quinta-feira, 19 de março de 2015

O Menino do Dedo Verde (Maurice Druon)



Depois de algumas leituras mais intensas como Charles Bukowski, por exemplo, deixei-me repousar suavemente na minha criança, lendo “O Menino do Dedo Verde”. Está preparado para vir comigo? Tomara que sim. Detesto viajar sozinha.

Dados Bibliográficos do Autor

Maurice Druon, nasceu em 23 de abril de 1918, em Paris. Participou ativamente da luta antinazista em 1940, com o tio também escritor Joseph Kessel em 1943 – compõe a letra do canto Les Partisans, ainda hoje ouvida com grande emoção pelo povo Francês. Em 1953 a Comédie Française encena a sua peça Um Voyageur. Fica bastante conhecido por seus recitais históricos, que sempre alcançam vasta audiência.
Maurice Druon tem a sua obra marcada pela violência e vigor característicos de sua vida pessoal, onde o choque das armas e o trágico das paixões contam uma fase importante na literatura francesa contemporânea.

Capítulo Primeiro

“... Mas as pessoas grandes,
que não compreendem os protestos dos recém-nascidos
e teimam em sustentar suas ideias pré-fabricadas”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Sempre me surpreendo com crianças e suas perguntas que não aceitam “porque sim” ou “porque não” como respostas. O que elas não sabem é que gente grande também não tiveram respostas quando crianças. Então, repetimos os “porquês” que recebemos na maioria das vezes. Embora, eu confesso, de vez em quando invento meus próprios “porquês” e, acreditem, eles são bem mais divertidos.

“Isto prova simplesmente que as ideias pré-fabricadas
são ideias mal fabricadas. (...)
Se só viemos ao mundo para ser um dia gente grande,
 logo as ideias pré-fabricadas
se alojam facilmente em nossa cabeça. (...)
Mas, quando a gente veio à terra
com determinada missão (...).
As ideias pré-fabricadas,
que os outros manejam tão bem,
recusam-se a ficar em nossa cabeça (...)
Causamos assim muitas surpresas.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Quanto mais amadurecemos mais crescem nossas dúvidas. Amadurecimento está diretamente ligado ao questionar-se. E tal que podemos ter no fim, são conceitos que anulam conceitos anteriores, não há ponto final. Numa vida bem vivida só cabe reticências


Capítulo Cinco

“A preocupação de uma ideia triste
que nos comprime a cabeça ao despertar
e permanece ali o dia todo.
A preocupação se serve de qualquer meio
 para penetrar nos quartos;
ela se insinua como o vento no meio das folhas,
monta a cavalo na voz dos pássaros,
desliza pelos fios da campainha.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

A preocupação, para mim, é um bichinho que chega na madrugada quando tudo é silêncio. Ela chega, se enfia nos meus travesseiros e não me deixa dormir com um zumzumzum danado que arruma em minha cabeça. Aí me levanto para não pensar mais no barulho, me sento e ficando olhando pelas frestas o céu ora estrelado ora negro ora chuvoso... E olhando o céu vivo petica e nem vejo quando a preocupação vai embora rua a fora. 

“A vida, afinal, é a melhor escola que existe.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Experimentar. Esse é o verbo que rege minha vida. Eu quero sentir tudo que posso. E cada vez que a vida me oferece algo novo, ainda que eu me assuste, eu prov. Na vida é preciso coragem para agir. Disse outro dia alguém que ninguém pode andar por aí arrastando o passado como se estivesse preso a perna. É preciso entender que o passado é referência e o futuro é planejamento. A vida acontece no presente; segunda a segunda em 24 horas de oportunidades.

Capítulo Seis

“... Os talentos ocultos, em geral, trazem aborrecimentos.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Qual é seu dom? Já se perguntou isso? Qual é o seu porque nesse mundo? Eu associo muito dom com nossa razão no mundo. Acho que o meu é levar alguns a refletir sobre si através das minhas próprias reflexões sobre mim. Eu resumo, minha função ou dom é sentir, e escrever meus sentimentos. E você?

