Brasília é uma cidade para se conhecer em um passeio
turístico e com um guia que saiba com detalhes cada monumento que ela possui.
Nem mesmo os nascidos ou criados lá sabem o tesouro cultural e de inteligência
que ela possui. Depois disso, tire mais ou menos um mês de férias para você
continuar a entender suas quadras, superquadras, tesourinhas e vias de acesso
como W3 sul/norte, L2 sul/norte. Quem? Pois é.
Quando me mudei para lá, nos primeiros meses eu fiquei de
cabeça doendo.
O clima seco, juntamente com suas ruas sem nome
incrivelmente iguais uma das outras, me deixavam louca. Depois fui percebendo
que aquela culta cidade é matemática lógica pura. Me apaixonei.
Em seis meses eu já conseguia me deslocar por lá com mais
facilidade e até comecei a sentir saudade de como era se perder.
Uma vez, tive crise de pânico dentro de casa no Cruzeiro.
Precisei sair para a rua para descarregar a explosão de energia que brotava de
dentro de mim. Peguei Matilda (minha Caloi) e fui correr dentro do bairro. Em
uma hora eu rodei três bairros.
Não me perdi.
As quadras por terem sequência numérica facilita a vida dos
brasilienses/candangos/aventureiros.
A única coisa que me fez perder por lá foi o seu céu.
Quase sempre limpo e muito azul, você consegue nadar nele
sem ficar com os olhos vermelhos e de cabelo duro.
O nascer do sol é estupendo. O céu começa num laranja
clarinho até ficar azul bebê. A grama verde que tem por toda a cidade, monta
perfeitamente a bandeira do Brasil.
Para quem nunca viu um céu lilás escondido no rosa, é só
esperar o por do sol para você entender o que estou falando. Não. Eu não uso
drogas.
Na noite, você estica as mãos e rouba uma estrela. E a lua
com toda sua sedução te engole num piscar.
Cidade da natureza.
Às vezes acho que há uma cidade dentro de um parque, e não
ao contrário.
Comecei a fazer coleção de árvores por lá. São tantas,
tantas! Nunca consegui fotografar todas, e nem vou.
Brasília é tão astuta que às vezes fico com vergonha de mim.
Eu andava em algum lugar e me deparava com um concreto
aparentemente sem explicação, mas eu sabia que se eu tivesse escutado melhor o guia
turístico lá no início desse texto, eu entenderia. Porém acho que o mistério
daquela cidade estava naquilo, em te deixar absorta.
BSB tem uma coisa de que não acho graça. O povo e a comida.
“Ow, me vê um prato típico de Brasília?” Ixxi, não tem.
“Qual é o sotaque do brasiliense?” Abafa que também não tem.
Lá você vê muito nordestino, goiano, mineiro, e outros.
Brasiliense que é bão, nada.
Você só consegue ter contato com eles no trabalho. Fora isso
todo mundo some. Nunca consegui pegar uma caneca de açúcar com minha vizinha do
prédio. Será que vivia mesmo alguém lá?
As pessoas devem ter medo de gente. Só pode.
Entretanto Brasília é moderna e ousada, apesar de ter essa
população fechada e individualista. É quadrada, às vezes oval, de concreto e
cimentada. É Nova Orleans, Paris e Saturno. É um museu de arte contemporânea em
área aberta. É lógica, e nos ensina a caminhar um pouquinho, justificando aqui
seus “quarteirões” enormes e distantes um dos outros. Foi inspiração de vários
artistas e ainda tem mexido com muita gente, perpetuando-se. É Brasília sua
irreverente! Sua linda!!!