Introdução
Recentemente ganhei de meu filho um livro
de Bukowski autor alemão que viveu em
Los Angeles onde começou a escrever contos na década de 1940 e poemas na de
1950. Buk, como é chamado intimamente, fazia uma literatura ousada, muitas
vezes erotizada e obcena e com figuras bem marginais, tais como, boêmios,
prostitutas, vadios... Ele, em minha
opinião, retrata a realidade esquecida e renegada pela sociedade de maneira
ímpar com toques refinados de ironia, sarcasmo e incomparável beleza rancorosa
e até dolorida de sua realidade. Ao contrário do que se pode imaginar ao ouvir
o nome de Charles Bukowski, nem tudo é sexo, álcool e desesperança; há muito
mais de sabedoria que se pode imaginar. E lê-lo é sempre um deleite e um
convite a um mergulho em mim mesma nos meus abismos mais profundos. O fruto dos
meus pensamentos enquanto me divertia lendo “Miscelânea Septuagenária – Contos
& Poemas”, é o que divido com vocês agora.
Espero que vocês gostem desse pequeno passeio pelo universo Bukowskiano.
Manterei a formatação original dos títulos e versos em respeito ao autor.
Então, por favor, não reparem nas letras minúsculas em lugares atípicos faz
parte do estilo Bukwoskiano de escrever.
1- Trapos, garrafas, sacos
“ele puxava uma carga
intolerável
de
trapos, garrafas, sacos”
(Bukowski, in “trapos, garrafas, sacos”)
(Bukowski, in “trapos, garrafas, sacos”)
Pela vida, alguns também puxam cargas
intoleráveis. São os apegados as mesquinhezas humanas. Essas pessoas nunca
entenderão o prazer de ser livre.
“ele foi
o primeiro homem
que tive vontade de
matar
e
desde então
não houve
mais nenhum.”
(Bukowski, in “trapos, garrafas, sacos”)
(Bukowski, in “trapos, garrafas, sacos”)
Com o tempo vamos aprendendo a não tentar
mudar ninguém. Não é bem aceitação do outro. Está mais para o entendimento de
que o grau de evolução é algo particular e intransponível.
2- O Filho de Satã
“__ Mentirosos não servem
pra nada –
Disse Hass, soprando um arco de fumaça no ar”
(Bukowski, in “O Filho de Satã”)
(Bukowski, in “O Filho de Satã”)
Discordo. Mentirosos têm uma função: divertir-me.
“Eu esperei. E enquanto eu
esperava, ouvia apenas alguns sons estranhos.
ouvia os pássaros, o som dos carros que passavam, ouvia até mesmo
o som do meu coração batendo forte, o som do sangue correndo em minhas
veias.
Eu ouvia a respiração do meu pai, e me arrastei até o exato centro da
cama
e esperei pelo que viria em seguida.”
(Bukowski, in “tO Filho de Satã”)
(Bukowski, in “tO Filho de Satã”)
Vive bem aquele que entende que o tempo
segue seu curso independente de nossa vontade. Nada é como e quando queremos. E
saber lidar com isso encarando o que vier, é dar a si próprio uma chance de
viver em paz com o mundo.
3- voando pelo espaço
“em algum lugar dentro
de mim
uma estranha
confiança
se erguia.”
(Bukowski, in “voando pelo espaço”)
(Bukowski, in “voando pelo espaço”)
“Tudo que preciso para ser feliz está em
mim”, eu já isso. Mas é que, as vezes, me perco de mim por aí. Isso é que ferra
tudo!
“as outras pessoas apenas
não
pareciam
valer muita coisa
para mim.”
(Bukowski, in “voando pelo espaço”)
(Bukowski, in “voando pelo espaço”)
Sei lá! Mas cada dia mais vejo as pessoas
como garrafas pet vazia.
“eu circulava
com esse
leve ar de desprezo
no rosto...”
(Bukowski, in “voando pelo espaço”)
(Bukowski, in “voando pelo espaço”)
Não é bem desprezo, sabe? Está mais para
indiferença. Estou cansada e sem disposição de fingir simpatia.
4- o incêndio do sonho
“ninguém ronca como um
vagabundo
exceto alguém que é casado
com você ”
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)
Seria, então, o ronco um determinante de
intimidade? Ha ha ha... Amo Bukowski!
“mas a puta velha e
acabada
não sabia nem quem ela
era
o que dirá de
mim ”
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)
Essa mania que as pessoas têm de sentar no
próprio rabo para julgar o outro, e pior, de fazê-lo em nome de Deus; para mim,
é o maior exemplo do lado patético humano.
“à minha sorte
e meu destino
que aquela biblioteca estava
lá quando eu era
jovem e procurava me
agarrar a
alguma coisa
quando parecia não haver quase
nada ao meu
redor.”
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)
Fui uma adolescente leitora ávida. Perda
noites e fins de semana entre livros, pensamentos e papéis. Fui criada para
pensar ao invés de curtir crochês e panos de prato. Já me sentia diferente
naquela época. Hoje tenho certeza que sempre fui estranha. Me dou melhor com
bichos que com gente. Prefiro livro a TV. Só chamo de amigo aquele com quem
posso levar uma prosa produtiva entre uma cerveja e outra.
“VOCÊ NÃO PODE RETORNAR
PARA CASA.”
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)
(Bukowski, in “o incêndio do sonho”)
Acho que é assim que me sinto cada vez que
abro os olhos e ainda estou presa aqui.
5- o resumo
“eu arrumava um emprego
por um ou dois ou até mesmo três ou quatro
dias
mas chegaria a manhã em que não conseguiria ir
ao trabalho ”
(Bukowski, in “o resumo”)
(Bukowski, in “o resumo”)
Eu até gosto de trabalhar. O que me cansa
são os tais “colegas de trabalho” com suas conversas infindáveis sobre suas
vidas “perfeitas”. Gente chata e hipócrita!
