quinta-feira, 4 de junho de 2015

Só Mais Uma Noite Insone


Mais uma noite sem lua e estrelas. Mais uma noite insone. Olhando pela janela outra paisagem, mesmas dúvidas na cabeça, mesmo silêncio. Outro cigarro, um gole de café. Estou evitando o vinho. Tenho sentido dores e elas me deixam irritada. Deveria evitar o cigarro também. Um outro dia com certeza, eu paro.

Chove. Chove muito. Eu tenho medo de temporal, mas me chamaram de tempestade. Por que será, então, que temo a chuva? Acho que não sou tempestade. Sou o que a precede. Sou ventania, sou escuridão. Sou as primeiras gotas que levantam o cheiro nostálgico de terra molhada. É isso! Eu sou nostalgia.

Dei para contar os dias de minha vida. Hoje menos um. Um dia eu comemoro em outros me entristeço. Há dias que me esqueço e nesses dias sinto uma vontade louca de ficar. Entretanto, há dias que você me faz lembrar e então, vem a insônia, o cigarro e a saudade me dizer: ”arrume as malas chega disso aqui”.

Hoje é um desses dias. Desde que amanheceu estou sentindo uma vontade louca de ir. Todos os rostos que me olharam foram estranhos e todas as vozes foram distantes. Todos os nomes não reconheci. Um dia de solidão, um dia de vazio, um dia a menos... Que alívio eu sinto! Um dia a menos!

Chove! E o vento traz gotículas para molhar meu rosto, braços, cabelos... Eu gosto do vento. Ele me traz uma sensação boa de liberdade. E quando ele me toca assim é como se ele quisesse me levar com ele ou me trazer lembranças de outras terras. Hoje ele me trouxe gotinhas de chuva. Acho que hoje o vento chora comigo. É isso! Hoje, o vento está chorando o meu dia a menos. E eu choro com ele. Como sempre sem ninguém ver. Ninguém. Nem você.

“Ah, se tu soubesses como sou tão carinhosa e o muito muito o que te quero...” rs. Nunca vai saber! Só a noite, o cigarro, o café, a chuva, o vento, a minha solidão e eu saberemos do meu choro nessa noite a menos, em que você dorme tranqüilo em sua ignorância, do meu desejo por ti.

Trago meu cigarro. Bebo meu café já frio e sem graça. Lembro do vinho. O vinho mesmo quente não perde a graça. Eu deveria tomar uma taça de vinho hoje. Brindar a tua ausência que me dói no estômago.

Dizem que fumar mata, beber mata, saudade mata. Então, se eu fumo, bebo e morro de saudades de você; não entendo porque ainda não morri. A morte não me quer! Ou será o inferno que me rejeita? Nem uma coisa nem outra. É o filho da puta, sacana de uma figa do Cristo que me segura aqui só para me testar.

Olho para o céu:

__ Ei! Escuta aí! Pode testar! Testa! Testa! Testa! Ainda vou te encarar nos olhos e dizer: “Me testou por tantos anos, agora me paga uma Skol que enfim passei nessa porra de teste que você nos impõe todo dia, todo tempo.” E mesmo que você diga que eu não passei, eu vou insistir na cerveja. Porque alguém tem que te fazer relaxar. Só alguém muito estressado para criar testes tão difíceis todos os dias. Sargentão! - Risos.

Nem bebi e estou louca. Eu devia ter optado pelo vinho e esquecido o cigarro. Eu devia era estar dormindo como todos os seres normais desse mundinho medíocre. Mas não estou! Estou aqui! Acordada. Molhada. E com uma puta saudade de ti.

Então, eu vou ceder e vou beber um vinho. “Me entorpecer bebendo vinho...” Salve Ira! Salve anos 80! Salve minha adolescência! Salve meu estômago que não doía! Salve o vinho que eu não bebia! Salve o tempo que eu não te conhecia! Salve a saudade que eu não tinha! Salve o tempo em que eu vivia!

Eu não vivo mais. Eu sobrevivo. Eu resisto bravamente como o guerreiro no campo de batalha. Eu contra os testes do Cristo. Eu contra Ele. Eu contra a saudade. Eu contra a vontade. Eu contra mim.

Um dia a luta acaba. E eu vou me encontrar com o Cristo para tomar uma Skol divina lá no Paraíso. E Ele vai me dizer como todos dizem: “Você é mesmo uma neguinha sacana. Com seu jeito de tempestade, passou em todos os testes que te impus sem mostrar a ninguém suas lágrimas, seus medos e fragilidades. Morreu como uma mulher forte, tendo sido a vida inteira uma criança grande”. E vamos brindar com nossa Skol Celestial e Ele me dará enfim, o meu prêmio final: a capacidade de esquecer você.
(Waleska Zibetti)