domingo, 14 de junho de 2015

Confissões de Uma Rosa


Ontem eu era o pedaço do caos que ele queria ter.
Mas ele era racional demais.
Eu tinha que devorar-lhe a razão.
Bebe-la com uma taça de vinho, talvez.
Levei-o a minha cama de desejos delirantes.
Propus que ele velejasse em meus mares tempestuosos
de fantasias e sonhos quase palpáveis.
Ele navegou meio tímido, meio temeroso...
Era quase um menino a zingrar mares em navios de papel.
E eu o amei ainda mais.
No fim ele chegou ao porto aninhado em meu corpo ainda quente.
Seu coração pulsava meu nome e eu sorri íntima com ele.
Ele estranhou a calmaria depois da tempestade.
Mas é assim que é: a tempestade se arma
para assustar os velejadores covardes.
Ele foi meu ontem...
Ele venceu a tempestade.
Dominou o meu desejo.
Dormi em paz em mares de calmaria.
Hoje amanheci meio rosa meio raposa.
Apesar de ostentar orgulhosa minhas pétalas
que trazem em si ainda o cheiro dele;
como a raposa, eu o espero no trigal.
Destoa-se minhas pétalas vermelhas do dourado do trigo.
É um quadro triste de uma rosa solitária e teimosa.
Contudo, não sinto nem uma coisa nem outra.
Ele está em mim e eu posso senti-lo pulsando ainda
em seu prazer dado só para mim na madrugada.
E minha teimosia é uma só: não vou esquecê-lo nunca.
E não me queixo dela.
Amá-lo me acalma.
(Waleska Zibetti)