“sentados naquelas peças
minúsculas
rindo, falando, engasgando, bebendo, nós
os ferrados
ali-
quase perfeitos, quase sábios mas
não de todo, isso teria estragado
tudo”
(Bukowski, in “o resumo”)
(Bukowski, in “o resumo”)
Imagine o seguinte cenário... Um quarto
simples, os olhos vagueando num excelente autor ao som de uma voz maravilhosa.
É onde estou agora. Estou me sentindo plena e confortável. Como se a vida
pudesse ser perfeita e a felicidade total fosse algo fácil. Na cama com Charles
Buk e Etta James... Puta que pariu! Isso que é ménage.
6- A Vida de Um Vagabundo
“Harry olhou para o céu
através das partículas. O céu estava azul, e isso era horrível.
Harry continuou olhando para o céu, tentando sentir alguma coisa.
Mas Harry não sentia nada. Nenhuma sensação de eternidade. Nem de Deus.
Nem mesmo do Diabo. Mas era preciso encontrar Deus primeiro se quisesse
encontrar o Diabo. Eles vinham nessa ordem.
Harry não gostava de pensamento graves. Pensamentos graves
podiam levar a erros graves.”
(Bukowski, in “A Vida de Um Vagabundo”)
(Bukowski, in “A Vida de Um Vagabundo”)
Tenho pensado muito sobre certo e errado,
pecados e virtudes, Deus e diabo... Acho que todo mundo, uma hora na vida,
pensa sobre essas coisas: os propósitos de Deus e as tentações do diabo. Será
que com tanta merda acontecendo por aí nesse mundo pré-apocalíptico – estou
sendo dramática propositalmente – eles estão com tempo para lembrar-se de mim?
Dizem que Deus não dorme... Sei lá! Fiquei com pena dEle de repente.
“Pairava no ar uma solidão
generalizada, um medo latente,
e a necessidade de estarem juntos e de conversar um pouco,
pois isso os acalmava.”
(Bukowski, in “A Vida de Um Vagabundo”)
(Bukowski, in “A Vida de Um Vagabundo”)
Talvez seja isso o porquê de eu não ser uma
criatura muito sociável: sinto-me solitária e por tanto, a solidão não me
assusta. Eu não sinto necessidade de ninguém comigo. Há momentos que me sinto
até invadida na presença de outros. Sou um ser solitário por natureza. Algumas
pessoas se aproximam de mim, talvez por curiosidade, mas depois de um tempo se
vão. Eu até sinto alguma tristeza. Todavia, é algo para o qual já estou
preparada. É triste, mas não me incomoda. É como ver um filme que você pensa
por alguns instantes depois do fim, mas se esquece quando começa a próxima
sessão.
7- Meu Melhor Amigo
“a verdadeira
escravidão humana
de homens que não
sabiam
que eram
escravos
que
realmente achavam
que eram eles os
escolhidos.”
(Bukowski, in “Meu Melhor Amigo”)
(Bukowski, in “Meu Melhor Amigo”)
Tenho visto essa gente por aí. Acorrentada
ao “ter” e todos os dias sendo chicoteadas por suas palavras e ações. O cheiro
de suas almas podres sendo escondida nas fragrâncias importadas. Capatazes
gerenciais a porta com seus chicotes executando cegamente as ordens de seus
capitães empresariais. E tem pobre no tronco rezando para ter um barraco
melhor. A escravidão moderna desconhece a cor da pele. E o idiota escravizado
desconhece os próprios grilhões vendo novelas na TV.
“cada homem
vence
a adversidade
de um modo
diferente.”
(Bukowski, in “Meu Melhor Amigo”)
(Bukowski, in “Meu Melhor Amigo”)
Uns procuram a fé, outros procuram as
drogas, eu procuro a poesia. Sobrevivo na marginalidade que ela me proporciona.
8- se você deixar que
eles o matem, eles o farão
“então bebi em homenagem
ao
velho,
Este velho aqui,
que tinha finalmente descoberto
como ser
gentil consigo
mesmo.”
(Bukowski, in “se você deixar que eles o matem, eles o farão”)
(Bukowski, in “se você deixar que eles o matem, eles o farão”)
Eu bebo e brindo ao dia que gritei o
primeiro “Vai te foder!”, e deixei de ser aquela Waleska que tentava agradar
aos “amigos”, ser filha perfeita, a esposa dedicada... E passei a ser essa
Waleska que vos fala. Filha da puta de plantão, fidelíssima a mim, dedicada ao
meu prazer. Só uma coisa não mudou em mim, meu conceito sobre maternidade. Ser
mãe ainda é algo sacro em mim.
9- Um Dia
“__ Quanta merda será que
um cara tem que aguentar
apenas para se manter vivo?
__ Muita – veio a resposta -, e nunca para...”
(Bukowski, in “Um Dia”)
(Bukowski, in “Um Dia”)
Tenho pensado sobre isso... Estou numa fase
ruim, sabe? Então, tenho pensado mais sobre essa coisa de viver, de realizar,
castigo, pecado... Nessas horas Deus não me parece muito justo. Estou sempre na
minha e quanto mais vivo assim parece que mais sou lançada nas pedras, entende?
Enquanto um monte de filho da puta está sempre na frente indo bem. Em algum
momento deve fazer sentido. Então, vou mantendo a fé que Deus. Se nada muda ao
menos conforta.
10- devemos
“devemos trazer
nossa própria luz
à
escuridão.
ninguém fará
isso
por nós.”
