quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Diálogos 3: Sobre Isolamento



__ Estive pensando sobre essa sua maneira de não sofrer. Você não acha que você correr o risco de sofrer mais ou então, de se arrepender depois? Acho que esse teu castelo aí pode lhe causar mais sofrimentos que uma casinha de palha. 

__ Eu sei que ao isolar-me corro o risco de morrer pensando no “se”. Corro também o risco de amanhã ser tão “eu” que não suporte mais a responsabilidade do “nós”. Viver com medo não é viver. É preciso arriscar-se. E amar é um risco que vale a pena sempre. Ah, anjo, sei de tudo isso! E sei de todos os riscos que corro vivendo nesse meu mundo secreto e estrategicamente protegido. Mas saiba que num cantinho bem escondido atrás de uma cerca de hibisco lá no jardim do meu castelo-coração, eu plantei um pezinho de esperança. Esperança de que um dia o medo passe, que eu esqueça minhas magoas e receios, que eu acredite novamente que o amor é possível para mim. Não qualquer amor mas o amor do jeitinho que imagino, cheio de fantasias e numa casinha simples branca de janelinhas azuis e varanda. 

__ Olha! Quero visitar essa casinha! Posso ir lá?

__ Venha! Venha devagar, sem pressa. Venha tão lentamente que os espinhos não o
notem chegar. Assim não se machuca. 

__ Eu tenho medo mesmo de me machucar nesses seus espinhos. Também tenho minhas dores... E também tenho meus espinhos. Não quero machucar você com eles. Não quero que você vá embora!

__ Somos humanos, não é? E somos passiveis de erro. Eu sei disso! E também posso errar. Então, se algo ficar estranho em mim para ti, você me diz. Eu faço o mesmo. Combinado? Quando as coisas são ditas claramente tudo fica bem melhor. Não deixemos para amanhã, não esperemos para depois, não durmamos uma noite sequer com mágoa do outro... Até porque o amanhã nem sempre chega. Assim sendo, vamos combinar que o nosso momento é o hoje. E que nossa amizade saiba que o que temos é o "agora" para sermos e dizermos tudo. Podemos?

__ Eu disse que você é uma Estrelinha...

__ Ah, eu sou uma estrelinha!!! Pois então, que eu brilhe sempre em seus pensamentos trazendo coisas boas e paz até eles. 

__ Durma com Deus, anjo! Até amanhã.

__ Você, também.

E assim nos despedimos. E eu fui sonhar ao som de Nat e Natalie Cole.
(Waleska Zibetti)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Morro dos ventos uivantes - Poesia


Por Gabriella Gilmore

Tenho um amor reprimido por esta história de Emily Bronte.
Em 2009 escrevi esta poesia e gostaria de dividir com vocês.
E fica a dica de leitura para quem ainda não leu "O morro dos ventos uivantes". A história rendeu algumas versões de filme por ser tão singela e tocar em tópicos tão sutis.




À Heathcliff

Guarde dentro de você suspiros meus
Lembranças de tardes na charneca
Enquanto eu deitada em seus braços
Você me chamando de sua boneca

Mas se nos casássemos naquele tempo
Fome e miséria íamos passar
Eu não queria isso para nós
E temia um final degradar

Não sei do que são feitas nossas almas
Mas elas são iguais
Genuína, inquieta e alva

Se tudo ficar e esse amor desaparecer
Eu ficarei no mundo só
Apenas desejando desfalecer

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Sim Senhor!!!

Uma vidinha de mais rotina, sem aventuras ou emoções. Esse é Carl, um homem não feliz! Carl trabalha em um banco e sua vida é frustrante: divorciado, solitário e contrário a qualquer evento social. Após o convite de um amigo, Carl Allen (Jim Carrey) decide ir em um culto de auto-ajuda, que tem por base dizer sim a qualquer coisa que lhe aconteça ou ofereçam. 
Mas até que ponto dizer sempre sim a tudo fará com que as coisas se modifiquem?
No caso do nosso personagem, um mundo de possibilidades se abre a partir do primeiro momento em que ele põe em prática: Sim!
Ele conhece Allison (Zooey Deschanel) por quem se apaixona. Em seguida ele se promove e então um caminho de oportunidades e outras coisas se abrem a partir do momento em que ele se permite mais e com o "sim". 
Mas até que ponto isso pode ser o tempo inteiro bom e sadio?
Após uma sequência de coisas que dão certo, Carl tem vontade de dizer não para apenas um pedido de Allison para viverem juntos. É quando ele precisa contar a verdade para Allison em relação a sua postura de dizer sim para tudo.
Eles terminam e após um convite de sua ex mulher, em seguida Carl acaba dizendo o seu primeiro não em tempos a sua ex quando ela chama ele para fazerem sexo. As coisas começam a dar errado e ele busca o líder de sua “religião” que diz que ele está exagerando e que deve também dizer não a algumas coisas. 
É aí que ele percebe a importância de equilibrar suas decisões e então ele decide reconquistar Allison que aceita sua volta e ambos terminam felizes para sempre.

