As águias são criaturas altivas e desconhecem os seres menores e mais simples. A borboleta ainda tentou fazer com que a águia a notasse. Mostrou-lhe as suas cores, suas flores, mas a águia era um ser sozinho e acostumado com os céus altos, amplos, grande. Nada naqueles universos miúdos de borboleta atraíram a águia.
Pior foi que a águia pensou que a borboleta fosse como ela. Forte, implacável, altiva, orgulhosa... “Acho que as águias enxergam o mundo só de cima”, pensou triste a borboleta. A consciência de sua inferioridade e o medo da insensibilidade da águia foi fazendo a borboleta temê-la, mas a águia a atraia e curiosa ela ainda se mantinha por perto esperando que numa distração a águia notasse que pousar numa flor de jardim poderia ser bom também.
Infelizmente para a borboleta algumas coisas não podem mudar. Águias e borboletas não voam no mesmo plano. E num momento de fragilidade da borboleta, seguindo seu instinto natural de sobrevivência solitária a águia atacou com suas garras afiadas a borboleta insistente.
Com as asas feridas a borboleta recuou. A águia rindo-se disse: “Você é covarde diante da vida?”. A borboleta ferida, machucada, chorou baixo e disse-lhe: “Sim, eu sou. Sou uma covarde e quem quiser que me aceite!”. Foi embora e águia ainda continuou bradando suas ilusões altivas, conclusões infundadas de um ser tão cheio de si que em momento algum conseguiu realmente ver ou sentir o que havia naquela borboleta.
De volta ao jardim, sentindo-se menor ainda, mais fragilizada ainda, mais triste ainda, escondida por baixo de suas folhas, a borboleta chorou vendo a águia sumir de sua vida para sempre pelos céus onde tolamente ela borboleta pequenina um dia pensara que poderia desfrutar.
(Waleska Zibetti, in "A Borboleta e A Águia")