(Bukowski, in “devemos”)
(Bukowski, in “devemos”)
Que eu seja luz para o mundo. Que eu seja
força e sabedoria no caos. Que eu seja paz e confiança na tormenta. Que eu seja
o amanhã na crise. Então, para isso, que Deus não me falte no meu dia. – Orar
sempre me faz bem.
11- A VINGANÇA DOS
DESGRAÇADOS
“A última dose era sempre
triste.”
(Bukowski, in “A VINGANÇA DOS DESGRAÇADOS”)
(Bukowski, in “A VINGANÇA DOS DESGRAÇADOS”)
A última dose de tudo e em tudo é sempre a
mais difícil. É como sentir o adeus descer queimando a garganta e depois empestear
a alma. O último gole, o último beijo, o último adeus, o ponto final... Sempre
o pior de tudo e de todos. A queda, o fracasso, a falta de esperança...
Dolorido e na maioria das vezes necessário.
“__ Estive pensando...
__ Pensar não é bom... ”
(Bukowski, in “A VINGANÇA DOS DESGRAÇADOS”)
(Bukowski, in “A VINGANÇA DOS DESGRAÇADOS”)
Aceite o fardo, a ordem, o destino. É isso
que esperam de nós: o comum. Só assim terá paz e aceitação do resto. Acate
regras, conceitos, pré-conceitos. O mundo é dos que obedecem, os enquadrados.
Mas eu não sei aceitar, sem entender. Então, questiono. E como questiono sou
marginal, um aborto, uma criatura rejeitada pela maioria. E que se foda a
maioria, a sociedade. Eu preciso é de sonhos, de álcool, de poesia.
12- O grande relaxado
“eu realmente me amava,
realmente amava o meu eu
relaxado”
(Bukowski, in “O grande relaxado”)
(Bukowski, in “O grande relaxado”)
Largo tudo meu - coisas, papéis, pessoas,
versos - tudo espalhado por aí. Cabelos desarrumados, roupas desalinhadas, alma
desajustada. Fragmentos confusos. Um tanto de cabeça no chão e um pouco de pé
na lua.
13- este bêbado no banco
de bar ao lado
“perdoe-me, mas
normalmente sinto como se estivesse caminhando
Pelos dutos do próprio inferno”
(Bukowski, in “este bêbado no banco de bar ao lado”)
(Bukowski, in “este bêbado no banco de bar ao lado”)
Vez ou outra tiro para passear em meus
labirintos. Levo meu eu-lírico comigo. Algumas vielas minhas são tão lindas!
Flores, borboletas, cores, sol. Chego até a pensar que há esperança para mim.
Ali fico egoísta. Não converso. Só sinto. São nas vias escuras que disparo a
falar. E o meu eu-lírico se empolga. Chora, grita e geme versos. Pensando bem
esses caminhos também são bonitos. Eu deveria ficar egoísta lá também. Mas o
meu eu-lírico não aceita se calar.
14- bocejo...
“cada pessoa, suponho, tem
suas excentricidades
mas em um esforço para parecer
normal
aos olhos do
mundo
elas as superam
e desse modo
destroem seu
algo a mais.”
(Bukowski, in “bocejo...”)
(Bukowski, in “bocejo...”)
Acho que sou apaixonada por minha loucura,
que divorciar-me dela por questões sociais me parece inconcebível. Está vendo?
A loucura é como uma dessas mulheres que a maioria sonha em comer, mas sou eu
que a abraço e durmo com ela.
“penso que foi a principal razão
por que decidi me tornar um
escritor: posso bater à máquina
a qualquer hora e
dormir
na hora em que vier a porra da
vontade.”
(Bukowski, in “bocejo...”)
(Bukowski, in “bocejo...”)
Por que será que virei poetisa? Preciso
achar uma razão para tudo isso!
15- eliminando as
patentes
“então eles falam de Deus,
de um jeito plácido, você sabe, eles não querem
forçar você a nada mas...”
(Bukowski, in “eliminando as patentes”)
(Bukowski, in “eliminando as patentes”)
Por que as pessoas acham que você não anda
com a bíblia para todo canto, culpando a Deus e o demônio por cada dor de
estômago, você não tem Deus em sua vida? Tenho certeza que Deus está comigo o
tempo todo para mim e em mim. Deus, na minha concepção curte praia, blues,
rock, bebida gelada e uma boa conversa fiada no fim da tarde desde que não
envolva a vida alheia. E Ele está vendo você na missa falando do colega ao
lado, viu!
16- AÇÃO
“A estrada para o inferno
era repleta de companhia,
mas ainda assim era terrivelmente solitária.”
(Bukowski, in “AÇÃO”)
(Bukowski, in “AÇÃO”)
A noite e suas criaturas me atraem. Isso
parece assustador para a grande maioria. Mas penso que a noite é um véu que
cobre todos os marginalizados e incompreendidos numa cumplicidade, carinho e admiração
que não se explica. Para mim, o céu habita o dia com seus anjos perfeitos. O
inferno habita a noite com suas tentações. A perfeição me cansa. Já as
tentações... Hummmmm....
17- gosto dos seus livros
“’Que tipo de regra é
essa?’,
ele perguntou.’Deus não faz
regras...’
Me virei e olhei para ele:
‘talvez não, mas eu
faço’.
(Bukowski, in “gosto dos seus livros”)
(Bukowski, in “gosto dos seus livros”)
Deus me deu livre arbítrio. Faço uso dele
consciente de que terei de arcar com consequências de meus atos. Então, não me
falem de leis para entrar no céu ou ir para o inferno – cuja entrada é grátis
-; só me deixem ir. Quando chegar o momento do embarque, Deus, o diabo e eu
sentaremos em alguma mesa de bar para decidir meu destino.
18- CAMUS
“o problema com a História
dos Homens é que ela não leva a lugar nenhum
senão à morte inevitável do indivíduo, e isso era banal e grotesco,
lixo à espera de ser recolhido.”
