sábado, 28 de fevereiro de 2015

Descrença


Acordei assim

Desacreditada

Descrente no amor

Sem fé no ser humano

Como isso aconteceu?

Procurei por toda parte

Nas lembranças, nas gavetas da memória, dos cheiros

A caixa dos amores está vazia, entreaberta

Foi-se embora.

Preciso encontrar, não posso sair assim na rua

Ele adornava o meu rosto, afinava a minha voz

Agora sou um ser amorfo, sem feitio

Um ser meio humano meio besta fera

Preciso encontrar o Amor, a Ternura, a Ingenuidade

Para encarar a Vida sem titubear

Tenho que voltar a ser criança.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

CONTATO EXTRATERRESTRE



Por Gabriella Gilmore

Especulações à parte.

Adoro assistir o canal History, e tenho acompanhado várias matérias sobre Extraterrestres e suas pistas no decorrer dos anos, mas nada me convence sobre essa “estranha” existência.
Para mim, tudo isso é criação da mente fabulosa do governo Norte Americano.
Talvez eu não tenha argumentos perfeitos para defender a minha descrença, mas tenho perguntas, como por exemplo: Por que essas pesquisas não são feitas pelos Asiáticos também? Acho os Japoneses, Chineses, super iluminados e sábios, por que então nunca li nenhuma pesquisa sobre isto vindo deles?
Por que essas matérias e estudos são em sua maioria feitas pelos Americanos? Por conta da Nasa?
Por que que ETs e aparições só aparecem, na “grande maioria”, na América Latina? A maior parte das testemunhas dos documentários é do Chile, México, Bolívia, Brasil...
O que o governo Americano ganha por sustentar essa ideia por tantos anos? Eu ainda não sei, mas tenho uma leve desconfiança sobre o motivo.
Para mim, os asiáticos estão preocupados mais com a busca a iluminação do que ficar comprando essa ideia manipuladora que só traz discórdia.
O tema é explorado pelos USA porque as intenções maquiavélicas são deles e a favor deles, e a Nasa é muito mais misteriosa do que podemos imaginar. É a Hollywood da ciência.
Os Latinos Americanos são manipuláveis por conta da religiosidade, o que os tornam vulneráveis e medrosos. Quando eles “testemunharam” que viram luzes, vultos, naves, ou algo do tipo, seja no céu ou na terra, a única coisa que me vem à cabeça é: produção “hollywoodiana”. Já reparei que os documentários no History te jogam o tema em seu colo, mas no final eles não dão um veredicto. Deixam a dúvida. Qual o intuito? Confundir a sociedade?! E essas coisas que as pessoas veem por ai? Eu não acho que seja ilusão não. Pode ser real sim, mas eu acho que pode ser “nave” do governo Americano, e afins, tudo para que essa mentira seja comprada da melhor forma possível.
Para sustentar uma história tão poderosa dessas, a pessoa tem que ser mestre nas produções, em histórias e em engano, e para mim os USA são os melhores na sétima arte, e enquanto eles continuam nessas especulações engraçadas, eu prefiro continuar com minhas teorias sem base, mas são minhas, e sem influências...

P-S -  Ainda há coisas que deixo só para mim para evitar “morte matada”.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Carta para certo machão





Querido Titã,
Hoje acordei e seu corpo não estava na cama. Levantei, fui ao banheiro iniciar meu ritual cotidiano, afinal hoje é um dia como outro qualquer. Olhei meu celular e vi uma mensagem sua, parabenizando-me pelo dia internacional das mulheres. Sentei na cama, vieram lágrimas nos olhos, pois lembrei as duras palavras ouvidas no dia anterior, as comparações e isso me fez pensar sobre o que é “ser uma mulher” e seu lugar num mundo em constante ebulição e num tempo de busca de visibilidade e afirmação identitária.
Enquanto me vestia, arrumava minha bolsa e via meus e-mails, tentava formular uma resposta para meus questionamentos.
Entendo que ser mulher é uma experiência interessante. É poder interpretar vários papéis ao mesmo tempo, transitar por variadas situações e lidar com a própria intensidade. É ser regida pela combinação de intuição, hormônios e sentimentos. É sorrir escancaradamente, chorar vendo um filme romântico, com o nascimento de um filho ou com a partida de alguém. Mulheres lutam com a elegância de quem vai a uma festa. Lindas, cheirosas, determinadas. Às vezes somos fúteis, outras vezes engajadas, mas nunca menospreze nossos sentimentos, muito menos nossa capacidade de ler o mundo e os sinais que vocês nos dão.
Somos capazes de amar muita gente ao mesmo tempo (pais, namorado, marido, amigos, amigas, irmãos), e estamos atentas às necessidades de todos, mas também precisamos de  carinho, daquele mimo, de um abraço gostoso, um beijo apaixonado, um olhar de compreensão e ouvidos atenciosos. Parece muito? Não é não rsrsr.
Também sofremos com as injustiças do mundo, a desvalorização do nosso trabalho, a violência contra nosso corpo e autoestima. Choramos quando perdemos um ente querido, quando nossos filhos estão doentes, quando o bem amado está longe ou até mesmo vendo pessoas que gostamos passando por problemas. Em alguns momentos, uma ofensa ou xingamento parte nosso coração do mesmo modo que um soco em nosso rosto.
Sejamos razoáveis. Somos diferentes e acredito que por isso nos completamos. Você é a personificação da razão, mas a minha intuição te ajuda em muitas coisas. Jamais pensei em me separar de você por causa daquela toalha molhada, da bagunça ou  quando você enche a casa de amigos para um churrasco ou jogar Playstation. Porém fico “emputecida” quando eu preciso de um carinho, só do seu ombro e você diz que é “piti” ou “ataque de bipolaridade”. Quando você me abraça, me conta o seu dia, chora ou se queixa da solidão, não deixa de ser o homem da minha vida. Pelo contrário. É nessa hora que tenho a certeza de que estou do lado do cara mais bacana do mundo. A sensibilidade e bom humor é o ângulo mais lindo da tua personalidade.
Olha, tem comida na geladeira, a sua skol tá no freezer. Hoje é dia internacional das Mulheres, vou celebrar com as amigas. Nos vemos à noite.
Beijos,
Helena, Afrodite, Frida, Dandara, Mainha, Janaina, Madalena, Pagu, Ângela, Morena, Rosa, Amélia, Luna, Capitu, Virgínia, Clarice, Cecília, Luiza, Maria...
 Ou simplesmente
MULHER!

