Não me olhe com essa cara de espanto, essa é a mais pura verdade: Quero ser uma amêndoa! Tudo bem, tudo bem. Eu vou explicar o porquê disso e então você me dirá se estou mesmo louca.
Repare bem um pote de amêndoas. Todas elas são iguais. Todas aparentemente com o mesmo tamanho, cor, peso... Mas aí, de repente vem um homem faminto de algo e pega o pote e fica olhando para as amêndoas. Ele tem fome. Mas com a ponta dos dedos ele revira o pote, e as amêndoas quase gritam: “A mim! Escolha a mim!”. E ele continua a virá-las e revira-las dentro do pote nem aí para seus apelos. E então, escolhe uma.
Poderia ser qualquer uma daquelas ali tão iguais entre si. Mas ele escolhe uma depois de dedilhar a todas. E ele a olha com desejo. Seus olhos brilham. Ele sorri. Há um prazer naquele sorriso que poucas mulheres já viram. Ele sorri segurando firme, mas com certa delicadeza a Escolhida. Não posso mais chama-la simplesmente de amêndoa. Ela é diferente das outras. Há algo nela que desperta desejo e fome naquele homem.
Ele pega a Escolhida e passa no mel. Ela chega ficar mole ali enquanto ele despeja sobre ela um pouco de mel. O mel se espalha sobre ela. A boca dele saliva. Desejo... Fome... Vontade... E ele passa a língua no mel que escorre nos seus dedos depois de descer da amêndoa. Será só mel ou a Escolhida vendo todo aquele desejo, toque e quase carícia daquele homem; ela mesma libera um pouco de mel?
Lá vai ele levando a Escolhida à boca. Ele ainda a olha com olhos vibrantes. O cheiro dela e do mel atiçam mais ainda seu desejo de devora-la. Por alguns segundos ele a prende nos dentes, sem mordê-la de fato. Talvez para sentir pela última vez o mel que ela deixa escorrer. Então ele lhe crava os dentes. Um gemido quase inaudível é solto no ar. Foi ele ou ela quem gemeu? Que importa! Agora ela é dele e ele a devora com prazer, com fome, com desejo...
Ela é dele... Não importa o que virá no próximo minuto. Se virão outras amêndoas ou não. Agora nesse momento é só ela e ele. E ela é dele. Ela que até um minuto atrás era só uma amêndoa num pote qualquer, igual a todas as outras que estavam lá; agora era a Escolhida e pertencia a alguém. Era diferente. Era única. Era dele!
(Waleska Zibetti)
(Waleska Zibetti)