junho que falava sobre como a sociedade consegue esconder as pessoas através dos uniformes.
De cara eu esbocei meu pensamento, mas precisava finalizar o artigo para poder organizar minhas ideias.
No texto, o psicanalista de 40 anos, F.B.da Costa, fez por alguns uma pesquisa em psicologia social no qual ele precisou trabalhar um tempo como gari, e algumas vezes ia para a faculdade que estudava uniformizado e ninguém o reconhecia, ou fazia questão de não reconhece-lo, como afirmava o médico.
Questionou também o uso de uniforme branco obrigatório das babás no Clube Pinheiros.

Agora eu preciso entender qual é o problema da pessoa, qualquer pessoa, estar uniformizada? Me desculpa, mas se alguém usa o uniforme e se deixa ser invisível é porque se sente assim. Minha mãe é diarista, muitos aqui não fazem ideia desse fato, pensam que sou burguesinha, longe disso. Minha mãe falou que odeia ir trabalhar de roupa própria por vários motivos e que vai mandar fazer um "uniforme" para ser identificada e evitar de gastar peças de roupa pessoal, que muito das vezes ela usa para sair.
Eu por exemplo, odiei passar meu tempo de experiência usando roupas que pouco tenho. Não via a hora do uniforme chegar para me poupar das inúmeras lavagens de peças e também me sentir mais parte da empresa. Identificada.
Tudo bem que meu trabalho não pode ser comparado com o de garis, babás, garçons, etc, mas achei a visão deste doutor um tanto dramática.
O uniforme nada mais é que uma identificação. Em algumas vezes pode até nos salvar, acredite.

Deixo o link da matéria para aqueles que tiverem interesse em se aprofundar no assunto de hoje.
Deixe sua opinião.
O uso do uniforme é uma capa de invisibilidade e desprezo?

Matéria completa

terça-feira, 23 de junho de 2015

Billy Elliot



Se você quer ver um filme para quem gosta de arte, para quem se emociona com superação e não tem vergonha de chorar diante da telinha assista "Billy Elliot" produção britânica de 2000. 


A história narra a vida de um menino de 11 anos filho de um mineiro de carvão numa pequena e fictícia cidade de interior que decide ser bailarino indo de encontro a todos os preconceitos. É empolgante ver o herói da trama superando-se para atingir seu objetivo. 

Este filme que marca a estréia na direção do renomado diretor de teatro britânico Stephen Daldry (que ficou internacionalmente famoso pelo filme "As Horas" anos mais tarde) é simplesmente imperdível!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Prelúdio ao pós vida, uma ode ao Suicídio (Veronika Decide Morrer)

Paris, Alguma data de algum mês de um ano qualquer!

Para quem interessar possa, que se sinta querido.


O que está no universo dos sentimentos a gente resolve na palavra e não na força física. Talvez seja isso que me falte: a doce consolação para os chamados tormentos da vida e da alma e a força para não desistir de uma vez dessa era.
Ouço gargalhadas de crianças lá fora, atraídas com a atmosfera de hoje...um sol radiante se rasga de ponta a ponta...uma brisa suave passageira se enrola no ar... mais parece um mundo perfeito nesta tarde de Verão, onde o calor não sua nem arrepia...
...Porque raios choro eu então? Estou cega não vejo o sol brilhar.

Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=48418 © Luso-Poemas
Ouço gargalhadas de crianças lá fora, atraídas com a atmosfera de hoje...um sol radiante se rasga de ponta a ponta...uma brisa suave passageira se enrola no ar... mais parece um mundo perfeito nesta tarde de Verão, onde o calor não sua nem arrepia...
...Porque raios choro eu então? Estou cega não vejo o sol brilhar.
Ouço gargalhadas de crianças lá fora, atraídas com a atmosfera de hoje...um sol radiante se rasga de ponta a ponta...uma brisa suave passageira se enrola no ar... mais parece um mundo perfeito nesta tarde de Verão, onde o calor não sua nem arrepia...
...Porque raios choro eu então? Estou cega não vejo o sol brilhar.

Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=48418 © Luso-Poemas
Ouço gargalhadas de crianças lá fora, atraídas com a atmosfera de hoje...um sol radiante se rasga de ponta a ponta...uma brisa suave passageira se enrola no ar... mais parece um mundo perfeito nesta tarde de Verão, onde o calor não sua nem arrepia...
...Porque raios choro eu então? Estou cega não vejo o sol brilhar.

Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=48418 © Luso-Poemas
É pesado, tenho certeza de que há caminhos pelos quais passarei para recomeçar ciclos evolutivos. 
Não posso fazer ninguém passar por isso... É que constatei que tive a oportunidade de receber a felicidade maior possível, mas, a tristeza me pegou e me depreciou. 
É fato constatado que não tenho mais fé, autoconfiança e minhas forças se esvaíram sem lutar.
Sem mim vocês poderão sorrir, vocês poderão ser grandes, vocês podem ter a liberdade tão quista, vocês podem ser autênticos... E você vai, eu sei que sim.
Vocês tem sido inteiramente pacientes, mesmo quando não acreditava em mais nada, nem mesmo em mim e tenho a absoluta certeza de que se alguém pudesse me salvar teria sido algum de vocês ou Ele.
Não quero ter a sensação de estar estragando a vida de alguém, de estar tornando alguém triste com a minha tristeza ambulante que me tornei.
Depressão é algo sério, algo contínuo, algo complexo. 
É estar sempre desacreditado e desapontado consigo mesmo é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem razão aparente - as razões têm essa mania de serem discretas, mas, principalmente é encontrar-se em becos escuros sombrios e tortuosos dos nossos sentimentos mais absurdos que estão em nosso interior.
Tudo está escuro...entrei na floresta encantada da escravidão...

- Onde estão as falsas estrelas, que fazem parte dela... a luz...?
Sinto-me morrer...Ou quero morrer ?
Adeus
B.

domingo, 21 de junho de 2015

Solidão


Deus costuma usar a solidão
Para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva para que possamos
Compreender o infinito valor da paz.
Outras vezes usa o tédio, quando quer
nos mostrar a importância da aventura e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar
sobre a responsabilidade do que dizemos.
Às vezes usa o cansaço, para que possamos
Compreender o valor do despertar.
Outras vezes usa a doença, quando quer
Nos mostrar a importância da saúde.
Deus costuma usar o fogo,
para nos ensinar a andar sobre a água.
Às vezes, usa a terra, para que possamos
Compreender o valor do ar.
Outras vezes usa a morte, quando quer
Nos mostrar a importância da vida.
Paulo Coelho

sábado, 20 de junho de 2015

VERONIKA DECIDE MORRER



Resenha por Gabriella Gilmore



Como seria você acordar um dia decidida a tirar sua vida? 
Você teria motivos suficientes para tal ato?
Será que existe mesmo uma razão aceitável para isso? Sem que sua morte não seja vista como loucura ou até mesmo o culpar aos pais ou pessoas próximas que em nada tem haver com sua decisão de deixar um mundo que não mais lhe fazia sentido?
Bom, no dia 11 de novembro de 1997, Veronika decidiu que já era o seu momento.
Mas como faze-lo sem que seus entes queridos não se sentissem culpados? Isso já era um motivo para preocupação.
Só de pensar que sua vida virou uma rotina, que depois que a juventude passa tudo tende à decadência, velhice chegando, amigos partindo, continuar vivendo não era lá grandes coisas. Na verdade, o risco para sofrimentos eram maiores.
E viver num mundo que cada vez que passa se torna mais incorrigível, era totalmente frustrante.
Já que não podemos escolher nascer, pelo menos dar cabo a vida quando assim sentimos que já "fizemos" o que deveríamos fazer na terra, não seria lá um pecado mortal, seria? Se temos o "livre arbítrio", isso significa que podemos sair de cena quando acharmos melhor e pronto.
Nossa amiga simplesmente pega suas quatro caixas de remédios para dormir e calmamente vai tomando um a um.
Ela acorda em Villete, um asilo de loucos.
Nossa personagem nos faz pensar sobre questões religiosas que às vezes nos permeia, como se realmente Deus existe, sobre o tabu do suicídio, sobre a luta do homem para sobreviver e não se entregar e ela até ousa em voltar lá no paraíso de Adão e Eva.
Você ri com sua ousadia em enfrentar certos temas com uma fúria doce e no decorrer da história você só quer entender a fundo os reais motivos que leva o ser humano a tais atos.
No hospício você depara com depoimentos de Mari, uma paciente de síndrome de pânico e Edward, o artista esquizofrênico.
No final você percebe que todos nós somos loucos, e mais loucos ainda em não assumir nossa loucura e o amor é o maior delas.