08/03/2013, Janaina Oliveira, Negra Luna


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A IMPONTUALIDADE DO AMOR

Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha.

Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa?

Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio.

O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.

O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.

A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir “eu te amo” num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir “eu te amo” numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.

Medeiros, Martha. Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

Até o próximo texto
Au Revoir

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

50 tons de cinza - Comentários do filme.



por Gabriella Gilmore

Estreando meu primeiro vlog aqui no Clube, hoje vamos comentar sobre o filme 50 tons de cinza.
Baseado nos livros da autora inglesa Erika Leonard James publicado em 2011, o romance erótico conta a história do despertar de uma virgem universitária que se apaixona por um bilionário conquistador e que no desenrolar da trama diz ser sadomasoquista. Encantada pela beleza, curiosidade, Anastasia se entrega a essa paixão.



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Bukowski e Eu



Introdução

Recentemente ganhei de meu filho um livro de Bukowski autor alemão  que viveu em Los Angeles onde começou a escrever contos na década de 1940 e poemas na de 1950. Buk, como é chamado intimamente, fazia uma literatura ousada, muitas vezes erotizada e obcena e com figuras bem marginais, tais como, boêmios, prostitutas, vadios...  Ele, em minha opinião, retrata a realidade esquecida e renegada pela sociedade de maneira ímpar com toques refinados de ironia, sarcasmo e incomparável beleza rancorosa e até dolorida de sua realidade. Ao contrário do que se pode imaginar ao ouvir o nome de Charles Bukowski, nem tudo é sexo, álcool e desesperança; há muito mais de sabedoria que se pode imaginar. E lê-lo é sempre um deleite e um convite a um mergulho em mim mesma nos meus abismos mais profundos. O fruto dos meus pensamentos enquanto me divertia lendo “Miscelânea Septuagenária – Contos & Poemas”, é o que divido com vocês agora.  Espero que vocês gostem desse pequeno passeio pelo universo Bukowskiano. Manterei a formatação original dos títulos e versos em respeito ao autor. Então, por favor, não reparem nas letras minúsculas em lugares atípicos faz parte do estilo Bukwoskiano de escrever.



1- Trapos, garrafas, sacos
ele puxava uma carga
intolerável
de
trapos, garrafas, sacos”
(Bukowski, in “trapos, garrafas, sacos”)

Pela vida, alguns também puxam cargas intoleráveis. São os apegados as mesquinhezas humanas. Essas pessoas nunca entenderão o prazer de ser livre.
ele foi
o primeiro homem
que tive vontade de
matar

e
desde então
não houve
mais nenhum.”
(Bukowski, in “trapos, garrafas, sacos”)

Com o tempo vamos aprendendo a não tentar mudar ninguém. Não é bem aceitação do outro. Está mais para o entendimento de que o grau de evolução é algo particular e intransponível.

2- O Filho de Satã
__ Mentirosos não servem pra nada –
Disse Hass, soprando um arco de fumaça no ar”
(Bukowski, in “O Filho de Satã”)

Discordo. Mentirosos têm uma função: divertir-me.

Eu esperei. E enquanto eu esperava, ouvia apenas alguns sons estranhos.
ouvia os pássaros, o som dos carros que passavam, ouvia até mesmo
o som do meu coração batendo forte, o som do sangue correndo em minhas veias.
Eu ouvia a respiração do meu pai, e me arrastei até o exato centro da cama
e esperei pelo que viria em seguida.”
(Bukowski, in “tO Filho de Satã”)

Vive bem aquele que entende que o tempo segue seu curso independente de nossa vontade. Nada é como e quando queremos. E saber lidar com isso encarando o que vier, é dar a si próprio uma chance de viver em paz com o mundo.

3- voando pelo espaço
em algum lugar dentro
de mim
uma estranha
confiança
se erguia.”
(Bukowski, in “voando pelo espaço”)

“Tudo que preciso para ser feliz está em mim”, eu já isso. Mas é que, as vezes, me perco de mim por aí. Isso é que ferra tudo!
as outras pessoas apenas não
pareciam
valer muita coisa
para mim.”
(Bukowski, in “voando pelo espaço”)

Sei lá! Mas cada dia mais vejo as pessoas como garrafas pet vazia.
eu circulava
com esse
leve ar de desprezo
no rosto...”
(Bukowski, in “voando pelo espaço”)


Não é bem desprezo, sabe? Está mais para indiferença. Estou cansada e sem disposição de fingir simpatia.

4- o incêndio do sonho
ninguém ronca como um
vagabundo
exceto alguém que é casado
com você ”
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)

Seria, então, o ronco um determinante de intimidade? Ha ha ha... Amo Bukowski!

mas a puta velha e acabada
não sabia nem quem ela
era
o que dirá de
mim ”
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)

Essa mania que as pessoas têm de sentar no próprio rabo para julgar o outro, e pior, de fazê-lo em nome de Deus; para mim, é o maior exemplo do lado patético humano.

à minha sorte
e meu destino
que aquela biblioteca estava
lá quando eu era
jovem e procurava me
agarrar a
alguma coisa
quando parecia não haver quase
nada ao meu
redor.”
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)

Fui uma adolescente leitora ávida. Perda noites e fins de semana entre livros, pensamentos e papéis. Fui criada para pensar ao invés de curtir crochês e panos de prato. Já me sentia diferente naquela época. Hoje tenho certeza que sempre fui estranha. Me dou melhor com bichos que com gente. Prefiro livro a TV. Só chamo de amigo aquele com quem posso levar uma prosa produtiva entre uma cerveja e outra.

