Por Gabriella Gilmore
"...A transformação
gradual de um homem vivo como todos nós em cadáver."
A dor é veículo de consciência, disse um grande pensador uma
vez.
Ivan chegou naquele estágio no qual a dor já não fazia mais
sentido e que a morte seria o alívio, mesmo sendo algo que ele não queria para
si. Quem suportaria se ver morrer?
A imortalidade chega a ser um sonho inconsciente de cada ser
humano.
O doutor dizia que os sofrimentos físicos dele eram
terríveis, mas que os seus sofrimentos morais eram mais terríveis que os
carnais, e nisso consistia a sua tortura maior.
Ivan não agüentava mais a culpa que nele existia por ter
chegado ao estado em que chegou. Mesmo ele negando qualquer coisa que seja, no
fundo, ele merecia a morte que estava passando.
Relutando contra o orgulho ferido, só encontra paz ao
receber a comunhão do padre, e finalmente ele se dar por vencido, dizendo: "Acabou.
A morte acabou. Não existe mais".
Essa catarse que o autor faz de Ivan e sua morte é muito
real. Nos passa como se a morte fosse algo vivenciado aqui no plano terrestre,
e depois que se vai, ai sim, você "vive".
Ivan pode vivenciar de perto e por meses uma morte
literalmente lenta e dolorosa, e faz com que o leitor possa refletir sobre suas
ações em vida e também numa "pré-morte".