segunda-feira, 17 de abril de 2017

Sobre "Thirteen Reasons Why"


Eu queria começar essa conversa perguntando a você que me lê: quantas vezes você escondeu uma vontade imensa de chorar num "Estou bem!"? E quantas vezes o outro foi sem a menor noção do quanto você está desesperado por um "Não está não!"? Ninguém é culpado por não adivinhar o que REALMENTE você está sentindo. Adivinhar não é uma coisa natural ao ser humano. Então, faço uma segunda pergunta: Quantas vezes você se coloca no lugar do outro antes de dar a ele um apelido pejorativo ou até mesmo fazer uma brincadeira que você considera inocente? Quase nunca, não é? A gente não costuma pensar se o riso do amigo é real e de boa ou é só para fingir uma descontração. Pois é, não dá para saber como nossas palavras atingem o outro e menos ainda como todo o resto correrá dali em diante. Eu, como todos sabem, sou gorda, sou baixinha, sou dentuça, sou bunduda... Enfim, tenho "n" dessas coisinhas que viram comentário, brincadeiras, piadinhas, apelidos... E houve uma época que eu me escondia atrás do jeans e das camisetas largonas, dos livros, do meu quarto estranhamente decorado de preto. "Preto emagrece!" e eu uso preto na maior parte do tempo até hoje, mesmo não me importando mais. É como uma tatuagem, sabe? Mas isso acontece aí todo dia. Esses jogos de ofensa, de brincadeiras perversas, de sorridentes ofensas. Principalmente os adolescentes que ainda estão tão desligados e despreparados para entender olhares e limites. Deram a isso o nome de "Bullying". A violência física, psicológica ou moral repetidas a alguém. Mas aí dirão: antes isso era só zoação, a modernidade é que dramatizou tudo. Será? Será que nós não carregamos em nós aquele "traumazinho" escondido embaixo de nossa pseudo-confiança? Será que não cobramos que nossas crianças sejam magrinhas e lindas porque na nossa infância ou adolescência fomos chamadas de "canhão" ou "dragão"? Quase ninguém admitiria isso. Somo adultos, na grande maioria, com frustrações escondidas, paranoias camufladas em "pans" sedativos. Mas quem vai arrancar isso de você quer você tenha sofrido o tal Bullying quer você tenha praticado. Ninguém gosta de encarar o feio. Prefere viver uma mentira linda no mundo encantado de Oz, Neverland ou Wonderland, não é mesmo? Então, não assuma nada! Eu não estou aqui para isso. Mas quero fazer uma sugestão leia "Thirteen Reasons Why". Coloque-se em cada personagem só por alguns minutos e repense a sua responsabilidade no que ocorre na sua vida e nas vidas que passam pela sua. Só uma sugestão. Só pense!

Parabéns, Netflix! 👏

sexta-feira, 3 de março de 2017

E Assim Nascem Os Fantasmas



Depois de tanto ver filmes, séries, desenhos abordando a história de Ichabod Crane, finalmente li o livro original escrito por Washington Irving em 1820. A história do que, para mim, lembra mais um conto que um romance só se compara ao filme e afins no que diz respeito a ]Ichabod ser um jovem bem atrapalhado.


O texto narra praticamente história do jovem professor de Sleepy Holow, um amante de histórias de terror, sonhador, ambicioso, oportunista, com tiradas ácidas de humor e crítica a sociedade da época. Que deixemos claro pouco mudou desde, então. O texto é curtíssimo, embora bem rico desses detalhes sociais. Acho que Washington Irving foi muito inteligente na construção textual, pois quem ler o livro superficialmente não perceberá as alfinetadas. Teria sido uma tática para driblar as censuras da época? Talvez!



A maioria, hoje, deve chegar ao livro depois de ver o filme do Tim Borton ou de visto a Série Sleepy Holow; e provavelmente esses terão uma sensação de frustração dada a diferença de abordagem dos diretores e roteiristas. Por isso, sejam mais generosos ao lerem a obra de Irving e ampliem seus olhares para os detalhes a margem do mito e assim entenderão porque esse romance inspirou tantas versões e visões diferentes.


O desfecho do livro é interessante. Primeiro, porque evidências nos leva a pensar em X, mas não nos deixa de levantar a possibilidade de Y e Z também fazerem sentido em relação a Ichabod e o fantasma. Ora, trata-se de um vilarejo cheio de lendas e histórias de e sobre pessoas com passados envoltos em segredos. Uma ambientação propícia para mentes imaginativas criarem novas lendas e outros mitos. Mesmo que seja só um desdobramento de um outro mito já existente.



Até o próximo! 