(Bukowski, in “CAMUS”)
(Bukowski, in “CAMUS”)
Penso que a morte ou o medo dela é o que
mais aproxima os homens. Diante de uma notícia de morte, os homens
questionam-se, refletem, e quando podem, até mudam um pouco. A morte é um
estado justo de igualdade. Ninguém consegue ter mais que o outro, feder menos
que o outro... Todo mundo tem uma história de velório e enterro para contar
(Lembrei da morte tão bem trabalhada no texto “A Morte de
Ivan Ilitch” de Tolstói) e sempre o fazem como um desabafo. É uma maneira de dizer “Ainda estou
vivo!”, eu acho. A morte é a certeza de todos e a sua maior angústia. Por isso,
ela é tão fascinante para mim. Uma mulher misteriosa e solitária escondida sob
um véu escuro... Uma rainha solitária
que um dia me beijará e me tornará igual a qualquer outro.
“__ A maioria dos homens é
terrivelmente
Incompetente em sua profissão “
(Bukowski, in “CAMUS”)
(Bukowski, in “CAMUS”)
A merda é ter uma profissão. Devíamos todos
fazer de tudo um pouco. A rotina disso ou daquilo é saco! Ah, sei lá! De
repente tenho o espírito cigano e aí isso justificaria essa minha vontade de
não parar em nada por muito tempo.
“__ O poder destrói –
Larry disse a eles -,
e falta dele cria um mundo de desajustados.”
(Bukowski, in “CAMUS”)
(Bukowski, in “CAMUS”)
Eu me sinto desajustada. E há muitos
poderosos a minha volta com suas regras e deveres. Acho os poderosos estranhos
e eles devem pensar em mim dessa forma também. Até obedeço de vez em quando algumas
regras. Mas na grande maioria das vezes, eu as nego ou só finjo obedecê-las. Só
isso!
19- não do mesmo molde
“há
todo tipo
de
loucos
alguns mais
talentosos
em seus caminhos
do que os
sobrenumerosos
estúpidos
estupidamente
são
(Bukowski, in “não do mesmo molde”)
(Bukowski, in “não do mesmo molde”)
A maioria chama de loucura o que escapa do
seu entendimento ou domínio. Eu já fui chamada de louca várias vezes por
compartilhar ver meus pensamentos confusos, complexos e, as vezes, paradoxos
por aí. Não sei porque levam tão a sério o que eu digo. Geralmente o que nada
me diz eu ponho de lado. Mas a maioria parece estranhar e se incomodar daí
alguns me atacam me chamando de louca ou paranoica. Penso que sou estranha com
esse meu jeitão observador, ferino, taciturno..., mas não chego a ser louca.
Pelo menos acho que não. Mas dizem que os loucos não reconhecem a própria
loucura, não é mesmo? Então...
20- FAMA
“__ Porra, cara, olhe o
dinheiro que você está ganhando!
Um pouquinho de sofrimento não vai mal.”
(Bukowski, in “FAMA”)
(Bukowski, in “FAMA”)
Dinheiro... Dinheiro... Dinheiro... Eu até
gosto e quero dinheiro, mas só porque preciso dele para conseguir minhas
coisas. Contudo, não mudo o que sou por dinheiro e nem tenho amizade só porque
fulano é influente. Já perdi emprego por mandar patrão à merda. Paciência tem
limites e meu limite é sagrado. Estou trabalhando agora em um ambiente péssimo.
Gente ferrada metida a bacana. Não serei a melhor amiga de ninguém por lá, eu
sei. Mas eles me divertem. O ser humano me diverte. - Vocês sabem! - E quando
são patéticos a diversão é dobrada.
21- ruína
“sempre haverá alguma
coisa
para arruinar nossas vidas”
(Bukowski, in “ruína”)
(Bukowski, in “ruína”)
Manhã linda, tarde paradisíaca, noite de
verão. O homem dos sonhos, a mulher ideal, o romance perfeito. Daí do nada a
manhã vira trabalho pesado, a tarde fica nublada e a noite vira insônia. O
homem se vai com outra, a mulher vira uma chata faladeira e o romance se limita
a algo entediante de Nicholas Sparks. E de tudo ainda fica o vinho e os livros,
algumas lembranças e talvez saudade. Afinal, a vida nem sempre é uma merda!
“estamos sempre
no ponto e prontos
para sermos
tomados.”
(Bukowski, in “ruína”)
(Bukowski, in “ruína”)
Essa é a sensação que tenho: estamos sempre
de malas prontas. Então, vamos lá Vida!!! Vamos agitar que a viagem é certa e
sem destino conhecido. Viver é ir adiante. Aproveitando cada momento da melhor
maneira possível.
“é somente quando
aquela vida
arruinada
torna-se a nossa
que percebemos
então
que os suicídios, as
bebedeiras, a loucura, a
cadeia, as boletas
e etc. etc.
são coisas normais”
(Bukowski, in “ruína”)
(Bukowski, in “ruína”)
Podem até não ser tão normais, mas são
explicáveis. É incrível como a grande maioria torna menor a ruína alheia. Odeio
o tal “Se fosse comigo...”. Eu respeito dores, sentimentos e emoções. Realmente
respeito! E fico irada se não fazem o mesmo comigo. Ninguém conhece minha
cabeça e meu coração. Só eu posso saber as dores que carrego comigo como só
você conhece as suas.
22- ASAS SEM LIMITES
“Não me entendam mal,
ela era uma alma relativamente boa,
mas o mundo está cheio de almas
relativamente boas ”
(Bukowski, in “ASAS SEM LIMITES”)
(Bukowski, in “ASAS SEM LIMITES”)
Observando as pessoas descobri que somente
10% dos que falam e pregam em nome de Deus vivem o que falam e pregam. O nível
de canalhice dentro das repartições religiosas me faz entender o número crescente
de agnósticos e ateus. Eu particularmente tenho preferido me sentar com os
“maus exemplos” haja vista que se eles me aprontarem uma sacanagem não me
decepcionarão.