Opinião:  Apesar de não ser lá uma grande fã do Jim Carrey, o filme conseguiu prender a atenção e apoiar em dois pontos. Primeiramente, o roteiro consegue explorar bem as possibilidades que a idéia original oferece. Das mais simples às mais bizarras propostas feitas a Carl, ele aceita todas e as situações que ele enfrenta garantem boas gargalhadas. O outro fator determinante para que se aproveite o filme é a atuação do próprio Jim Carrey.
Além de ter as cenas hilárias que se espera em uma comédia, Sim Senhor também é um filme com mensagem. Lembrando o recado dado por Antes de Partir, as peripécias de Carl convidam o espectador a viver a vida plenamente e abraçar as possibilidades que muitas vezes passam despercebidas por nós. É claro que a mensagem é passada em cenas mais exageradas e não tão emocionantes quanto na história dos dois pacientes terminais. 


Aqui está o trailer:

Até o próximo texto
Au Revoir

domingo, 18 de janeiro de 2015

Diálogos 2: Sobre Vinhos e Estrelas





Enquanto olhávamos o céu ele disse que eu era uma estrela.

__ Deus me livre ser estrela! Gosto sim de olhar estrelas, ouvir e conversar com elas como Bilac tão sabiamente ensinou-me. 

Então, ele riu e comentou se eu não queria ser como algumas pessoas que conhecemos e que gostam de ser estrelas. 

__ Eu não me ocupo de estrelinhas. Prefiro aquelas que ponteiam meu céu em noite de insônia. Aquelas que escondem histórias de mistérios e que misteriosamente se agrupam em forma de rostos que arrancam suspiros nas madrugadas. Não tenho tempo para estrelas fúteis. Tenho tempo somente para estrelas sonhadoras que lançam-se do céu para me roubar desejos.

__ Mas alguém te quer estrela. Alguém que te acha especial.

__ Você fala com tanta certeza da existência desse alguém. Desculpe minha pouca fé, querido! Mas sabe como são as coisas de amor, de sentimento, de envolvimento, não é? Meu coração anda cansado de querer e amar errado. Então, fiz assim: arrumei meu coração bem arrumadinho. E enfeitei-o todo de rosas selvagens em volta. Convidei meia dúzia para morar dentro, depois, tranquei o portão. E já faz tanto tempo que as rosas cresceram. São lindas, perfumadas e espinhosas. Ninguém chega perto. Mas estou feliz assim! Ou pelo menos, não choro mais.

__ Você é louca!

__ Minha loucura está em continuar a fantasiar quando o mundo prefere a realidade, em falar de poesias quando o mundo pouco tem tempo para a prosa, imaginar borboletas em pétalas soltas, dragões escondidos em nuvens... 

__ Manias...

__ Tenho algumas manias, mas não chego a ser neurótica. 

__ Mas é ciumenta!

__ Ciumenta, sou demais! Tenho ciúmes de tudo, principalmente dos que gosto. Não chego a sufocar ninguém, mas acabo sendo exigente no que diz respeito a atenção. Se der ao outro, há de dar a mim também. Na mesma proporção. É o mínimo que espero de quem gosto.

__ Que pecado!

__ Minha franqueza é meu maior pecado. Minha mãe diz que devemos ao menos disfarçar o que pensamos dos outros, mas quando dou por mim já falei. Já era!

__ Gosta de vinho?

__ Eu gosto muito de vinho. Os suaves. Mas não me desencanto com os rascantes. O vinho para o frio ou para as tais noite que fico a ouvir estrelas.

_ A cada minuto agradeço mais a sua amizade.

__ Essa amizade está me fazendo muito bem. Ah, nem pode imaginar o quanto! Tão difícil poder ser assim tão serena com alguém. Que presente foi você! Melhor, que presente É você!