VOCÊ NÃO PODE RETORNAR PARA CASA.”
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)

Acho que é assim que me sinto cada vez que abro os olhos e ainda estou presa aqui.

5- o resumo
eu arrumava um emprego por um ou dois ou até mesmo três ou quatro
dias
mas chegaria a manhã em que não conseguiria ir
ao trabalho ”
(Bukowski, in “o resumo”)

Eu até gosto de trabalhar. O que me cansa são os tais “colegas de trabalho” com suas conversas infindáveis sobre suas vidas “perfeitas”. Gente chata e hipócrita!

sentados naquelas peças minúsculas
rindo, falando, engasgando, bebendo, nós
os ferrados
ali-
quase perfeitos, quase sábios mas
não de todo, isso teria estragado
tudo”
(Bukowski, in “o resumo”)

Imagine o seguinte cenário... Um quarto simples, os olhos vagueando num excelente autor ao som de uma voz maravilhosa. É onde estou agora. Estou me sentindo plena e confortável. Como se a vida pudesse ser perfeita e a felicidade total fosse algo fácil. Na cama com Charles Buk e Etta James... Puta que pariu! Isso que é ménage.

6- A Vida de Um Vagabundo
Harry olhou para o céu através das partículas. O céu estava azul, e isso era horrível.
Harry continuou olhando para o céu, tentando sentir alguma coisa.
Mas Harry não sentia nada. Nenhuma sensação de eternidade. Nem de Deus.
Nem mesmo do Diabo. Mas era preciso encontrar Deus primeiro se quisesse
encontrar o Diabo. Eles vinham nessa ordem.

Harry não gostava de pensamento graves. Pensamentos graves
podiam levar a erros graves.”
(Bukowski, in “A Vida de Um Vagabundo”)

Tenho pensado muito sobre certo e errado, pecados e virtudes, Deus e diabo... Acho que todo mundo, uma hora na vida, pensa sobre essas coisas: os propósitos de Deus e as tentações do diabo. Será que com tanta merda acontecendo por aí nesse mundo pré-apocalíptico – estou sendo dramática propositalmente – eles estão com tempo para lembrar-se de mim? Dizem que Deus não dorme... Sei lá! Fiquei com pena dEle de repente.

Pairava no ar uma solidão generalizada, um medo latente,
e a necessidade de estarem juntos e de conversar um pouco,  
pois isso os acalmava.”
(Bukowski, in “A Vida de Um Vagabundo”)

Talvez seja isso o porquê de eu não ser uma criatura muito sociável: sinto-me solitária e por tanto, a solidão não me assusta. Eu não sinto necessidade de ninguém comigo. Há momentos que me sinto até invadida na presença de outros. Sou um ser solitário por natureza. Algumas pessoas se aproximam de mim, talvez por curiosidade, mas depois de um tempo se vão. Eu até sinto alguma tristeza. Todavia, é algo para o qual já estou preparada. É triste, mas não me incomoda. É como ver um filme que você pensa por alguns instantes depois do fim, mas se esquece quando começa a próxima sessão.
   
7- Meu Melhor Amigo
a verdadeira
escravidão humana
de homens que não
sabiam
que eram
escravos
que
realmente achavam
que eram eles os
escolhidos.”
(Bukowski, in “Meu Melhor Amigo”)

Tenho visto essa gente por aí. Acorrentada ao “ter” e todos os dias sendo chicoteadas por suas palavras e ações. O cheiro de suas almas podres sendo escondida nas fragrâncias importadas. Capatazes gerenciais a porta com seus chicotes executando cegamente as ordens de seus capitães empresariais. E tem pobre no tronco rezando para ter um barraco melhor. A escravidão moderna desconhece a cor da pele. E o idiota escravizado desconhece os próprios grilhões vendo novelas na TV.
cada homem
vence
a adversidade
de um modo
diferente.”
(Bukowski, in “Meu Melhor Amigo”)

Uns procuram a fé, outros procuram as drogas, eu procuro a poesia. Sobrevivo na marginalidade que ela me proporciona.

8- se você deixar que eles o matem, eles o farão

então bebi em homenagem ao
velho,
Este velho aqui,
que tinha finalmente descoberto
como ser
gentil consigo
mesmo.”
(Bukowski, in “se você deixar que eles o matem, eles o farão”)

Eu bebo e brindo ao dia que gritei o primeiro “Vai te foder!”, e deixei de ser aquela Waleska que tentava agradar aos “amigos”, ser filha perfeita, a esposa dedicada... E passei a ser essa Waleska que vos fala. Filha da puta de plantão, fidelíssima a mim, dedicada ao meu prazer. Só uma coisa não mudou em mim, meu conceito sobre maternidade. Ser mãe ainda é algo sacro em mim.

9- Um Dia

__ Quanta merda será que um cara tem que aguentar
apenas para se manter vivo?
__ Muita – veio a resposta -, e nunca para...”
(Bukowski, in “Um Dia”)


Tenho pensado sobre isso... Estou numa fase ruim, sabe? Então, tenho pensado mais sobre essa coisa de viver, de realizar, castigo, pecado... Nessas horas Deus não me parece muito justo. Estou sempre na minha e quanto mais vivo assim parece que mais sou lançada nas pedras, entende? Enquanto um monte de filho da puta está sempre na frente indo bem. Em algum momento deve fazer sentido. Então, vou mantendo a fé que Deus. Se nada muda ao menos conforta.

10- devemos
devemos trazer
nossa própria luz
à
escuridão.

ninguém fará
isso
por nós.”
(Bukowski, in “devemos”)

Que eu seja luz para o mundo. Que eu seja força e sabedoria no caos. Que eu seja paz e confiança na tormenta. Que eu seja o amanhã na crise. Então, para isso, que Deus não me falte no meu dia. – Orar sempre me faz bem.

11- A VINGANÇA DOS DESGRAÇADOS

A última dose era sempre triste.”
(Bukowski, in “A VINGANÇA DOS DESGRAÇADOS”)


A última dose de tudo e em tudo é sempre a mais difícil. É como sentir o adeus descer queimando a garganta e depois empestear a alma. O último gole, o último beijo, o último adeus, o ponto final... Sempre o pior de tudo e de todos. A queda, o fracasso, a falta de esperança... Dolorido e na maioria das vezes necessário.

