Gira teu sol-coração
e nos ilumina,
sempre
(Aline Mariz)
e nos ilumina,
sempre
(Aline Mariz)
Ela abriu a janela para ver o mundo como faz todos os dias. Ainda despenteada e meio preguiçosa. Da janela ela o viu. Ficou curiosa, mas como tem medo se escondeu na cortina para observar.
A primeira coisa era sempre mostrar que ali não era lugar para gente comum. Todos ali sabem que ela é meio bicho. Borboleta! Assustada, frágil e morre fácil e ele teria que saber disso para poder ficar. Mas ele não riu dela como os outros. Não teve medo dela. Doou-se, também. E não quis que ela fosse para ele o que era para todos. Para ele, ela não era borboleta. Era rosa.
E ela se lembrou de um principezinho que certa vez conheceu e que também a fizera rosa. E ela gostou de ser a rosa dele. Mesmo tendo medo de ter as pétalas tocadas. Porém, ele também era flor. E flor não machuca flor, ela pensou. Melhor, ela apostou. Fez-se rosa. E foi então, para o jardim.
Por fim começou a se acostumar com o novo amigo. Foi chegando de passinho leve, mas como não é de se acanhar logo estava rindo inteira ao lado dele. Divertindo-se como se já se conhecessem há muito tempo.
Era bom para rosa frágil sentir de perto o girassol cortês. E a poesia dela entrou nele como perfume de primavera. E transbordou suave em versos de carinho. Os versos de carinho tomaram força e se espalharam por aí. De ciúmes uma nuvenzinha quase estraga o quadro, mas não foi forte o suficiente. Era amizade ciumenta e tudo ficou no lugar antes mesmo que a rosa lembrasse que era borboleta e tentasse fugir para longe.
E o dia termina melhor do que começou. Ela fecha a janela para o mundo. Volta para seu mundinho normal. Mas hoje ela dorme contente porque dentro de seu coração a rosa se aninha feliz no abraço de um girassol.
(Waleska Zibetti, in "A Rosa e o Girassol")