Bruneca,
seu texto de hoje mexeu comigo. Estou nessas fases da vida onde tudo fica ou
chato ou esquisito. Mas a vida tem dessas fases onde nós nos estranhamos ou os outros
nos estranham. Acho que é o momento de fechar um ciclo para começar outro.
Então, vamos lá por parte!
Eu por várias vezes tentei
mudar. Transformar-me algo mais fácil de se adaptar ao mundo, mas foi inútil e
eu vivia me cobrando e sofrendo. Então, um amigo hinduísta me disse que ninguém
muda essência. Aprendemos a dominá-la, mas não mudamos. Eu não posso dizer que
a partir daí eu sofri menos, mas o sofrimento não doía mais tanto. Algo se
acalmou e eu não me preocupava mais em me adaptar ao mundo. Passei a valorizar
mais está perfeita em mim. E esse sentimento é confortável e satisfatório para
mim.
Você lembrou a letra de
Oswaldo Montenegro e essa letra é de se ouvir de tempos em tempos e perceber
que a lista nunca será a mesma. Mas isso não é ruim de fato. É sinal que nós
não somos mais os mesmos. Ter a
consciência de que acordaremos amanhã moldados pelo hoje é acreditar que o
futuro pode ser bem melhor, porque as mudanças são perceptíveis. Acho que a
esperança nasce dessa consciência.
Se eu tivesse que responder as perguntas propostas no seu
texto, acho que seria assim:
1-Quantos mistérios que você sondava? Tudo era mistério para mim. E ainda o é. Pois sou criatura curiosa e com grande necessidade de vivenciar tudo. Mesmo aquilo que sei que não levará a nada. Eu preciso provar.
2- Quantos você conseguiu
entender? Eu achei poucas respostas e fatalmente todas me
levavam a outra ainda mais complexa. E com o tempo a certeza que tinha é que
viver é experimentar todos os dias algo novo mesmo dentro de uma rotina.
3- Quantos segredos que você guardava? Muito menos do que eu ainda guardo. Acho que vim acumulando segredos ao longo desses 43 anos. Porque sou uma pessoa que se reserva demais por ter medo de gente. Medo do que as pessoas são capazes de fazer as outras por prazer, inveja ou crueldade.
4- Hoje são bobos ninguém quer saber? São bobos até para mim. Mas ainda querem saber com certeza. Porque saber do íntimo do outro, para alguns, é como ter poder. É como dar uma arma na mão de alguém para ele uma hora ou outra atirar contra você.
Na minha adolescência eu
ficava horas olhando no espelho no fundo dos meus olhos. Algo nos meus olhos me
incomoda até hoje. Mas hoje eu sei o que é. É de lá que meu eu mais íntimo vem
me contar as novidades dos meus mundos interiores. Dizem que dentro de nós há
dois lobos, não é? Por mais que eu alimente o meu lobo bom todos os dias, o
lobo mau se alimenta junto. E, de vez em quando, a fera se agita impaciente
dentro de mim querendo sair. Ainda bem que consigo controlá-lo ainda! Talvez só
o faça porque não o nego. As pessoas tendem a negar os seus monstros e ele se
aproxima sem que eles os percebam. Eu tenho consciência do meu, então me
mantenho vigilante sempre.
Nunca me preocupei com os
que me rodeiam. Porque acredito que podemos neutralizar o meio em que vivemos
se formos fiéis a nós. Só me machucam os que eu por algum motivo permito que me
machuquem. Minha relação com a mulher que me criou é assim: sei que ela não me
ama, não tento mais ser amada por ela, embora eu a ame e ela me fere porque eu
não mato meu amor por ela. Eu fiz a escolha de amá-la apesar de tudo. Entende?
Dez anos é muito tempo! Eu
aprendi a viver vinte e quatro horas de cada vez. E tudo que tenho e realizo
deve ser para essas vinte e quatro horas. Então, tenho que viver bem e realizar
tudo com zelo. Por isso, digo sempre que sou uma borboleta. Viva e plena por
vinte e quatro horas.
Eu li a sua lista. Tive
preguiça de fazer uma. Vou usar a sua, está bem?
Queria ser cigana. Não
deu! Casei-me com meu primeiro amor e com ele o mais longe que fui foi Vila
Velha no Espírito Santo. Mas sozinha fui à Londres, Évora, Avalon, Oz, País das
Maravilhas. Ele era estreito. Eu sempre me ampliei. Felicidade é feita de
pequenas gotas. São dias, horas... Mas nunca passa disso. É preciso o contrário
para se dar valor aos dias bons. Nunca tive muitos amigos. Até hoje, amigos de
verdade, conto numa mão. Acho que é esse meu jeitão escorpião que põe as
pessoas para longe. Sei lá! Não vou melhorar como pessoa. Não tento mais. Sou mãezona.
Mães dos meus e dos filhos dos outros. Eu adoro ser mãe!!! Queria uma casa
lotada de amigos, parentes, pessoas indo e vindo sempre. Mas minha casa é
vazia. Não fico triste. Se é assim é porque em algum momento eu fiz algo para
que seja assim. Tenho meu jardinzinho de vasinhos simples e sou feliz com ele. Algumas
pessoas riem comigo outras riem de mim. Mas sou do tipo que inventa as próprias
histórias e ri delas sozinha. Então, rir é de menos. Eu quero alguém que me
surpreenda. Alguém que se dê a mim pelo seu melhor. O medo faz parte da vida,
então, ter medo não me perturba.
Acho que consegui tudo que
planejei. De uma forma ou de outra. Estou amadurecendo meu eu. Evoluindo. Mudando.
Vivendo. Ficar parada não dá, mas vou conforme a vida me leva. Experimentando
tudo pelo caminho. Com certeza de que um dia, em alguma esquina, eu me perderei
de todos vocês. Não nos veremos mais, mas tenha certeza que eu, do meu modo,
estarei feliz.
Beijos,
Waleska Zibetti.