__ Estive pensando...
__ Pensar não é bom... ”
(Bukowski, in “A VINGANÇA DOS DESGRAÇADOS”)

Aceite o fardo, a ordem, o destino. É isso que esperam de nós: o comum. Só assim terá paz e aceitação do resto. Acate regras, conceitos, pré-conceitos. O mundo é dos que obedecem, os enquadrados. Mas eu não sei aceitar, sem entender. Então, questiono. E como questiono sou marginal, um aborto, uma criatura rejeitada pela maioria. E que se foda a maioria, a sociedade. Eu preciso é de sonhos, de álcool, de poesia.


12- O grande relaxado

eu realmente me amava,
realmente amava o meu eu
relaxado”
(Bukowski, in “O grande relaxado”)

Largo tudo meu - coisas, papéis, pessoas, versos - tudo espalhado por aí. Cabelos desarrumados, roupas desalinhadas, alma desajustada. Fragmentos confusos. Um tanto de cabeça no chão e um pouco de pé na lua.


13- este bêbado no banco de bar ao lado

perdoe-me, mas normalmente sinto como se estivesse caminhando
Pelos dutos do próprio inferno”
(Bukowski, in “este bêbado no banco de bar ao lado”)

Vez ou outra tiro para passear em meus labirintos. Levo meu eu-lírico comigo. Algumas vielas minhas são tão lindas! Flores, borboletas, cores, sol. Chego até a pensar que há esperança para mim. Ali fico egoísta. Não converso. Só sinto. São nas vias escuras que disparo a falar. E o meu eu-lírico se empolga. Chora, grita e geme versos. Pensando bem esses caminhos também são bonitos. Eu deveria ficar egoísta lá também. Mas o meu eu-lírico não aceita se calar.

14- bocejo...

cada pessoa, suponho, tem
suas excentricidades
mas em um esforço para parecer
normal
aos olhos do
mundo
elas as superam
e desse modo
destroem seu
algo a mais.”
(Bukowski, in “bocejo...”)

Acho que sou apaixonada por minha loucura, que divorciar-me dela por questões sociais me parece inconcebível. Está vendo? A loucura é como uma dessas mulheres que a maioria sonha em comer, mas sou eu que a abraço e durmo com ela.

  “penso que foi a principal razão
por que decidi me tornar um
escritor: posso bater à máquina
a qualquer hora e
dormir
na hora em que vier a porra da
vontade.”
(Bukowski, in “bocejo...”)


Por que será que virei poetisa? Preciso achar uma razão para tudo isso!

15- eliminando as patentes

então eles falam de Deus, de um jeito plácido, você sabe, eles não querem
forçar você a nada mas...”
(Bukowski, in “eliminando as patentes”)


Por que as pessoas acham que você não anda com a bíblia para todo canto, culpando a Deus e o demônio por cada dor de estômago, você não tem Deus em sua vida? Tenho certeza que Deus está comigo o tempo todo para mim e em mim. Deus, na minha concepção curte praia, blues, rock, bebida gelada e uma boa conversa fiada no fim da tarde desde que não envolva a vida alheia. E Ele está vendo você na missa falando do colega ao lado, viu!

16- AÇÃO

A estrada para o inferno era repleta de companhia,
mas ainda assim era terrivelmente solitária.”
(Bukowski, in “AÇÃO”)
A noite e suas criaturas me atraem. Isso parece assustador para a grande maioria. Mas penso que a noite é um véu que cobre todos os marginalizados e incompreendidos numa cumplicidade, carinho e admiração que não se explica. Para mim, o céu habita o dia com seus anjos perfeitos. O inferno habita a noite com suas tentações. A perfeição me cansa. Já as tentações... Hummmmm....

17- gosto dos seus livros

’Que tipo de regra é essa?’,
ele perguntou.’Deus não faz
regras...’

Me virei e olhei para ele:
‘talvez não, mas eu
faço’.
(Bukowski, in “gosto dos seus livros”)

Deus me deu livre arbítrio. Faço uso dele consciente de que terei de arcar com consequências de meus atos. Então, não me falem de leis para entrar no céu ou ir para o inferno – cuja entrada é grátis -; só me deixem ir. Quando chegar o momento do embarque, Deus, o diabo e eu sentaremos em alguma mesa de bar para decidir meu destino.

18- CAMUS

o problema com a História dos Homens é que ela não leva a lugar nenhum
senão à morte inevitável do indivíduo, e isso era banal e grotesco,
lixo à espera de ser recolhido.”
(Bukowski, in “CAMUS”)

Penso que a morte ou o medo dela é o que mais aproxima os homens. Diante de uma notícia de morte, os homens questionam-se, refletem, e quando podem, até mudam um pouco. A morte é um estado justo de igualdade. Ninguém consegue ter mais que o outro, feder menos que o outro... Todo mundo tem uma história de velório e enterro para contar (Lembrei da morte tão bem trabalhada no texto A Morte de Ivan Ilitch” de Tolstói) e sempre o fazem como um desabafo. É uma maneira de dizer “Ainda estou vivo!”, eu acho. A morte é a certeza de todos e a sua maior angústia. Por isso, ela é tão fascinante para mim. Uma mulher misteriosa e solitária escondida sob um véu escuro... Uma rainha solitária  que um dia me beijará e me tornará igual a qualquer outro.

__ A maioria dos homens é terrivelmente
Incompetente em sua profissão “
(Bukowski, in “CAMUS”)


A merda é ter uma profissão. Devíamos todos fazer de tudo um pouco. A rotina disso ou daquilo é saco! Ah, sei lá! De repente tenho o espírito cigano e aí isso justificaria essa minha vontade de não parar em nada por muito tempo.

