quarta-feira, 23 de abril de 2014

Escolha De Um Futuro Inteiro




Eu confesso que ler Gabriela Lima me leva as gargalhadas. E esse jeito “bruto” de que ela fala é divertidíssimo! Deus estava de muito bom humor quando criou o mau humor de Gabi. [Risada] Mas vamos pensar, não é Gabi?

Enquanto penso lembro-me de uma adolescente dançando tão estranha quando Renato Russo em seu quarto entulhado de livros e dúvidas. “Somos tão jovens! Tão jovens! Tão jovens...”, ela se agita e sonha.

Quando se é jovem achamos que o tempo está ao nosso favor e tudo nós iremos fazer diferente. Porque temos em nós uma chama de esperança inocente. A universidade é uma fogueira mágica centelha possibilidades douradas a nossa frente. “Eu serei diferente e farei história”. E com o passar do tempo o bacharelado começa a frustrar essas chances de mudança. E vem a vontade da pós, do mestrado, do doutorado... Mas junto com essas graduações, vem também a maturidade e senso de percepção de que nada mudará de seu status quo porque um dia um jovem sonhou.

E aí a menina começa a pensar que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Mais Belchior e menos Renato, o foco de mudança passa a ser outro. Um mais viável e coerente. Não posso mudar o mundo, mas posso me mudar para o mundo ou mudar o mundo a que pertenço.  Saímos de um estado de desejo “lato-impossível” para um “strictu-real”.

Mas é preciso que o jovem continue a ver tudo com soluções fáceis, com seu jeito sonhador, com sua maneira de achar que o mundo com ele a frente ou do modo dele será diferente. É preciso para nos lembrar – e quando falo “nos”, falo da geração com menos pés no ar – o quanto é bom crer, esperar, ir a luta... Porque isso motiva. E desmotivação não é bom para ninguém. O olhar juvenil suaviza as olheiras maturidade.


Para finalizar me deixe confessar um segredo: eu fiz algo diferente exatamente como prometi na minha juventude. Eu não interfiro nas decisões letivas de meus filhos. O meu mais velho me disse “Não quero fazer faculdade. Não agora! Tudo bem?”. E eu concordei. Ele tem dezessete e está se formando em Segurança do Trabalho, quer descobrir o que é trabalhar e tentar se descobrir a partir daí. Eu na idade dele tive que fazer faculdade. Não fazia a menor ideia do que queria. Já tinha feito inglês sem gostar – sete anos de Cultura Inglesa sem suportar a língua fora uma tortura tremenda; e ainda me impunham a tal faculdade. Fiz letras. Porque foi mais cômodo para mim. Mas meus pais "se formaram" na Faculdade e ficaram felizes com isso, eu acho que ainda vagueio em espírito por lá. 

As únicas coisas que realmente guardo com amor da faculdade foram as palestras e aulas com os grandes medalhões das áreas que gostava. Gente como Evanildo Bechara, Sílvio Elia, Leonardo Boff, João Gilberto Noll, Nelson Rodrigues Filho, Junito Brandão, Nélida Piñon, Flora Sussekind e outros que mudaram meu pensar. Descobri a filosofia, sociologia, mitologia, política... Fiz cursinhos nessas áreas e também de contadora de histórias, coral, neurolinguística... Tudo que não foi curricular valeu a pena e compensava a tortura de estar no lugar privilegiado que eu não queria para mim.  

Meu filho, que tem nome de santo que é mais bonito, se formará no que quiser quando quiser porque ele é hoje como a adolescente sonhadora que descrevi no início “Tão jovem... Tão jovem... Tão jovem...” como vocês. E não precisa de um diploma para me dar porque eu já tenho. E se a sociedade exige que ele tenha um, sei que como a mãe ele vai saber olhar e dizer "Faça você o vestibular e seja feliz", e vai sai por aí sem lenço e sem documento. E eu vou com ele! Por que não?