domingo, 9 de agosto de 2015

Carta a um bobo


Querido bobo,
Às vezes guardamos na memória histórias contadas pelos nossos pais sobre o passado. Mas essas memórias herdadas são diferentes da realidade e diferentes das nossas próprias lembranças. É como se tivessem uma cor própria, não falo de preto e branco e nem em um tom de sépia ou nada assim, mas, que existe algo peculiar além do que foi contado.
Quando me vejo hoje na frente desse espelho e longe de casa penso nos "E se's" que a vida me mostra todos os dias. Não sei porque, talvez tenha a ver com tantos sonhos e imaginações nunca concluídos ou tenha a ver com o estranho limite entre tristezas e alegrias.
Enquanto viajava refleti toda a minha vida afetiva. Lembrei de quando achava lindo quando eu saia da escola e alguém me esperava com um sonoro "Nossa como queria te ver!", lembrei dos pores do sol no museu de arte moderna que enxugaram meus prantos e me fizeram ter novas esperanças. Lembrei do tanto que eu sonhei com beira de praia e caminhada de mãos dadas com quem não se importasse em ser eu a sua companhia.
Lembrei também do tanto eu quis , como uma formiga que trabalha em silêncio, tornar quem está perto de mim pessoas grandes, não forçando uma mudança mas, através do sentimento trocado e dos gestos aprendidos que o tornavam mais esperançosos e mais capazes de qualquer coisa que quisessem. 
Lembrei das palavras trocadas depois de mais um incomodo tal e qual uma faixa de cd arranhada... Silencio profundo nas minhas lágrimas derramadas e visualizo um filme do qual o final eu sei. Me perguntei por várias e várias vezes: 
- Por quê  é tão difícil perceber e entender o que me incomoda com tanta veemência? Será que eu estou sendo exagerada, será que eu estou sendo irracional?
- Ainda que seja simples o amor porque complicamos?
- Por quê esse filme em que a vida me fez passar insiste povoar minha memória tal qual um aviso?
E então... Queimei. Expeli e ardi! E mesmo que a dor passada é superada, a atitude presente revive e me faz questionar das coisas que quero eternamente esquecer. Diria Nietzsche "Abençoados são os esquecidos, pois eles tiram o melhor proveito dos seus equívocos." e por assim dizer não senti nada disso em doses homeopáticas meu bobo. Reconheço em mim a necessidade de sentir mais do que de pensar e percebo que às vezes perder o equilíbrio por amor, faz parte de viver a vida em equilíbrio.

Por chorar demais aqui me dispeço,
Bonita.