__ O poder destrói – Larry disse a eles -,
e falta dele cria um mundo de desajustados.”
(Bukowski, in “CAMUS”)

Eu me sinto desajustada. E há muitos poderosos a minha volta com suas regras e deveres. Acho os poderosos estranhos e eles devem pensar em mim dessa forma também. Até obedeço de vez em quando algumas regras. Mas na grande maioria das vezes, eu as nego ou só finjo obedecê-las. Só isso!

19- não do mesmo molde

“há
todo tipo
de
loucos

alguns mais
talentosos
em seus caminhos

do que os
sobrenumerosos

estúpidos
estupidamente
são
(Bukowski, in “não do mesmo molde”)


A maioria chama de loucura o que escapa do seu entendimento ou domínio. Eu já fui chamada de louca várias vezes por compartilhar ver meus pensamentos confusos, complexos e, as vezes, paradoxos por aí. Não sei porque levam tão a sério o que eu digo. Geralmente o que nada me diz eu ponho de lado. Mas a maioria parece estranhar e se incomodar daí alguns me atacam me chamando de louca ou paranoica. Penso que sou estranha com esse meu jeitão observador, ferino, taciturno..., mas não chego a ser louca. Pelo menos acho que não. Mas dizem que os loucos não reconhecem a própria loucura, não é mesmo? Então...

20- FAMA

__ Porra, cara, olhe o dinheiro que você está ganhando!
Um pouquinho de sofrimento não vai mal.”
(Bukowski, in “FAMA”)


Dinheiro... Dinheiro... Dinheiro... Eu até gosto e quero dinheiro, mas só porque preciso dele para conseguir minhas coisas. Contudo, não mudo o que sou por dinheiro e nem tenho amizade só porque fulano é influente. Já perdi emprego por mandar patrão à merda. Paciência tem limites e meu limite é sagrado. Estou trabalhando agora em um ambiente péssimo. Gente ferrada metida a bacana. Não serei a melhor amiga de ninguém por lá, eu sei. Mas eles me divertem. O ser humano me diverte. - Vocês sabem! - E quando são patéticos a diversão é dobrada.

21- ruína

sempre haverá alguma coisa
para arruinar nossas vidas”
(Bukowski, in “ruína”)

Manhã linda, tarde paradisíaca, noite de verão. O homem dos sonhos, a mulher ideal, o romance perfeito. Daí do nada a manhã vira trabalho pesado, a tarde fica nublada e a noite vira insônia. O homem se vai com outra, a mulher vira uma chata faladeira e o romance se limita a algo entediante de Nicholas Sparks. E de tudo ainda fica o vinho e os livros, algumas lembranças e talvez saudade. Afinal, a vida nem sempre é uma merda!

estamos sempre
no ponto e prontos
para sermos
tomados.”
(Bukowski, in “ruína”)

Essa é a sensação que tenho: estamos sempre de malas prontas. Então, vamos lá Vida!!! Vamos agitar que a viagem é certa e sem destino conhecido. Viver é ir adiante. Aproveitando cada momento da melhor maneira possível.

é somente quando
aquela vida
arruinada
torna-se a nossa
que percebemos
então
que os suicídios, as
bebedeiras, a loucura, a
cadeia, as boletas
e etc. etc.
são coisas normais”
(Bukowski, in “ruína”)

Podem até não ser tão normais, mas são explicáveis. É incrível como a grande maioria torna menor a ruína alheia. Odeio o tal “Se fosse comigo...”. Eu respeito dores, sentimentos e emoções. Realmente respeito! E fico irada se não fazem o mesmo comigo. Ninguém conhece minha cabeça e meu coração. Só eu posso saber as dores que carrego comigo como só você conhece as suas.

22- ASAS SEM LIMITES

Não me entendam mal,
ela era uma alma relativamente boa,
mas o mundo está cheio de almas
relativamente boas ”
(Bukowski, in “ASAS SEM LIMITES”)

Observando as pessoas descobri que somente 10% dos que falam e pregam em nome de Deus vivem o que falam e pregam. O nível de canalhice dentro das repartições religiosas me faz entender o número crescente de agnósticos e ateus. Eu particularmente tenho preferido me sentar com os “maus exemplos” haja vista que se eles me aprontarem uma sacanagem não me decepcionarão.


“quando se está em cima do último segundo de cada minuto,
é melhor evitar as merdas dos outros.”
(Bukowski, in “Asas Sem Limites”)

Tenho ficado cada dia mais quieta e observadora. Pior é que ainda assim desperto confusão porque estou quieta e observadora. Acho que estou velha. Com certeza estou velha nessa minha fase! E ninguém respeita os velhos hoje em dia.

“Bem, eu pensei, agora passamos de odiar mascas
a odiar seres humanos.
Ambos são difíceis de suportar. ”
(Bukowski, in “Asas Sem Limites”)

Acho moscas mais amáveis que seres humanos. Perdoem-me, mas a humanidade está cada vez mais decrépita e eu mais impaciente com ela. Prefiro o zumbido de uma mosca a voz sínica, hipócrita e venenosa de humanos que só sabem andar por aí perturbando, caluniando, julgando... Será que Raul Seixas também se sentia assim? Aí, cara! Eu sou a mosca que pousou na sua sopa...

23- postal

“é curioso como as pessoas costumam
insistir em ligações
quando não há nenhuma”
(Bukowski, in “Asas Sem Limites”)

Sou uma criatura seletiva. Não me encanto com elogios e sorrisos. É preciso que o santo cruze, sabe? Chamam-me de metida e até de anti-social. Eu prefiro “seletiva” ou “reservada”. Minha vida não é filme para ser assistido com curiosidade. Quem entra em minha vida sabe meus limites e me respeitam. Isso! Eu aprecio respeito. Se não deixo você entrar em certo ponto de minha vida é melhor respeitar. Há pequenos espaços escondido nos meus recantos que são perigosos a quem não é forte o suficiente.