Livro disponível também em filme, tendo como protagonista a atriz americana Sarah Michelle Geller.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Nunca haverá outro Christopher Lee

Ele realmente era o mais gentil e generoso dos homens.
Eu sempre disse que ele morreu porque ele era bom demais para este mundo.

Sir Lee Crhistopher sobre Peter Cushing Obe
É parafraseando um dos maiores diretores do cinema (Peter Jackson) que deixo a homenagem ao ícone que nos deixa na lucidez dos seus 93 anos.
Sir. Christopher Lee, como era respeitosamente conhecido, era dono de papeis que marcaram a história dos seus quase 70 anos de atuação. Nascido em 27 de maio de 1922,  Christopher Frank Carandini Lee  começou sua carreira no teatro, desde cedo dedicando-se a papéis de malfeitores. Seu primeiro personagem foi Rumpelstiltskin, antagonista do conto homônimo dos Irmãos Grimm.
Formado em literatura clássica, Lee perseguiu seu interesse na atuação até que se voluntariou para lutar contra os soviéticos na Guerra de Inverno, do lado dos finlandeses, em 1939. Na sequência, serviu como oficial de inteligência para os britânicos na Força Aérea Real durante a Segunda Guerra Mundial.
Passada a guerra Sir Lee, pode dedicar-se à sua carreira. Sua sorte começou a mudar quando assinou contrato com a nascente Hammer Films, empresa que se tornaria sinônimo de filmes de horror pelas próximas duas décadas. Foi como uma criatura famosa que o ator destacou-se e é lembrado até hoje: Drácula. Na companhia, o senhor dos vampiros foi vivido por Lee em um filme de 1958, depois em 1965, 1968, 1969 e 1970.


Em 1973, Lee interpretou o antagonista de um de seus filmes favoritos,  O Homem de Palha, longa-metragem que o diretor do original, Robin Hardy, está reinventando com o ator novamente no centro da trama. Na mesma década, também viveu um dos mais antológicos vilões de James BondFrancisco Scaramanga, o Homem da Pistola de Ouro.
Mas na última década Lee se consagrou como excelente ator que é em 3 das maiores produções do chamado mundo Geek O Lorde Sith Conde Dookan em Star Wars II e III, o Mago Saruman em o Hobbit e Senhor dos Anéis.
Lee também enveredou pelos caminhos do Heavy Metal e participou de álbuns da Manowar e discos conceituais da Rhapsody of Fire.



Ao nosso mestre Que a Força esteja com você e que na Terra Média os Elfos te receba cantando as suas glórias!
Rest in Peace!

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Eu, Clarice Lispector.



Seria destino, o nome disso?

