sexta-feira, 17 de abril de 2015

As Vantagens de Ser Invisível - Stephen Chbosky




As Vantagens de Ser Invisível
(Stephen Chbosky)

“Eu me sinto infinito”
(Stephen Chbosky, in “As Vantagens de Ser Invisível”)

Comecei a leitura desse livro porque havia me encantado com o filme. E sem a menor preocupação me deixei levar com Charlie vivenciando com carinho cada ponto de contato de nossas adolescências. E essa frase chamou minha atenção de modo especial.

Algumas vezes também me sinto assim: infinita. E tudo que se refere ao tempo perde o sentido porque sinto que estou além dele. É o que chamo de felicidade: pequenos pedaços de vida onde o tempo não importa, pois ele se eterniza em algum som, cor, cheiro, lugar ou alguém. E sempre que volto lá, sou infinita.

Como Charlie, tudo que quero é alguém que me olhe como gente. O que tiver de vir depois deverá ficar no depois. Mas hoje as pessoas não estão dispostas a esses olhares. Tudo pára no superficial. E de superficial estou cheia. Então, entendi os choros e confusões de ideia de Charlie como se fossem meus.

Meu conceito de viver bem está no simples. Quero pouco para dizer que estou feliz. Mas ainda assim acho que sentirei que terá alguma coisa faltando. Logo eu nunca serei cem por cento feliz ou triste. No máximo noventa e oito disso ou daquilo. O que não é ruim. A ausência de algo gera busca e a busca me motiva. Acho que é disso que adolescente que me habita se alimenta. E eu preciso muito dessa adolescente para suportar a mulher.

Embarcar no universo de Charlie me fez revirar antigos momentos e por várias vezes fechei o livro e os olhos para sonhar e revisitar velhos rostos ao som de algum rock dos anos oitenta – som de minha adolescência. E acho que nesse sentido o livro cumpriu seu papel.

Fui uma adolescente invisível e sou uma adulta invisível. Ao ver o que eu estava lendo meu analista me disse “Combina com você e sua voz afinada. É o que REALMENTE quer ser?”. Eu queria uma resposta impactante, mas só baixei a cabeça e fiquei em silêncio. E ele continuou: “Não é bom ser invisível. Não há vantagens nisso. O mundo espera por você. O mundo merece você como parte dele”. Eu queria dizer a ele que não sei ser parte do mundo. Que gosto do conforto que a marginalidade me traz. Estou numa zona segura onde só entra quem eu permito. Mas o jeito como ele colocou-me fez pensar se é mesmo uma zona de segurança, se estou mesmo confortável a margem dos outros, se não sofro mais assim. E Bill, professor de Charlie, diz que temos que deveríamos tomar parte. Eu deveria tomar parte... Talvez eu não tenha mais tempo para encontrar uma Sam ou um Patrick. E nunca me senti tão invisível como agora.

Mas a adolescente também tem canções. E eu as escuto centenas de vezes. E não fico tão sozinha. E tenho livros com quem converso. E tenho você que está lendo. Sou invisível, mas existo. E estou num túnel de braços abertos ouvindo Pink Floyd e me sentindo infinita dentro de meus pensamentos cuidadosamente selecionados para esse momento que só existe em meu pensamento.


O fato é que o livro é melhor que o filme. E a trilha proposta é incrível. E que a minha adolescente chorou e riu, apaixonou-se e enfureceu-se com Charlie e seus amigos. Experimente ser invisível também. Há vantagens, eu concluo, então. Vantagens que meu analista não entenderia, mas que eu entendo. E a adolescente sorri e segue a rua com seu jeans largo e ideias malucas, enquanto a mulher suspira parada de braços cruzados olhando o tempo, esperando a hora ou algo além. 
(Waleska Zibetti)