terça-feira, 14 de julho de 2015

A cartomante não muda o futuro - Correio feminino (Clarice)

por Gabriella Gilmore


Também gosto de astrologia, cartomancia, ciências ocultas. Mas ainda não vi nada disso mudar meu futuro. Parece que só a gente mesmo é que pode fazer o dia de amanhã.
Mas antes a pergunta que se impõe é esta: que é mesmo que você quer? Saber a resposta é indispensável.
Talvez você descubra que há duas ou três coisas que você põe acima de tudo no mundo. Saber disso é um passo importante que você terá dado. E o que precisaria você fazer para conseguir o que quer? Algum sacrifício, isso é quase certo.
E é quase certo que, se você quer mesmo o que quer, o sacrifício vale a pena. Tudo isso tem que se passar entre você - e você mesma. A cartomante não ajuda.
Porém, se você pegou o hábito de pessimismo, é ruim. Atrapalha muito, atrapalha de fato. O dia de amanhã fica logo com ar de chuva que vem. E seu raciocínio de pessimista funciona mais ou menos assim: se não houve nuvem de chuva no céu, você ai mesmo é que se preocupa - pois que coisa estranha é essa, amanhã vai chover e hoje nem tem nuvem no céu? Mau sinal, mau sinal.
Estou brincando, é claro, mas o que quero dizer é que o pessimista está sempre arranjando um jeito de acomodar as coisas ao seu pessimismo.
O ideal é ser como uma senhora que conheço. Ela me disse - e não dizia apenas por dizer, pensava mesmo assim, sentia mesmo assim -  ela me disse: quem já sofreu realmente não sofre mais por bobagens.
Bem sei que certas dores ficam doendo, a pessoa se torna toda "nevrálgica", e o que nem devia incomodar passa a perturbar. Mas é ai que entra uma conversa entre você - e você mesma. Ou entre você e uma pessoa que entenda das coisas do mundo. A conversa terá como finalidade descobrir o que é que ainda está doendo. Conversa para pôr os pontos nos "iii". Nem sempre é fácil. Às veze, a gente não sabe onde estão os "iii", às vezes não sabe que pontos colocar em qual "i". Mas também nisso a cartomante não resolve. É uma pena, você mesma terá que tomar conta do assunto. Com minha ajuda, se quiser.

(Quem me dera se Clarice ainda estivesse viva, não é mesmo?)