Capítulo Sete

“Sem ordem, uma cidade, um país, uma sociedade
não passam de um sopro e não podem sobreviver.
A ordem é uma coisa indispensável.
E, para manter a ordem,
é preciso punir a desordem!”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

E quando a desordem é por dentro? Então, tudo vira um horror. É preciso que os sentimentos estejam todos alinhados para que nosso interior esteja bem. Mas, as vezes, um ou outro sentimento cisma de sair do lugar. E aí a gente chora, a gente sofre, a gente de despedaça... Numa prisão onde pôr os sentimentos que se rebelam. E o que se pode fazer? Para mim, resta a poesia. Sentar e chorar meus versos, meus contos, que alguém lerá e nem imaginará que se trata do fruto de uma punição ou do fruto da cura de uma dor.

“’É preciso vigiar de perto esse menino;
ele  pensa demais!”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Pensar é, entre todas as ações, a mais perigosa para os ditadores e para os obedientes. Porque pensar nos leva além de onde nos querem. Quem pensa não aceita tudo sem saber o real porquê. Quem pensa adapta ideias ao invés de simplesmente repeti-las. Quem pensa é livre e lutará pela própria liberdade como um desesperado; porque sabe que é em liberdade que todo ser deve viver.


Capítulo Nove

“As pessoas grandes tem a mania de querer,
a  qualquer preço, explicar o inexplicável.
Ficam irritadas com tudo que as surpreende.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

E esses conceitos tiram o brilho das coisas porque as generalizam. As pessoas conceituam, minimizam, maximizam, fragmentam, rotulam. Se não houver um conceito há quem não durma. O pior é que quando isso envolve gente que não cabe em nenhum rótulo eles banalizam chamando de “loucos” e os colocam de lado que é mais fácil que encarar suas frustrações.

“Quando a gente está feliz,
sente  vontade de dizê-lo
e  até mesmo de gritá-lo.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Sou da filosofia de que gente feliz não enche o saco. Então, costumo desejar sempre o melhor a  todos que me cercam. Mas acho que felicidade varia de pessoa para pessoa. Eu geralmente fico feliz quando tenho livro novo ou quando as coisas estão bem para meus filhos. O que é felicidade para você?

“As flores não deixam o mal ir adiante.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Nunca liguei para ter um jardim. Mas de uns dois anos para cá comecei um pequeno espaço com plantas. Nem é um jardim. É só um cantinho verde com pimenteiras, avenca, renda portuguesa, coqueirinho... Um pedaço onde me sento e sinto a paz fluir. Concordo plenamente com o autor: as flores são um escudo contra o mal.

Capítulo Dez

“A gente se habitua a tudo,
mesmo às coisas mais estranhas.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Foi estranho amanhecer sem a voz do meu pai quando ele se separou de minha mãe. Anos depois, foi estranho amanhecer sozinha quando eu me separei. Foi estranho entender que aquela mulher não era minha mãe de verdade. E foi estranho chamar pelo nome a mulher que era. A vida é composta de estranhamentos. E ceiam feliz a mesa aqueles que sobrevivem a eles.

“__ As favelas são um flagelo. – declarou ele.
__ E o que é um flagelo? – perguntou Tistu.
__ Um flagelo é uma desgraça grande
que atinge muita gente ao mesmo tempo.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

O país onde moro é uma grande favela. Quem não é flagelado socialmente; é favelado moralmente.  O meu país maltrata seu povo negando-lhes valores. Ah, se eu fosse como Tistu! Fecundaria a terra com frutas, flores, legumes e verduras. Porque nós pobres flagelados merecíamos ter de tudo nesse país em que se plantando tudo dá.

“__ Mas por que toda essa gente
 mora em casinha de coelho? – perguntou de repente.
__ Porque não possuem outra casa, é claro. Isso
é uma pergunta idiota – respondeu o Sr. Trovões”
__ E por que é que eles não têm outra casa?
__ Porque não têm trabalho.
__ E por que é que eles não têm trabalho?
__ Por que não têm sorte.
__ Então, quer dizer que eles não têm coisa alguma?
__Sim, e miséria é isso.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Isto... Isto que nos negam. Isto que nos privam. Isto que nos escondem. Miséria é este vazio no estômago, no bolso, no coração, na alma... Miséria é não ter mais esperança de ser. Miséria é isto! Isto tudo que adoece a humanidade nos lares, nos becos, nas esquinas prostituídas. Miséria sou eu que escrevo segura em minha sala e você que lê seguro na sua. Miséria é o que nos espreita no canto da janela. É isto! E isto tudo é miséria!

