Numa sexta qualquer, resolvi pegar um ônibus e ir visitar alguns amigos na cidade de Poços de Caldas.
Encontrei sentada num banco, uma senhora dos cabelos brancos, da pele alva, olhando a plataforma 22.
Não sei porquê, mas me bateu uma imensa vontade de sentar-me ao seu lado e puxar papo.
Ali, eu descobri que fazia 34 anos que ela ia àquela rodoviária toda sexta-feira às 17hrs para esperar pelo único amor que ela teve na vida.
Perguntei se ela tinha filhos, marido, e ela balançou a cabeça afirmando.
A protagonista tinha quatro filhos e seis netos. O esposo morrera há cinco anos.
Eu não entendi.
Perguntei a ela quem seria a tal pessoa de 34 anos atrás que fez com que ela viesse religiosamente todos os dias para a rodoviária a espera de um encontro.
_ Ela se chamava Bel. Há 34 anos, eu combinei com essa amiga que tanto amei, de nos encontrarmos aqui.
Ela abaixou a cabeça com os olhos brilhando.
_ Mas... Eu indaguei baixinho.
_ Naquele tempo combinamos de ficarmos o final de semana juntas. Comprei algumas coisas que eu sabia que ela gostava, enchi a geladeira com coisas que eu não importava só para agradá-la, e dois dias antes, recebi um telefonema dizendo...
_ Ela morreu! Falei arregalando os olhos.
_ Não.
_ Mas o quê que aconteceu?
_ O destino nos separou numa forma injusta. Nunca consegui aceitar isso e desde aquele dia eu venho fazendo tudo que fiz naquela semana, na esperança de ...
Ela se levantou ansiosa e lenta, quando me perguntou:
_ Como se chama?
_ Isadora Martinez. E a senhora?
Ela subitamente se voltou para mim, me encarando nos olhos e perguntou:
_ Martinez de onde, minha filha?
_ Poços de Caldas.
A velha fraquejou, titubeando.
Levantei-me para segurá-la.
_ Isabel Martinez. Sussurrou a protagonista. Minha amiga de Poços.
Senti-me tonta ao escutar aquilo, porque seria coincidência demais aquela Isabel ser a minha mãe.
Abracei a protagonista, e disse:
_ Estou aqui. Vou te levar para casa.
Só assim, aquela senhora mudou sua trajetória triste. Só assim, ela percebeu que as histórias por algum motivo não se cruzaram.
Talvez nunca entendamos o motivo. As respostas nunca seriam o bastante.