Um dia desses, postei no meu blog em inglês um texto sobre Clarice.
O número de visitas foi tão interessante que resolvi postá-lo em português no meu Introspectors.
Lá, eu comentava sobre meu livro que estava lançando, e como conheci Lispector. Realmente ela é famosa lá fora e suas frases passam de “mãos em mãos”.
Uma vez twittei uma de suas frases para a Jéssica Origliasso da banda The Verônicas e ela retwittou.
Sim, Clarice toca no coração de todas as raças, em pessoas com diversos gostos e afins. Clarice fala a língua do 'P'. P de perfeito. Clarice fala do simples, do despercebido, do momento que deixamos passar. Ela pega tudo isso e faz poesia. Quem consegue fazer isso? Quem é ela? Que coisa, não? Ela é ou não é? Ela sempre será!
Minha relação com Lispector é curiosa porque só fui parar para ler seus trabalhos depois de ter lido um comentário lá no Recanto das Letras na qual dizia que a minha forma de escrever lembrava Clarice.
“Clarice quem? Ah, aquela escritora falecida brasileira. Sim, eu ouvi falar dela na época da escola.”
Corri na biblioteca mais próxima e peguei o livro “Perto do coração selvagem”. Me perdi. É, eu me perdi. Mas depois me encontrei e se hoje sei quem sou, eu agradeço a Clarice Lispector.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

CASA ARRUMADA

 
CASA ARRUMADA É ASSIM: UM LUGAR ORGANIZADO, LIMPO, COM ESPAÇO LIVRE PRA CIRCULAÇÃO E UMA BOA ENTRADA DE LUZ.
MAS CASA, PRA MIM, TEM QUE SER CASA E NÃO UM CENTRO CIRÚRGICO, UM CENÁRIO DE NOVELA.
TEM GENTE QUE GASTA MUITO TEMPO LIMPANDO, ESTERELIZANDO, AJEITANDO OS MÓVEIS, AFOFANDO AS ALMOFADAS...
NÃO, EU PREFIRO VIVER NUMA CASA ONDE EU BATO O OLHO E PERCEBO LOGO: AQUI TEM VIDA...
CASA COM VIDA, PRA MIM, É AQUELA EM QUE OS LIVROS SAEM DAS PRATELEIRAS E OS ENFEITES BRINCAM DE TROCAR DE LUGAR.
CASA COM VIDA TEM FOGÃO GASTO PELO USO, PELO ABUSO DAS REFEIÇÕES FARTAS, QUE CHAMAM TODO MUNDO PRA MESA DA COZINHA.
SOFÁ SEM MANCHA? TAPETE SEM FIO PUXADO? MESA SEM MARCA DE COPO? TÁ NA CARA QUE É CASA SEM FESTA.
E SE O PISO NÃO TEM ARRANHÃO, É PORQUE ALI NINGUÉM DANÇA.
CASA COM VIDA, PRA MIM, TEM BANHEIRO COM VAPOR PERFUMADO NO MEIO DA TARDE.
TEM GAVETA DE ENTULHO, DAQUELAS QUE A GENTE GUARDA BARBANTE, PASSAPORTE E VELA DE ANIVERSÁRIO,TUDO JUNTO...

CASA COM VIDA É AQUELA EM QUE A GENTE ENTRA E SE SENTE BEM VINDA.
A QUE ESTÁ SEMPRE PRONTA PROS AMIGOS, PROS NETOS, PROS VIZINHOS...
E NOS QUARTOS, SE POSSÍVEL, TEM LENÇÓIS REVIRADOS POR GENTE QUE BRINCA OU NAMORA A QUALQUER HORA DO DIA.
CASA COM VIDA É AQUELA QUE A GENTE ARRUMA PRA FICAR COM A CARA DA GENTE.
ARRUME A SUA CASA TODOS OS DIAS...
MAS ARRUME DE UM JEITO QUE LHE SOBRE TEMPO PRA VIVER NELA...
E RECONHECER NELA O SEU LUGAR.
 