24- causa e efeito

“os melhores em geral morrem por suas próprias mãos
apenas para sair do caminho. ”
(Bukowski, in “causa e efeito”)

Minha mãe assustou-se quando eu disse certa vez que não remoo a partida de ninguém da minha vida. Ela disse que sou fria. Se eu posso sair da vida de qualquer um e não ser lembrada, porque devo viver de passado? Quando sinto que posso fazer mal a alguém simplesmente me vou. Então, quando alguém se vai de mim, eu acho que é pela mesma razão: piedade.

25- UMA NOITE RUIM

Mas gradualmente os casamentos
se transformam em trabalhos
(Bukowski, in “UMA NOITE RUIM”)

E não é sempre assim? Depois de um tempo sorrisos no retrato e desconhecidos no colchão dormindo lado a lado. Não quero mais casamento. Não deixo de querer amar ou de estar apaixonada, mas casar não quero. Se for para viver uma peça, me deixem sozinha no palco. Porque sozinha só enceno comédias.

26- no rebote

“é comum, ele disse depois de uma separação,
ficar ali sentado sentindo como se a alma tivesse sido
decapitada
ou o que quer que você tenha no lugar de uma
alma ”
(Bukowski, in “no rebote”)

Quando me separei experimentei na carne os contrapontos emocionais. Pensava “Acho que vou morrer!”, então me deitava completamente espalhada na cama e o prazer de ter a cama e quatro travesseiros só para mim me confortavam tanto que eu dormia o sono dos justos. As vezes, a crise vinha ao ver um filme sozinha a noite e eu pensava como seria bom tê-lo ali comigo. Depois lembrava que se não fosse um filme do agrado dele, fatalmente ele estaria dormindo. Sei lá! Acho que eu não curtia meu casamento tanto assim.

27- sopra um vento fresco, selvagem...

“sou um cara bobão, chego fácil a alegria ou até mesmo
aquela alegria estúpida por quase nada
e se deixado sozinho fico bastante contente.”
(Bukowski, in “sopra um vento fresco, selvagem...”)


Dou altas gargalhadas quando estou comigo. Acho-me uma companhia agradável e interessante. Igual prazer, só encontro quando estou com minha cachorra. É que ela tem um olhar muito acolhedor. Visitas de amigos são até legais, mas quando estamos minha cachorra e eu é que me sinto mais confortável. Coisas de maluco! Mas quem se importa com isso?


28- TRAGA-ME SEU AMOR

“__ Vou ficar aqui por perto uns dois dias
- disse Harry com suavidade – Posso trazer o que você quiser.
__ Me traga seu amor, então –
Ela gritou. – Por que diabos você não me traz o seu amor?”
(Bukowski, in “TRAGA-ME SEU AMOR”)

É muito comum alguém nos oferecer tudo. Tudo que é banal e comum. Casa, carro, jóia, chocolates, flores, perfumes... Mas onde vão parar os sentimentos? Queria achar alguém capaz de me dar amor real. Aquele amor que fica ao lado apesar de,  sabe como? Queria lealdade apesar da tentação, cumplicidade apesar da incerteza, uma gargalhada de tirar o fôlego, um choro de tirar o sono, um gemido de tirar o juízo. Quero alguém que seja capaz de me dar amor ao invés de maçãs ou cestas de café da manhã.

29- O Rapto de Nossa Senhora


“expor suas entranhas no papel
assusta a alguns
e
com razão:
quanto mais você escreve
mais você se
abre
para aqueles que se denominam
“críticos”.”
(Bukowski, in “O Rapto de Nossa Senhora”)

Escrever é como tirar de si uma parte que nos forma para deixar que outros a explorem e a interpretem da maneira que lhes convier. Escrever é rasgar o peito e por a prova o coração. É doar a alma muitas vezes a quem não tem compaixão. Admitir amor, admitir loucura, admitir que somos diferenças. Escrever é entregar-se ao perigo de ser julgado por insensíveis e de ser amado por outros frágeis marginalizados. Para mim, escrever é o transbordar das emoções que me pesam. Sem escrever sou nada admitido.

“Você está cagando para como
eles escrevem o poema”
(Bukowski, in “O Rapto de Nossa Senhora”)

Certa vez me perguntaram da funcionalidade do que escrevo. Como pode ser tamanha idiotice? Escrevo e pronto! E o faço por mim. Por amor arrasto meu caos, meus farrapos, meus múltiplos eus por linhas inteiras. Ora abortivas ora verminosas, pruridas... A função do que escrevo é manter-me viva dentro da normalidade venenosa que tenta todo dia me ver morta.

30- esta profissão tão delicada

“você pode pensar sobre escrever
até que não consiga mais escrever.”
(Bukowski, in “esta profissão tão delicada”)

Tem dia que há tantas idéias gritando “Sou eu a sair hoje!” que quase fica um redemoinho aqui dentro. Nada sai porque nenhuma idéia cede a vez à outra. Então, pego o papel e rabisco furiosamente e de um monte de rabiscos ela vem. Uma borboleta... Sempre ficam borboletas quando tudo é caos em mim.

31- OS ESCRITORES

Bukowski por Bukowski! Ao ler esse conto tive a sensação de ver dois “eus” Bukowskianos sentados discutindo sobre o próprio Bukowski. Divertidíssimo! Quantos de nós tivemos a chance de ser avaliado pelos “eus” que nos habitam? Sem dúvida alguma o melhor conto de todo o livro. O fazer literário escrito e descrito de modo ímpar pelo gênio e os pequenos gênios (almas) que o habitavam. Um Buk consciente de todas as suas limitações, fracassos, diferenças e o mais espantoso; um Buk consciente de estar além de seu tempo. Certo de que sua fama só viria muito depois de sua morte.

32- companhia

“os olhos veem através dos muros,
muros de humanidade”
(Bukowski, in “companhia”)

Posso esconder medos em palavras de euforia. Posso esconder dores em gestos de coragem. Posso falar de amor enquanto o peito queima de ódio, indiferença ou saudade. Mas não posso negar o que transborda dos olhos. Os olhos não mentem as dores, as alegrias, os amores. Escondo meu olhar em óculos de sol para não ter que justificar nada, nem mesmo confessar. Mas ainda assim, as vezes, meus olhos encontram aqueles olhos e teimosamente sussurram “te amo!”.