“quando
se está em cima do último segundo de cada minuto,
é
melhor evitar as merdas dos outros.”
(Bukowski, in “Asas Sem Limites”)
(Bukowski, in “Asas Sem Limites”)
Tenho
ficado cada dia mais quieta e observadora. Pior é que ainda assim desperto
confusão porque estou quieta e observadora. Acho que estou velha. Com certeza
estou velha nessa minha fase! E ninguém respeita os velhos hoje em dia.
“Bem,
eu pensei, agora passamos de odiar mascas
a
odiar seres humanos.
Ambos
são difíceis de suportar. ”
(Bukowski, in “Asas Sem Limites”)
(Bukowski, in “Asas Sem Limites”)
Acho
moscas mais amáveis que seres humanos. Perdoem-me, mas a humanidade está cada
vez mais decrépita e eu mais impaciente com ela. Prefiro o zumbido de uma mosca
a voz sínica, hipócrita e venenosa de humanos que só sabem andar por aí
perturbando, caluniando, julgando... Será que Raul Seixas também se sentia
assim? Aí, cara! Eu sou a mosca que pousou na sua sopa...
23- postal
23- postal
“é
curioso como as pessoas costumam
insistir
em ligações
quando
não há nenhuma”
(Bukowski, in “Asas Sem Limites”)
(Bukowski, in “Asas Sem Limites”)
Sou
uma criatura seletiva. Não me encanto com elogios e sorrisos. É preciso que o
santo cruze, sabe? Chamam-me de metida e até de anti-social. Eu prefiro
“seletiva” ou “reservada”. Minha vida não é filme para ser assistido com
curiosidade. Quem entra em minha vida sabe meus limites e me respeitam. Isso!
Eu aprecio respeito. Se não deixo você entrar em certo ponto de minha vida é
melhor respeitar. Há pequenos espaços escondido nos meus recantos que são
perigosos a quem não é forte o suficiente.
24- causa e efeito
“os
melhores em geral morrem por suas próprias mãos
apenas
para sair do caminho. ”
(Bukowski, in “causa e efeito”)
(Bukowski, in “causa e efeito”)
Minha
mãe assustou-se quando eu disse certa vez que não remoo a partida de ninguém da
minha vida. Ela disse que sou fria. Se eu posso sair da vida de qualquer um e
não ser lembrada, porque devo viver de passado? Quando sinto que posso fazer
mal a alguém simplesmente me vou. Então, quando alguém se vai de mim, eu acho
que é pela mesma razão: piedade.
25- UMA NOITE RUIM
“Mas gradualmente os casamentos
se
transformam em trabalhos ”
(Bukowski, in “UMA NOITE RUIM”)
(Bukowski, in “UMA NOITE RUIM”)
E
não é sempre assim? Depois de um tempo sorrisos no retrato e desconhecidos no
colchão dormindo lado a lado. Não quero mais casamento. Não deixo de querer
amar ou de estar apaixonada, mas casar não quero. Se for para viver uma peça,
me deixem sozinha no palco. Porque sozinha só enceno comédias.
26- no rebote
“é
comum, ele disse depois de uma separação,
ficar
ali sentado sentindo como se a alma tivesse sido
decapitada
ou o
que quer que você tenha no lugar de uma
alma
”
(Bukowski, in “no rebote”)
(Bukowski, in “no rebote”)
Quando
me separei experimentei na carne os contrapontos emocionais. Pensava “Acho que
vou morrer!”, então me deitava completamente espalhada na cama e o prazer de
ter a cama e quatro travesseiros só para mim me confortavam tanto que eu dormia
o sono dos justos. As vezes, a crise vinha ao ver um filme sozinha a noite e eu
pensava como seria bom tê-lo ali comigo. Depois lembrava que se não fosse um
filme do agrado dele, fatalmente ele estaria dormindo. Sei lá! Acho que eu não
curtia meu casamento tanto assim.
27- sopra um vento fresco, selvagem...
“sou
um cara bobão, chego fácil a alegria ou até mesmo
aquela
alegria estúpida por quase nada
e se
deixado sozinho fico bastante contente.”
(Bukowski, in “sopra um vento fresco, selvagem...”)
(Bukowski, in “sopra um vento fresco, selvagem...”)
Dou
altas gargalhadas quando estou comigo. Acho-me uma companhia agradável e
interessante. Igual prazer, só encontro quando estou com minha cachorra. É que
ela tem um olhar muito acolhedor. Visitas de amigos são até legais, mas quando
estamos minha cachorra e eu é que me sinto mais confortável. Coisas de maluco!
Mas quem se importa com isso?
28- TRAGA-ME SEU AMOR
“__
Vou ficar aqui por perto uns dois dias
-
disse Harry com suavidade – Posso trazer o que você quiser.
__
Me traga seu amor, então –
Ela
gritou. – Por que diabos você não me traz o seu amor?”
(Bukowski, in “TRAGA-ME SEU AMOR”)
(Bukowski, in “TRAGA-ME SEU AMOR”)
É
muito comum alguém nos oferecer tudo. Tudo que é banal e comum. Casa, carro,
jóia, chocolates, flores, perfumes... Mas onde vão parar os sentimentos? Queria
achar alguém capaz de me dar amor real. Aquele amor que fica ao lado apesar
de, sabe como? Queria lealdade apesar da
tentação, cumplicidade apesar da incerteza, uma gargalhada de tirar o fôlego,
um choro de tirar o sono, um gemido de tirar o juízo. Quero alguém que seja
capaz de me dar amor ao invés de maçãs ou cestas de café da manhã.