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Um título, Uma Capa e o Tempo Errado



Numa feira de livros um título e uma capa me encantam. Mas foi um encanto de tal forma que não li nem o resumo, nem a crítica, nem nada do livro, comprei-o cegamente. E assim foi que o livro “A Menina Que Colecionava Borboletas” de  Bruna Vieira, veio parar na minha estante. Tudo estaria perfeito se não fosse o distanciamento de realidade entre a autora e eu. Explico-me.

É inegável o talento da autora para crônica. Elas são lindas, cheias de sentimentos, lineares, gostosas de ler. E eu simplesmente amo narração em primeira pessoa que me dá a sensação de emoções mais intimistas. Como se fosse um bate papo entre personagem e eu. Só que, no caso desse livro as crônicas nos remetem a uma espécie de diário onde fica inevitável entender que estamos dialogando com a autora e seus conflitos pessoais. – A autora é uma blogueira famosa com zilhões de fãs e seguidores. E esse formato de diário já é algo que ela lida muito bem. – Porém, ela fala das crises que está passando ao deixar o mundo adolescente pelo mundo adulto. O livro é de 2014, e ela estava com vinte anos. Bom, eu com quarenta e cinco agora, já tendo passado pelos conflitos que a jovem vem narrando no seu livro e está numa outra fase de conflitos, tenho outra visão de tudo. Então, o livro foi se arrastando depois de um tempo.  Mas se você está nesse momento de transição de adolescência para vida adulta, o livro se tornará uma delicia. Porque houve momentos que eu revivi meus momentos adolescentes e sorri deliciosamente lendo. 

O livro é de uma editora que eu não conhecia Gutenberg e fiquei muito apaixonada pela formatação e zelo da editora com a autora e sua obra. Parabéns a toda equipe de edição. Isso é estimulante para conhecermos outros livros de vocês. 

Sobre a autora ela lançou outros trabalhos que, pelo que entendi, segue essa linha diário em crônicas e contos. Seus outros títulos são: “Depois dos Quinze”. E há também uma série de ficção chamada “Meu Primeiro Blog”, cujo volume 1 já foi lançado por essa mesma editora. Mas para quem gosta de seguir as celebridades virtuais, ela está em toda rede social e tem o blog chamado “Depois dos Quinze”.  

Indicar ou não indicar? Indico para todas as jovens que procuram se entender ainda. Indico para todos os jovens que estão nesse momento de mudança. Indico a quem quer uma leitura gostosa e rápida, livre das entrelinhas e sub-textos de interpretação profunda e filosófica. E para todo jovem que curte essa linha “Meu diário” de escrita. Acho que é uma escritora que vocês jovens gostarão. Como professor, acho bacana como leitura instrumental. Já os mais velhos que, como eu estão em um foco diferente dentro da literatura, não acho que prenderá a atenção por não fazer parte de nossas buscas e anseios literários.

Crônicas Que Mais Gostei No Livro

Enquanto Valer a Pena
O Futuro Que Você Nunca Viu Na Gente
Tudo Aquilo Que Eu Nunca Te Disse
Um Errinho
O Amor Que Eu Inventei
De Madrugada
Até
O Dia Em Que Eu Me Apaixonei Pela Liberdade

Enfim, é isso! E até o próximo!!!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Morangos Mofados: o Fim.



E com dó e dor me despedi de um livro que busquei por tanto tempo e acabou chegando de surpresa de aniversário. E o que dizer do conto título desse livro? Eu não sei exatamente. Chorei. Mas não sei se foi choro de tristeza porque chegou o fim da linha ou se chorei porque também sinto em mim o mesmo câncer que o personagem. Acho que chorei porque o livro todo mexe nas lacunas que carregamos. Ele veio desde o início me desconstruindo e no final quando eu era pó revirado, ele me fez renascer para uma nova consciência do ato de escrever. Desde o porquê até a a responsabilidade com quem lê. Nunca me vi escritora, embora sempre ouvisse que sou boa nisso. Mas agora sinto que ninguém foge desse dom. E inevitavelmente temos que escrever os sentimentos e emoções que nem sempre são nossas, mas que nos são doadas diariamente pela vida. O escritor tem o dever de dizer o que a maioria não consegue. Então, entendi que é por isso que quando falo tudo meio confuso a quem me ouve, mas quando escrevo toco naquele profundo que faz o outro chorar, suspirar, sorrir, se identificar, me ver…

Ninguém entra no universo de Caio Fernando e sai dele da mesma forma. E estranhamente enquanto escrevo isso penso: alguém sai do universo de alguém exatamente como entrou? Não! Somos canais. Todos nós e cada qual transforma o outro com as armas que tem.

Caio me transformou numa deia de escritora melhor. Digo ideia porque não sei se consigo ainda olhar para mim como escritora, mas sei que sinto que meus olhos e pensamentos não seguem o fluxo da maioria. E cada delírio meu diante de algo visto ou vivido nada mais é que o momento de conceber algo que alguns chamarão de literatura. Ou como diz o próprio Caio Fernando numa carta que ele escreveu a José Márcio Penido onde ele fala do processo de criação, eu entendi que “escrever é enfiar o dedo na garganta”.