33- BLOQUEADO

“escrever leva alguém para lugares rarefeitos,
tornava-o estranho, um desajustado”
(Bukowski, in “BLOQUEADO”)

Desde que passei a publicar meus pensamentos, a minha relação com o mundo é de amor e ódio. Uma grande parte de loucos como eu admiram meus pensamentos e ora os complementam ora simplesmente concordam. Em contraponto há os que me contestam. Alguns porque realmente discordam de mim, outros discordam porque para eles é difícil demais admitir que possam ser um pouco como eu.

34- a boa e velha máquina

“escritores, meu amigo,às vezes conseguem
apenas escrever...”
(Bukowski, in “a boa e velha máquina”)

Sinto isso, as vezes. Sou boa em escrever. Em estar comigo vendo meus pensamentos sendo jorrados na folha. Meus filhos nascidos. Saídos do campo das idéias para o mundo prático. E por trás dos vidros, olhos curiosos os admiram. Sou uma criatura feita para gerar o tudo onde a maioria enxerga o nada.

35- CHEGA DE CANÇÕES DE AMOR

“Toda vez que renovo minha carteira de motorista
começo a me dar conta de como estou velho,
e isso é um sinal de que se está indo em direção ao túmulo,
um sinal muito mais revelador do que noites de ano novo
ou aniversários, e, embora eu realmente não me importe
de morrer, a certeza de que morrerei me desagrada.”
(Bukowski, in “CHEGA DE CANÇÕES DE AMOR”)

“A grande certeza” é assim que chamo intimamente a morte. Eu não me assusto com ela. Acho que no fundo o grande medo é de como ela vai chegar. Amo fazer aniversários, mesmo sabendo que estou pondo um cravo a mais no meu caixão. A propósito, por que cravos? Ah, pela amor! Ponham rosas ou margaridas. Melhor! Não ponham nada! A flor apodrece e vai juntar com meu cheiro cadavérico vai virar um horror. Ponham livros no meu caixão. Edições de bolso para caber mais. Assim vai ficar bem legal!

36- tentando apenas arrumar um servicinho

“e tento me colocar
o mais longe
possível das outras
pessoas.”
(Bukowski, in “tentando apenas arrumar um servicinho”)

Eu gosto da sensação de não ter ninguém me olhando ou esperando alguma palavra. O silêncio é algo que me preenche, sabe? Pode ser interrompido por música ou poesia; barulho de teclado ou virar de página; as vezes, som de buzina também são legais. Contudo, toque de telefone e campainha me deixam tensa.

“sempre há alguma coisa
perseguindo um
homem.”
(Bukowski, in “tentando um servicinho”)

Alguém me disse esses dias que há um demônio para cada ser vivo, assim como há um anjo. Me senti meio invadida. Sempre me achei solitária e agora me sinto numa espécie de Reality Show divino. Essa coisa de religião, fé, ciência, céu, inferno... É complexa demais até para alguém como eu.

37- sempre

“a coisa que
importa
é
a coisa
óbvia
que
ninguém
está
dizendo.
(Bukowski, in “sempre”)

Fácil entender, Buk! O ser humano tem uma enorme facilidade de comentar o óbvio, de parafrasear o já dito e de acrescentar elementos desnecessários depois do ponto final. Por isso, curto literatura, sabe? Não há nada além da última página. Talvez só alguns pensamentos, mas todos pertencem só a mim.

38- ELIMINAÇÃO

“Os pobres vinham assistir
aos milionários jogar.”
(Bukowski, in “ELIMINAÇÃO”)

Alguma semelhança com os jogos de hoje em dia? Ha! Ha! Ha!  Você se sentiu um idiota?

39- dias e noites
“...este idiota sorrindo
internamente: as coisas nunca foram muito
boas, talvez não tenham mesmo de
ser.”
(Bukowski, in “dias e noites”)

Esperança faz com que tentemos ver flores entre as pedras do caminho. Tenho a impressão de que felicidade é, na maior parte do tempo, uma ilusão que criamos para suportar todo o resto.

40- meu pai

“era um homem realmente incrível.
ele fingia ser
rico
(Bukowski, in “meu pai”)

Meu pai foi também o homem mais incrível que conheci. Acho que ele poderia ser o que quisesse ter sido. Ele fez a opção de ser livre e foi. É difícil ser livre! Eu invejo meu pai.

41- .191

“_ Dizem que se você não pode ser nem pontual,
não pode ser nada.”
(Bukowski, in “.191”)


Vou dizer isso ao “amor da minha vida”, porque sinto que a hora já está bem adiantada e se ele continuar se demorando vai se atrasar.

42- um amigo

“’não passo de um velho fodido’, ele responde, ‘o bom Senhor não
me leva e o diabo não me
quer...”
(Bukowski, in “um amigo”)

Há dias em que me levanto e as pernas pesam, a cabeça está confusa. Não é ressaca, mas é como se fosse só que sem aquele gosto ruim na boca. Daí penso: quero morrer agora. Mas tudo fica parado. Não morro. Então, me levanto, me banho, tomo meu café e vejo as notícias antes do trabalho. É a rotina, sabe? De certa forma é a morte também.

“às vezes é preciso mais coragem
para estar vivo
do que morto.”
(Bukowski, in “um amigo”)

A morte sempre parece solução. As cartas psicografadas são sempre tão lindas, tão cheias de esperanças e pássaros azuis. Eu queria saber se é verdade. Mas tudo que tenho são gente que agora cheiram a cerveja ou perfume barato ou os dois ao mesmo tempo. E de repente eu noto um dragão num braço de 45 anos e penso que eu se eu puder passear naquele dragão tudo valerá a pena.
43- ouro em seus olhos

“este poema é para aqueles que pensam que
um homem só pode ser um gênio
criativo
quando chega ao
limite
embora eles nunca tenham tido
coragem de ir
até lá.”
(Bukowski, in “ouro em seus olhos”)

Eu fui, Buk! Fui ao extremo, enlouqueci. Fui até onde a razão se enforca numa corda de ceticismo. E abortei poemas, amputei prosas, morri sem rimas. Mas me regaram com simpatia e cresci de novo entre o cinza lúcido e o púrpura piração. Ah, Buk, a poesia pode morrer de inanição numa BMW, enquanto se olha uma praça cheia de gente crítica e comum. Brindando com vinho o gênio que é, apesar dos bancos de parque e federais. Porque a poesia é o suor dos meus poros que escorrem enquanto eu tento ir lá de novo. Lá onde poucos conseguem ir e sobreviver.