29- O Rapto de Nossa Senhora
“expor
suas entranhas no papel
assusta
a alguns
e
com
razão:
quanto
mais você escreve
mais
você se
abre
para
aqueles que se denominam
“críticos”.”
(Bukowski, in “O Rapto de Nossa Senhora”)
(Bukowski, in “O Rapto de Nossa Senhora”)
Escrever
é como tirar de si uma parte que nos forma para deixar que outros a explorem e
a interpretem da maneira que lhes convier. Escrever é rasgar o peito e por a
prova o coração. É doar a alma muitas vezes a quem não tem compaixão. Admitir
amor, admitir loucura, admitir que somos diferenças. Escrever é entregar-se ao
perigo de ser julgado por insensíveis e de ser amado por outros frágeis
marginalizados. Para mim, escrever é o transbordar das emoções que me pesam.
Sem escrever sou nada admitido.
“Você
está cagando para como
eles
escrevem o poema”
(Bukowski, in “O Rapto de Nossa Senhora”)
(Bukowski, in “O Rapto de Nossa Senhora”)
Certa
vez me perguntaram da funcionalidade do que escrevo. Como pode ser tamanha
idiotice? Escrevo e pronto! E o faço por mim. Por amor arrasto meu caos, meus
farrapos, meus múltiplos eus por linhas inteiras. Ora abortivas ora verminosas,
pruridas... A função do que escrevo é manter-me viva dentro da normalidade
venenosa que tenta todo dia me ver morta.
30- esta profissão tão delicada
“você
pode pensar sobre escrever
até
que não consiga mais escrever.”
(Bukowski, in “esta profissão tão delicada”)
(Bukowski, in “esta profissão tão delicada”)
Tem
dia que há tantas idéias gritando “Sou eu a sair hoje!” que quase fica um
redemoinho aqui dentro. Nada sai porque nenhuma idéia cede a vez à outra.
Então, pego o papel e rabisco furiosamente e de um monte de rabiscos ela vem.
Uma borboleta... Sempre ficam borboletas quando tudo é caos em mim.
31- OS ESCRITORES
Bukowski
por Bukowski! Ao ler esse conto tive a sensação de ver dois “eus” Bukowskianos
sentados discutindo sobre o próprio Bukowski. Divertidíssimo! Quantos de nós
tivemos a chance de ser avaliado pelos “eus” que nos habitam? Sem dúvida alguma
o melhor conto de todo o livro. O fazer literário escrito e descrito de modo
ímpar pelo gênio e os pequenos gênios (almas) que o habitavam. Um Buk
consciente de todas as suas limitações, fracassos, diferenças e o mais
espantoso; um Buk consciente de estar além de seu tempo. Certo de que sua fama
só viria muito depois de sua morte.
32- companhia
“os
olhos veem através dos muros,
muros
de humanidade”
(Bukowski, in “companhia”)
(Bukowski, in “companhia”)
Posso
esconder medos em palavras de euforia. Posso esconder dores em gestos de
coragem. Posso falar de amor enquanto o peito queima de ódio, indiferença ou
saudade. Mas não posso negar o que transborda dos olhos. Os olhos não mentem as
dores, as alegrias, os amores. Escondo meu olhar em óculos de sol para não ter
que justificar nada, nem mesmo confessar. Mas ainda assim, as vezes, meus olhos
encontram aqueles olhos e teimosamente sussurram “te amo!”.
33- BLOQUEADO
“escrever
leva alguém para lugares rarefeitos,
tornava-o
estranho, um desajustado”
(Bukowski, in “BLOQUEADO”)
(Bukowski, in “BLOQUEADO”)
Desde
que passei a publicar meus pensamentos, a minha relação com o mundo é de amor e
ódio. Uma grande parte de loucos como eu admiram meus pensamentos e ora os
complementam ora simplesmente concordam. Em contraponto há os que me contestam.
Alguns porque realmente discordam de mim, outros discordam porque para eles é
difícil demais admitir que possam ser um pouco como eu.
34- a boa e velha máquina
“escritores,
meu amigo,às vezes conseguem
apenas
escrever...”
(Bukowski, in “a boa e velha máquina”)
(Bukowski, in “a boa e velha máquina”)
Sinto
isso, as vezes. Sou boa em escrever. Em estar comigo vendo meus pensamentos
sendo jorrados na folha. Meus filhos nascidos. Saídos do campo das idéias para
o mundo prático. E por trás dos vidros, olhos curiosos os admiram. Sou uma
criatura feita para gerar o tudo onde a maioria enxerga o nada.
35- CHEGA DE CANÇÕES DE AMOR
“Toda
vez que renovo minha carteira de motorista
começo
a me dar conta de como estou velho,
e
isso é um sinal de que se está indo em direção ao túmulo,
um
sinal muito mais revelador do que noites de ano novo
ou
aniversários, e, embora eu realmente não me importe
de
morrer, a certeza de que morrerei me desagrada.”
(Bukowski, in “CHEGA DE CANÇÕES DE AMOR”)
(Bukowski, in “CHEGA DE CANÇÕES DE AMOR”)
“A
grande certeza” é assim que chamo intimamente a morte. Eu não me assusto com
ela. Acho que no fundo o grande medo é de como ela vai chegar. Amo fazer
aniversários, mesmo sabendo que estou pondo um cravo a mais no meu caixão. A propósito,
por que cravos? Ah, pela amor! Ponham rosas ou margaridas. Melhor! Não ponham
nada! A flor apodrece e vai juntar com meu cheiro cadavérico vai virar um
horror. Ponham livros no meu caixão. Edições de bolso para caber mais. Assim
vai ficar bem legal!