“Os sentimentos generosos
privam-no do senso da realidade.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Tal como quando alguém diz “te amo!” ingênua e docemente transportamo-nos até o tempo onde o sonho é possível. “Eu te amo!” tira o raciocínio lógico e põe emoção no lugar. E porque será que alguns insistem em dizer que amam se não amam? Ah, Tistu, a tal ordem não existe mesmo.

Capítulo Onze

“__ Para a gente saber se é infeliz,
é  preciso primeiro ter sido feliz.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

E o contrário também é válido! Os opostos fazem isso: são para lembrar que o outro lado existe. E vendo assim a tristeza não é tão triste, nem a doença é tão dolorida... É só lembrar que seremos felizes ou  saudáveis amanhã.

“__ É que para cuidar direito dos homens
é  preciso amá-los bastante.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

E o médico de todos os médicos que conheço é Jesus. Nunca vi um amor que cura como o dEle. Ele, para mim, é a esperança de que amanhã pode ser melhor., é a força para esperar esse amanhã. Ele me ama e me cura, não importando-se com quantas vezes eu me ferir.

Capítulo Doze
“Aliás é sempre perigoso zangar-se
com aquilo que não se compreende.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Quantos gritos foram ouvidos e quantas portas foram batidas? Tudo porque alguém não conseguiu entender. Quanta gente saiu chorando e quanta gente ficou sozinha? Só porque um não quis escutar. Tudo podia ser diferente se todos tivessem um pouco de boa vontade para fazer ser.

Capítulo Catorze
“Quando os grandes falam em voz alta
as crianças não ouvem.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Nem os pequenos nem os grandes! Os gritos só tornam mais distantes os corações e os ouvidos.

“Numa guerra, todo mundo perde alguma coisa.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

E ainda há os que insistem em armas ao invés de amor. Meu estado vive uma guerra triste não há quem perca mais ou menos. Porque estão todos perdendo a fé e a noção de fraternidade. Pais e mães choram todos os dias pelos filhos perdidos. Esposas e maridos lamentam seus amores enterrados. Flores ficam tristes por enfeitarem sepulturas. Pobrezinho do meu Rio de Janeiro tão cheio de guerra.

Capítulo Dezoito

“O Sr. Papai era bom como já disse.
Era bom e era negociante de canhões.
À primeira vista, isso não parece compatível.
Adorava seu filho e fabricava armas
para levar a orfandade os filhos dos outros.
Isso acontece mais do que se pensa.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

O que corrói o mundo são os homens que o habitam. E pensando assim fica mais fácil gostar dos animais, das flores, dos elementos... O homem, na sua maioria, só faz o que é bom para si e ainda acham justificavas para isso. Pouca importa o que causará ao outro se tal estiver perfeito para ele. E o egoísmo destrói o mundo.

“As mães se julgam sempre um pouco culpadas
quando os filhos perturbam
a vida das pessoas grandes
e correm o risco de sofrer as consequências.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Desde que nos tornamos mães, entramos numa espécie de comunhão com a terra e passamos a ser mãe de todos. Que o mundo seja bom pelo ventre de todas as mães!

Capítulo Dezenove

“Pois fiquem sabendo
que nunca conhecemos ninguém completamente.
Nossos melhores amigos reservam sempre surpresas.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Acho muito divertido quando alguém diz que conhece bem alguém. Geralmente quem diz isso não conhece nem a si. Somos criaturas em constantes mudanças, porque estamos em constante aprendizado. Quem sou eu? Será sempre o maior enigma que terei que desvendar enquanto eu viver. E não é diferente com você que me lê agora.

“As pessoas grandes não querem chorar,
e fazem mal, porque as lágrimas
gelam dentro delas, e o coração fica duro.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

Será que eu sou assim tão frágil, porque me permito chorar? Se assim for, meu coração é como asas de borboleta e isso explicaria bem minha paixão por elas.

“Mas a morte zomba dos enigmas.
Ela é o que os propõe.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)

A morte... Tenho pensado e falado muito dela. Ela sempre me atraiu sempre me fascinou. Não de uma maneira mórbida, mas como encantamento e respeito. Minha única direção. Minha única certeza.

Conclusão

O livro segue um pouco antes do grande desfecho. Mas não vou contá-lo, é claro! Você terá que ler a surpresa final. Tudo que posso dizer é que minha criança interior ficou tão feliz que saiu pelos meus mundos interiores a correr e cantar. Acho que ela foi procurar Tistu. E acho que eles aprontarão muito por aí.


Beijos e até breve!