quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Um título, Uma Capa e o Tempo Errado



Numa feira de livros um título e uma capa me encantam. Mas foi um encanto de tal forma que não li nem o resumo, nem a crítica, nem nada do livro, comprei-o cegamente. E assim foi que o livro “A Menina Que Colecionava Borboletas” de  Bruna Vieira, veio parar na minha estante. Tudo estaria perfeito se não fosse o distanciamento de realidade entre a autora e eu. Explico-me.

É inegável o talento da autora para crônica. Elas são lindas, cheias de sentimentos, lineares, gostosas de ler. E eu simplesmente amo narração em primeira pessoa que me dá a sensação de emoções mais intimistas. Como se fosse um bate papo entre personagem e eu. Só que, no caso desse livro as crônicas nos remetem a uma espécie de diário onde fica inevitável entender que estamos dialogando com a autora e seus conflitos pessoais. – A autora é uma blogueira famosa com zilhões de fãs e seguidores. E esse formato de diário já é algo que ela lida muito bem. – Porém, ela fala das crises que está passando ao deixar o mundo adolescente pelo mundo adulto. O livro é de 2014, e ela estava com vinte anos. Bom, eu com quarenta e cinco agora, já tendo passado pelos conflitos que a jovem vem narrando no seu livro e está numa outra fase de conflitos, tenho outra visão de tudo. Então, o livro foi se arrastando depois de um tempo.  Mas se você está nesse momento de transição de adolescência para vida adulta, o livro se tornará uma delicia. Porque houve momentos que eu revivi meus momentos adolescentes e sorri deliciosamente lendo. 

O livro é de uma editora que eu não conhecia Gutenberg e fiquei muito apaixonada pela formatação e zelo da editora com a autora e sua obra. Parabéns a toda equipe de edição. Isso é estimulante para conhecermos outros livros de vocês. 

Sobre a autora ela lançou outros trabalhos que, pelo que entendi, segue essa linha diário em crônicas e contos. Seus outros títulos são: “Depois dos Quinze”. E há também uma série de ficção chamada “Meu Primeiro Blog”, cujo volume 1 já foi lançado por essa mesma editora. Mas para quem gosta de seguir as celebridades virtuais, ela está em toda rede social e tem o blog chamado “Depois dos Quinze”.  

Indicar ou não indicar? Indico para todas as jovens que procuram se entender ainda. Indico para todos os jovens que estão nesse momento de mudança. Indico a quem quer uma leitura gostosa e rápida, livre das entrelinhas e sub-textos de interpretação profunda e filosófica. E para todo jovem que curte essa linha “Meu diário” de escrita. Acho que é uma escritora que vocês jovens gostarão. Como professor, acho bacana como leitura instrumental. Já os mais velhos que, como eu estão em um foco diferente dentro da literatura, não acho que prenderá a atenção por não fazer parte de nossas buscas e anseios literários.

Crônicas Que Mais Gostei No Livro

Enquanto Valer a Pena
O Futuro Que Você Nunca Viu Na Gente
Tudo Aquilo Que Eu Nunca Te Disse
Um Errinho
O Amor Que Eu Inventei
De Madrugada
Até
O Dia Em Que Eu Me Apaixonei Pela Liberdade

Enfim, é isso! E até o próximo!!!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Morangos Mofados: o Fim.



E com dó e dor me despedi de um livro que busquei por tanto tempo e acabou chegando de surpresa de aniversário. E o que dizer do conto título desse livro? Eu não sei exatamente. Chorei. Mas não sei se foi choro de tristeza porque chegou o fim da linha ou se chorei porque também sinto em mim o mesmo câncer que o personagem. Acho que chorei porque o livro todo mexe nas lacunas que carregamos. Ele veio desde o início me desconstruindo e no final quando eu era pó revirado, ele me fez renascer para uma nova consciência do ato de escrever. Desde o porquê até a a responsabilidade com quem lê. Nunca me vi escritora, embora sempre ouvisse que sou boa nisso. Mas agora sinto que ninguém foge desse dom. E inevitavelmente temos que escrever os sentimentos e emoções que nem sempre são nossas, mas que nos são doadas diariamente pela vida. O escritor tem o dever de dizer o que a maioria não consegue. Então, entendi que é por isso que quando falo tudo meio confuso a quem me ouve, mas quando escrevo toco naquele profundo que faz o outro chorar, suspirar, sorrir, se identificar, me ver…

Ninguém entra no universo de Caio Fernando e sai dele da mesma forma. E estranhamente enquanto escrevo isso penso: alguém sai do universo de alguém exatamente como entrou? Não! Somos canais. Todos nós e cada qual transforma o outro com as armas que tem.

Caio me transformou numa deia de escritora melhor. Digo ideia porque não sei se consigo ainda olhar para mim como escritora, mas sei que sinto que meus olhos e pensamentos não seguem o fluxo da maioria. E cada delírio meu diante de algo visto ou vivido nada mais é que o momento de conceber algo que alguns chamarão de literatura. Ou como diz o próprio Caio Fernando numa carta que ele escreveu a José Márcio Penido onde ele fala do processo de criação, eu entendi que “escrever é enfiar o dedo na garganta”.

Toda pessoa que se diz LEITOR, tem por obrigação ler essa obra. Tem que provar o mofo dos morangos e morrer de câncer para renascer essa outra coisa que sinto aqui agora em mim. Tem que provar “disso”. Eu não sei definir, mas é uma coisa que inexplicavelmente precisa ser vivida. E então, no fim do livro com dó e dor entender que de alguma forma você é parte de um processo que não finda nunca mas que é de extrema importância estar dentro, fazer parte, sentir o movimento chacolhar-nos como coqueiros nas tardes de ventania de verão. Entende? Talvez não ainda. Mas entenderá quando ler. E aí você fará parte dessa coisa de que falo e que agora você só sente como uma viagem minha, particular.


Maravilhoso. É só isso que posso usar para definir “Morangos Mofados”. Maravilhoso. Ma-ra-vi-lho-so!