36- tentando apenas arrumar um servicinho
“e
tento me colocar
o
mais longe
possível
das outras
pessoas.”
(Bukowski, in “tentando apenas arrumar um servicinho”)
(Bukowski, in “tentando apenas arrumar um servicinho”)
Eu
gosto da sensação de não ter ninguém me olhando ou esperando alguma palavra. O
silêncio é algo que me preenche, sabe? Pode ser interrompido por música ou
poesia; barulho de teclado ou virar de página; as vezes, som de buzina também
são legais. Contudo, toque de telefone e campainha me deixam tensa.
“sempre
há alguma coisa
perseguindo
um
homem.”
(Bukowski, in “tentando um servicinho”)
(Bukowski, in “tentando um servicinho”)
Alguém
me disse esses dias que há um demônio para cada ser vivo, assim como há um
anjo. Me senti meio invadida. Sempre me achei solitária e agora me sinto numa
espécie de Reality Show divino. Essa coisa de religião, fé, ciência, céu,
inferno... É complexa demais até para alguém como eu.
37- sempre
“a
coisa que
importa
é
a
coisa
óbvia
que
ninguém
está
dizendo.
(Bukowski, in “sempre”)
(Bukowski, in “sempre”)
Fácil
entender, Buk! O ser humano tem uma enorme facilidade de comentar o óbvio, de
parafrasear o já dito e de acrescentar elementos desnecessários depois do ponto
final. Por isso, curto literatura, sabe? Não há nada além da última página.
Talvez só alguns pensamentos, mas todos pertencem só a mim.
38- ELIMINAÇÃO
“Os
pobres vinham assistir
aos
milionários jogar.”
(Bukowski, in “ELIMINAÇÃO”)
(Bukowski, in “ELIMINAÇÃO”)
Alguma
semelhança com os jogos de hoje em dia? Ha! Ha! Ha! Você se sentiu um idiota?
39- dias e noites
“...este
idiota sorrindo
internamente:
as coisas nunca foram muito
boas,
talvez não tenham mesmo de
ser.”
(Bukowski, in “dias e noites”)
(Bukowski, in “dias e noites”)
Esperança
faz com que tentemos ver flores entre as pedras do caminho. Tenho a impressão
de que felicidade é, na maior parte do tempo, uma ilusão que criamos para
suportar todo o resto.
40- meu pai
“era
um homem realmente incrível.
ele
fingia ser
rico
(Bukowski, in “meu pai”)
(Bukowski, in “meu pai”)
Meu
pai foi também o homem mais incrível que conheci. Acho que ele poderia ser o
que quisesse ter sido. Ele fez a opção de ser livre e foi. É difícil ser livre!
Eu invejo meu pai.
41- .191
“_
Dizem que se você não pode ser nem pontual,
não
pode ser nada.”
(Bukowski, in “.191”)
(Bukowski, in “.191”)
Vou
dizer isso ao “amor da minha vida”, porque sinto que a hora já está bem
adiantada e se ele continuar se demorando vai se atrasar.
42- um amigo
“’não
passo de um velho fodido’, ele responde, ‘o bom Senhor não
me
leva e o diabo não me
quer...”
(Bukowski, in “um amigo”)
(Bukowski, in “um amigo”)
Há
dias em que me levanto e as pernas pesam, a cabeça está confusa. Não é ressaca,
mas é como se fosse só que sem aquele gosto ruim na boca. Daí penso: quero
morrer agora. Mas tudo fica parado. Não morro. Então, me levanto, me banho,
tomo meu café e vejo as notícias antes do trabalho. É a rotina, sabe? De certa
forma é a morte também.
“às
vezes é preciso mais coragem
para
estar vivo
do
que morto.”
(Bukowski, in “um amigo”)
(Bukowski, in “um amigo”)
A
morte sempre parece solução. As cartas psicografadas são sempre tão lindas, tão
cheias de esperanças e pássaros azuis. Eu queria saber se é verdade. Mas tudo
que tenho são gente que agora cheiram a cerveja ou perfume barato ou os dois ao
mesmo tempo. E de repente eu noto um dragão num braço de 45 anos e penso que eu
se eu puder passear naquele dragão tudo valerá a pena.
43- ouro em seus olhos
“este
poema é para aqueles que pensam que
um
homem só pode ser um gênio
criativo
quando
chega ao
limite
embora
eles nunca tenham tido
coragem
de ir
até
lá.”
(Bukowski, in “ouro em seus olhos”)
(Bukowski, in “ouro em seus olhos”)
Eu
fui, Buk! Fui ao extremo, enlouqueci. Fui até onde a razão se enforca numa
corda de ceticismo. E abortei poemas, amputei prosas, morri sem rimas. Mas me
regaram com simpatia e cresci de novo entre o cinza lúcido e o púrpura piração.
Ah, Buk, a poesia pode morrer de inanição numa BMW, enquanto se olha uma praça
cheia de gente crítica e comum. Brindando com vinho o gênio que é, apesar dos
bancos de parque e federais. Porque a poesia é o suor dos meus poros que
escorrem enquanto eu tento ir lá de novo. Lá onde poucos conseguem ir e
sobreviver.
44- SOZINHO NO TOPO
“É
preciso pagar um preço terrível para se manter no topo.”
(Bukowski, in “SOZINHO NO TOPO”)
(Bukowski, in “SOZINHO NO TOPO”)
Qual
o meu lugar na história? Eu sempre me pergunto isso. Onde eu faço diferença na
coisa toda? Dizem que todos e tudo são responsáveis pelo curso da vida. E se de
repente eu virar a esquerda quando o correto seria a direita; o que eu mudei na
sua história? Eu estou aqui porque tenho você aí. Mas e se de repente eu...
45- engraçado, não?
