quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Diálogos 1: Sobre Beleza




Ele disse que sou bonita. E eu não concordei, claro! Tenho espelho em casa, né? Mas ele não desistiu. Ficou batendo na mesma tecla:

__ É bonita! É bonita, sim!

Muito debochada, respondi:

__ Acha, então, que devo quebrar o meu espelho?
__ Sim! Colocaram na sua cabeça que você é feia. Você está sensível. Fragilizada.
__ É amigo! Acho mesmo que sou muito sensível. E isso não é uma coisa muito boa no mundo pragmático em que vivemos, sabia? Viramos alvo fácil! Estou tentando aprender a arte da camuflagem e me passar de mulher dura e cruel. Pode parecer estranho, mas ainda é a melhor maneira que encontrei para sobreviver.
__ Não vale a pena! Você não é assim. Tem gente que admira você.
__ Vou tentar acreditar.Penso até que me fará bem acreditar em algo assim. A esperança não deve morrer, não é? Dizem que ela é a mola-mestra que nos impulsiona para o dia seguinte.
__ Pára de ser negativa! Pára de se diminuir! Pára com isso de que é feia! - se zangou comigo.
__ Tenho o péssimo hábito de dizer tudo que me vai a cabeça. Digo de súbito, sem pensar. Isso não é bom, eu sei.
__ Você acha que sou bonito? Eu sou velho, gordo, careca...
__ Que seria do amarelo se todos gostassem do azul? Eu gosto de azul, de borboletas azuis. Rs... E também gosto de vinho. E você sabe o que dizem dos vinhos? Contudo, há os que dizem que vinho dá porre. Talvez! Mas só os vinhos baratos e aqueles que não são bebidos adequadamente. Eu sei beber vinho de gole em gole, deixando que ele me leve em todas as suas notas, suaves ou rascantes. Vinhos são para se beber como quem tenta um ponto de encontro com o divino.
__ Então, pronto! Para mim você é bonita e eu sou vinho.
__Vamos ouvir uma música? Eu posso ver minha vida sem muitas coisas, mas nunca sem poesia e música.Obrigada por dividir mais essa tarde comigo.

Fomos ouvir Loreena Mckennitt enquanto esperávamos a noite chegar. 
(Waleska Zibetti, in "Diálogos 1: Sobre Beleza")