__ O que ouviremos agora? Escolhe e eu pego o vinho.

__ Vamos fazer um cd de trilha nossa?

Risadas. Ele foi para cozinha enquanto Elton John invadia a sala.
(Waleska Zibetti, in "Diálogos 2: Sobre Vinhos e Estrelas")

sábado, 17 de janeiro de 2015

Conversando com Joana


Porquê desta foto: Sempre vi Joana de Clarice assim, novinha, emburrada, questionadora, inteligentíssima. Não é atoa que minha Rafaela lembra esse perfil da Emily The Strange.


Crônica de Gabriella Gilmore

(Inspirado na história de Clarice Lispector “Perto do Coração selvagem”)

-Não estou aqui para questionar seu furto, mas sim saber o que te impulsionou para fazê-lo e como se sentiu depois do flagrante da sua tia. Questionou o professor.
-Roubar é errado quando você sente medo. (pausa) Eu não senti nada. Retrucou Joana.
-Não sente receio do inferno? A bíblia diz claramente a respeito de roubar.
-Não.
-Não o que? Não sente medo do fogo eterno ou não sabia sobre esse mandamento bíblico?
-Simplesmente, não!
-Assim será difícil te ajudar Joana. Diga-me, o que é certo e o que é errado?
-Não sei...
-Mas isso não é resposta. (pausa) Você deve ter um leve saber sobre isso, sobre a diferença.
-Mas há coisas que são erradas para uns e para outros não, oras! Como poderei saber? O meu limite é a dor. Se não me doeu em nada, significa que não é tão mal assim.
-Se você tivesse outro pai, este estaria se remoendo no túmulo. Mas me diga, por que tantas questões, tanta busca se você insiste em ficar só no “Não sei” “Talvez”?
-Se eu tivesse todas as respostas eu não precisaria mais estar à procura.
-E isso é ruim?
-Não. Mas seria chato.
-Então ter tudo pronto é chato?
-É. Eu me mataria.
-Você peca só em falar.
-Pecado. Pecado. Acho que essa palavra significa limite, não?
-Por quê?
-Porque às vezes você não faz algo porque é “pecado”, então você volta atrás.
-O que você mais gosta?

Ela pensou, pensou, deu um leve sorriso e respondeu:

-Não sei. Não SEI!!!
-Mas você fez uma cara tão contente de que sabia o que ia responder!
-Mas talvez o que eu goste hoje não venha a gostar amanha!
-E se eu mudar a pergunta?
-E se eu não quiser responder? Perguntou ela já enjoada do papo.
-Bem... (pausa)
-Às vezes sinto dor sabe? Disse ela interrompendo o silêncio. Sinto frio na barriga com certas perguntas e até com certas dúvidas.

No fundo ela não sabia aonde o professor queria chegar, já que sobre o furto eles não mais tocaram no assunto.

-Olha Joana, nunca sofra por não ter opiniões em relação a vários assuntos. Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la.
-E o que vai acontecer comigo?
-(silêncio) Não sei.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Amar você é coisa de minutos…

(Paulo Leminski)
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui

Góes Fred (org).“Melhores Poemas de Paulo Leminski”. Editora Global. 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Apologia ao racionamento de água



Uma crônica de Gabriella Gilmore


De frente para seu bar, o dono lavava o chão tranquilamente.

- Me desculpe o comentário, mas eu não vejo ‘vida’ ai. Comenta uma jovem encostada numa árvore enquanto descascava sua maçã.
O senhor sem entender, fez um som com a garganta que pareceu um rosnado e perguntou: Do que está falando minha jovem?
- Dessa água toda que o senhor está desperdiçando. Se fosse um jardim, até te entenderia, mas o chão? Ainda mais com essa ameaça em que estamos vivendo sobre não ter mais água potável no futuro…
- E vou deixar o bar sem limpar? Não dá para receber clientes com o ambiente sujo.
- Eu sei, mas amanhã quando o senhor não tiver mais essa água ai nem para beber, serão dois problemas: a sujeira e a sede. Credo. Realmente não quero estar aqui.
- Olha só, eu acho muito bonito uma moça tão jovem com essa mentalidade filosófica, mas deixe-me trabalhar.
- Ok. Como o senhor quiser.

