AS PESSOAS
Uma crônica de Gabriella Gilmore
5:45 A.M
Ela não sabe ao certo se realmente receberá visita no final daquele domingo.
Catarina abre os olhos e vê que a luz da sua secretária eletrônica estava piscando. Ela tem uma nova mensagem.
Estica a mão direita para alcançar o botão play.
Beep! Você tem uma nova mensagem.
“Bom dia dorminhoca. Se quiser mesmo assistir filme comigo no final da tarde, me fale o melhor horário para eu ir até sua casa.” Beep!
Catarina ficou olhando para o teto. Logo os olhos se fecharam. Enquanto algumas pessoas não dormem, ela voltou a dormir.
As horas pareciam intermináveis. Se ela pudesse, acordaria só no final da sua vida, para um último suspiro. “Oh, como viver tem me doído à alma!”
Aos olhos dos outros, sua vida era perfeita.
Já havia conquistado quase tudo em tão pouco tempo.
Tinha uma carreira de sucesso. Era inteligente, bonita, da fala correta. Tinha seu próprio apartamento, seu carro e seus bichos. Visitava todo dia sua mãe. Era amada, idolatrada, e invejada. Entretanto, quem se importava? Talvez nem ela mesma dava conta do curto conto de fadas em que vivia.
“Posso dizer o horário. Preciso de ânimo para levantar dessa cama.” Já era quase a hora do almoço. “Nem tomei o café. Quem adiantou o relógio?”
Já era 11:45 A.M.
Virou o corpo para a direita. Soltou um gemido e apertou novamente o botão play da secretária.
Beep! Você não tem nenhuma mensagem.
“Ela não vem!”
Pegou o celular para digitar um torpedo.
“Se importa da gente remarcar o filme para outro dia? Acordei mentalmente indisposta para fazer um social.”
A resposta só foi chegar duas horas depois.
Sua amiga já estava em outro compromisso. Para algumas pessoas as horas passam.
Cacá olha para o teto. Ele tem sido sua distração há meses.
O telefone toca.
Ela dá um sorriso e um suspiro. Mas era a portaria tentando testar o interfone do apartamento. Seu humor volta à cor amarela.
Depois de 40 minutos, ela se arrasta para o banheiro.
Olha-se no espelho, encarando as olheiras de tanto dormir.
Lava o rosto. O seca lentamente na sua toalha de 200 fios 100% algodão. Encara-se novamente.
Dá leve batidinhas nas bochechas na esperança de ver sangue correr naquele local.
Dá um sorriso forçado, mostrando os dentes perfeitos.
Depois de escova-los, resolve tomar uma ducha quente para ver se relaxava a falsa tensão.
Enquanto isso, ela pensava. Pensava de novo, e de novo. Passam-se as horas, e nada acontece.
Ela esperava por uma visita que ela mesma desmarcou.
Insatisfeita.
Depois do banho tomado, ela se senta em frente ao computador.
Pensa em escrever, mas àquelas horas não a permite digitar se quer um pensamento. Eles eram rápidos demais. Vagos demais.
Desliga o aparelho.
Decide fazer um leite quente com canela.
Ao sentar em frente à TV, ela percebe que não tem hábitos de assisti-la.
Termina calmamente seu leite, e volta para a cama.
As horas não passavam.
Infindáveis. Fadigosas.
Ela olha para sua estante de livros e pega um exemplar de provérbios.
“Não quero ser rude, mas preciso te lembrar de que amanhã é segunda-feira. Carpe diem. Boa leitura.”
Era um recado antigo que estava escrito na página branca do título.
Pegou a chaves do carro, e foi visitar as pessoas.
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