Ah, o silêncio...
O vento e o tempo.
Emma queria muito ser feliz. Quem não quer? E, Dexter também queria. Mas, há uma grande distância entre as definições de cada um sobre o que é ser feliz, estar feliz.
Durante muitos anos, Emma viveu infeliz e insatisfeita com a vida que tinha. Ela tentou. Mas, em nada conseguia encontrar aquele estado de espírito tão sublime que nos faz, por alguns instantes, acreditar que estamos com os pés acima do chão.
Dexter vivia momentos intensos, acreditando que assim era feliz. O tudo ou nada.
Depois de anos, percebeu que a felicidade duradoura, aquela que invade o espaço de toda a casa, como a luz do sol em uma manhã de domingo, aquela felicidade sem pressa e com panquecas, viria sutilmente das lembranças de todos os momentos em que encontrou Emma.
Essa postagem será breve, pois são os breves momentos que nos trazem as melhores lembranças e, definitivamente, a mais profunda experiência de felicidade. Por quê? Porque nem Emma, nem Dexter estavam errados. A vida é breve, devemos aproveitá-la ao máximo e vivê-la intensamente. Mesmo que seja por apenas um dia ao ano.
domingo, 4 de maio de 2014
Um Dia...
"Algumas vezes,muito ocasionalmente,
digamos às quatro horas da tarde
de um domingo chuvoso, Emma se sente em pânico
e quase não consegue respirar com a solidão"
(David Nicholls, in "Um dia")
Ao invés de uma crônica, resolvi levar você comigo numa viagem. Por favor, sente-se confortavelmente e entre comigo nesse sonhos que eu nem sei onde vai dar.
Os domingo são dias contraditório. A grande maioria não gosta dele. É o dia onde famílias se reúnem para juntos suportarem-se. Mas em um canto da cidade, vamos encontrar nossa personagem esperando sobreviver ao domingo. Completamente sozinha de sentimentos e pessoas, ela se esconde atrás de janelas e cortinas fechadas pedindo intimamente que ninguém sobre hipótese alguma a procure. Com a vida, ela foi aprendendo a ter medo das pessoas.
Uma música suave toca dentro do apartamento vazio. Tão baixinho que mais parece a lembrança de conversas do passado. E ela se senta no sofá de pijamas a olhar os movimentos lentos da cortina e talvez acabar de se esvaziar do mínimo que ainda a torna humana. Olhando a mulher afundando-se assim no sofá, com braços cruzados, olhos vidrados, boca entreaberta e respiração tão suave; pode parecer aos outros um quadro quase poético. Então, vamos nos aproximar mais e olhar bem em seus olhos?
Os olhos espelhos da alma... Os dela são tão tristes! Quem os vê assim não pode imaginar que um dia eles eram repletos de sonhos brilhantes. E ela suspira. Onde foram parar seus sonhos, mulher? E da boca entre aberta um sussurro quase imperceptível e inaudível diz um nome. Como se falando aquele nome ela fosse preencher um cantinho da sala com algum momento bom. E ela aperta o próprio braço na necessidade de um abraço.
Quanto amor pode uma mulher suportar em seu peito? E os olhos marejam. Prenunciam uma tempestade de lágrimas. Por que será que ela chora? Ah, são tantos motivos! Ela chora os domingos que não existem mais e os domingos que nunca se realizarão. Ela chora uma voz que não ouve mais. Chora as juras que não se cumpriram. Chora os arrependimentos que não confessa. Chora as injustiças que sofreu e as que cometeu. É sozinha e essa é a parte do seu destino que se cumpriu e ela chora por não ter tido outra escolha.
Não! Não desista dela agora você, também. Sei que é inquietante olhar alguém assim tentando resistir ao domingo, resistir a si mesmo, alguém tão vazio... Mas pense em quantas vezes você também esteve assim. As vezes, não numa sala tão vazia quanto essa. Pense quantas vezes você se questionou do porquê de cada coisa que o aconteceu. Pense um pouco se você também, em algum dia de domingo, não foi como essa mulher. Eu já fui tantas e tantas vezes assim como ela...
Vamos lá, querida! Respire fundo. Limpe o rosto. Levante. Só mais essa vez! A solidão é um estado de espírito e como tal, daqui a pouco muda. Você consegue! É forte! Sobreviveu a tantas coisas, não foi? A solidão é só mais um obstáculo. E você pode superar. Vai dar tudo certo, querida! Você só precisa acreditar mais uma vez. Tentar mais uma vez. Sorrir mais uma vez. E acreditar que algum dia tudo será diferente. Tudo será possível de novo, querida. Um dia... Um dia...
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