(…)

- Quer saber? Todo mundo lava a calçada, seus carros e coisas assim, por que EU tenho que economizar?
- Rá!! Sabia que iria questionar isso. Mas pensa bem, se todos continuarem pensando assim, com o umbigo, o amanhã vai chegar mais depressa, e ai? CO-MO-FAZ?
- Você tem razão. Disse ele desligando a torneira e pegando uma vassoura para continuar limpando o lugar. E agora que somos dois com esse seu "racionamento", acredita que teremos força para economizar mais?
- Vou te contar um segredinho. Disse ela se aproximando. Só basta você influenciar mais uma pessoa. A corrente faz o resto.
- De onde veio essa garota? Ele se perguntou.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Diálogos 1: Sobre Beleza




Ele disse que sou bonita. E eu não concordei, claro! Tenho espelho em casa, né? Mas ele não desistiu. Ficou batendo na mesma tecla:

__ É bonita! É bonita, sim!

Muito debochada, respondi:

__ Acha, então, que devo quebrar o meu espelho?
__ Sim! Colocaram na sua cabeça que você é feia. Você está sensível. Fragilizada.
__ É amigo! Acho mesmo que sou muito sensível. E isso não é uma coisa muito boa no mundo pragmático em que vivemos, sabia? Viramos alvo fácil! Estou tentando aprender a arte da camuflagem e me passar de mulher dura e cruel. Pode parecer estranho, mas ainda é a melhor maneira que encontrei para sobreviver.
__ Não vale a pena! Você não é assim. Tem gente que admira você.
__ Vou tentar acreditar.Penso até que me fará bem acreditar em algo assim. A esperança não deve morrer, não é? Dizem que ela é a mola-mestra que nos impulsiona para o dia seguinte.
__ Pára de ser negativa! Pára de se diminuir! Pára com isso de que é feia! - se zangou comigo.
__ Tenho o péssimo hábito de dizer tudo que me vai a cabeça. Digo de súbito, sem pensar. Isso não é bom, eu sei.
__ Você acha que sou bonito? Eu sou velho, gordo, careca...
__ Que seria do amarelo se todos gostassem do azul? Eu gosto de azul, de borboletas azuis. Rs... E também gosto de vinho. E você sabe o que dizem dos vinhos? Contudo, há os que dizem que vinho dá porre. Talvez! Mas só os vinhos baratos e aqueles que não são bebidos adequadamente. Eu sei beber vinho de gole em gole, deixando que ele me leve em todas as suas notas, suaves ou rascantes. Vinhos são para se beber como quem tenta um ponto de encontro com o divino.
__ Então, pronto! Para mim você é bonita e eu sou vinho.
__Vamos ouvir uma música? Eu posso ver minha vida sem muitas coisas, mas nunca sem poesia e música.Obrigada por dividir mais essa tarde comigo.

Fomos ouvir Loreena Mckennitt enquanto esperávamos a noite chegar. 
(Waleska Zibetti, in "Diálogos 1: Sobre Beleza")

