domingo, 27 de julho de 2014

Meu Fim de Semana Com Marilyn

Aqui registrarei os meus pensamentos sobre as partes que mais me tocaram no romance "Minha Semana Com Marilyn" de Colin Clark. 

Introdução:

"Eu acredito em mágica. A minha vida, como a da maioria das pessoas, é feita de uma sucessão de pequenos milagres - estranhas coincidências que resultam de impulsos incontroláveis e dão origem a sonhos incompreensíveis. Passamos grande parte da vida fingindo que somos normais, mas por baixo da superfície todos nós sabemos que somos únicos".
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

E assim começo minha viagem nesse novo mundo. Colin está certíssimos, ainda que neguemos em todos nós paira uma aura louca. A minha tem asas multicoloridas gigantescas e habita um reino completamente mágico e alucinógeno. Não espero que me entendam. Não espero que o visitem. Em meu mundo de sonhos mágicos, a normalidade não sobrevive porque lá respiramos liberdade.

Parte 1

"Marilyn era uma verdadeira deusa e deveria se tratada como tal"
(Colin Clark, in "Minha Semana com Marilyn")

O que faz alguém ser marcante é a essência. E a essência transcende o físico. Ninguém se torna uma diva. Ou se nasce diva ou não. A essência iluminada atrairá atenções naturalmente, sem esforços. É que a maioria vive escondida num manto de trevas da ignorância e ausência de pureza de ação. As pessoas de essência iluminada atraem esse lado escuro do outro para sua luz. Desesperados os "não-iluminados", motivados pela inveja, tentam roubar dos "iluminados" algo que lhes garantam um pouco de grandeza, leveza ou paz. Chego a conclusão que pessoas como Marilyn Monroe, Raul Seixas, Virginia Woolf e outros; nascem com uma estigma especial de Deus para transformar sua luz em arte, sentimentos em algo visível, legível, tocável... E acabam vitimados pelo mundo que não os entendem. Ou, se preferir, acabam engolidos pela maioria não-iluminada que habita o mundo.

Parte 2

"Ela está envolta numa espécie de mando de glória que tanto protege quanto atrai. Sua aura é incrivelmente forte - forte o suficiente para ser diluída em milhares de telas de cinema de todo o mundo e ainda assim sobreviver. Em carne e osso, sua quantidade estelar vai quase além do que se consegue suportar. Quando estou com ela, meus olhos não querem deixá-la. Por mais que eu olhe para ela, eles simplesmente nunca se cansam e talvez isso ocorra porque eu não consiga realmente vê-la"
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

As vezes imagino as emoções como a pele coberta por uma tecido tão fino quanto um véu. Fácil de serem tocadas e percebidas, mas poucos prestam atenção e, por isso mesmo, atravessam o tecido fino com palavras de aço ou gestos de navalha. As criaturas de sentimentos expostos - chama-los-ei de "Iluminados" - se entregam a arte porque nela eles podem criar labirintos onde se escondem dos seres mais comuns ou dos que escondem suas emoções por trás de cortinas de ferro - que chamarei de "insensíveis". 

Acho também, que com o tempo os "Insensíveis" caem no vazio e perdem suas referências. É quando os "iluminados" passam a ser suas vítimas. Pois os "Insensíveis" os perseguem para vampirizá-los até que, depois de totalmente esgotados pelo sofrimento, os "iluminados" se percam de si nas vielas da loucura.

Parte 3

"Por que as pessoas não podem entender que, quer elas gostem ou não, essa é a maneira de Marilyn funcionar e que elas já deveriam estar acostumadas a isso?"
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Cada um é como é. Não há como negar isso. A a palavra de ordem é "repeito". É tão fácil e cômodo julgar. Mas porque não se por no lugar do outro? Por que não tentar entender o que leva o outro a ser tão diferente de nós? Colocar-se no lugar do outro, sentir seus medos, ouvir seus choros, levar seus tombos... Cada um de nós tem seus porquês particulares que se não nos justifica ao menos nos explica. É preciso baixar o dedo que acusa e abrir os braços que acolhem.

