terça-feira, 15 de abril de 2014

Sobre Montanhas e Rochas


“O que são homens comparados a rochas e montanhas?”
(Jane Austen, in “Orgulho e Preconceito”)

Quero viajar nessa frase de Jane Austen! Na verdade, peço licença para ir um pouco além e falar um pouco de um pensamento que me ocorreu de a partir do de Jane. Quero falar de homens-rochas e homens-montanhas que, em minha opinião, são diferentes embora possam alcançar o mesmo tamanho e aparente poder.

Ao pensar em Homens-rochas visualizo pessoas de insensibilidade extrema. Incapazes de curvarem-se as coisas do mundo. Aquele tipo de pessoa que olha o telejornal e resume a fome do mundo com a típica frase “Por que fazem filhos se não podem nem consigo?”. Gente que passa pelo mundo ignorando o alheio. Homens-rochas não têm tempo para nada! Andam com pastas e papéis embaixo do braço de lá para cá, são impacientes e carrancudos nas filas, reclamam do calor e do frio, questionam a real necessidade da chuva, ignoram o sorriso e a beleza de uma canção...

Mas temos que ter paciência com os homens-rocha. Muitas dessas pessoas foram endurecidas no calor da dor. Algumas explodiram numa erupção de paixão, mas esqueceram que paixão é sentimento adolescente e nem sempre tem tempo de amadurecer para virar amor. Sentindo-se incapaz de se apaixonar novamente esses seres se endurecem nas juras de nunca mais se apaixonar. Outros demoram tanto a experimentar o mundo lá fora por medo, talvez, que  sofrem pressões de todos os lados. E com tanta pressão daqui e dali, vão perdendo a vontade de sair de si e segmentam sua essência em mundos particulares no medo de não estarem preparado para outros mundos que estão além de si.

Há os que querem espalhar sua dureza por aí. Destruindo sonhos alheios com desesperança e palavras negativas. Ah, como tenho horror a esses aí! Gente ruim que torna pedra tudo que há ao seu redor por não suportar ver a beleza florescer nos corações  ao seu redor. Ainda bem que para essas pessoas que são contaminadas por essa gente-rocha podre, existe a fé e a esperança que ficam escondidas dentro deles esperando só um toque, um novo momento, um escultor disposto... qualquer coisa que os resgatem e os preparem para se tornar quem sabe os tais homem-montanha.

Porque  para mim homem-montanha é aquele que forte e que já suportou muitas intempéries, mas mesmo assim estendeu-se para todos os lados para ousar, arriscou-se a ir até onde pode; e quando não pode mais alongou-se para o céu . Homem-montanha abre-se para que outros os habite e  permite que esses novos habitantes tragam com eles novas experiências, tons, sabores, cores... que serão agregados ao homem-montanha que entende que é preciso estar nesse mundo para somar e multiplicar. Homens-montanha revestem-se de flores, folhas, bicho, nascente... São universos repletos de mistérios, mas abertos a visitação. São extensão positivas de si para a vida de outros. Germinam possibilidades e sonhos em quem toca. É rocha firme para suportar a vida, mas é terreno fértil para quem se aproxima porque está sempre disposto a compartilhar, a doar, a agregar...

No mundo deveria haver mais homens-montanhas compromissados com o outro. Pessoas de coração de mundo inteiro com capacidade de nos fazer voar quem veio ao mundo com uma asa só. Gente-cobertor que acolhe nos momentos de medo, frio ou solidão. No mundo deveria haver mais... Sei lá! Mais humanos, menos gente.


Até breve!!!