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"AS PESSOAS" - Crônica



AS PESSOAS

Uma crônica de Gabriella Gilmore

5:45 A.M

Ela não sabe ao certo se realmente receberá visita no final daquele domingo.
Catarina abre os olhos e vê que a luz da sua secretária eletrônica estava piscando. Ela tem uma nova mensagem.
Estica a mão direita para alcançar o botão play.
Beep! Você tem uma nova mensagem.
“Bom dia dorminhoca. Se quiser mesmo assistir filme comigo no final da tarde, me fale o melhor horário para eu ir até sua casa.” Beep!
Catarina ficou olhando para o teto. Logo os olhos se fecharam. Enquanto algumas pessoas não dormem, ela voltou a dormir.
As horas pareciam intermináveis. Se ela pudesse, acordaria só no final da sua vida, para um último suspiro. “Oh, como viver tem me doído à alma!”
Aos olhos dos outros, sua vida era perfeita.
Já havia conquistado quase tudo em tão pouco tempo.
Tinha uma carreira de sucesso. Era inteligente, bonita, da fala correta. Tinha seu próprio apartamento, seu carro e seus bichos. Visitava todo dia sua mãe. Era amada, idolatrada, e invejada. Entretanto, quem se importava? Talvez nem ela mesma dava conta do curto conto de fadas em que vivia.
“Posso dizer o horário. Preciso de ânimo para levantar dessa cama.” Já era quase a hora do almoço. “Nem tomei o café. Quem adiantou o relógio?”
Já era 11:45 A.M.
Virou o corpo para a direita. Soltou um gemido e apertou novamente o botão play da secretária.
Beep! Você não tem nenhuma mensagem.
“Ela não vem!”
Pegou o celular para digitar um torpedo.
“Se importa da gente remarcar o filme para outro dia? Acordei mentalmente indisposta para fazer um social.”
A resposta só foi chegar duas horas depois.
Sua amiga já estava em outro compromisso. Para algumas pessoas as horas passam.
Cacá olha para o teto. Ele tem sido sua distração há meses.
O telefone toca.
Ela dá um sorriso e um suspiro. Mas era a portaria tentando testar o interfone do apartamento. Seu humor volta à cor amarela.
Depois de 40 minutos, ela se arrasta para o banheiro.
Olha-se no espelho, encarando as olheiras de tanto dormir.
Lava o rosto. O seca lentamente na sua toalha de 200 fios 100% algodão. Encara-se novamente.
Dá leve batidinhas nas bochechas na esperança de ver sangue correr naquele local.
Dá um sorriso forçado, mostrando os dentes perfeitos.
Depois de escova-los, resolve tomar uma ducha quente para ver se relaxava a falsa tensão.
Enquanto isso, ela pensava. Pensava de novo, e de novo. Passam-se as horas, e nada acontece.
Ela esperava por uma visita que ela mesma desmarcou.
Insatisfeita.
Depois do banho tomado, ela se senta em frente ao computador.
Pensa em escrever, mas àquelas horas não a permite digitar se quer um pensamento. Eles eram rápidos demais. Vagos demais.
Desliga o aparelho.
Decide fazer um leite quente com canela.
Ao sentar em frente à TV, ela percebe que não tem hábitos de assisti-la.
Termina calmamente seu leite, e volta para a cama.
As horas não passavam.
Infindáveis. Fadigosas.
Ela olha para sua estante de livros e pega um exemplar de provérbios.
“Não quero ser rude, mas preciso te lembrar de que amanhã é segunda-feira. Carpe diem. Boa leitura.”
Era um recado antigo que estava escrito na página branca do título. 
Pegou a chaves do carro, e foi visitar as pessoas.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Sobre o "Amor Natural" e outras sensações

"Os movimentos vivos no pretérito
enroscam-se nos fios que me falam
de perdidos arquejos renascentes
em beijos que da boca deslizavam
para o abismo de flores e resinas.

Vou beijando a memória desses beijos."
[1]


Erótico, pornográfico e nunca vulgar!
Talvez essa seja a definição desse livro até pouco tempo desconhecido pra mim. E a cada poema a imaginação ia dando comandos a todos os sentidos. Um choque para os desavisados, um deleite para os amantes e um rubor para quem se descobre lendo esses poemas.

"O que se passa na cama
é segredo de quem ama."
[2]

E nas cucas de quem se destina a ser livre o que se passa?O que mais houvesse para haver na cama entre casais diversos, está descrito lá. Mas e os tímidos? (Olha eu aqui!!!)
Como foi dito por Mário de Andrade, "Faz todo o sentido, mesmo sendo culpa dessa bendita timidez". 
E a reação foi: Como assim, o Drummond?  
Nesse caso a frase "sabe de nada, inocente", se encaixa perfeitamente. 
Pronto! O lado carnal e humano do Drummond estava descoberto. 
Através de 40 poemas póstumos (O engraçado é que esses poemas foram guardados por anos e só foram publicados 5 anos após a sua morte) você descobre um lado seu até então desconhecido. E como um outro velhinho e dessa vez safado "assumido", o Bukowski já poetizou:

"há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te."
[3]

Em pleno Século XXI a nossa sociedade ainda é muito repressora ao falar de sexo. Existe uma falsa liberdade e muita hipocrisia reinante: sexo é sempre caricaturizado perdendo-se muita qualidade com tal postura. Para os curiosos recomendo a leitura, para os apaixonados uma pimentinha, para os que tem feitiche um convite. 

Decifre e chega de porquês na história. Vai logo sua alma libertina!







Au Revoir
Até o próximo texto  


[1]Andrade, Carlos Drummond. O amor natural. 1ª Edição. São Paulo: Companhia das Letras. 2013. Página: 48.
[2]__________________________. O amor natural. 1ª Edição. São Paulo: Companhia das Letras. 2013. Página: 16.
[3]Bukowski. Charles. O Pássaro Azul. O Leitor Cabuloso. Disponível em: http://leitorcabuloso.com.br/2013/07/sexo-alcool-e-poesia-o-lirismo-maldito-de-charles-bukowski-o-velho-safado/ . Acessado em 10/1/2015.