Parte 4

"Marilyn estava sozinha. Ela precisava de alguém com quem conversar, alguém que não fizesse nenhuma exigência"
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Sempre me pergunto sobre o que é solidão. Sinto que tenho uma alma solitária. Isso não é ruim até o momento que as pessoas insistem em invadir a minha solidão com seus sentimentos de superfície ou psicologia de mesa de jantar. Sou sozinha por natureza. É como me sinto bem. Fico melhor quando não tenho que me explicar em conversas. Não sou triste. Penso que sou observadora da vida e de mim mesma. E faço isso melhor quando estou em silêncio e sozinha em meus pensamentos. As pessoas precisam cobrar e falar. E acabam falando demais por conta dessa necessidade. Eu acho que muitas vezes um sorriso faz mais que um discurso inteiro.

Parte 5

"Você é uma estrela. Uma grande estrela... Você não pode fugir disso. Você tem que atuar" 
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Quantas vezes pensamos em desistir? Fugir de nossos problemas pode parecer uma solução imediata para todos. Mas nunca é! Assumir o nosso papel diante da vida, encarar as dificuldades, os medos, as tempestades; é o que nos faz grandes. Desistir é a solução dos fracos. Ninguém se espelha num covarde. O próprio covarde se envergonha de si em justificativas vazias. Muitas foram as vezes que eu fiquei na hesitação entre sair de cena ou ir até o fim do ato. No fim, sempre optei por me manter no palco e até hoje nunca me arrependi do resultado no final. 

Parte 6

"Ninguém bateu em mim como fizeram com você. Simplesmente parece que não havia ninguém por perto a maior parte do tempo. Você entende o que estou querendo dizer?"
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Sempre estou só. Mesmo numa multidão, eu tenho a sensação de ser sozinha. Não tenho amigos. O mundo sempre me assustou. Tenho sempre a ideia de que estou a margem do resto deles. De tanto ser assim, as vezes, tenho medo da loucura. Estou sempre pensando nela. É confuso de entender. Acho que até nisso sou só. Só eu me compreendo realmente.

Parte 7

"Mas, Colin, eu não quero ser inatingível. Eu quero ser tocada. Quero ser abraçada. Quero me sentir envolvida por braços fortes. Quero ser amada como uma garota comum, numa cama comum. O que há de errado nisso?"
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

E por que as coias chegam a esse ponto de isolamento? Eu não sei! O fato é que a cada dia as pessoas se isolam mais do mundo. Por medo trocam o mundo exterior por universos introspectivos. E não ser atingido pelo mundo exterior fica algo completamente aceitável e compreensível. Isso pode parecer assustador, nas de fato não é. Tornamo-nos mais observadores de si e dos outros e talvez por isso mesmo, ainda que os outros não penetrem em nossos "abismos", nós os compreendemos e percebemos nas suas pontes. Contraditório, não é? Mas acho que viver nunca foi um caminho coerente e reto. 

Parte 8

"Quer dizer que você é um dos seres mais especiais de todo o mundo e, independente do que dizem todos aqueles odiosos professores e psicanalistas, você conquistou isso tudo por si mesma. Você deveria se sentir muito orgulhosa"
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Somo criaturas lapidadas. Uns se permitem mais outros menos, mas todos somos obras de arte da vida. Alguns com arestas, rascunhos de si. Outros obras perfeitas. Qual vale a pena ser? Ora, tanto faz! O importante é que sejamos conscientes de que somos únicos, com importância e relevância. Até os rascunhos e esboços podem mudar a visão de alguém. Cada indivíduo tem seu lugar de importância na vida. Somos uma viga que sustenta algo no mundo. Parte da construção. Isso é que não podemos nunca perder de vista. 

Parte 9

"Você não está perdida no meio de uma tempestade, Marilyn. Você é a tempestade!"
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Já me disseram isso. E que assustador foi quando me encarei assim. Eu sou mesmo tempestuosa e não passo nunca despercebida. Mesmo quando quero. É algo além de mim. Juro que queria ser só um chuviscar, as vezes. Mais há intensidade demais em mim e eu não sei passar pela vida se não for assim intensamente. Há os que fecham e as portas e janela ao me verem passar e eu me debato contra os vidros sem entender porque eles me rejeitam. Porém, para me consolar, ainda há os que gentilmente vem até mim para dançarem em minhas águas.