44- SOZINHO NO TOPO

“É preciso pagar um preço terrível para se manter no topo.”
(Bukowski, in “SOZINHO NO TOPO”)

Qual o meu lugar na história? Eu sempre me pergunto isso. Onde eu faço diferença na coisa toda? Dizem que todos e tudo são responsáveis pelo curso da vida. E se de repente eu virar a esquerda quando o correto seria a direita; o que eu mudei na sua história? Eu estou aqui porque tenho você aí. Mas e se de repente eu...

45- engraçado, não?

“onde foram
parar as pessoas
como eu?”
(Bukowski, in “engraçado, não?”)

Falo sempre de solidão porque sinto isso: acabaram-se no mundo as pessoas como eu. Quero agora e urgente uma passagem para Plutão! Quero voltar a ser um escorpião no meu planeta anão.

46- o último lugar para se esconder

“’crianças’, Heather diz,
‘nunca mentem, pergunte a elas
o que acham de você e elas
sempre dirão a
verdade.’”
(Bukowski, in “o último lugar ara se esconder”)

E serão lindas verdades principalmente se ditas diante de um presente como um tablet ou um i-phone.
47- um pouco de jardinagem

“todas as esperas
não são nada de
mais: apenas parte do
espaço entre as
agonias”
(Bukowski, in “um pouco de jardinagem”)

Estou esperando meu momento, um novo tempo, algum dinheiro, um novo sonho, um novo amor. A vida é uma espera intensa e agonizante e a cada dia a gente espera que não seja o último. Não seria justo ser o último sem que todas as outras coisas tivessem chegado.

“nós somos os
liquidados
sinalizando através do
tempo – aquelas montanhas ao
norte – enquanto
o espaço se
fecha.”
(Bukowski, in “um pouco de jardinagem”)

Não quero me tornar uma dessas velhas que fazem tricô. Quero ser uma velha que ouve Pink Floyd, bebe cerveja, que lê e pensa sobre mundo. Quero o direito de não pensar em horas nem em datas. Quero me perder da história até morrer.


48- no Sizzler

“viro minha cabeça
olho para outro lugar.

onde estão as pessoas reais?

ainda existem?

são para existir?

o que eu quero?
enquanto o mundo oscila para a
direita
e os cães latem dentro do meu
cérebro.”
(Bukowski, in “no Sizzler”)

Tenho quarenta e três. Estou pirando. Desequilibrada. Acho que desde os quinze não sei o que é equilíbrio perfeito. Estou sempre tendendo para lá ou para cá. Mas me moldo às tendências. Acho que isso é poético: enlouquecer ciente de que sua loucura produz mais efeito na sociedade que a sanidade dos tiranos. Estou envelhecendo com louca qualidade, enfim. E fim!


49- O VENCEDOR

“A platéia na está nem aí pra você.
Você tem que se preocupar é com você mesmo!”
(Bukowski, in “O VENCEDOR”)

Não adianta o que fizer sempre haverá quem verá um defeito seu, o seu ponto negativo. Não espere uma platéia inteira aplaudindo de pé. Isso não existe! Então, atue de forma que você fique em paz consigo. Só você pode medir o tamanho dos seus esforços.

50-  anemia perniciosa

“poderia apenas dispensar
o resto de vida,
esperando serenamente pela
morte.

[...]

deixe que haja luz!
deixe que haja eu!

vou vencer
as adversidades
mais uma
vez.”
(Bukowski, in “anemia perniciosa”)


É o fim! Não valho nada! Não mereço estar aqui! – E depressivamente deitei-me olhando o teto, contando o tempo. E o passar das horas se tornou monótono, e o corpo doía em câimbras. Estou viva! Deve haver uma razão. Um a louca razão divina. Deus nunca me pareceu muito convencional mesmo. Então, estou aqui... Para mais uma dose, outra página, novo livro... Enfim, viver!

51- celebrando isto

“você nem pensa sobre ser um escritor
você apenas esvazia a mente e vaga como um zumbi
e
aí está a razão de ser da
vida”
(Bukowski, in “celebrando isto”)

É isso aí você tem o dom ou não. O Escritor é um grande sacana que consegue descrever o mundo de modo que ninguém antes conseguiu. E nem há texto bom ou ruim. O que há é identificação ou não com o autor. O Bukowski é fonte inspiradora para mim, mas pode acreditar que em algum lugar há alguém o chamando de lixo.

“sim, escrever é o melhor jeito
de ir.”
(Bukowski, in “celebrando isto”)

Em conversa perguntei ao meu analista se era normal rabiscar o livro como eu faço normalmente. Ele disse que esse foi o meio que eu achei para conversar comigo e com o mundo. E que além de saudável é um exercício de autoconhecimento. Parei para analisar o que ele disse. Nunca aceito a opinião dele de cara, mas dessa vez tive que concordar.

“Não importa:
não preciso de nada mais que meus dedos
para bater à máquina

e de uma
mínima
quantidade de
dor.”
(Bukowski, in “celebrando isto”)

E assim funciona o escritor: sentindo. Não importa de quem é e como é a dor de fato, se sua própria ou de outro; o que importa é receber essa emoção com o coração aberto, a alma pronta e deixar fluir cada palavra até que esse sentimento se esgote para nascer o próximo.

52- Sorte

“certa vez
fomos jovens
nesta
máquina...”
(Bukowski, in “Sorte”)

A vida é uma máquina precisa. Vai para frente sempre e nos arrasta junto. Não pára nunca. Mas de repente não fazemos mais parte dela.


FIM