sábado, 19 de abril de 2014

Sobre Vinte e Quatro Horas


“Acho que isso é uma coisa que a gente supera com o tempo.
 [...] Você me curou de você mesmo”.
(David Nicholls, in “Um Dia”)

Se você é desses acostumados a banalizar o carinho do outro por você... Cuidado!

Quando nos colocamos numa condição de “insubstituíveis”, tendemos a nos deparar com um teatro vazio lá na frente. Ninguém nem mesmo para lhe abraçar em consolo no fim do ato.

Isso! Torça o nariz e resmungue “bobagem”. Você pensa que sempre haverá alguém a quem iludir com seu sorriso de artista. Mas saiba meu caro, que o público uma hora se cansa e começa a ver a sua atuação como apresentação barata. E pouco a pouco vão saindo do teatro para encontrar coisa melhor.

Não há carinho que resista a mentira, a ausência, a frieza... Não há respeito que resista ao interesse, as relações de conveniência, aos abraços sem calor... Não há amizade que persista nos segredos, nas desculpas, nos silêncios.

E aquele que hoje precisa, se adapta  a falta. A solidão se preenche de outras coisas. Os passos não se incomodam de marcar a areia sozinho. Os segredos que deveriam ser compartilhados se calam em suas realizações.


O mundo é adequação. E aquele que hoje é pedaço hoje e que, supostamente, implora por um pouco de você, amanhã se torna completo de outro alguém ou de outra coisa qualquer. 

O mundo é substituição. E todos nós somos peças substituíveis. Não se iluda que este que hoje o espera não poderá ir embora amanhã. Porque o mundo também é partida. E tudo que temos de certeza é que temos um dia, únicas vinte quatro horas, para pertencer, para doar, para completar o desejo, a necessidade, os sonhos de alguém.