Parte 10

"Mas eu também sou uma pessoa"
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Ah, Marilyn! Como eu a entendo! Como sei que o quanto tudo isso devia doer em você. Eu não tenho nem a metade do seu brilho, talento ou fama. Mas sei que toda tempestade quer, no fundo, um lugar seguro para cair. 

Parte 11

"Eu quero encontrar alguém que me ame - com todas as coisas bonitas e feias"
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Somos como a lua e ocultamos o nosso lado feio num véu de mistério. Ninguém quer ter defeitos. Mas quando entendemos que nossos defeitos são parte do que somos começamos a olhar o mundo com outra perspectiva. Percebemos que somos falhos e aceitamos que outro também seja. Aceitar, entender, tolerar e se possível, ajudar o outro com suas falhas é o passo primordial para bons relacionamentos. Somos bilaterais. O bem e o mal formam as duas partes que nos compõe. Não dá para passar pela vida sem se encarar no espelho e decidir quem fica livre: o anjo ou o demônio.

Parte 12

"Arthur diz que eu não penso suficientemente, mas parece que eu sou feliz apenas quando não penso."
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

__Me desliguem! - eu já falei tantas vezes depois de ver o dia amanhecer na varanda. Eu penso muito e adoraria parar de pensar, as vezes. Me desligar de tudo. Mas pessoas inquietas estão eternamente trancafiadas no universo filosófico ou criativo. Criando e recriando questões sobre si e sobre a vida. Viver para os inquietos é um mover-se constante dentro de si. É o farfalhar incensante das asas da borboleta que nunca se cansa de experimentar as cores e formas do jardim que não se margeia.

Parte 13

"Achei que se me casasse seria alguém."
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Ah, a juventude e suas soluções fáceis! Com a maturidade uma coisa tive certeza: nada é fácil. E uma decisão mal tomada na juventude nos condena a uma maturidade de arrependimentos. Quando se está triste e sozinho e alguém nos oferece abrigo e carinho, tendemos a pôr nesse alguém toda a esperança de um futuro bom. E aí erramos. Temos que aprender a pôr em nós esse lugar seguro para onde voltar quando a vida pesa. Temos que ser o nosso próprio porto. Afinal, só nós conhecemos a fundo nossas razões e dores. Para evitar sofrimentos maiores precisamos aprender a nos abrigar.

Parte 14

"Um motivo que a impedia de levar as pessoas consigo era ela própria não fazer a mínima ideia de para onde estava indo. No entanto, ela chegou lá. Ninguém pode negar isso, e basicamente, ela conseguiu isso sozinha."
(Colin Clark, in "Minha Semana Com Marilyn")

Estou acostumado a ver pessoas se aproximarem de mim por razões que vão desde a curiosidade até a mera casualidade mesmo. E como chegam, se vão. Eu não sei lidar com a despedida. E sinceramente raras foram as vezes que entendi o adeus. Contudo, a porta de saída de minha vida é de livre acesso aos que precisam usá-la. A única advertência é a de que não há caminho de volta. Nunca aprendi a perdoar. De tanto assistir as pessoas saírem e entrarem em meu mundo, escolhi ser solitária. E de um tempo para cá, todos os dias me sinto mais esvaziada do mundo e de suas relações. Tenho dificuldades em confiar hoje em dia. Sinto muito medo das pessoas. Tenho construído ao meu redor uma muralha de loucura e poesia. 


Assim terminou meu fim de semana com Marilyn Moroe. Descobri tanto de mim nela que chorei e ri de suas emoções como se fossem minhas também. Não! Não estou comparando a ela. Eu não seria tão ridícula. Tudo que estou dizendo é que sou tão solitária e carente quanto ela, tão aparentemente forte e tão realmente frágil quanto sua alma. Norma Jean foi uma mulher que poucos viram como também poucos me viram até hoje. Marilyn foi a capa que essa mulher usou para sobreviver. Eu tenho entrelinhas para sobreviver. Para ela funcionou até os 36. Eu já estou quase com 43. Quanto tempo as letras me protegeram do suicídio? Ou será que morro a cada texto que crio?

(Texto publicado originalmente na minha escrivaninha no site Recanto das Letras. Aos que não quiserem ler o livro, deixo o filme na íntegra. Tenho certeza que é uma grande dica para esse domingo. Boa diversão!)