quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Morangos Mofados: o Fim.



E com dó e dor me despedi de um livro que busquei por tanto tempo e acabou chegando de surpresa de aniversário. E o que dizer do conto título desse livro? Eu não sei exatamente. Chorei. Mas não sei se foi choro de tristeza porque chegou o fim da linha ou se chorei porque também sinto em mim o mesmo câncer que o personagem. Acho que chorei porque o livro todo mexe nas lacunas que carregamos. Ele veio desde o início me desconstruindo e no final quando eu era pó revirado, ele me fez renascer para uma nova consciência do ato de escrever. Desde o porquê até a a responsabilidade com quem lê. Nunca me vi escritora, embora sempre ouvisse que sou boa nisso. Mas agora sinto que ninguém foge desse dom. E inevitavelmente temos que escrever os sentimentos e emoções que nem sempre são nossas, mas que nos são doadas diariamente pela vida. O escritor tem o dever de dizer o que a maioria não consegue. Então, entendi que é por isso que quando falo tudo meio confuso a quem me ouve, mas quando escrevo toco naquele profundo que faz o outro chorar, suspirar, sorrir, se identificar, me ver…

Ninguém entra no universo de Caio Fernando e sai dele da mesma forma. E estranhamente enquanto escrevo isso penso: alguém sai do universo de alguém exatamente como entrou? Não! Somos canais. Todos nós e cada qual transforma o outro com as armas que tem.

Caio me transformou numa deia de escritora melhor. Digo ideia porque não sei se consigo ainda olhar para mim como escritora, mas sei que sinto que meus olhos e pensamentos não seguem o fluxo da maioria. E cada delírio meu diante de algo visto ou vivido nada mais é que o momento de conceber algo que alguns chamarão de literatura. Ou como diz o próprio Caio Fernando numa carta que ele escreveu a José Márcio Penido onde ele fala do processo de criação, eu entendi que “escrever é enfiar o dedo na garganta”.

Toda pessoa que se diz LEITOR, tem por obrigação ler essa obra. Tem que provar o mofo dos morangos e morrer de câncer para renascer essa outra coisa que sinto aqui agora em mim. Tem que provar “disso”. Eu não sei definir, mas é uma coisa que inexplicavelmente precisa ser vivida. E então, no fim do livro com dó e dor entender que de alguma forma você é parte de um processo que não finda nunca mas que é de extrema importância estar dentro, fazer parte, sentir o movimento chacolhar-nos como coqueiros nas tardes de ventania de verão. Entende? Talvez não ainda. Mas entenderá quando ler. E aí você fará parte dessa coisa de que falo e que agora você só sente como uma viagem minha, particular.


Maravilhoso. É só isso que posso usar para definir “Morangos Mofados”. Maravilhoso. Ma-ra-vi-lho-so!