Este texto foi atribuído erroneamente ao mestre Carlos Drummond de Andrade na verdade pertence a Lena Gino
 
Até o próximo texto
Au Revoir 

terça-feira, 16 de junho de 2015

Pensando com Jung


Erros são, no final das contas, fundamentos da verdade. Se um homem não sabe o que uma coisa é, já é um avanço do conhecimento saber o que ela não é. Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro. O ego é dotado de um poder, de uma força criativa, conquista tardia da humanidade, a que chamamos vontade. Quando pensamos, fazêmo-lo com o fim de julgar ou chegar a uma conclusão; quando sentimos, é para atribuir um valor pessoal a qualquer coisa que fazemos. Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não existe uma receita para a vida que sirva para todos. Aquilo a que você resiste, persiste. Até onde conseguimos discernir, o único
propósito da existência humana é acender
uma luz na escuridão da mera existência. O que não enfrentamos em nós mesmos acabaremos encontrando como destino.

Sonhos são realizações de desejos ocultos e são ferramenta que busca equilíbrio pela compensação. É o meio de comunicação do inconsciente com o consciente.

Carl Gustav Jung nasceu em 1875, na Suíça. Religiosa, sua família influenciou bastante na psicologia que seria desenvolvida pelo psicólogo, e também levando Carl a procurar leituras sobre filosofia e religião desde cedo.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Alma Perdida


Toda a parte mais inatingível de minha alma e que não me pertence - é
aquela que toca na minha fronteira com o que já não é eu, e à qual me dou. Toda
a minha ânsia tem sido esta proximidade inultrapassável e excessivamente
próxima. Sou mais aquilo que em mim não é.
E eis que a mão que eu segurava me abandonou. Não, não. Eu é que
larguei a mão porque agora tenho que ir sozinha.
Se eu conseguir voltar do reino da vida tornarei a pegar a tua mão, e a
beijarei grata porque ela me esperou, e esperou que meu caminho passasse, e
que eu voltasse magra, faminta e humilde: com fome apenas do pouco, com fome
apenas do menos.

Lispector, Clarice. A Paixão Segundo GH. Editora Nova Fronteira 9ªEdição.

domingo, 14 de junho de 2015

Confissões de Uma Rosa


Ontem eu era o pedaço do caos que ele queria ter.
Mas ele era racional demais.
Eu tinha que devorar-lhe a razão.
Bebe-la com uma taça de vinho, talvez.
Levei-o a minha cama de desejos delirantes.
Propus que ele velejasse em meus mares tempestuosos
de fantasias e sonhos quase palpáveis.
Ele navegou meio tímido, meio temeroso...
Era quase um menino a zingrar mares em navios de papel.
E eu o amei ainda mais.
No fim ele chegou ao porto aninhado em meu corpo ainda quente.
Seu coração pulsava meu nome e eu sorri íntima com ele.
Ele estranhou a calmaria depois da tempestade.
Mas é assim que é: a tempestade se arma
para assustar os velejadores covardes.
Ele foi meu ontem...
Ele venceu a tempestade.
Dominou o meu desejo.
Dormi em paz em mares de calmaria.
Hoje amanheci meio rosa meio raposa.
Apesar de ostentar orgulhosa minhas pétalas
que trazem em si ainda o cheiro dele;
como a raposa, eu o espero no trigal.
Destoa-se minhas pétalas vermelhas do dourado do trigo.
É um quadro triste de uma rosa solitária e teimosa.
Contudo, não sinto nem uma coisa nem outra.
Ele está em mim e eu posso senti-lo pulsando ainda
em seu prazer dado só para mim na madrugada.
E minha teimosia é uma só: não vou esquecê-lo nunca.
E não me queixo dela.
Amá-lo me acalma.
(Waleska Zibetti)

sábado, 13 de junho de 2015

A leveza do ser - Penas ou Humanos?

por Gabriella Gilmore







Bom dia pessoal!
Tenho o hábito de acessar o yahoo para ver rapidamente as notícias.
Hoje eu me deparei com uma obra de arte maravilhosa que me trouxe muitos pensamentos.
Logo pensei em dividir este achado com vocês.