“onde
foram
parar
as pessoas
como
eu?”
(Bukowski, in “engraçado, não?”)
(Bukowski, in “engraçado, não?”)
Falo
sempre de solidão porque sinto isso: acabaram-se no mundo as pessoas como eu.
Quero agora e urgente uma passagem para Plutão! Quero voltar a ser um escorpião
no meu planeta anão.
46- o último lugar para se esconder
“’crianças’,
Heather diz,
‘nunca
mentem, pergunte a elas
o
que acham de você e elas
sempre
dirão a
verdade.’”
(Bukowski, in “o último lugar ara se esconder”)
(Bukowski, in “o último lugar ara se esconder”)
E
serão lindas verdades principalmente se ditas diante de um presente como um
tablet ou um i-phone.
47- um pouco de jardinagem
“todas
as esperas
não
são nada de
mais:
apenas parte do
espaço
entre as
agonias”
(Bukowski, in “um pouco de jardinagem”)
(Bukowski, in “um pouco de jardinagem”)
Estou
esperando meu momento, um novo tempo, algum dinheiro, um novo sonho, um novo
amor. A vida é uma espera intensa e agonizante e a cada dia a gente espera que
não seja o último. Não seria justo ser o último sem que todas as outras coisas
tivessem chegado.
“nós
somos os
liquidados
sinalizando
através do
tempo
– aquelas montanhas ao
norte
– enquanto
o
espaço se
fecha.”
(Bukowski, in “um pouco de jardinagem”)
(Bukowski, in “um pouco de jardinagem”)
Não
quero me tornar uma dessas velhas que fazem tricô. Quero ser uma velha que ouve
Pink Floyd, bebe cerveja, que lê e pensa sobre mundo. Quero o direito de não
pensar em horas nem em datas. Quero me perder da história até morrer.
48- no Sizzler
“viro
minha cabeça
olho
para outro lugar.
onde
estão as pessoas reais?
ainda
existem?
são
para existir?
o
que eu quero?
enquanto
o mundo oscila para a
direita
e os
cães latem dentro do meu
cérebro.”
(Bukowski, in “no Sizzler”)
(Bukowski, in “no Sizzler”)
Tenho
quarenta e três. Estou pirando. Desequilibrada. Acho que desde os quinze não
sei o que é equilíbrio perfeito. Estou sempre tendendo para lá ou para cá. Mas
me moldo às tendências. Acho que isso é poético: enlouquecer ciente de que sua
loucura produz mais efeito na sociedade que a sanidade dos tiranos. Estou
envelhecendo com louca qualidade, enfim. E fim!
49- O VENCEDOR
“A
platéia na está nem aí pra você.
Você
tem que se preocupar é com você mesmo!”
(Bukowski, in “O VENCEDOR”)
(Bukowski, in “O VENCEDOR”)
Não
adianta o que fizer sempre haverá quem verá um defeito seu, o seu ponto
negativo. Não espere uma platéia inteira aplaudindo de pé. Isso não existe!
Então, atue de forma que você fique em paz consigo. Só você pode medir o
tamanho dos seus esforços.
50- anemia
perniciosa
“poderia
apenas dispensar
o
resto de vida,
esperando
serenamente pela
morte.
[...]
deixe
que haja luz!
deixe
que haja eu!
vou
vencer
as
adversidades
mais
uma
vez.”
(Bukowski, in “anemia perniciosa”)
(Bukowski, in “anemia perniciosa”)
É o
fim! Não valho nada! Não mereço estar aqui! – E depressivamente deitei-me
olhando o teto, contando o tempo. E o passar das horas se tornou monótono, e o
corpo doía em câimbras. Estou viva! Deve haver uma razão. Um a louca razão
divina. Deus nunca me pareceu muito convencional mesmo. Então, estou aqui...
Para mais uma dose, outra página, novo livro... Enfim, viver!
51- celebrando isto
“você
nem pensa sobre ser um escritor
você
apenas esvazia a mente e vaga como um zumbi
e
aí
está a razão de ser da
vida”
(Bukowski, in “celebrando isto”)
(Bukowski, in “celebrando isto”)
É
isso aí você tem o dom ou não. O Escritor é um grande sacana que consegue
descrever o mundo de modo que ninguém antes conseguiu. E nem há texto bom ou
ruim. O que há é identificação ou não com o autor. O Bukowski é fonte
inspiradora para mim, mas pode acreditar que em algum lugar há alguém o
chamando de lixo.
“sim,
escrever é o melhor jeito
de
ir.”
(Bukowski, in “celebrando isto”)
(Bukowski, in “celebrando isto”)
Em
conversa perguntei ao meu analista se era normal rabiscar o livro como eu faço
normalmente. Ele disse que esse foi o meio que eu achei para conversar comigo e
com o mundo. E que além de saudável é um exercício de autoconhecimento. Parei
para analisar o que ele disse. Nunca aceito a opinião dele de cara, mas dessa
vez tive que concordar.
“Não
importa:
não preciso
de nada mais que meus dedos
para
bater à máquina
e de
uma
mínima
quantidade
de
dor.”
(Bukowski, in “celebrando isto”)
(Bukowski, in “celebrando isto”)
E
assim funciona o escritor: sentindo. Não importa de quem é e como é a dor de
fato, se sua própria ou de outro; o que importa é receber essa emoção com o
coração aberto, a alma pronta e deixar fluir cada palavra até que esse
sentimento se esgote para nascer o próximo.
52- Sorte
“certa
vez
fomos
jovens
nesta
máquina...”
(Bukowski, in “Sorte”)
(Bukowski, in “Sorte”)
A
vida é uma máquina precisa. Vai para frente sempre e nos arrasta junto. Não
pára nunca. Mas de repente não fazemos mais parte dela.
♥ FIM ♥