quarta-feira, 14 de maio de 2014

O Menino Tempo



Ah, lá vai ele! Veja ali! Correndo louco sem se importará com o que acontecerá depois. E como é lindo vê-lo livre, independente, criança brincando solta por aí. Você sabe quem é ele? Ao menos imagina? Ele é conhecido como Tempo. O Tempo é uma criança que nem consegue educar para passar da maneira correta pela vida da gente. E tudo que podemos é tentar aprender com os amigos que ele traz com ele.

Quando se é criança, o Tempo nos traz a Curiosidade. Menina “mexedeira”. Vai dali para lá perguntando o porquê de tudo. Revirando e experimentando. Corre riscos o tempo todo porque tem memória curta. Só aprende com a repetição. Só aprende com a experiência. Não adianta dizer a ela simplesmente “não”, ela não está pronta para entender. Quer o risco porque não sabe o que é perder.

Quando se é adolescente, o Tempo nos visita de braços dados com a Ilusão. Ah, como é linda essa garota! Ela usa uma veste dourada de estampa floreada de sonhos e  é muito elegante e charmosa por  trás de suas máscaras. Não vamos culpá-la pelo hipnotismo que nos causa. Ela é meio mágica e adivinha nossas necessidades. E, sendo assim, tira de suas vestes alguns sonhos para pôr aos nossos pés. Mas ainda somos jovens para perceber as oportunidades, ainda idealizamos um mundo diferente daquele que nossos pais nos mostram; ainda não temos espinhos fortes para nos proteger somos somente botão cheio de vontade de se abrir e ser diferentes no meio de jardim de mesmice; ainda não diferenciamos as armadilhas da paixão do terno envolvimento do amor.  A Ilusão se diverte, então, com nosso desespero ao cair de volta no mundo real. Perversa essa menina! A maioria do que nos dá, ela nos tira quando se vai.

Mas o Tempo é bondoso. Depois que a Ilusão se vai, o Tempo cuida de nós, zela por nós. Vai dizendo baixinho que tudo vai passar. Vai soprando ensinamentos e nos modelando enquanto nos leva por aí em pequenos passeios com ele pelas ruas da Vida. E quando nos damos conta, não somos mais um botão. Somos rosa e temos perfumes que atraem e espinhos fortes que repelem.


Então, o Tempo chega com o Discernimento, a Maturidade, a Ponderação... As vezes, traz o Amor com ele. E o Carinho, também. Eu gosto mais do Carinho que do Amor. É que o Carinho gosta de se sentar conosco na varanda para conversar, repara no nosso olhar, sorri cativante, abraça sem pressa. Já o Amor é cego, coitado, chega esbarrando em tudo. É preciso que se cuide bem dele ou ele faz um estrago enorme por onde ele passa. É difícil quem conhece o Amor sem perder algo. Nem que seja um pouco de Juízo que tenha plantado em algum canto do jardim. Mas vou lhe dizer uma coisa que já aprendi há muito tempo: não adianta tentar detê-lo no portão. Ele pula o muro quando estamos distraídos e quando nos atentamos... PIMBA! Ele já entrou, já bagunçou tudo e só nos resta curtir sua estadia.


Sabe? O Tempo, apesar de menino, é muito sábio. Quem se dispõe a observá-lo e pensá-lo, aprende muito. Aprende-se que é preciso doar-se sem esperar doação em troca. Que amor-Éros é bom, mas o que muda tudo a nossa volta é o amor-ágape. Que o nosso tempo é Chronos, mas é no tempo divino, Kairós, que as coisas acontecem. Aprende, por exemplo, que a vida é feita de antíteses: perder e ganhar, esperar e prosseguir, sonhar e realizar, chorar e sorrir, amar e odiar, querer e conseguir... Chegar e partir.

Waleska Zibetti