“Eu chamo de ‘Paradoxo da Leveza’ porque existe esse poder e força que vem da comunidade de milhares de corpos entrelaçados, porém é só uma pena. Ironicamente, parece ser esforço e elegante, mas é o resultado de um processo coordenado e meticuloso de muito tempo. Os modelos não se conhecem, apenas se juntam e trabalham duro para se transformar nesta mágica coreografia”, afirma Angelo Musco sobre o vídeo.

Isso me fez lembrar também de um livro antigo chamado A insustentável leveza do ser, deixo a dica.


O que o ser humano tem de frágil, ele tem de forte, quando unidos.
A solidão algumas vezes é necessária, porém em excesso ela nos causa câncer na alma.
Se hoje você está se sentindo o último dos seres vivos, injustiçado, de mãos atadas, isolado, chateado, eu deixo também um verso de Paulo: "Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco, é que sou forte".

Agora vá e divirta-se neste sábado maravilhoso!!!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Os Sete Segundos


Lambe languida a pele e fere a tua compostura
Louva o céu vermelho da tua boca
É febre dócil da loucura
Une a carne branca a minha escura
Laços. Pernas. Beijo ácido
Olha a lua reluzente. Uiva ao céu em noite quente
Fecunda a terra em tesão
Grita e deixa marca no colchão
Obscenos espectros na madrugada
Pesadelo da solidão
Conhaque no fundo do copo
Gemido na borda do corpo
Lascivo o corpo sua
A casa do pecado transborda
Inunda o chão
Escorre pela face
Renasce impura.
(Waleska Zibetti)

quinta-feira, 11 de junho de 2015

À SOLIDÃO



  
Solidão coroada de rosas, quem pudera
aprisionar teu corpo de sol e de harmonia;
estar dentro de ti toda esta primavera
de sangue, e folhas secas e de melancolia!

Que palpitasse, em sonho, teu coração sonoro
sobre o meu coração sequioso de ideais;
minha palavra fosse uma palavra de ouro
de teus inesgotáveis e puros mananciais!

Ai! Quem, iluminando a sombra alucinada
que de espinhos coroa minha pálida tristeza,
pudesse ser teu amor, oh deusa coroada
de rosas, solidão, — tu que és mãe da beleza!

Jiménez, Juan Ramon. Antologia Poética. Editora La Galeria. Espanha,2006.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Em Suas Costas


Suas costas nuas, meu papel em branco.
Seu sono tranquilo, meu conforto.
Seus sinais, a minha constelação inspiradora.
Sua pele sorve a tinta como que devorando
uma a uma as letras do meu desejo.
Invejo a pele.
Invejo o cheiro.
Dorme ainda indiferente a caneta que corre.
Mais um verso escrito
(ou outra desculpa para estar aqui
sobre suas costas nuas)
Não se mova, amor!
Deixe que eu escreva suas costas inteira
ou até que minha vontade se acalme.
Não desperte, amor!
A ressonância do seu sono move a caneta.
Não quero nexo.
Quero juntar coisas
na tentativa vaga de um poema.
Qualquer coisa.
Escrevendo aqui sou mais cúmplice de ti.
Minha caneta deslisa
nos movimentos suaves de sua respiração.
E eu sobre suas costas,
umedeço os lábios aquietando meu tesão.
Um verso atrás do outro.
Uma vontade atrás da outra.
Sua pele, minha folha agora maculada de erotismo
camuflado em versos.
Seu sono, meu delírio.
Com fúria sinto o fim tão perto.
Não dos versos...
Não da tara...
Não da libido...
Mas das costas onde despejo
os meus versos de amor.

terça-feira, 9 de junho de 2015

D.E.L.I.R.I.O



D entre tantas maneiras de se curar
E steve próxima ao
L ítio se afogar
I nvestigando seu obscuro passado
R etirando teias do baú
I nventando crises de baixo escalão
O xigenando uma fria e lenta ilusão

Gabriella Gilmore