Toda pessoa que se diz LEITOR, tem por obrigação ler essa obra. Tem que provar o mofo dos morangos e morrer de câncer para renascer essa outra coisa que sinto aqui agora em mim. Tem que provar “disso”. Eu não sei definir, mas é uma coisa que inexplicavelmente precisa ser vivida. E então, no fim do livro com dó e dor entender que de alguma forma você é parte de um processo que não finda nunca mas que é de extrema importância estar dentro, fazer parte, sentir o movimento chacolhar-nos como coqueiros nas tardes de ventania de verão. Entende? Talvez não ainda. Mas entenderá quando ler. E aí você fará parte dessa coisa de que falo e que agora você só sente como uma viagem minha, particular.


Maravilhoso. É só isso que posso usar para definir “Morangos Mofados”. Maravilhoso. Ma-ra-vi-lho-so! 


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Sobre Morangos



Quando comecei a leitura da segunda parte de “Morangos Mofados” pensei que leria textos ainda mais poéticos, mais líricos, suaves… A ideia de que os “morangos” escorregariam pelos meus pensamentos trazendo-me frescor e leveza para os dias, foi para o ralo no primeiro conto.

Na verdade os “morangos” despertam em nós uma fome louca de pensar e revira-nos o estômago em centenas de experiências que comodamente deixamos esquecidos no inconsciente. Eles travam na boca com um gosto amargo. E descem rasgando abrindo velhas feridas. (Ao menos foi assim comigo!)
Eu estava em cada conto lido. Um pedaço de mim tatuado em cada um deles. Na solidão do espelho, no passeio de carro, na inocência perdida, nos quadros, nos medos, nas dúvidas. E de repente, eu mesma era Caio Fernando de forma íntima e dolorosa. Eu sentia cada momento na minha própria pele, cada conflito, cada febre. Acho que os morangos ressuscitaram cada um dos meus moinhos de vento com os quais batalhei toda uma vida e eu me vi revirando-me toda intensamente.

Contudo, em momento algum tive pena de Caio ou de mim. Nem mesmo aquela vontade tão corriqueira de chorar o que seria lógico naquele momento. Eu deveria ter chorado, chorado, chorado… até esgotar de mim tudo aquilo que se remexia e doía em mim e em Caio. Mas eu não tive dó de nós dois. Porque esses personagens que circularam por mim e Caio é que nos fizeram o que somos. Ele foi grande porque tinha esses personagens para provocar-lhe a essência poética. E eu, tornei-me essa torre agigantada e para nessa coisa meio poeta e louca que sou.

Tinha, pois, a cada leitura a ilusão de andar num trem cada vez mais descarrilhado partido de não sei onde e indo para uma certeza de infinito que nunca se findará porque sempre virá um novo personagem. E eu lia, lia, lia… Porque já não era mais Caio era eu olhando da janela aquelas paisagens de passado ou de borrão futurístico. Meu Deus! Que sensação impressionante! Quantos sentimentos intensa e insanamente confusos.

Não, senhores, ler os “morangos” não foi fácil que o “mofo”! Definitivamente foi dolorido. Sadicamente prazeroso. Mas li-os, ou os engoli, um a um. Saboreando o amargor como quem espera nisso algum tipo de redenção ou salvação. Então, não pude desmembrá-los como fiz com a primeira parte. Não dá! Os morangos são um monobloco sensitivo. Só existem assim unidos, intrincados.

Contudo, penso que entendi Caio Fernando como nunca entendera antes. Entendi todos os outros que li antes desse. Eu furei a fila, sabe? Minha relação com ele tinha que ter começado aqui. Para depois vir “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso”, “Onde Andará Dulce Veiga”, “O Triângulos das Águas”, “Ovelhas Negras”… Hoje, não sou mais uma leitora de Caio Fernando. Hoje, sou uma parte dele. Uma parte que sobreviveu.

Talvez seja assim que os artistas se eternizam. As pessoas se identificam com o que leem, visualizam, tocam… E eles sobrevivem ao seu tempo e a todos os tempos que virão. Imortais enquanto seus sentimentos existirem em algum fã. Eternos na identificação do outro na sua própria dor, alegria, ódio, amor…

Ah, que ilusão e surpresa foi essa de achar que os Morangos seriam mais fáceis e doces. Que paixão me despertaram ser aqueles personagens e o reencontro com os meus próprios. E agora serão os dois. Unidos os Morangos e o Mofo que me esperam na terceira parte. E que será que REALMENTE me espera lá? Não sei! Mas antes de ir até eles, vou respirar um pouco e beber um vinho.


Até breve.

Waleska Zibetti